Myrthes Suplicy Vieira (*)
Refletindo sobre o julgamento de um ex-presidente em Porto Alegre, sobre a onda de moralismo que se espraia por todas as áreas do país e sobre o devido respeito às leis, cheguei à triste conclusão de que há, sim, um fundinho de verdade nas lamúrias da esquerda brasileira.
Antes de mais nada, #nuncaantesnahistóriadessepaís um chefe do Executivo viu-se forçado a depor coercitivamente, ser julgado formalmente por corrupção e lavagem de dinheiro e enfrentar a humilhação de ter seu passaporte apreendido após condenação unânime em segunda instância.
Sabemos todos, mesmo que não queiramos admitir, que praticamente todos os antecessores do infeliz personagem tiveram lá seus deslizes éticos, administrativos, financeiros e políticos, sem jamais terem sido levados às barras de um tribunal. Por que, então, só ele e agora que estamos a poucos meses de uma nova eleição presidencial? A condenação da #almamaispuradoplaneta terá sido reles consequência de ele ter se compadecido do infortúnio secular do lado menos favorecido da sociedade brasileira e ter-lhe propiciado mais educação, mais renda, mais empregos, mais direitos e menos desigualdade? Ou os tempos deveras são outros? Evoluímos como cidadãos combativos ou regredimos como massa de manobra de líderes populistas?
Depois, inútil negar, a tese mil vezes repetida dentro e fora de nossas fronteiras do #égolpe provou estar ao menos parcialmente correta. Desde a carta aberta do atual mandatário, queixando-se de sua irrelevância política no cargo de vice-presidente e prometendo ser um articulador mais competente para recolocar o Brasil nos trilhos, até os dias de hoje, a consciência crítica dos cidadãos tem sido abalada quase diariamente por sucessivas infrações à ética e à moralidade pública perpetradas por ministros, secretários de Estado, integrantes do partido governante, membros da base aliada e pelo próprio presidente. Por maiores que sejam as evidências, os indícios e as provas, nenhum deles foi afastado do cargo por decisão judicial ou teve de se defender em juízo. Inquietante, não é mesmo?
Se tudo o que fizemos em infinitas manifestações de rua foi trocar seis por meia dúzia, como desacreditar da existência de interesses inconfessos nas batalhas pelo impedimento da então presidente? Pense rápido: o que conta mais para a concretização de um futuro esplendoroso para o país, a competência ou o caráter? O olhar social ou o equilíbrio da economia? Envie sua resposta em vídeo para a principal emissora do país, tomando o cuidado de manter o celular na posição horizontal, deitado.
Ainda, quando vamos finalmente enfrentar a dolorosa realidade de que o sistema judiciário brasileiro é enviesado, inconsistente, lento e ideologicamente comprometido? Quem ignora que a expressiva maioria de suas decisões é tomada com base não no RG, mas no CIC? Quem não se apercebe do fato de que nem os magistrados da mais alta corte do país obedecem estritamente ao que reza o texto constitucional e atropelam muitas vezes a separação de poderes? Como deixar de lado as evidências de que são capazes de incluir em seus arrazoados argumentações que configuram, sem sombra de dúvida, #perseguiçãopolítica?
Aí estão para provar casos emblemáticos como o impedimento da posse do ex-presidente no cargo de secretário de governo por suspeita de desvio de finalidade e a passividade de vários juízes federais frente à escolha de uma deputada condenada por infrações trabalhistas graves para o cargo de ministra do Trabalho, ou a nomeação de um indivíduo com mais de 120 pontos em sua carteira de habilitação para o cargo de diretor do Detran de Minas Gerais.
Não, senhores, definitivamente não há como tapar o sol com uma peneira. O fato cabal, irrefutável, é que #semLulanãohádemocracia. Chega de mimimi de quem não tem coragem de analisar os fatos políticos com espírito de isenção.
(*) Myrthes Suplicy Vieira é psicóloga, escritora e tradutora.
Concordo, mas, não em gênero, número e nem grau. Essas cabeças ocupadas por mentes diabólicas, essas mesmas cabeças que antes do ex, assumir como presidente, tudo o que tinham eram muitas ideias e um caminhão cheio de ansiedade.
Ah, e quando aconteceu o milagre tão esperado, o ex-vendedor de greve e famigerado metalúrgico assumiu o poder e ao longo dos 13 anos, não teve tempo de respirar, pois, seu tempo era dedicado a como, quando e onde iria usurpar. Assim como um menino traquina e seu grupo das antigas que pulava o muro para roubar mexericas, essas mesmas cabeças deveriam ter calculado tudo isso, e por em prática para a defesa do paizão, ao invés de nesse exato momento, estarem tirando o seu da reta, afinal, muitos agora querem ser deputados federais, estaduais, mas, em outro partido, é claro.
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Não sei não…
É livre a manifestação do pensamento mas, na minha opinião, a autora do texto está viajando na maionese….
Defender a impunidade não é o melhor caminho
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Pensando em que se ladrões do mesmo nipe estão aí, elegíveis, realmente, “#semlulanãohádemocracia. Por outro lado, um ladrão a menos, mesmo que condenado por um café pequeno diante da grandiosidade de sua desfeita. Antes de cavar cova tão profunda, deveria ter se perguntado o “demiurgo” como diz J.Horta Manzano, quem é que iria ou poderia se deitar nela.
Para mim, considerando os demais pontos de vista que abordou, o que realmente importa é que a justiça está sendo feita, mesmo que, parcialmente.
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Agradeço emocionada todos os comentários. Era exatamente essa a reação que eu pretendia despertar com minhas ironias. Também eu fiquei perplexa com a quantidade de artigos que pulularam na imprensa, assinados por analistas políticos de renome – e que, estranhamente, se converteram da noite para o dia em defensores ardorosos do estado de direito – condenando a parcialidade do judiciário. Toda afirmação, reafirmo, pode ter um fundo de verdade que pode e deve ser explicitada para contribuir para um debate saudável sobre este período sombrio de nossa história.
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