Aventura no consulado

José Horta Manzano

Faz alguns dias, publiquei um artigo sobre o preço exagerado do passaporte brasileiro. Mostrei também minha indignação com a profusão de nossas representações diplomáticas em partes do mundo onde são claramente supérfluas.

Semana passada, estive no consulado do Brasil em Genebra para tirar novo passaporte, que o meu acaba de vencer. Comparado com o de dez anos atrás, o atendimento melhorou, está mais civilizado. Ainda assim, a recepção me pareceu fria e distante. Está mais com cara de repartição pública do que tinha sido da última vez, cinco anos atrás.

Dizem que todo grupo de pessoas assume características do chefe. Tive o prazer de conhecer o embaixador que exercia as funções de cônsul-geral até poucos anos atrás, um gaúcho boa cepa. O atendimento de então se parecia com ele. A acolhida amistosa fazia que a gente se sentisse bem-vindo. Por razões que não cabe aqui explicar, o embaixador foi despachado para o outro lado do planeta. O atual ocupante do cargo será talvez dono de personalidade mais austera, o que explicaria a acolhida menos efusiva.

Para ser atendido, convém marcar hora por internet ou por telefone (agora se deve dizer «agendar», verbo com o qual tenho dificuldade em me acostumar). No consulado, apesar da aparência de modernidade, a marca da negligência nacional continua presente. O burburinho e a agitação dos presentes contrastam com o comportamento silencioso e organizado do país. Como se sabe, no Brasil, as coisas não costumam ser claras e nítidas. Tudo é mais ou menos. No consulado de Genebra, essa impressão já começa pelo prédio. Há outros escritórios e firmas no mesmo edifício. No térreo, há elevador dos dois lados. Não está escrito qual deles serve o consulado. Talvez todos cheguem lá, mas não há indicação.

Vencida a etapa do elevador, você chega ao andar e entra. No imenso salão, logo enxerga, à sua frente, quatro guichês numerados de 1 a 4. Entre você e os guichês, umas três fileiras de quatro cadeiras cada uma, todas de frente para os guichês, como se estivesse lá um palco. Para o lado direito, o salão se espicha, largo e comprido. Serão uns dez metros de largura. Não dá pra ver o fim, de tão longo que é.

Falta cor no chão, nas paredes, no sóbrio mobiliário, no teto rebaixado. Através de uma parede de vidro, percebe-se um jardim interno, dotado de iluminação natural. A entrada não é franqueada ao distinto público. Acostumados à sociedade compartimentada do Brasil, os frequentadores devem achar normal. Não há nenhuma máquina distribuidora de café, bebidas e salgadinhos. Dado que são aparelhos que não acarretam custo ao consulado, a gente fica sem entender por que ninguém pensou nisso.

Vê-se gente por aqui e por ali, grupinhos conversando, um ou outro apoiado em mesinha preenchendo um formulário, dois ou três carrinhos de bebê sem passageiro. Nenhum relógio nas paredes. Várias telas de vídeo, todas com imagens fixas, imóveis e inúteis que teimam em indicar: «guichê n° 1, senha n° 1». Não vi distribuidor de senhas.

Você pára, olha, e fica sem saber o que fazer. Não há um estandezinho de informações para orientar. Nenhuma indicação escrita. Estava eu parado, olhando para um lado e para o outro, sem saber se corria ou se gritava. De repente, uma mocinha mais caridosa, atrás de um guichê vazio, fez sinal pra me aproximar. Dei meu nome. Depois de conferir no computador, ela me disse, apontando para o fundo do corredor comprido: “O senhor pode esperar em frente aos guichês, que será chamado pelo nome”. Agradeci. Os guichês? ‒ pensei. Haverá outros? Caminhei até a outra ponta do corredor, uns 100 passos. A paisagem era idêntica à da entrada: outros quatro guichês enfileirados, numerados de 1 a 4, e as fileiras de cadeiras alinhadas em frente. Sentei-me numa delas e esperei.

Passeando os olhos ao redor, vi cartazes com os dizeres «Você nunca é culpada! Chame 180». Fiquei imaginando o que pudesse significar. Mais tarde, soube pela internet que é o número de telefone de uma central que, no Brasil, cuida de mulheres maltratadas. Fiquei sem entender a razão pela qual esses cartazes enfeitavam paredes aqui, a dez mil quilômetros de distância. Cogitei que seria mais útil criar uma hipotética Central de Amparo ao Imigrante Clandestino. Juro que a central telefônica havia de explodir.

De repente, uma mocinha detrás de um dos guichês me chama pelo nome. Me senti muito importante! Com certa decepção, constatei que atendentes não sorriem mais. Executam ordens. Mostrei os documentos. Me mandou encostar os dedinhos (os dez!), um por vez, no visor de vidro de uma geringonça que tira impressões digitais. O paninho e o vidro de álcool desinfetante, presentes da vez anterior, não estavam mais lá. Vivemos tempos de penúria. Deixei de lado o nojo e me verguei à ordem. Ainda argumentei que já tinha deixado ali minhas impressões digitais cinco anos antes. Por que repetir o processo? Data de nascimento e impressões digitais não costumam mudar. Ela retrucou que o sistema era assim mesmo e que, por favor, seguisse as instruções. Segui.

