Ciúmes ex-presidenciais

O Globo, 7 jul 2023

José Horta Manzano

OK, quando o ciúme é grande, é permitido mandar a palavra para o plural: ciúmes. Só que tem uma coisa. A lógica gramatical continua valendo.

Substantivo no plural pede artigo e adjetivos no plural, o que não deixa de ser evidente. Portanto, esqueça-se “do seu ciúmes” e corrija-se: “dos seus ciúmes”.

Tem mais. Este escriba é do tempo em que alguém tinha ciúme (ou ciúmes) de alguém. Sentir ciúme sobre alguém é modismo dispensável. Corrija-se: ‘recibo dos seus ciúmes de Tarcísio’.

Este blogueiro é do tempo em que – 38

Jornal O Globo, 12 março 2023

José Horta Manzano

“Buscar naufrágio” é passatempo para espíritos sádicos que ficam na praia observando passarem os barcos e torcendo para que um deles naufrague. Este blogueiro é do tempo em que arqueólogos não se dedicavam a esse passatempo. Costumavam buscar destroços de uma embarcação naufragada.

“Navio escravagista”? Nããão! Navio não tem ideologia. Escravagismo é atributo humano. Navio que carrega escravos chama-se navio negreiro. No tempo em que escola ensinava e aluno aprendia, o poema épico Navio Negreiro, de Castro Alves, um arrebatado libelo abolicionista, costumava fazer parte do programa.

Vamos reescrever a chamada?


Em Angra, arqueólogos buscam destroços que podem ser do último navio negreiro a vir ao Brasil.


 

Hitou e flopou

Do jornal O Globo, 20 fev° 2023

José Horta Manzano

Confesso que precisei de alguns segundos de reflexão para entender o significado da chamada. É que este blogueiro é do tempo em que, em vez desses modismos estranhos, se dizia “o que foi sucesso e o que foi fiasco”.

Ingressar no trem

Ingressar no trem

José Horta Manzano

Este blogueiro é do tempo em que, no Brasil, ainda se viajava de trem. Que não se assuste o distinto leitor! Não estamos falando do tempo de Matusalém. Já havia sido inventado o motor a explosão, que diacho! Chevrolets, Buicks e Studebakers congestionavam as ruas. Constellations, Caravelles e DC-8s cruzavam os céus. Ônibus interestaduais se aventuravam pelas poucas (e perigosas) estradas de rodagem, nem sempre asfaltadas.

Assim mesmo, talvez pela inércia do costume, ainda se viajava de trem. Não valia a pena apanhar trem para certos percursos, que de ônibus chegava-se muito mais rápido. Mas havia lugares aonde, simplesmente, ônibus não chegava.

Pra ter direito a viajar, o passageiro tinha de comprar um bilhete. Na verdade, o nome completo era “bilhete de passagem”, que o povo acabou encurtando pra passagem. Sem bilhete, ninguém podia viajar – com exceção do maquinista e do pessoal de bordo, incluindo aquele senhor que vinha picotar as passagens.

Faz muito tempo que, em nome do progresso e por força dos lobbies petroleiro e automotivo, o trem foi perdendo status e acabou morrendo de inanição, o coitado.

Bom, pra quem não sabe, há terras em que ele continua sendo o meio de transporte preferencial, quando não único. Na Europa, por exemplo, é assim. Implantam-se novas linhas, de alta velocidade ou não. Acrescenta-se uma terceira via a trechos muito frequentados, que só contavam com duas. Viajar de trem continua na moda.

A reportagem do Estadão diz que novo trem leva turistas pra um passeio em região frutivinícola. Dá também o preço do ingresso. Quando li essa palavra, aplicada a viagem ferroviária, engasguei. Como é que é? Ingresso no trem? Não é assim que se diz. Compra-se ingresso para entrar em cinema, museu, ‘concerto’ de pop star. Para comprar o direito de viajar de trem, não é o termo mais adequado.

Quando vejo algo fora de lugar, gosto de dar uma espiada na fonte. Fui ao site que propõe as excursões. Lá me dei conta de que “ingresso” é liberdade tomada pelo jornal. No original, a palavra utilizada é “ticket”. Ai, meu São Benedito!

Não sei se será por chiquê ou por falta de conhecimento mesmo. Não se vende mais bilhete ferroviário. O chefe do trem não entra mais no vagão gritando “Mostrar as passagens, faz favoooor!” Os dois termos estavam com cheiro de naftalina. A sociedade organizadora preferiu desempoeirar. “Ticket”, que soa estrangeiro, é tããão mais atual, não é mesmo?

Como é que é?

José Horta Manzano

Este blogueiro é do tempo em que lei obrigava. O que estava na lei era pra ser cumprido sem discussão.

Fico feliz em saber que, nestes admiráveis tempos modernos, leis apenas sugerem. Deve ser sinal de que nosso povo evoluiu e chegou ao ponto de dispensar imposições. Sugestões bastam.

