José Horta Manzano
Um dos objetivos maiores da agigantada vaidade do Lula era conseguir um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Nem que fosse um postozinho de segunda classe, sem direito a veto. O que importava a nosso messias, custasse o que custasse, era entrar nos livros de História como aquele que tinha alçado o País a patamar de destaque.
Hoje é ideia morta e enterrada. Nossa bizarra política exterior mostrou-se incapaz de se impor no Mercosul, onde somos sócios ultramajoritários com 70% das ações. Até em Honduras, o Lula tentou e fracassou. Recuou inclusive na Bolívia. Mais tarde, chegamos a nos desentender com o pequeno Paraguai. E a África então? Sumiu na poeira do caminho.
Mas não era assim antes de 2010. Nossa trôpega diplomacia, esquecida de que quem manda na ONU são as grandes potências, procurava agregar o maior número possível de nações deserdadas, na esperança de que apoiassem o pleito do Brasil. A ingenuidade que reinava pelas bandas do Planalto devia sonhar com um levante dos países pobres, uma espécie de Revolução Francesa mundializada.
Em 2007, no dia em que o mandachuva do Alto Volta(*) – hoje chamado Burquina Fasso – completava 20 anos à frente do país, o Lula fez questão de prestigiar, com sua presença, o personagem. Pouco importou a nosso líder o fato de o antigo capitão Blaise Compaorê ter chegado ao poder na esteira de um golpe de Estado em que o mandachuva anterior foi assassinado.
Nosso presidente tampouco se importou com o fato de os 20 anos de mando do bambambã africano terem mantido o país entre os 10 mais atrasados do mundo. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Burquina Fasso é de 0.343. O Brasil tem 0.744. A Noruega atinge 0.944.
O Lula apertou amistosamente a mão do ditador, discursou, posou para fotos, foi acolhido em visita de Estado com direito a tapete vermelho e hospedagem principesca. O ditador continua lá até hoje. O povo continua na mesma indigência. Só que, faz uns dois dias, a situação mudou.
O povo, cansado de tanta miséria e tanta corrupção, se sublevou contra a enésima tentativa do «presidente» de alterar a Constituição a fim de ganhar mais um mandato. «Chega, que já aguentamos 27 anos! Está na hora de acabar com isso!» – clamam.
A guerra civil está declarada. Os edifícios públicos de Uagadugu, a capital, estão sitiados. Alguns foram incendiados. Quebra-quebras, tiros e incêndios já causaram 30 mortes. O «dono do país» disse que não renuncia. Tudo, agora, está nas mãos do exército. O que os generais decidirem será respeitado à força.
Tenho certeza de que, na impossibilidade de viajar para prestar solidariedade ao amigo africano em apuros, nosso messias já telefonou a ele. Dizem que, homem fiel, nosso líder nunca traiu ninguém. Não será a esta altura da vida que há de começar.
(*) Desde o século XV, navegadores portugueses visitaram a costa da África ocidental. Cada acidente geográfico recebia nome, fosse rio, cabo, estuário, ilha, promontório, golfo. Por razões hoje esquecidas, um rio que desembocava naquelas redondezas recebeu o nome de Rio da Volta.
Quatro séculos depois, quando o território atravessado pelo rio se tornou protetorado francês, recebeu o nome de Alto Volta, como temos nós o Alto Tietê ou o Alto Amazonas.
Em 1984, por ocasião de um golpe de Estado, o nome – que trazia perfume de tempos coloniais – foi substituído por denominação de sabor local.
Mais uma última informação: Burquina Fasso conta com mais de 60 etnias, cada uma falando sua própria língua. Para se entenderem, utilizam o francês.