Daí mostrei o recibo do pagamento de 150 francos (quase 500 reais), feito oito dias antes em agência de correio, em benefício do consulado. Ela olhou e me disse que ia conferir se o dinheiro tinha chegado. Já um tanto incomodado, esclareci que, aqui na Suíça, os Correios são uma instituição. O carimbo aposto no papelzinho garante que o pagamento foi efetuado. Tem fé pública e não permite discussões. Ela não pareceu abalada. Guardou o recibo assim mesmo para conferir. Eu já estava começando a ficar alterado. Afinal, faz décadas que renovo meu passaporte no mesmo consulado. Já deviam ter um arquivo com meus dados, não?

Nisso, a mocinha viu de relance, na minha pasta de documentos, minha cédula de identidade e meu título de eleitor, documentos não exigidos para renovar o passaporte. Pediu os dois. Eu fiz notar que meu RG, tirado 52 anos atrás, mostra uma foto que já não identifica o titular. Quanto ao título, que hoje é um papelzinho sem foto, não identifica ninguém. E tem mais: para fins eleitorais, sou domiciliado exatamente naquele consulado que, portanto, tem todos os meus dados.

Ela foi-se embora dizendo que ia «processar» meu passaporte. Fiquei imaginando como se «processa» um passaporte. A primeira impressão que me veio à mente foi a de uma fábrica de salsicha ‒ com ou sem papelão, tanto faz. Acho que ela quis simplesmente dizer que ia «fazer», «preparar» ou «aprontar» o documento. Me pediu que voltasse à poltroninha e que lá aguardasse. Fui e fiquei quietinho.

Apreciei de novo, de longe, os cartazes insistindo pra eu ligar, sem medo, para o 180. Ao lado, havia outro cartaz mencionando que a lei número tal confere prioridade no atendimento a pessoas com mais de 60 anos, grávidas, portando criança de colo e com sobrepeso. Fiquei matutando como seria possível alguém ter mais de 60 anos, estar grávida, obesa e ainda aparecer carregando criança no colo. Ah, essas negligências na formulação de leis ainda hão de nos atormentar por muito tempo.

O tempo de espera começou a parecer longo. Divaguei. Empaquei nessa lei que privilegia uns com base na aparência. Considerei que velhice não é doença. Gravidez tampouco. Para carregar criança, existem hoje em dia carrinhos muito práticos e levinhos. Constatei que a lei se limitava a casos visíveis, omitindo os demais. Como ficam pessoas com câncer, insuficiência cardíaca, reumatismo, dor na espinha, calo no pé? Ou bem se ajuda a todos os que precisam ou não se ajuda a ninguém. A tal lei me pareceu capenga.

Reparei ainda numa coleção de uma dezena de gravuras penduradas na parede do fundo do imenso salão, reprodução de obras do século 17. Cada gravura de uns 30cm de altura por um metro de largura traz a silhueta, traçada a bico de pena, de cidades europeias. Berlim, Berna, Bordeaux, Antuérpia, Bruxelas estão ali. Tudo coisa fina. Fiquei um tanto nostálgico com a ausência das araras, dos papagaios, do bondinho do Pão de Açúcar, da calçada de Copacabana que costumavam aparecer nos cartazes de antigamente. Os velhos posters da Varig desapareceram com a própria.

Uma hora, a mocinha reaparece e me chama, sempre exibindo fisionomia de esfinge sem sorriso. Vou até lá e, antes de mais nada, boto reparo nas mãos dela. «Ufa!» ‒ pensei ‒ «Ela vem com dois passaportes, sinal de que o novo saiu.» De fato, devem ter constatado que meu pagamento chegou. Com os passaportes, me devolveu o RG e o título de eleitor, mas não o recibo de pagamento. Perguntei onde estava. «O recibo é nosso» ‒ me diz ela. Aí, me empertiguei. «Não, senhora, o recibo é de quem pagou. Vocês ficam com o dinheiro e eu, com o recibo. Sem meu recibo, não saio daqui». Sem saber como reagir, ela me pediu um instantinho e desapareceu.

O instantinho foi longo. Deu pra ouvir um vozerio lá atrás. Acho que não é todos os dias que aparece um conterrâneo tão chato. Mas, sacumé, como eu falo grosso e uso argumentação lógica, costumo obter o que peço. Depois de um tempo, volta a moça com um recibo emitido pelo consulado, com papel timbrado com as armas da República, tudo em cores, numa folha de papel A5, chique que só vendo. Senti-me satisfeito. Desejei à mocinha boa continuação, virei as costas e fui-me embora.

Com meu limitado senso de orientação, foi difícil encontrar a saída. Cheguei a enxergar até a porta do banheiro, mas nada de saída. Não ocorreu ao pessoal do consulado instalar um cavalete com uma seta indicando por onde se deve passar. Acabei encontrando e saí. Sem lenço, mas… com documento.

Deu uma pontinha de saudade do tempo em que a salinha do consulado não tinha mais de dez ou doze metros quadrados. Era um em que, por falta de conterrâneos nesta parte do mundo, o atendente ‒ havia um só ‒ era um simpático senhor português. Era um tempo em que a gente dava uma passadinha no consulado só pelo prazer de manusear um exemplar amarrotado d’O Cruzeiro ou da Manchete ou, com sorte, um exemplar do Estadão ou d’O Globo com notícias do mês anterior. Eram o cordão umbilical de um tempo sem internet. Que fazer? Ninguém segura o progresso.