Ninguém segura o progresso.

Falando difícil

José Horta Manzano

Folha de SP, 25 dez° 2020.

Como será esse “efeito cicatriz”? Fico curioso pra saber.

É que este blogueiro é do tempo em que bastava dizer “Pandemia deixa cicatriz” e todo o mundo entendia. Naquele tempo, o país era pobre e a gente costumava economizar palavras.

Hoje, imagino que todos estejam muito ricos, visto o desperdício. Atirar letra pela janela? Que coisa feia! E se cair na cabeça de alguém?

A simbologia da foto

José Horta Manzano

Desde que o primeiro vírus chegou ao Brasil, viajando de avião, Bolsonaro fez o que pôde para minimizar a gravidade da pandemia de covid. Negou, desdenhou, zombou, escarneceu, debochou.

O vírus, que é estrangeiro e não entende a língua do presidente (quem entende?), se fez de desentendido. E continuou seu trabalho paciente, ceifando um aqui, estropiando outro ali, desgraçando mais um acolá. Como convém a todo bom micróbio comunista, não discrimina ninguém: pobre ou rico, preto ou branco, importante ou zé-ninguém, tanto faz. Diante do infortúnio, todos são iguais.

Logo no início da pandemia, o pessoal do Planalto, incluindo o presidente, impacientes de estrear o novo coronavírus, deram carteirada pra furar a fila. Foram à Florida e fizeram importação direta do bichinho. Na volta daquela malfadada viagem em que se hospedaram no resort privado de Trump, duas dúzias de medalhões estavam infectados. O alto escalão de nossa República tornou-se importante foco de infecção.

Faz alguns dias, um assessor mais atirado do presidente tomou coragem e, com muito jeito, alertou o chefe para o desgaste que ele se está autoinfligindo. O homem está prestes a cortar o último fio que o liga à população. A reação do chefe mostra que ele entendeu a mensagem e se apavorou.

Na contramão da pregação negacionista em vigor há 9 meses, um plano de vacinação foi rascunhado às pressas e apresentado ao distinto público em cerimônia solene. É tentativa de recuperar o tempo e o esforço desperdiçados desde que o presidente soltou seu primeiro sarcasmo, em março passado.

A ocasião rendeu uma foto oficial que merece ser analisada com vagar.

Cadeiras
Surpreende a qualidade e o tamanho das cadeiras. Elas podem até servir para decorar restaurante chinfrim mas, para reunião ministerial solene, não caem bem. Aquele tipo de cadeira fica bem para decorar corredores; pra dar assento a ministro e aparecer na tevê, não. Considerando a dinheirama que engorda a contabilidade do Planalto, é curioso que não invistam em cadeiras decentes e apresentáveis. Além disso, visto o tamanho ‘king size’ de alguns personagens, cujas nádegas extravasam, o mobiliário não vão durar muito – o barato sai caro.

Mesa
Falta uma mesa instalada à frente dos participantes. Ainda que não tenha outra utilidade, uma mesa (coberta com toalha roçando o chão) ajuda a disfarçar posturas inadequadas.

Fundo roxo
Este blogueiro é do tempo em que, na Quaresma, era costume da Igreja cobrir crucifixos e estátuas com um pano roxo. Imagino que ainda seja assim. A intenção é ressaltar que se está atravessando um período de recolhimento e reflexão. No imaginário popular, no entanto, a cor ficou estreitamente ligada à tristeza e à morte. Por sinal, caixão de defunto de segunda linha (o caixão de segunda linha, não o defunto) costuma ter detalhes dessa cor.

Quando se está anunciando ao povo que a redenção dos males está chegando, usar o roxo como cor dominante não é boa ideia.

Paridade chacoalhada
A paridade entre sexos é meta perseguida em todas as instâncias. Em escolas e repartições públicas, por exemplo. A lei eleitoral chega a impor quotas para os sexos. Pois bem, a foto escancara o profundo desprezo que doutor Bolsonaro tem por essa paridade.

Dos 17 personagens visíveis, apenas 2 são mulheres. Há ainda 2 ou 3 escondidos, que parecem ser homens. Uma das mulheres (aquela da bananeira) está quase oculta na fila de trás; a outra foi relegada a uma extremidade, quase caindo da foto, como se estivesse sentada num banco rebatível (daqueles que há nos teatros e que são utilizados em dias de forte afluência).

Em matéria de paridade entre sexos, a composição da assessoria presidencial é desbalanceada e machista, à imagem e semelhança do chefe.

Tênis
Um dos figurantes, de terno escuro e gravata, veio de tênis. É composição vestimentária moderninha, que cai bem numa festinha descontraída ou num convescote com amigos. De ministros que comparecem engravatados a uma solenidade, espera-se mais recato. (Taí um dos horrores que mesa e toalha teriam escondido.)

