José Horta Manzano
Não sei quem está mais próximo do desespero, se a mídia nacional ligada ao PT ou a mídia internacional em bloco. Enquanto, no Brasil, veículos próximos ao lulopetismo estão em estado de agitação, no exterior todos os veículos parecem em estado de convulsão, pouco importando em que bordo político estejam ancorados.
Os artigos e as análises são diários. Jornais, rádios de informação, tevês, portais ‒ todos se mostram horrorizados com a perspectiva de a malvada extrema direita tropical suplantar a bondosa esquerda, tão preocupada com o bem-estar dos desvalidos. (Mas tão empenhada em roubar o dinheiro desses mesmos desvalidos ‒ detalhe que passa em silêncio.) Falas e escritos vêm por atacado.
A rádio Europe 1, emissora francesa, no jornal falado e no portal, mandou ao ar: «Brasil, há urgência: a esquerda continua com dificuldade na mobilização contra Jair Bolsonaro».
Por seu lado, a oficial Rádio França Internacional dá destaque, no portal internet, ao fechamento ordenado pela Justiça de dezenas de páginas de apoio a doutor Bolsonaro. Assim mesmo, concede que se trata do “provável futuro presidente do Brasil”.
O sisudo primeiro canal da televisão pública alemã lança ao ar uma pergunta inquietante: “Com fake news rumo à vitória?”
Já o quoditiano austríaco Wiener Zeitung aborda uma outra faceta da inquietação internacional. O artigo que discorre sobre os eleitores de doutor Bolsonaro leva o título “Brasil a caminho de se tornar estado religioso”. Note-se que esse receio não costuma estar presente no argumentário de analistas tupiniquins.
O alemão Westfälische Rundschau trata Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo como ETs. Em alentado artigo, procura explicar a seus incrédulos leitores as razões pelas quais os craques apoiam o capitão reformado.
Até o quotidiano suíço Le Matin dá contribuição ao alvoroço. Em artigo intitulado “ Os desafios da eleição presidencial no Brasil”, o site do jornal mostra vídeo de um minuto com cenas de rua de nossa campanha eleitoral acompanhadas de informações em sobreimpressão. A uma certa altura, mostram meia dúzia de gatos pingados empunhando cartazes sob a legenda: “Em Genebra, os brasileiros da Suíça protestaram contra Bolsonaro”. (A palavra ‘protestaram’ vem em letras vermelhas.)
Só que tem uma coisa. No primeiro turno, 3077 eleitores compareceram às urnas instaladas na cidade suíça. Nada menos que 51,2% escolheram doutor Bolsonaro. Doutor Haddad não ficou senão em terceiro lugar, atrás de Ciro Gomes, com apenas 12,4% dos votos. Dependesse de Genebra, o capitão já estaria eleito. É curioso ver a imprensa dar mais importância aos protestos ‒ que podiam até estar sendo organizados pela militância paga ‒ do que ao voto secreto, que é a palavra final dos eleitores. Curioso.