Europa: o esgotamento de um ciclo

José Horta Manzano

Artigo publicado pelo Correio Braziliense em 29 abril 2017.

Nada é eterno. Tudo o que nasce acaba morrendo um dia. Humanos e suas criações seguem o mesmo caminho: só subsistirão enquanto fizer sentido. Todo efeito é consequência de uma causa. Desaparecida a causa, o efeito não tem como se sustentar.

Quando foi assinado, sessenta anos atrás, o Tratado de Roma aliava seis países europeus num mercado comum visto como antessala de futura união política. Dois motivos estavam na base da ideia. O primeiro deles era pôr freio a toda veleidade belicista alemã. Duas hecatombes provocadas por aquele país tinham incutido em todos a aversão a enfrentamentos. O segundo motivo vinha paradoxalmente do temor da própria Alemanha Federal de acabar desaparecendo. De fato, nos anos 1950, o grande receio era de que a Guerra Fria esquentasse de vez. Se acontecesse, a Alemanha, situada na linha de frente, seria a primeira vítima. Perigava ser engolfada no universo comunista e tornar-se satélite de Moscou. Obedecendo ao adágio que preconiza que a união faz a força, a Alemanha juntou-se aos vencedores da guerra e subscreveu o tratado.

O tempo passou. Como é natural, erros e acertos foram cometidos ao longo das décadas. Do lado bom, conflitos foram banidos e a Alemanha não foi anexada pela União Soviética. A economia europeia, o ponto mais bem sucedido do tratado, deu salto gigantesco. Tanto é que o Reino Unido, a princípio arredio, se candidatou e entrou para o clube. Com a queda de barreiras que emperram importação e exportação, as trocas comerciais entre parceiros prosperaram.

Por lástima, alguns poucos erros têm golpeado a associação de países. Um dos mais desastrosos foi pecado de vaidade. Esquecidos de que não convém juntar, debaixo do mesmo teto, nações em estágio civilizatório assimétrico, deram preferência à quantidade de membros em detrimento da qualidade e da homogeneidade. Permitir a entrada de países que ainda estavam na era do arado puxado a cavalo não foi boa ideia. Constata-se o resultado hoje. O princípio de livre circulação de pessoas permite que fortes contingentes de imigrantes se estabeleçam onde bem entenderem. Há países, como a Alemanha, onde essa mão de obra abundante e barata é necessária e bem-vinda. Em outros, no entanto, tal afluxo causa tensões e favorece a ascensão de líderes oportunistas que acabam sobressaindo à custa de chavões populistas. A característica maior do populista é sugerir soluções simples para problemas complexos. Designa-se um culpado ideal, um inimigo do povo, e pronto: atribuem-se-lhe os males nacionais.

O Brexit é exemplo típico do que acabo de afirmar. Durante anos, líderes populistas martelaram a ideia de que a criatividade nacional estava cerceada pela rigidez das regras comuns. O país seria mais livre fora da União. Disseram ainda que a vinda maciça de estrangeiros, cujo estereótipo é o «encanador polonês», estava contribuindo para o arrocho salarial, o aumento do desemprego e o empobrecimento dos nativos. Silenciaram sobre as vantagens que o pertencimento à União havia trazido ao Reino Unido. Deu no que deu: um plebiscito meio bobo determinou o abandono do navio. A União Europeia levou um baque, mas não um golpe mortal. Se a segunda economia do continente se vai, as outras permanecem. Por enquanto, ainda dá pra remendar.

by Yasar ‘Yasko’ Kemal Turan, desenhista turco

Agora, chegou a vez da França. Todos os olhos estão voltados para o segundo turno das presidenciais, marcadas para 7 de maio. Os finalistas são Monsieur Macron, europeu convicto, e Madame Le Pen, isolacionista e populista. Analistas estão convencidos de que uma eventual, ainda que improvável, vitória da candidata xenófoba ‒ que exige a saída da França da União ‒ precipitaria o desmonte da UE.

Concordo e vou além. Ainda que Madame Le Pen perca, a UE, tal como a conhecemos hoje, está com os dias contados. A vitória do candidato liberal pode garantir-lhe alguns anos de sobrevida, nada mais. Os jovens europeus, que não conheceram guerra, fome nem miséria, agem como se essas benesses fossem naturais e automáticas. Por ignorância, atribuem as mazelas à União. O fato é que os motivos que levaram à criação da União Europeia deixaram de existir. O ciclo já se esgotou e a Europa está na UTI. Como todos os acordos, pactos e tratados, este também está chegando ao fim. É pena, mas assim é a vida: tudo o que nasce acaba morrendo um dia.

Greve

José Horta Manzano

Alvíssaras! As notícias são excelentes! O Brasil está voltando a ser um país normal. Como assim? Num dia como o de hoje? Com tudo parado?

Exatamente. Melhor ver o país temporariamente parado por uma greve do que paralisado durante anos por incompetência do governo. Pelo espaço de quase quinze anos, sindicatos estiveram anestesiados, cooptados, mamando nas tetas gordas do erário, inativos, servindo aos interesses escusos de políticos e desservindo aos reclamos dos trabalhadores. Isso está acabando.