Naquela mesa…
Na ponta esquerda, aparece uma cadeira vazia. A legenda não informa quem é o ocupante. Terá ido fazer pipi? Ou não compareceu?
… tá faltando ele
Se não havia ninguém para ocupá-la, por que é que a cadeira foi deixada lá? É desleixo? Quem souber ganha uma passagem de ida simples para Caracas. De ônibus.

Time unido
Até time de futebol, que é composto de jogadores cuja juventude lhes permite certa dose de indisciplina, costuma ser mais organizado que o grupo da foto.

Dos 17 personagens, 9 estão mascarados e 8 temerários aparecem sem máscara. Numa reunião que trata da pandemia! É constrangedor ver um grupo partido ao meio, deixando a impressão de que, na falta de uma orientação vinda do chefe, cada um faz o que lhe dá na telha. Há os que obedecem ao instinto de sobrevivência – esses vestem máscara. E há os que preferem arriscar a vida para agradar ao chefe – esses estão de rosto nu. É flagrante a impressão de um time de bate-cabeças.

É verdade que fica esquisito, justo no momento de apresentar a vacina à nação, ver que metade dos figurantes abandonaram a principal medida adotada no mundo para conter a epidemia e proteger a população. Dada sem máscara, a recomendação de que todos devem tomar a vacina soa falsa, feita pra inglês ver.

Bolsonaro & assessores estão sempre de olho em gente comendo banana na rua. Assim que enxergam uma casca no chão, atravessam a rua e correm para pisar nela e escorregar. Ainda outro dia, o doutor chamou de maricas aqueles que se protegem contra a epidemia. Depois de ter dado essa mostra de coragem e desprendimento, realmente cai mal pra caramba aparecer de máscara. Que vergonha! O que é que a turma lá de casa vai pensar? E os do boteco então?

Conclusão
Essa simples foto é um símbolo do microcosmo que nos governa: um agrupamento heterogêneo e desarticulado cuja última preocupação é o bem do povo que paga seus salários. Valei-nos, São Benedito!

Problema de tradução

José Horta Manzano

Ah, ninguém segura esses estagiários que escolhem facilidade aparente na hora de traduzir!

Este blogueiro é do tempo em que, quando alguém recebia violento golpe emocional, ficava arrasado. Podia também dizer que tinha ficado abalado ou abatido.

O que fica devastado é um prédio atingido por um míssil, uma cidade após um terremoto, um pasto depois do estouro da boiada. Gente devastada? Não é comum.

Memento mori

José Horta Manzano

Este blogueiro é do tempo em que se aprendia latim na escola. Apesar de a língua dos romanos ter me provocado muita dor de cabeça e trazido muita nota baixa, guardei certa simpatia por ela. Volta e meia, quando dá, enxerto alguma citação, alguma máxima latina. Os romanos podiam ter seus defeitos, mas tinham notável bom senso.

Memento mori – é o título de um artigo que o Correio Braziliense publicou no caderno Opinião faz dois dias. O autor é Otávio do Rêgo Barros, general de divisão e doutor em ciências militares, aquele senhor sério e comedido que foi porta-voz de Bolsonaro do primeiro dia de governo até um mês atrás. Dizem as más línguas que ele foi expelido do cargo por ter caído em desgraça junto a um dos bolsonarinhos, aquele mais desequilibrado e intriguento.

O artigo do general já começa com citação latina, coisa fina. O texto é o reflexo do jeitão do autor: claro, pausado, bem explicado, ponderado, sóbrio. E erudito. Ele cita batalhas da segunda Guerra Púnica, travadas entre tropas romanas e cartaginesas 22 séculos atrás, embates em que entra em cena Aníbal Barca, aquele que atravessou os Alpes montado em elefantes. Me lembrou as aulas de dona Leocádia – quanto tempo!

Mas vamos deixar os elefantes e voltar ao general. Seu artigo, elegante, não cita nomes. Mas descreve claramente o comportamento do antigo chefe, Bolsonaro. O título, Memento mori (=Lembra-te que és mortal), refere-se a um costume romano. Quando voltavam de uma batalha, cobertos de glória, os generais faziam-se cercar de escravos que lhes sussurravam ao pé do ouvido essa frase o tempo todo. Era para não caírem na tentação de se deixarem embevecer por aplausos e adulações, que a glória é passageira.

Batalha de Zama
Segunda Guerra Púnica, 202 a.C.

No memorável artigo, o general Rêgo Barros faz um convite à reflexão. Depois de incentivar os outros Poderes da República e a imprensa a manterem firmeza e não recuarem diante de pressões, conclama a população a exercer seu papel de «árbitro supremo da atividade política».

O general não diz isto, mas, num país em que parlamentares são corruptos e organizações de classe – se é que existem – estão anestesiadas há duas décadas, o único canal aberto para o povo mostrar descontentamento é a rua. Manifestações como as de 2013, que acabaram por derrubar Dilma e o PT, são a única porta de saída deste pesadelo. Como conclamar o povo? Não sei. Vocês, que vivem no Brasil e são peritos em feicibúquis, tuítch e zap-zap, sabem melhor que eu. Minha parte, estou fazendo aqui.

