Sarrafo alto

José Horta Manzano

Desde que venceu duas Copas seguidas (1958 e 1962), o Brasil se impregnou de um estranho sentimento: o de que é o dono da taça. Em outros termos, os proprietários legítimos e vitalícios do troféu somos nós – qualquer eventual vencedor do campeonato será considerado usurpador.

Nestes últimos 60 anos, a cada edição do Campeonato do Mundo, insistimos em fixar como objetivo trazer a taça pra casa, numa espécie de tudo ou nada. É opção arriscada. É como o atleta de salto com vara que coloca o sarrafo alto demais. O risco de não conseguir chegar lá é elevado. Nessa toada, vamos de desilusão em desilusão, uma a cada quatro anos.

Acredito que deveríamos ser mais cautelosos na hora de colocar o sarrafo. Outros países fixam objetivos mais modestos: chegar às quartas ou à semifinal; eventualmente, de chegar à final. O risco de causar um trauma nacional é menor.

Neste sábado de ressaca, a mídia nacional está coalhada de críticas, tanto à equipe quanto (principalmente) ao técnico. É fácil criticar refestelado num sofá em frente à tevê. Tite devia ter feito isto, esqueceu de fazer aquilo, seria melhor se tivesse feito outra coisa. Bobagem. Profecias do passado são fáceis de fazer.

Até a ordem em que os jogadores bateram os pênaltis é criticada! Como se a conquista da taça tivesse sido frustrada só porque fulano bateu antes de sicrano. É um delírio.

Por que a Seleção perdeu? Ora, porque não fez gol, veja você. O escrete jogou cinco partidas. Tirando o passeio diante da fraca Coreia, sobram quatro jogos sérios. Quantos gols foram marcados nesses quatro jogos? Quatro gols. Dá uma média de um por partida. Me parece fraquinho para quem tem ambição de voltar a ser campeão do mundo.

Mas não tem importância. Os “meninos” da Seleção não precisam do prêmio, visto que já estão esbanjando dólares (e arrogância) ao comer bife de ouro enquanto muitos de seus fãs passam fome.

Quanto ao Brasil, já ganhou o prêmio maior: conseguiu livrar-se do tenebroso capitão. Bolsonaro desocupando o Planalto vale mais que ganhar a Copa.

Presidente eterno

José Horta Manzano

Subir ao topo do poder e lá permancer… quem dera! É o sonho de muitos poderosos. Tanto poderosos experientes e confirmados quanto aprendizes em começo de carreira. Mas não é tarefa fácil. Requer um punhado de circunstâncias que poucas vezes se conjugam. O mais das vezes, a perenização no poder é fruto de ação violenta que, como tudo o que é engendrado na violência, periga também terminar na valentona.

Hitler e Mussolini, para se segurar no topo da escada, lançaram mão de artilharia pesada: guarda pretoriana, coerção, ameaça, perseguição feroz a adversários, eliminação da concorrência. Como se sabe, o tombo final também ocorreu brutalmente, ao final de guerra que custou milhões de vidas.

Os bondosos irmãos Castro subiram no bojo de uma revolução que começou com ares de redenção nacional e acabou se transformando em brutal repressão que dura há meio século. Cubanos com menos de setenta anos de idade sequer se lembram de como era a vida quando cada um tinha liberdade de viver como bem entendesse.

O sírio Bachar e o norte-coreano Kim(*) rezam pela mesma cartilha dos Castros. Com uma diferença, todavia: já chegaram lá como herdeiros da violência dos antepassados. Menos hábeis que os predecessores, têm trocado os pés pelas mãos. Defrontam um mundo que já tem dificuldade em tolerar regimes a tal ponto brutais. Terão sorte se conseguirem escapar ao destino do fascista Mussolini ‒ dependurado de cabeça pra baixo num posto de gasolina.

Um caso fora dos padrões apareceu estes dias. Foi na China. Desejoso de eternizar-se no topo do poder, Xi Jinping(*) conseguiu extraordinária façanha. Conseguiu que a assembleia aprovasse mudança na Constituição. Onde antes limitava a permanência na presidência a dois mandatos, o texto permite agora tantas reeleições quantas o ocupante do cargo desejar. Com um congresso amestrado, ninguém vai conseguir tirar o homem de lá.