O momento é complicado. Uns perderam hoje o dia de trabalho, outros se assustaram, houve os que não puderam honrar um compromisso ou ainda os que deixaram de fazer coisa importante. Mas isso passa. Mais uns dias, e será página virada. Estamos voltando à normalidade democrática ‒ é o que importa.

O próprio de sindicatos e de associações de classe é fazer ouvir a voz dos representados. Naturalmente, excessos e ações violentas têm de ser coibidos. Polícia existe exatamente para isso. De resto, que se devolva o legítimo direito de expressão aos que trabalham.

Os reclamos, cá entre nós, serão infrutíferos. Gostemos ou não, nossas leis trabalhistas envelheceram e terão de ser atualizadas. Os costumes e o modo de vida evoluíram, o que nos impede de continuar a viver sob legislação antiquada. No entanto, mesmo sem grande chance de sucesso, trabalhadores devem continuar a gozar do direito de se manifestar. Democracia é assim. Melhor ver sindicatos se agitando do que vê-los curvados e obsequiosos em reverência ao poder do dinheiro que brota do andar de cima.

Como diz o outro, no final, tudo dá certo. Se não deu certo, é porque ainda não acabou.

Os milagres de Photoshop

José Horta Manzano

O Photoshop substituiu o retoque que bons profissionais davam às fotos antigamente. Ninguém mais retoca foto na ponta do lápis. O negócio hoje é ‘photoshopar’.

Todos preferem mostrar ao mundo uma imagem próxima dos cânones de beleza e elegância, o que é compreensível. Repreensível é o exagero, quando a imagem se afasta demais do original. Mas… onde traçar a linha vermelha? Como estabelecer o limite entre o aceitável e o reprovável? Onde começa o ridículo? A resposta não é simples.

No Brasil, políticos em campanha aparecem em múltiplas fotos que acabam todas sendo usadas em santinhos. Na França, a coisa funciona de maneira diferente. É praxe cada candidato à presidência tirar uma única foto oficial que o representará durante toda a campanha. Essa imagem aparecerá em santinhos e em cartazes colados nos lugares apropriados.

Monsieur Macron e Madame Le Pen são os finalistas que disputarão o segundo turno das eleições, previsto para domingo 7 de maio. Cada um já divulgou a imagem oficial para a reta final. A de Monsieur Macron não foi alvo de muito comentário. Já a de madame está sendo bastante criticada. Os eleitores denunciam visíveis retoques que transformam uma senhora de quase 50 anos numa mocinha de trinta e poucos.

Esta é a foto oficial de campanha:

Choisir la France ‒ Escolher a França

As redes sociais se encarregaram de ridicularizar. Aqui, por exemplo, de «Escolher a França», o slogan foi transformado em «Escolher a franja».

Choisir la frange ‒ Escolher a franja

Esta outra é mais explícita. «Escolher a França» tornou-se «Escolher Photoshop».

Choisir Photoshop ‒ Escolher Photoshop

Mais venenosa, esta aqui compara o antes com o depois, mostrando o rosto verdadeiro e o «photoshopado». Lembra propagandas antigas do tipo «Eu era assim, passei óleo de peroba e fiquei assim».

Antes ‒ Depois

Os mais exagerados dizem que, no espaço de uma foto, madame perdeu 50 quilos e 30 anos. Maldade pura.

Nota
No sentido em que costuma ser usado por Madame Le Pen, o verbo escolher não traduz exatamente choisir, a palavra que aparece nos cartazes. Há uma nuance que vale destacar. Quando ela diz «choisir la France», melhor seria traduzir por «dar preferência à França».

Aliás, a «préférence nationale» ‒ preferência ao que é nacional ‒ é seu mote permanente. Combina com o ideário populista de extrema-direita, em que os males vêm necessariamente de fora.

Fair play

José Horta Manzano

Tem coisas que, contando, ninguém acredita. Dia destes, um jogador de futebol paulista foi protagonista de episódio inusitado. Num lance controvertido, constatou que o árbitro estava sancionando um jogador do time adversário por uma falta não cometida. Sua consciência falou mais alto. Avisou ao juiz que a verdade não era bem aquela e que a penalidade era injusta. Como resultado, o árbitro anulou a sanção.

Não sou torcedor de time nenhum, muito pelo contrário. Tampouco acompanho evolução de campeonatos. Portanto, sinto-me à vontade para comentar sem paixões. Pelo que li, o gesto do jogador deixou os adversários atônitos e enfureceu os que torciam por seu time. Houve até esportistas que, entrevistados, não ousaram desaprovar abertamente a atitude e torceram o verbo para censurar de mansinho, sem dar muito na vista. É paradoxal.

Rodrigo Caio, o autor do gesto de fair play

O assunto do momento, que nos penetra até à medula, é a corrupção, fruto da desonestidade do pessoal do andar de cima. Faz anos que trambiques vêm sendo revelados, dia a dia, hora a hora. Prenderam este! Ahhhh, já era hora! Soltaram aquele! Ohhhhh, merecia continuar atrás das grades! E aquele lá, quando é que vai pra Curitiba?