Não sei como é que Bolsonaro foi escolher Rêgo Barros para o cargo de porta-voz. O general não combinava com a súcia que gravita em torno do Planalto. Sem condições: não podia dar certo.

Se o distinto leitor tiver 5 minutos, vale a pena ler o artigo do ex-porta-voz. Não é longo. Está disponível no site do Correio Braziliense. Aqui.

Pro santo

José Horta Manzano

Estamos em época de preenchimento de vaga no STF. Brasília ferve. Candidatos não faltam. Dado que cabe ao presidente da República indicar um nome, postulante que se preza tem o dever de ofício de bajular doutor Bolsonaro. Muitos foram os candidatos, mas só um foi escolhido. E o indicado é… doutor Kassio Marques! Naturalmente, desde que o Senado da República dê aval, fato que, nos tempos que correm (e nas benesses que correm por trás), é dado como favas contadas.

Doutor Kassio vem reforçar o time dos que têm K, W ou Y no nome. Este blogueiro é do tempo em que essas letras eram, por assim dizer, proibidas. A professora ensinava que eram estrangeiras. É como se, para entrar em nossos livros, tivessem de apresentar passaporte visado.

A gente tinha inveja de quem tinha uma dessas letrinhas no sobrenome. Os pais de doutor Kassio hão de ter sofrido desse complexo de não-estrangeiridade. Como sentiam falta das letrinhas no sobrenome e não havia jeito de inseri-las, tascaram um K no nome do filho, logo no começo, que é pra todo o mundo ver. O novo integrante fará companhia a doutora Weber e a doutor Lewandowski. No quesito passaporte visado, no entanto, este último é campeão até agora imbatido: tem dois W no sobrenome.

Ilibada
Como manda a Constituição, o Senado avaliará se o indicado é ou não é senhor de notável saber jurídico. Confirmará também se sua reputação é ilibada. Interessante, esta última palavra. Anda sempre com a reputação a tiracolo. Nunca a vi em companhia de outro substantivo. De onde vem ela?

Vem de libar – verbo raramente utilizado, embora corresponda a um gesto que se vê frequentemente. Libar significa entornar no chão a bebida que estava num copo. Era costume dos romanos de dois mil anos atrás. Em determinados cultos aos deuses, o oficiante apanhava um cálice de bebida, aflorava com os lábios e versava o conteúdo ao solo em oferenda.

O verbo saiu de uso no português atual, mas o gesto perdura, embora um pouco mais egoísta. O legítimo bebedor de cachaça entra no boteco e pede uma caninha. Em seguida, inverte a ordem da oferenda. Primeiro, joga um trisquinho no chão, um presente ao santo – pouco, mas suficiente pra não deixar ninguém aguado. Em seguida, engole o resto (ou seja, praticamente tudo).

Mas fiquem frios: no governo atual, não há mais cachaceiros. São todos devotos da tubaína. E de um delicioso pãozinho encharcado com leite condensado. Nada de dar pro santo, porém! E quem deixar pingar na toalha paga o almoço!

Ilibado entrou no uso comum com o significado de inteiro, não tocado, não corrompido, imaculado, puro. É a isso que a Constituição se refere ao exigir reputação ilibada.

Falando de STF
Achei interessante esta chamada do Estadão deste 12 de outubro. É verdade que a Constituição não proíbe que membros do STF conversem com as paredes. Assim mesmo, o bom senso faz supor que nem doutor Fux, nem os demais ministros, têm o hábito de falar sozinhos. Tudo o que dizem é dito a alguém. Esse alguém é designado como interlocutor. Interlocutores podem ser colegas, a esposa, um contínuo, um motorista ou jornalistas. Em resumo, é evidente que, quando se diz algo, diz-se a interlocutores.

A chamada não perderia nada se eliminasse “a interlocutores”. Ficaria mais enxuta, mais elegante, e daria o mesmo recado. Em tempos de penúria, cortar excessos é dever de todos.

Caçar arroz na prateleira

José Horta Manzano

Jovens brasileiros caçam arroz na prateleira como seus pais caçaram boi no pasto em 1986, na época do pranteado Sarney.

A capa do Estadão de ontem traz foto de um supermercado. À frente de uma montanha de sacos de arroz, um cartaz previne:

«Todos arroz está limitado a 03 unidades».

O confuso recado combina com os tempos estranhos que vivemos. Assim como o país, o texto não tem rumo, não sabe a que veio, nem como sair desta.

É irônico ver no mesmo jornal, lado a lado, a notícia do perdão da dívida de ‘igrejas’ – leia-se bilionárias multinacionais da fé. As notícias estão na mesma página, o que faz sentido: são duas faces da mesma moeda.