O resultado do voto dos representantes do povo chinês foi de deixar babando qualquer aprendiz de ditador: a alteração da lei foi aprovada com o resultado soviético de 2958 votos a 2. (Corajosos, esses dois!) Três deputados se abstiveram. A mídia global comentou o acontecido. Mas não se ouviu o mais leve sussurro de desaprovação. Nenhum governo estrangeiro exprimiu o mais débil desagrado.

Imagino que um certo senhor que presidiu o Brasil por oito anos ‒ e hoje está um bocado enrolado com a justiça ‒ há de estar verde de inveja. Bobagem. No Brasil, essa façanha não passa de sonho irrealizável. Em nossa terra, diferentemente do que acontece na China, seria preciso corromper meia assembleia. E sairia caro, pode acreditar. O patrimônio integral de uma Petrobrás não bastaria. Precisava umas duas ou três petroleiras.

(*) Nome de chineses e coreanos segue ordem diferente da nossa. Primeiro, vem o sobrenome (nome de família). Depois aparece uma combinação de duas palavras que servem de prenome. Em Xi Jinping, por exemplo, Xi é o nome de família enquanto Jin Ping é o prenome dado pelos pais. Na mesma linha, o nome do ditador coreano é composto de Kim (sobrenome) e de Jung Il (prenome).

A metralhadora de Trump

José Horta Manzano

Fazendo eco a meu artigo de ontem, trago um complemento de informação. Eu tinha, de fato, comparado Trump ao Lula no quesito despreparo para o cargo exercido. Nem um nem outro se mostraram à altura do que se espera do presidente de uma República.

O Lula, que só abre a boca pra dizer asneira, dispensa comentários. Já de Mr. Trump, bem-nascido e milionário antes de assumir a presidência, era permitido esperar que, uma vez empossado, baixasse o tom e se comportasse como digno mandatário da maior potência do planeta. Vã esperança.

A investida do presidente americano contra as importações de aço e alumínio são particularmente canhestras. Visa claramente a reconfortar a fatia menos esclarecida de seu eleitorado ‒ as eleições de «mid-term» estão chegando. Mas o estrago é maior que o ganho.

Ao tomar medida protecionista, Mr. Trump poderia ter escolhido golpear importações da China, tradicional adversário comercial. Perdeu a oportunidade. Ao elevar abruptamente o imposto de importação de aço estrangeiro, atingiu em cheio uma maioria de aliados históricos.

As importações de aço americanas (em milhões de toneladas/ano) provêm dos países seguintes:

    • 1. Canadá        5,6
    • 2. Brasil        4,6
    • 3. Coreia (Sul)  3,4
    • 4. México        3,2
    • 5. Rússia        2,9
    • 6. Turquia       2,0
    • 7. Japão         1,7
    • 8. Alemanha      1,4

Em 2017, a China só exportou aos EUA 740 mil toneladas de aço, quantidade desprezível. Portanto, a medida castiga países amigos e deixa os inimigos gargalhando. Com presidente assim, é difícil que o país avance.

Coisa de louco

José Horta Manzano

Por mais arguto e observador que a gente seja, certos gestos e falas de figurões são difíceis de interpretar por fugirem ao senso comum e por não se enquadrarem em lógica nenhuma.

Estes últimos dias, três medalhões passearam pelas manchetes. A fala de cada um deles, embora se restrinja a poucas palavras claras e fáceis de entender, resiste a toda análise. Um doce para quem decifrar o que está por detrás desse ‘jogo da esfinge’.

Kim Jong-Un
O reizinho da Coreia do Norte é o terceiro representante de uma linhagem que tem conseguido a proeza de manter 25 milhões de pessoas vivendo como se estivessem na Idade Média. O ditador declarou, a quem interessar pudesse, que pretende lançar ataque nuclear contra a maior potência bélica do planeta estas próximas semanas.

Se pretendia deixar o mundo embasbacado, conseguiu o intento: sua ousadia petrificou a humanidade. Por seu lado, conquistou o que poucos alcançam: a condenação unânime do Conselho de Segurança da ONU.