Há quem diga que não ficaria triste se uma bomba atirada no Congresso eliminasse, de um golpe, toda a classe dirigente. Todos parecem acreditar que a salvação da lavoura e a redenção do país estão na honestidade de propósitos e de comportamento. No entanto… quando um gesto de lealdade vai contra nosso interesse pessoal, a coisa muda de figura.

Nada nem ninguém pode ser e não ser ao mesmo tempo. Ou ansiamos por viver num país honesto ou não estamos nem aí. Não se pode protestar de manhã ‒ de bandeira e camiseta amarela ‒ e desaprovar à tarde o comportamento honesto de um cidadão. Ainda que contrarie nosso interesse pessoal. É questão de coerência.

No fundo, honestidade está se tornando tão rara no país que, quando surge, choca. Estamos desacostumados.

Boas-vindas à Helô

Myrthes Suplicy Vieira (*)

Ela é do signo de Aquário e provavelmente será criativa, inovadora e voluntariosa (já deu os primeiros sinais). Por outro lado, em sua carga genética estão presentes características que, se na infância não representam preocupação, podem vir a ser conflitantes na vida adulta – como impulsividade, grande força física, flexibilidade corporal, graciosidade, carisma, impaciência, independência, mansidão, facilidade de apego e temperamento cordato.

Tem uma beleza exótica que só se revela para quem se detém com paciência para examiná-la de perto, pela segunda vez. Para os mais apressados e preconceituosos, torna-se evidente que ela não nasceu em berço de ouro e não tem sangue azul.

Helô

Tomou seu primeiro banho hoje e foi enfeitada com pompa e circunstância para atrair o máximo de olhares cúmplices. Dada, de bem com a vida, ela se submeteu aos cuidados corporais sem muito alarido, mantendo-se aninhada e dormitando no colo do seu jovem cuidador.

Estima-se que vai crescer bastante e ganhar peso rapidamente. Tem apenas 2 meses e 16 dias e já pesa mais de sete quilos.

Foi acolhida com as bênçãos de São Francisco, da Rebecca, da Molly e da Aisha. Mesmo exausta, depois de ter corrido atrás dela a tarde toda e dormido só quatro horas, estou apostando todas as minhas fichas que nossa convivência vai ser pacífica, muito divertida e para lá de cansativa.

Deem as boas-vindas à mais nova integrante da família.

(*) Myrthes Suplicy Vieira é psicóloga, escritora e tradutora.

Nota deste blogueiro
Cinófila assumida, a autora do texto deixa transbordar o entusiasmo com sua nova cachorra.

Alhos & bugalhos

José Horta Manzano

Você sabia?

Certamente todos já usaram, alguma vez, a expressão «alhos com bugalhos». Juntamos essas duas palavras para exprimir coisas disparates. «Não misturar alhos com bugalhos» ‒ é o que se ouve de costume. Mas… o distinto leitor saberia dizer o que são bugalhos? Atenção: o desafio só vale para brasileiros. Portugueses conhecem a resposta.

Pois é, alho, todo o mundo sabe o que é. Mas aposto que poucos de vocês se terão preocupado em conhecer o significado de bugalho. Na verdade, uma palavra não tem relação nenhuma com a outra. Estão aí justapostas só pra dar rima. Mas vamos ao significado.

Bugalho em folha de carvalho

O carvalho, árvore comum em regiões de clima temperado, é praticamente inexistente no Brasil, o que explica que o termo seja desconhecido. O bugalho é uma excrescência ‒ uma doença, pode-se dizer ‒ que aparece na folha de uma árvore, especialmente na do carvalho, quando picada por determinado tipo de inseto ou de parasita. Para quem nunca viu, imagine uma noz moscada. O bugalho tem aspecto semelhante.

Os franceses dão a essa bolinha o nome de noix de galle ‒ algo como «noz gálica». Dela se extrai o ácido gálico, que foi usado, durante séculos, em tinturaria.

Por extensão, os portugueses dão o nome de bugalho ao que conhecemos como bolinha de gude. No Brasil, a ausência de carvalhos e de bugalhos faz que o povo desconheça o significado da palavra.

Bolinha de gude, conhecida como bugalho em Portugal

Em compensação, permanece viva na língua brasileira de todos os dias a expressão «olhos esbugalhados», com o significado de olhos muito abertos, arregalados, redondos como dois bugalhos. Temos, aliás, exemplo bem atual.

Todos já devem ter reparado na esposa de um figurão, atualmente encarcerado por corrupção, cujo nome me escapa no momento. A digníssima senhora aparece em todas as imagens com olhos permanentemente esbugalhados. Dizem as más línguas que é consequência desastrosa de cirurgia estética mal sucedida. A ser verdade, estará feita a prova de que dinheiro não compra tudo.

Frase do dia — 333

«La Carta Democrática Interamericana (CDI) que la Organización de Estados Americanos (OEA) busca aplicar a Venezuela es un mecanismo esencialmente constructivo para una dictadura que se burla de la comunidad interamericana.»

Luis Leonardo Almagro Lemes, político uruguaio, antigo ministro de Relações Exteriores, atualmente secretário-geral da OEA  (Organização dos Estados Americanos), em artigo publicado pela Agência EFE.

Como se pode constatar, o secretário-geral não dobra a língua ao qualificar a Venezuela como “ditadura que zomba da comunidade interamericana”.