Capa do Estadão – 10 set° 2020

Do lado cara, temos um presidente que apelou aos supermercados para que renunciem ao lucro. O pedido é um rematado absurdo, considerando-se que estabelecimentos comerciais não são obras de benevolência. O lucro é o objetivo final de toda empresa.

Do lado coroa, está sobre a escrivaninha desse mesmo presidente, para sanção, uma lei recém-votada por nosso desvairado Parlamento, referente à pesada dívida que certas denominações neopentecostais têm com a Receita(*). A nova lei isenta de vez igrejas e ‘igrejas’ de todo e qualquer tributo; além disso, concede perdão fiscal a elas por todos os débitos pendurados. Isso quer dizer: sonegaram, mas está tudo bem, a conta será dividida entre todos os brasileiros. É a socialização da safadeza.

No Brasil atual, sob a orientação do clã que nos dirige, a orientação é tirar dinheiro de empresas normais, que compram e vendem, para entregá-lo a ‘bispos’ auto-ordenados e trambiqueiros, que se tornaram bilionários à custa da ingenuidade alheia. Pode?

Bem voltemos a todos arroz. O cartaz tem poucas palavras, mas alguns grãos de areia incomodam.

1. Dado que o sujeito está no plural, o verbo deve acompanhar. “Estão limitados” ficaria melhor. Como o “está limitado” já vinha pré-impresso, vamos deixar barato.

2. “03 unidades”. Ah, esse zero inútil antes dos números é praga. Este blogueiro é do tempo em que dígito se chamava algarismo e valia por si, sem precisar da inútil companhia de um zero à esquerda.

3. Ainda “03 unidades”. Por que “unidades”? A palavra saco tornou-se politicamente incorreta? Pois acho que “3 sacos” fica melhor; são 3 sacos de arroz.

4. “Todos arroz”. Em duas palavras, dois escorregões. Primeiro, falta o artigo. Segundo, muita gente não sabe, mas arroz tem plural. É arrozes. Não é usual, mas no cartaz do supermercado caberia perfeitamente. Portanto: “Todos os arrozes”.

Arrozes num restaurante espanhol

(*) Caso o distinto leitor queira, por curiosidade, saber se seu deputado foi cúmplice da aprovação dessa velhacaria, consulte a lista que a Câmara publicou com o voto de cada um. Pode-se ordenar por unidade da Federação, por partido ou por deputado. Clique aqui.

Brinquedo ressuscitado

José Horta Manzano

Este blogueiro é do tempo em que patinete era feito de madeira. E preferia o gênero masculino: O patinete. E não andava sozinho, era movido a feijão e dependia da batata da perna. E era exclusivamente reservado para crianças de até 8 ou 10 anos. E, no meu caso pelo menos, tinha de ser vermelho. Hoje mudou.

Já faz alguns anos que o antigo brinquedo foi ressuscitado, numa prova de que o mundo dá voltas e os acontecimentos acabam se repetindo. Só que agora, motorizado, o simpático biciclo deixou de ser brinquedo para crianças. Quem sobe em cima agora são marmanjos.

Patinete (que costumava ser usado por crianças) e monociclo (que costumava ser usado por palhaços) proliferam atualmente. Ainda não enquadrados pela regulamentação viária, fazem como os primeiros veículos motorizados que circularam 120 anos atrás: rodam desordenadamente por onde bem entendem. O fenômeno não é só brasileiro mas mundial. Por toda parte, o problema é o mesmo: esses novos meios de transporte individual não se encaixam em nenhuma categoria de veículos. Assim, circulam como bem lhes agrada.

A França em geral e Paris em especial se ressentem do problema. Esses miniveículos mostram-se invadentes. Dezenas de acidentes graves já foram registrados, sempre envolvendo atropelamento de pedestres. As vítimas são em muitos casos pessoas idosas, cujos ouvidos já perderam a acuidade e cujos reflexos não são mais tão alertas.

O Código de Circulação francês está sendo modificado para incluir os novos veículos. Dentro em breve, eles não poderão mais circular na calçada. Terão de utilizar a faixa de bicicleta – se houver. Caso não haja, rodarão na rua. A velocidade está limitada a 25km/h. O transporte de passageiro será rigorosamente proibido, assim como a utilização por condutor com menos de 8 anos de idade. Conduzir em estado de embriaguez também é proibido. Quem for apanhado em infração, receberá multa de 135 euros (600 reais), um montante dissuasivo.

Detalhista e burocrático, o Estado francês já preparou longa lista de podes e não-podes. Uso do capacete, farol dianteiro, farol trazeiro, gestos para indicar mudança de direção, estacionamento estão entre os pontos tratados. Queira ou não, o Brasil terá de seguir o mesmo caminho. Quantos acidentes graves serão necessários pra pôr em marcha a máquina legislativa?

Pente-fino

José Horta Manzano

Chamada O Globo, 8 jan° 2019

Este blogueiro é do tempo em que goiaba não nascia em pé de goiaba, mas em goiabeira.