Sabendo que, se o regime da Coreia do Norte se mantém, é por obra e graça da China e da Rússia vizinhas, é difícil entender por que o líder máximo coreano estaria serrando o galho onde está sentado.

Donald Trump
Muitos já prometeram o impossível. Aliás, é vício recorrente em políticos. Promessas de campanha são, quando muito, cumpridas pela metade. Faz parte do jogo. Depois de eleitos, políticos e dirigentes costumam modificar o discurso, sair pela tangente, contemporizar, botar água no vinho.

Numa atitude incomum, o instável presidente americano ameaçou intervir militarmente na Venezuela. Segundo sua fala confusa, deixou a impressão de estar preocupado com a situação do povo hermano, vítima do tiranete de turno.

Mr. Trump preocupado com desrespeito a direitos humanos na Venezuela? “Conta outra!” ‒ replicaria algum sarcástico. A declaração do presidente dos EUA foi desastrosa. Ao reavivar velhos fantasmas, conseguiu o que parecia impossível: a unanimidade, ao menos temporária, dos demais países da América Latina em defesa do caudilho venezuelano. Um furo n’água.

Lula da Silva
Nosso antigo presidente, aquele que despencou dos píncaros da aprovação popular para uma rejeição nunca dantes vista nessepaiz, parece ter perdido a cabeça de vez. Acossado por meia dúzia de processos criminais ‒ o primeiro dos quais já lhe rendeu pena de quase dez anos de cadeia ‒, o homem parece que alucinou total.

Faz dois dias, em discurso numa Faculdade de Direito(!) do Rio, declarou que, caso volte à presidência, vai «fazer a regulação dos órgãos de imprensa». Não precisa ser diplomado em ciências ocultas para entender que a intenção de nosso guia caído é amordaçar a imprensa, filtrar e controlar o fluxo da informação. Como se isso fosse possível nestes tempos de internet.

Não se deve cutucar onça com vara curta. De cada três eleitores, um tem o jornal televisivo como única fonte de informação. E a base do eleitorado do Lula se encontra justamente nesse terço de população escassamente informada. Faltando mais de um ano para o voto, provocar a imprensa escrita e, mais grave ainda, a televisão é atitude mais que temerária. É verdadeiro suicídio. O homem pirou de vez.

Abrigo antinuclear

José Horta Manzano

Você sabia?

Quando coincide de o regime paranoico da Coreia do Norte ser dirigido por um descerebrado ao mesmo tempo em que a mais forte potência bélica do planeta está sendo capitaneada por um presidente insensato e impulsivo, o mundo corre perigo. Luzes vermelhas de advertência piscam nervosas.

O meninote mimado, esquisito e alienado que conduz a monarquia absolutista da Coreia do Norte promete bombardear território americano ainda neste agosto. Dado que o rapaz passou a vida dentro de uma bolha, vive isolado do mundo real. Sua ameaça não deve ser tomada como bravata. O reizinho pode muito bem tentar fazer o que promete.

Suíça: porta blindada de abrigo antinuclear subterrâneo

Por incrível que possa parecer, nem o Japão nem a Coreia do Sul, países situados na linha de frente do perigo nuclear norte-coreano, implementaram medidas de proteção à população contra esse tipo de ataque. À exclusão da equipe dirigente, que certamente conta com bunkers ultraprotegidos, o grosso dos habitantes não dispõe de refúgio. Nem no Japão nem na Coreia do Sul, há abrigos antiatômicos suficientes. Os que existem não comportam nem metade da população.

Nesse particular, um país sobressai. Não são os EUA, não é a Rússia, não é a China, não é a Alemanha. É a pequenina Suíça. Em 1963, no auge da Guerra Fria, quando o risco de um ataque atômico era elevado, foi votada uma lei obrigando todas as novas construções a se dotarem de um abrigo antinuclear segundo normas rigorosas e precisas.