Cartilha da Ética

José Horta Manzano

Soube-se esta semana que o advogado que defende os interesses do Lula, de Palocci e de Mantega na Lava a Jato está prestes a abandonar os clientes. Cada um abraça a cartilha ética que lhe parece mais próxima das convicções íntimas, assim é a vida. O causídico não sentiu embaraço ao aceitar assumir a defesa do trio. Agora, a coisa se complica.

Tudo indica que Palocci está disposto a abrir o bico e firmar acordo de delação premiada. Se assim for, o que é que o antigo ministro pode revelar? Ora, a turma da Lava a Jato já tomou depoimento de dezenas de subs, vices e outros personagens secundários. As únicas informações de peso que podem assegurar algum benefício de leniência a senhor Palocci se referem a… quem estava acima dele, a quem dava as ordens e coordenava o funcionamento da máquina. Em termos crus: nosso guia periga ser a figura central da delação. Se não for assim, dificilmente os procuradores de Curitiba assinarão o acordo.

Nenhum advogado pode assumir a defesa de um de seus clientes que esteja sendo atacado por outro de seus clientes. A situação é insustentável. Para defender o cliente A, o causídico teria de se valer de informações que lhe foram confiadas pelo cliente B. Nessas alturas, como fica o segredo profissional? Simplesmente não dá.

Quando fiquei sabendo do nome do advogado do trio, uma luzinha longínqua se acendeu. Não me soou estranho. Fui cavoucar e descobri: trata-se do mesmo que, doze anos atrás, assegurou a defesa de Paulo Salim Maluf. Os mais antigos devem se lembrar que o ex-prefeito de São Paulo passou 40 dias preso, junto com o filho, em 2005. Saiu da cadeia por mérito de um habeas corpus impetrado pelo advogado que hoje defende o Lula.

Na época, correu um zum-zum-zum. Houve quem desconfiasse de conluio nas altas esferas para beneficiar Maluf, medalhão cujo nome figura até hoje na lista de procurados pela Interpol. Naquela altura, o povo ainda andava meio apático. Fosse hoje, dificilmente o STF permitiria a soltura do figurão. É, a coisa anda feia pro lado da bandidagem, gente! Cruz-credo!

Quase doze anos atrás
Em artigo publicado no Globo em 21 out° 2005, o jornalista Ricardo Noblat comentava a soltura de Maluf nestes termos:

«Não, meus caros, definitivamente todos não são iguais perante a lei. Não no Brasil, onde o Estado é um anti-Estado. Existe para proteger e beneficiar os que podem mais e, aqui e ali, faz alguma coisa pelos que valem menos.

Carlos Velloso (STF) & José Roberto Batochio (advogado) em 2005
foto: Dida Sampaio

A foto acima é quase um resumo de nossa história de iniqüidades. À esquerda, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Velloso, relator da ação que tirou da cadeia Paulo Maluf e o filho; à direita, José Roberto Batochio(*), ex-presidente nacional da OAB e advogado dos Maluf.»

(*) Doutor Batochio (deturpação do sobrenome veneto Battocchio) é o advogado do trio Lula, Palocci e Mantega.

O preço do passaporte

José Horta Manzano

Coisa mais irritante ter de pagar pela besteira alheia! Pior ainda é ter de pagar pela desonestidade e pela malandragem dos outros. É insuportável. Vamos aos detalhes. Para os que vivem no exterior, documentos brasileiros são de pouca valia. CNH, carteira de identidade, CPF, carteira profissional & assemelhados não ajudam. Um único documento é indispensável: o passaporte.

Com celular, nunca me preocupei. Estou entre os derradeiros a resistir ‒ não por convicção religiosa, mas simplesmente porque até hoje não me fez falta. No dia em que fizer, adoto a moda e entro pro cordão. Passaporte é outra coisa. Não tem jeito, é obrigatório tê-lo. E dentro do prazo de validade.

Outro dia, tive a inspiração de dar uma olhada no meu. Susto: está pra vencer estes dias. Ainda me lembro bem da última vez que renovei, parece que foi ontem. O atendimento no consulado, que antigamente era na base da cotovelada, estava mudado. Gente sorridente e atenciosa, hora marcada, um «faz favor» aqui, um «obrigado» ali, um primor. Na época, cheguei a publicar um artigo sobre o caso. Examinei o documento de novo e vi que, realmente, cinco anos se passaram. Bom, o jeito é renovar mais uma vez.

Renovar é maneira de dizer. Nos tempos em que Matusalém ainda vivia, quando tirei passaporte pela primeira vez, as regras eram outras. O documento era válido por dois anos. Em seguida, podia ser renovado duas vezes, por mais dois anos cada vez. O livretinho ganhava um carimbo atestando a extensão de validade. Depois do sexto ano, era obrigatório devolver o passaporte antigo e receber um novo. Faz já um tempinho que a coisa mudou, mas alguns ainda falam em «renovação». O uso do cachimbo faz a boca torta.

Segui o caminho de qualquer plebeu. Fui ao site do consulado, tomei nota das instruções, preenchi o extenso formulário e marquei hora. Ao descobrir o preço atual do documento, levei um susto. Pedem 150 francos suíços (quase 500 reais)! É dinheiro pra caramba. Não me lembrava de ter pagado tanto assim da última vez. Fui verificar. De fato, cinco anos atrás custou 60 francos, o que já era considerável.