Tudo era diferente naquela época. Quem fazia pente, por exemplo, era a fábrica. O utilizador passava o pente.

Ah, tem mais! Substantivo composto, pente-fino se escrevia assim, com hífen. (Aliás, continua-se a escrever do mesmo jeito.) Pente fino (sem hífen) é qualquer pente de pouca espessura. Pente-fino (com hífen) é objeto específico, que todos conhecemos, excelente pra tirar piolho. Aliás, o pente-fino nem é tão fino assim ‒ o espaço entre os dentes é que é reduzido.

Dicionários, que não costumam mentir, estão aí, loucos pra serem consultados.

Tráfego pesado

José Horta Manzano

A Ponte Velha (Ponte Vecchio), de Firenze, foi erguida no ano de 1345, faz quase sete séculos. E está lá até hoje, galharda e elegante, o que é normal. De fato, não é corriqueiro ver ponte cair. Ninguém imagina que a ponte medieval que liga as duas margens do Rio Arno possa desmoronar assim, de uma hora pra outra.

Faz uns dias, a pista de um viaduto paulistano afundou bem na junção de duas placas de concreto. O sinistro criou um degrau na pista. Esse desnível, além de ameaçar derrubar o viaduto sobre os trens que circulam mais abaixo, impossibilita o trânsito de veículos.

Chamada Estadão, 20 nov° 2018

Este blogueiro é do tempo em que trânsito significava tráfego, passagem, movimento de pessoas ou de veículos, o ato de atravessar ou de circular. No entanto, dado que o trânsito de veículos nas desorganizadas megalópoles brasileiras costuma ser lento e encrencado, o significado da palavra evoluiu. Hoje em dia, trânsito deixou de ser palavra neutra, sem qualificação. Passou a ser sinônimo de tráfego pesado.

O jovem estagiário do jornal responsável pelas chamadas não conheceu a época em que o trânsito, conhecido então como tráfego, era pacato. Para o jovem, trânsito é engarrafado por natureza. Daí o título esquisito que informa que vias estão abertas à circulação «para evitar trânsito», quando um incauto imaginaria o contrário, isto é, que as vias tivessem sido abertas justamente «para facilitar o trânsito» e não para evitá-lo. É conversando que a gente se entende.

Os equilibristas

José Horta Manzano

A cada vez que uma disputa eleitoral vai para o segundo turno, reaparecem os políticos indecisos. Este blogueiro é do tempo em que os que se recusavam a se decidir por um lado ou por outro eram ‘afinados’. Hoje, é costume dizer que ‘ficam em cima do muro’.

A meu ver, homem político que assim se posiciona é fortemente suspeito. Duas razões, ambas negativas, podem estar na origem dessa tomada de posição. Pode ser que o figurão, vacilante, não consiga realmente se decidir, o que é péssimo sinal para um eleito do povo. Ou então pode ser que ele esteja se resguardando e esperando baixar a poeira para pular do lado certo do muro. Esta última possibilidade é ainda pior que a primeira, por mostrar venalidade e oportunismo.

Político honrado tem de se molhar. Ou pende para um lado, ou pende para o outro. Não é aceitável fincar os pés em canoas diferentes. É até perigoso, que os barcos podem se afastar, e o incauto acabar dando um mergulho.

Se político dissimulado já é ruim, partido indeciso é pior ainda. O próprio de um partido é justamente… tomar partido, cáspite! Estes dias, à espera do segundo turno, vários partidos «liberaram» seus aderentes pra votarem como quiserem. É o fim da picada. Até parece que os simpatizantes estavam esperando a orientação do partido. Qual nada! Cada eleitor já tinha tomado decisão por sua conta.

Se, em tempos normais, pega mal quando um político ou um partido fica em cima do muro, neste momento será pecado capital. O momento é crítico e a equação, simples. Quem quer a volta do PT ao comando da nação, que vote para doutor Haddad. Quem não quer, que vote para doutor Bolsonaro. Só a neutralidade não vale. Os que se abstiverem estarão deixando a decisão nas mãos de outros. Bobeiam. Quem se equilibra na corda bamba é andorinha.

Liquidificador

José Horta Manzano

Sempre me surpreendeu o comprimento da palavra liquidificador. São seis sílabas: li-qui-di-fi-ca-dor. É muita letra pra designar um aparelho tão pequeno. Outras línguas encontraram saídas mais curtas. Nós, não. Preferimos escrever por extenso. Na época em que esse aparelho apareceu, algo como liqüex ou liqüinho talvez soasse um tanto chué pra dar nome a objeto tão revolucionário. Há de ser por isso que preferiram palavra de dobrar a esquina.

Falando nisso, tenho notado que nós, brasileiros, damos preferência a palavras longas em detrimento das mais curtas. Por exemplo, em vez do velho , o somente parece ser mais apreciado hoje em dia. O só está ficando só, abandonado num canto. Um outro caso é o do antigo verbo pôr que, caído em desuso, foi substituído por co-lo-car.