A lei valia para toda construção de oito cômodos ou mais, o que deixou de fora somente casas pequenas. Todos os novos prédios de apartamentos passaram a contar com abrigo. A lei previa portas e paredes de concreto com impressionante espessura. Tudo foi regulamentado: sistema de ventilação, filtros, fiação, emissor e transmissor de rádio, contador Geiger, medicamentos, estoque de água, de víveres e de artigos de higiene suficientes para pelo menos duas semanas. Estatísticas oficiais atuais informam que a quantidade de vagas nos abrigos do país excedem o número de habitantes.

A queda do Muro de Berlim e o esfacelamento da União Soviética reduziram o risco de ataque nuclear. No começo deste século, a lei foi afrouxada. Construções de menos de 38 cômodos não são mais obrigadas a instalar refúgio. Mas, atenção! Esse abrandamento não significa abandono da antiga prática. As regras determinam agora que:

    1. Quem já tinha refúgio antinuclear continua obrigado a assegurar a manutenção do local. Anualmente, as instalações têm de ser inspecionadas, incluindo fiação, tubos de ventilação, estoque de alimentos. Tudo tem de estar pronto pra funcionar.
    2. Quem construiu mais recentemente e não conta com abrigo tem de pagar uma taxa anual. O dinheiro assim recolhido serve para financiar a manutenção de grandes abrigos públicos.

As medidas, que poderiam parecer risíveis até alguns anos atrás, passaram a fazer sentido depois da catástrofe de Fukushima. É de espantar que Coreia do Sul e Japão tenham descuidado da proteção dos cidadãos. O perigo está batendo à porta.

Os problemas que não temos

José Horta Manzano

Artigo publicado pelo Correio Braziliense em 3 jan° 2015

Farofa 1Entrada de ano é hora de balanço. Todos nós, coração amolentado, olhamos pra trás, analisamos nossos próprios feitos e juramos de pés juntos fazer mais caprichado no ano que entra. Junto com o peru, a farofa e a troca de presentes, o exame de contrição faz parte do ritual da passagem de ano.

Canais de tevê, jornais, revistas e portais fazem questão de propor retrospectivas do ano que se foi. Pouca atenção se dá a acontecimentos positivos. Em compensação, é impressionante o que se vê de desastre e de desgraça. Compreende-se: coisa ruim vende melhor.

É verdade que, no Brasil, 2014 foi um ano e tanto. Eleições, seca saariana, vexame na Copa, violência endêmica, corrupção aos borbotões assustaram. Os problemas que temos são pesados. Às vezes nos fica a impressão de estarmos vivendo no pior país do planeta. Será mesmo?

Nestes dias flutuantes que separam passado e futuro, proponho darmos uma espiada no quintal do vizinho. Vamos, por um momento, esquecer nossas mazelas e imaginar a aflição de outros povos.

Manif 11Os Estados Unidos, símbolo de desenvolvimento e sucesso, estão sacudidos por distúrbios raciais. Ressurgem os espantalhos que imaginávamos falecidos com o último dos hippies.

Serra Leoa e outros territórios da África Ocidental choram seus mortos. Estão sendo dizimados por severa epidemia, mal terrível contra o qual pouco ou nada se pode fazer.

Desvario na condução da economia mergulhou nossa vizinha Venezuela no desabastecimento e na hiperinflação. O país resvala para a anomia.

Todos os Estados da orla do Pacífico vivem na permanente angústia de terremoto ou tsunami, catástrofes que podem irromper sem dizer água vai.

Imigração 4Empurradas pela miséria, populações inteiras arriscam a pele na temerária travessia do Mediterrâneo a bordo de embarcações precárias em busca de vida melhor na Europa. Esse fluxo continuado de infelizes aporta na Itália, onde acaba gerando fortes tensões que esgarçam o tecido social.

Os países produtores de petróleo do Oriente Médio, aqueles cuja única riqueza repousa na extração do ouro negro, sabem que a qualquer hora a fonte vai secar. Imagina-se a apreensão criada por essa perspectiva.

As duas Coreias vivem situação paradoxal. A do norte passa fome. A do sul vive há 60 anos na apreensão de um ataque do irmão desorientado.

Os iranianos pelejam contra o olhar reprovador do resto do mundo. Além de serem vistos com desconfiança, sofrem sanções que lhes sufocam a economia.