Passaporte brasileiro – modelo novo

Bem, vamos ser coerentes. Os emolumentos que cobram atualmente dão direito a um passaporte válido por dez anos, o dobro da validade antiga. Assim mesmo, a conta não bate. Se cobravam 60 por cinco anos, deviam cobrar 120 por dez, pois não? Levando em conta que a inflação, nesta parte do mundo, é nula há muitos anos, vê-se que o aumento de 25% é real. Um despropósito.

Infelizmente, em matéria de passaporte, não há como negociar. O preço é aquele e fim de papo. Assim mesmo, fico matutando. Sabe-se que enorme contingente de brasileiros vive clandestinamente na Suíça, na União Europeia ou em outras partes do mundo. Em situação irregular, a maioria tem emprego precário, sem registro, com salário de miséria. Não é justo que se os obrigue a desembolsar quantia tão elevada. Pra quem ganha pouco, qualquer despesa extra pesa.

Mas por que é mesmo que as tarifas subiram, se não há inflação? Ah, distinto leitor, os mandos e desmandos da ‘tchurma’ que nos governou estes últimos anos explica muita coisa. De tanto roubar, deixaram o país com uma mão na frente e outra atrás. A conta sobrou pra nós, como punição coletiva. Somos todos obrigados a cobrir o rombo da rapina. Formulo votos ardentes de que todos os responsáveis apodreçam atrás das grades. Do primeiro ao último.

Nota
Na época em que as cartas eram distribuídas pelo megalomaníaco Lula, (mal) aconselhado por «Top-top» Garcia & alii, o Brasil abriu representações no exterior a torto e a direito. Acreditavam que, com isso, transmitiam imagem de país “importante”.

Embaixada do Brasil em Bridgetown, Barbados

Manter uma embaixada funcionando implica custo elevado. Num momento de penúria como o atual, numerosas delas deveriam ser fechadas. Quem precisa de representação em lugares como Barbados, Coreia do Norte, Dominica, Guiné Equatorial, Santa Lúcia, Saint Kitt & Nevis? Que se as elimine! A economia gerada beneficiará brasileiros que, lá fora, dão duro por salário de fome.

Frase do dia — 332

«Segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em 2016 houve o primeiro aumento da disparidade de renda domiciliar per capita em 22 anos.

Isso significa que o ganho proporcionado pela estabilização da economia com o Plano Real, implementado há 23 anos, foi comprometido pelos governos de Lula e Dilma. A façanha da dupla é espantosa.»

Editorial do Estadão, 21 abril 2017.

A lanterna de Diógenes

Myrthes Suplicy Vieira (*)

Enojada, eu me forçava a prestar atenção aos detalhes escabrosos de mais uma das tantas delações premiadas que nos têm assombrado ultimamente. Pensava com os meus botões que, por mais asquerosas que sejam as revelações, nada é realmente surpreendente. Pode até acontecer que este ou aquele cidadão incauto não tenha suspeitado da existência de uma prática lesiva específica, mas quase certamente ninguém ficou horrorizado ao ser revelado o nome da pessoa que a praticou.

Assim é desde sempre o estado emocional do brasileiro comum. Desconfiamos de tudo e de todos, principalmente de quem se anuncia como salvador da pátria. Escolados por séculos de leviandade no trato da coisa pública e pelo contínuo alijamento da cidadania, acabamos nos deixando entorpecer e, pouco a pouco, nos tornamos indiferentes às mil formas de perversidade de nossas elites. Quando se atinge o nível de saturação, refletia eu, tanto faz se a dose do veneno aumenta pouco ou muito. Só a náusea cresce, mas o mal-estar é permanente.

Na sequência, acompanhei preocupada o relato de mais um caso de suicídio de adolescente associado ao jogo Baleia Azul. Não foi preciso muito esforço mental para ligar alho com bugalho. Se a adultos experimentados nas pequenas e grandes tragédias do cotidiano nacional já se tornou insuportável a repetição de casos grotescos de absoluta indiferença às demandas sociais, o que esperar de uma pessoa que se prepara para se desprender dos ingênuos paradigmas infantis e elaborar um projeto de futuro responsável? Desesperança é nosso sobrenome.

Foi quando cruzou minha cabeça a lembrança do filósofo grego que saía às ruas com uma lanterna, em pleno dia, à procura de um homem justo. Digo ‘justo’ porque assim fui ensinada. No entanto, consultando a Wikipédia, encontrei a afirmação de que o que Diógenes procurava de fato era um homem honesto. Será que honesto e justo ‒ me perguntei ‒ querem dizer a mesma coisa?

Seja como for, continuei lendo os detalhes da história de vida desse pensador andarilho que, desacreditado das hipócritas convenções sociais de sua época, optou por abrir mão dos confortos da civilização e foi morar dentro de um barril, na rua. Ele postulava que a virtude está em viver de acordo com as regras da natureza e em harmonia com a própria essência. Detalhe relevantíssimo, que caiu como uma bomba sobre minha cabeça: Diógenes sugeria que se buscasse no comportamento dos cães a inspiração para viver uma vida virtuosa e feliz.