Mais uma palavra que espichou foi fim, atualmente substituída por final. Ninguém mais deseja um bom fim de semana, mas um excelente final de semana. Talvez a palavra mais comprida dê impressão de prolongar o tempo de descanso.

A simpática aeromoça de antigamente deu lugar à não menos simpática comissária de bordo ‒ título menos caseiro e mais pomposo, sem dúvida. E mais comprido também.

E a hora que virou horário então? A hora legal, ditada pela Divisão do Serviço da Hora, do Observatório Nacional, é hoje conhecida como horário: horário de verão, horário de Brasília. Este blogueiro é do tempo em que a palavra horário era reservada para indicar algo que ocorria em tempo ritmado, cadenciado, como em horário de funcionamento, horário de trabalho, horário de saída dos ônibus.

E o problema, que se está transformando em problemática? Vejo aí contaminação vinda de palavras modernas como informática e telemática. Bom, convenhamos: problemática tem um charme e um perfume erudito que problema está longe de ter.

E assim vamos nós, sempre acrescentando penduricalhos, raramente podando, arcados sob o peso crescente. E vamos em frente, que um dia ainda chegamos lá.

Pente-fino

José Horta Manzano

Chamada Estadão, 17 jan° 2018

Este blogueiro é do tempo em que se passava pente-fino. Falo da época em que saúva e piolho eram pragas nacionais. Ingenuamente, a gente pensava que essas marcas de atraso haviam desaparecido da paisagem.

Eis senão quando… os piolhos hão de ter ressurgido. E em quantidade considerável! Como as fábricas de pente já não dão conta das encomendas, o jornal nos informa que até o Supremo se pôs a fazer pente-fino. Que labuta!

Meu pé de laranja-lima

José Horta Manzano

Nossa língua tem maneira bem prática de dar nome a árvores frutíferas. Partindo do nome do fruto, acrescenta-se a desinência -eiro ou -eira à raiz da palavra. Não funciona em todos os casos, mas dá pro gasto.

Pra compensar, o sistema serve até para alguns arbustos e até para árvores que não dão frutos comestíveis. Assim, temos: manga/mangueira, abacate/abacateiro, goiaba/goiabeira, laranja/laranjeira, tomate/tomateiro. Mas também: paineira, caneleira, magnoleira, palmeira.

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Sabe-se lá por que razão, uma correlação tão simples é cada vez mais ignorada. Em vez de cafeeiro, muitos usam «pé de café». No lugar de abacateiro, «pé de abacate». E ainda «pé de laranja», «pé de pitanga» e por aí vai. Será a lei do mínimo esforço em ação? É uma pena. Acho um empobrecimento.

Ontem, na legenda de uma bela foto, o Estadão explicou que se tratava de uma «fábrica de tijolos». Este blogueiro é do tempo em que esse tipo rudimentar de indústria se chamava olaria. A palavra deve ter-se tornado arcaica. E eu junto.

Uma curiosidade
No caso de fruta, o nome da árvore será sempre do mesmo gênero que o nome da fruta. Assim: pêssego/pessegueiro, ameixa/ameixeira, mamão/mamoeiro, pera/pereira. Há uma única exceção: figo/figueira.

Os problema é

José Horta Manzano

Este blogueiro é do tempo em que sujeito no plural mandava o verbo para o plural. A gente tinha até um nome para esse fenômeno: concordância de número. Na língua árabe, a coisa vai mais longe. O verbo concorda com o sujeito não somente em número, mas também em gênero. Assim, ele escreve (yaktubu) e ela escreve (taktubu) têm formas diferentes. Para os povos árabes, cujos costumes fazem diferença rigorosa entre sexos, deve parecer natural. Para nós, é difícil assimilar.

No entanto, ainda distinguimos singular e plural. Mais cedo ou mais tarde, vai desaparecer, tenho certeza. Ainda virá o dia em que escreveremos «Os menino pega os peixe». E tudo bem. Mas ainda não chegamos lá. Por enquanto, diferentemente do que foi estampado na chamada de jornal abaixo, cargos na Esplanada são problema do presidente. Fato que, além de ser gramaticalmente adequado, me parece uma evidência: cabe ao dono da casa escolher seus ministros, assessores e empregados, pois não?

Chamada Estadão 4 ago 2017
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Ao ver a imagem do impoluto senador ‒ que, por um triz, não se tornou presidente desta maltratada república ‒ imortalizado à frente de uma bandeira brasileira artisticamente desfraldada, veio-me uma interrogação. Vamos começar do começo.