Já faz meio século que nossos vizinhos colombianos vêm tentando varrer do país o estigma da narcoguerrilha. Sem sucesso até agora.

Guerrilha 1Na França, imigração maciça oriunda das antigas colônias africanas tem semeado crescente discórdia entre franceses «de raiz» e recém-chegados. Essa cizânia é alimento para correntes políticas populistas e neonazistas, que ganham adeptos a cada dia.

Os países da África subsaariana, já castigados pela pobreza endêmica e pela natureza hostil, ganharam mais um inimigo. Grupos terroristas elegeram domicílio na região, que se tornou, de facto, território sem lei.

A queda vertiginosa do preço do petróleo, aliada às sanções aplicadas por países ocidentais, reduziu dramaticamente as rendas do Estado russo. Refletindo a desesperança, a moeda nacional perdeu boa parte de seu valor. Como de hábito, quem sente o baque é o povo.

Espanha, Turquia, Ucrânia, China são dilaceradas por crônicos movimentos separatistas – explícitos ou latentes. O estado insurreccional pode até, por momentos, se aquietar. Mas é calmaria que não ilude: por baixo da brasa, o fogo cochila. Um sopro basta para reavivá-lo e incendiar o país.

E o Brasil, bonito por natureza, como é que fica? Temos nossos problemas, sim. Seria hipocrisia negá-lo. No entanto, sopesando os males que corroem outros países, impõe-se o óbvio: nossos problemas têm solução.

Tsunami 1De fato, não dependemos da benevolência de governos estrangeiros, nem da descoberta de vacina milagrosa, nem da clemência da natureza. Não temos guerrilhas a combater, nem separatistas a derrotar, nem inimigos a temer. A faca, o queijo, a responsabilidade e a chave do futuro estão unicamente em nossas mãos – bênção de que outros povos não dispõem!

Quem quer mudar, muda. Quem não quer, reclama. Que tal incluir, nas intenções de fim de ano, a mudança de atitude? Que tal arregaçar as mangas e meter mãos à obra? A recuperação do País requer empenho de todos. Temos de salvar o que ainda pode ser salvo. E é bom acharmos logo solução contra a dissolução de nossa sociedade. Feliz ano-novo!

Brasil, educação zero

A rua é a maior escola... Manifestações de 7 out° 2013, RJ Foto Estadão

A rua é a maior escola…
Manifestações de 7 out° 2013, RJ
Foto Estadão

Cora Rónai

Um país que trata os seus professores a cacetadas, balas de borracha e spray de pimenta é um país que despreza o seu futuro.

Há algumas semanas, voltou a circular pela internet um ranking de aprendizado mundial divulgado no final do ano passado pela Pearson, empresa inglesa dedicada à educação. Ele reflete dados colhidos entre 2006 e 2010 em 39 países e uma região administrativa (Hong Kong), e não chega a surpreender quem se interessa pelo assunto. O primeiro lugar é ocupado pela Finlândia, seguida por Coreia do Sul, Hong Kong, Japão e Cingapura. O Brasil só não ficou em último lugar porque, espantosamente, a Indonésia conseguiu se sair ainda pior. (…)

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Meio cheio ou meio vazio?

José Horta Manzano

Reportagem publicada na edição online do Estadão de 4 de março informa que a Universidade de São Paulo está entre as 70 mais respeitadas do mundo.

Quem se ativer ao artigo pode até ficar com a impressão de que, afinal, o nível do ensino superior no Brasil não está tão mal como dizem. No entanto, quem for um pouquinho mais zeloso e tiver a curiosidade de conferir a informação diretamente na fonte pode se decepcionar.

THE ― Times Higher Education ―, a instituição que fornece a análise, não se contenta em publicar a lista dos estabelecimentos mais respeitados. Faz outros levantamentos. O site do instituto britânico providencia duas listas de classificação: uma baseada em opiniões subjetivas e outra calcada em 13 critérios objetivos.Meio cheio

A USP, realmente, aparece entre as 70 melhores. Na lista subjetiva. Esse rol traduz a percepção que alguns milhares de cientistas e outros graduados têm com relação a cada universidade. É de apostar que poucos dentre eles conhecem a fundo a totalidade das instituições de qualidade espalhadas pelo planeta.

Já na lista estabelecida a partir de critérios objetivos, nossa universidade aparece num inglório 158° lugar. A primeira da lista 2012-2013 somou 95.5 pontos, enquanto a USP amargou magros 50.5 pontos.

A China, país pelo qual, 20 anos atrás, ninguém daria um vintém, alçou sua Universidade de Pequim ao 46° posto. A Coreia tem sua Universidade de Pohang em 50° lugar. Até Taiwan, antes mais conhecida por sua produção de artigos falsificados do que pela excelência de seu ensino, emplacou sua melhor universidade 24 lugares à frente da nossa.

Se levarmos em conta a indigência de nossa Instrução Pública, é gratificante encontrar o florão de nosso ensino superior entre as 160 melhores instituições do mundo. É quase um milagre. É o copo meio cheio.

.:oOo:.

O Brasil é o 5° país em superfície, o 5° em população, aparece entre as 10 maiores economias do globo, tem pretensões a tornar-se potência regional. Como se não bastasse, faz o que pode (nem sempre o que deveria) para ganhar cadeira cativa no Conselho de Segurança da ONU ― obstinação que atormenta o Planalto já faz uns dez anos.
Meio cheio

Depois de todos esses «considerandos», convenhamos, não há muito que se orgulhar dos «finalmentes». Não se chega lá por obra do acaso. Não há que confundir ONU com Fifa. O caminho passa obrigatoriamente pela Educação. É árduo, demorado? É. Mas não há outro jeito.

É muito chato constatar, mas acho que nosso copo anda meio vazio.

Vamos ajudar a Fifa

José Horta Manzano

Costuma-se dizer que o exemplo vem de cima. Parece-me uma evidência, de baixo é que não poderia vir. Outro dito popular ― adoro ditados e provérbios ― afirma que quem semeia vento colhe tempestade. Em geral, é o que acontece.

Há corrupção no futebol em vários países! Que surpresa! O correspondente do Estadão deu a inacreditável informação, publicada na edição online de 17 de janeiro. Na mesma linha, seguiram o Globo, Terra e outros sites noticiosos.

Todos relatam que a Fifa, um dos organismos mais endinheirados do planeta, precisa de ajuda para coibir a propagação da corrupção. É mais ou menos como se uma raposa, presa num galinheiro, pedisse ajuda às galinhas para escapar.

Ora, pois. Não é segredo para ninguém que a Fifa, além de ser dona de cofres abarrotados, é composta de elementos altamente suspeitos de corrupção. Não falo de ladrões de galinhas, mas de raposas, de criminosos de alto coturno. Daqueles cujo balcão de negócios faria empalidecer de inveja certos congressistas tupiniquins. Dos mais graduados!Corrupção

Pouca gente arriscaria a pele para assaltar a pobre vendinha de seu Zé. Já onde há dinheiro, a tentação é, evidentemente, maior. Para eliminar ― ou, pelo menos, reduzir ― a corrupção no «esporte das multidões», a retidão tem de começar no topo. O exemplo vem de cima. Uma associação (mais que) suspeita de pesados malfeitos não tem moral para exigir de seus afiliados aquilo que não exige de si própria.

Mas que se aquietem todos, nada de pânico! A corrupção, os árbitros vendidos, as trapaças em todos os escalões do futebol ainda têm dias risonhos à frente. Estamos ainda em plena semeadura de vento. As borrascas de verdade só virão mais tarde.

Falando nisso, ainda não consegui entender por que raios o Catar (ô nome esquisito, prefiro Qatar, mais exótico) foi designado para acolher a Copa do Mundo de 2022. Se o Japão e a Coreia, poucos anos atrás, tiveram de unir forças para abrigar uma evento de tal magnitude, como é possível que alguns quilômetros quadrados de deserto possam montar a tenda, receber o circo e garantir o espetáculo? Tudo indica que, nessa história, os palhaços somos nós.

Onde tem fumaça, tem fogo. Tá ruço.