Nossa Constituição, como a de todo país civilizado, estipula que figurões políticos ‒ parlamentares e chefe do executivo entre outros ‒ gozam de imunidade durante a vigência do respectivo mandato. Parece-me acertado. Mas atenção: imunidade não é sinônimo de impunidade. Significa apenas que não podem ser presos durante o mandato, a não ser quando apanhados em flagrante ao cometer crime inafiançável. Não obstante, suas excelências podem, sim, ser entregues à justiça para inquérito e julgamento. Para tanto, é preciso antes que o plenário da Câmara (ou do Senado) aprove a suspensão da imunidade.

Paralisado, o país assistiu dois dias atrás ‒ ao vivo e em cores ‒ à sessão em que a Câmara deliberava sobre a suspensão da imunidade do presidente do país. O resultado, todos conhecem: os parlamentares não concordaram com a entrega imediata do chefe do Executivo à justiça. Assim, ele ainda goza de ano e pouco de adiamento. Só poderá ser julgado depois de deixar o cargo.

Se a imunidade do presidente foi discutida e votada, por que razão não se fez o mesmo com doutor Neves, senador da República acusado de ter cometido crimes similares? É verdade que, como tenho de cuidar da vida e não passo o dia à escuta do que acontece no teatro e nos bastidores de Brasília, posso ter perdido um capítulo. Se algum leitor mais arguto puder me esclarecer, agradeço desde já.

Só queria saber por que doutor Temer teve de enfrentar o corredor polonês, suou frio, bambeou, quase caiu e acabou se segurando enquanto doutor Neves passou entre as gotas e saiu da chuva sem se molhar.

Abolição dos privilégios

José Horta Manzano

No dia 14 de julho de 1789, a prisão da Bastilha foi tomada por uma turba de cidadãos enfurecidos. O prédio sinistro costumava abrigar inimigos do rei, gente que lá podia ficar trancada por anos a fio, sem sombra de processo, dependendo unicamente da vontade pessoal do soberano. A liberação dos poucos prisioneiros ficou na história como o início da Revolução Francesa.

Tomada da Bastilha, 14 jul° 1789

Três semanas mais tarde, na noite de 4 de agosto, a Assembleia Constituinte, encarregada de lançar as bases do novo regime e de organizá-lo, decretou a abolição dos privilégios. A decisão marcou o fim do sistema feudal na França. A partir daquele dia, caíam por terra todos os privilégios pessoais, de família, de classe, de região, de cidade, de corporação ‒ todos eles característicos da estrutura feudal.

Uma análise feita hoje, passados dois séculos, mostra que a ordem feudal desapareceu, mas os privilégios ainda resistem. As leis que valem para uns mas não para outros continuam firmes e fortes. De fato, não são muito diferentes das que a Revolução imaginou banir. Persistem praticamente no mundo inteiro. Em qualquer parte, determinadas corporações e certas categorias de cidadãos são “mais iguais” que os demais.

No Brasil, assim como em outros rincões pouco esclarecidos, é particularmente visível a persistência do tratamento diferenciado que se dispensa a castas especiais, ainda que sejam acusadas de ter cometido crimes gravíssimos. Faz algumas semanas, senhor Cabral (antigo governador do Rio de Janeiro) e digníssima esposa foram acusados de uma enxurrada de crimes. Levados para o xilindró, tiveram direito a essas fotos que se tiram de bandidos, de uniforme de cadeia com régua escalonada ao fundo.

Chamada Estadão, 1° abr 2017

Estes dias, uma juíza brasileira, de passagem por Paris, há de ter ficado de mau humor ao se dar conta de que a Prisão da Bastilha já não mais existe, tendo cedido lugar a uma praça urbana. Talvez despeitada pela descoberta, há de ter imaginado que a abolição dos privilégios não passava de lorota. Sem hesitar, despachou de Paris mesmo ‒ em atitude pouco usual. Decidiu em favor da soltura da digníssima esposa do governador encarcerado. A razão invocada é que a moça tem filho menor de 12 anos, que não pode ficar sem a presença diária e constante da mãe.

Este blogueiro é do tempo em que, na falta dos pais, crianças pobres iam para o orfanato e guris ricos, para o colégio interno. Quero crer que, ainda que o casal seja inocente das acusações de que é objeto, há de ter economizado o suficiente para evitar a Assistência Pública e mandar o filho para um bom internato. Afinal, o marido foi governador de um dos Estados mais importantes da União.

Inevitável e logicamente, vozes se alevantam lembrando que, se esta senhora pode, por que não as outras? Se toda prisioneira com filho menor de 12 anos tiver de ser solta pelo mesmo motivo, vai haver boa debandada dos presídios femininos. Afinal, privilégios foram abolidos ou não?

Nota etimológica
Privilégio é palavra que já veio formada da língua latina. Compõe-se de dois elementos.

Privus
Singular, só, particular, que basta a si mesmo;

Legem
Lei (da mesma raiz que ligar, legal, legítimo ‒ aquilo que obriga).

Diz-se privilégio, portanto, da lei privada, que vale somente para um indivíduo ou para pequeno grupo. Contrapõe-se ao direito comum.