Quase caí da cadeira ao me dar conta de que a palavra cinismo – nome da escola filosófica à qual pertencia Diógenes – deriva do grego antigo kynos (cão). Os argumentos de sustentação de sua teoria começaram a me soar estranhamente familiares: os cães perambulam livremente e sem destino pelas ruas, fazem todas as suas necessidades fisiológicas (inclusive sexo) em público, comem qualquer coisa que encontrem ou lhes seja oferecido, não fazem exigências quanto ao lugar em que vão dormir, vivem sem ansiedade o presente e conseguem distinguir intuitivamente quem é amigo e quem é inimigo.

Sem ter consciência disso, descobri que sempre fui cínica ‒ desde criancinha e nos dois sentidos da palavra. No sentido de escola filosófica, porque sempre acreditei que a felicidade vem de dentro e independe da posse de riqueza, fama ou poder. Na conotação moderna de cinismo (descrença na sinceridade ou bondade das motivações humanas), porque sempre intuí que, por trás dos propósitos nobres que apresentamos para nossas ações, escondem-se outros impulsos e desejos bem menos altruístas e, por assim dizer, mais humanos. Só não aprendi ainda a me libertar de toda forma de desejo e sou pudica demais para me desnudar por inteiro em público.

A missão da filósofa canina Molly, que encantou minha vida por quase uma década, estava finalmente revelada. Meu pulso acelerou e fui tomada por uma agitação febril. Meu cérebro não se cansava de buscar novas conexões que me permitissem reunir num só quadro diagnóstico os sintomas dessa corrosiva doença social que aflige a humanidade desde priscas eras.

Corrupção e perda de sentido da vida são gêmeas siamesas, concluo. Quem busca fora de si a felicidade, a realização e a aceitação social está fadado a descobrir-se suspenso pela brocha, sem uma escada de apoio. Da mesma forma, quem tem sua autoestima apoiada na padronização de comportamentos e sua noção de valor pessoal ancorada no reconhecimento do grupo vai se perceber, mais cedo ou mais tarde, literalmente num mato sem cachorro.

(*) Myrthes Suplicy Vieira é psicóloga, escritora e tradutora.

As tralhas da princesa

José Horta Manzano

«O bisneto da princesa Isabel quer se livrar de tralha.»

É assim que começa artigo publicado pela Folha de São Paulo de 19 abr 2017. A primeira reação de quem lê tende a ser: «E eu com isso?» As linhas seguintes do texto explicam. Ensinam que «tralha»(*), no caso do descendente da princesa, não tem o significado que normalmente atribuímos ao termo. Tralha de plebeu é móvel com estofado arrebentado, sapato gasto, rádio que não toca, bola furada, tapete rasgado, panela sem cabo, telefone que não fala, copo trincado. Plebeu não chama antiquário pra organizar venda de objetos sem utilidade. Quando nos livramos de velhos objetos, não sai no jornal.

Convite e menu do último baile da Ilha Fiscal, uma das peças leiloadas

Pedro de Alcântara de Bourbon de Orléans e Bragança (o distinto leitor há de perdoar mas, por falta de espaço, omiti sete prenomes) é o proprietário das tranqueiras postas à venda. Na qualidade de legítimo dono, tem direito a dispor delas. Não é aí que reside o pecado.

Acontece que os bens à venda, ainda que incluam sapatos gastos ou copos trincados, são objetos singulares. Cada um deles carrega um pedacinho da história do país. O cardápio do último baile da Ilha Fiscal, ocorrido dias antes do golpe que derrubou o Império, faz parte deles. Uma coroa, serviços de jantar, condecorações também fazem parte da venda coordenada por um antiquário do Rio de Janeiro.

Brasão do Brasil imperial, uma das peças leiloadas

Calcula-se que a venda dos quase 400 lotes atinja um milhão de reais. Um milhão de reais… Num país e numa época em que bilhões mudam de mão em mão viajando dentro de malas e de cuecas, pensar que estamos assistindo à dispersão das poucas peças que restam de nosso (escasso) patrimônio histórico dá muita tristeza. E tudo isso por um milhãozinho.

Não é uma questão de saudosismo, monarquismo ou passadismo. A história de um povo é feita de toda espécie de memória: momentos bons e ruins, vitórias e derrotas, períodos alegres e tristes, dirigentes sublimes e péssimos. Passamos por momentos de euforia e de depressão. Em qualquer país civilizado, o governo já teria negociado com o descendente da princesa para arrematar todos os lotes e integrá-los ao patrimônio nacional. O lugar deles não é na sala de visitas de endinheirados, mas em museu aberto à visitação pública.

Pintura original de D. Pedro II menino, uma das peças leiloadas

Receio que já seja tarde demais. O leilão estava previsto para 19 e 20 de abril ‒ ontem e hoje ‒ num estabelecimento especializado situado em Copacabana, no Rio. Como dizia o outro, a cada quinze anos, o Brasil esquece o que aconteceu nos quinze anos anteriores. A venda de relíquias de uma época confirma nosso menosprezo a tudo o que constitui a formação da nação.

Se eu fosse rico, compraria o acervo inteiro e o doaria ao museu que melhor pudesse cuidar dele. Meu dinheiro não dá. É pena. Grandes empresas enroladas com a Lava a Jato, que poderiam aproveitar a ocasião para um gesto vistoso, tampouco devem ter caixa sobrando. Os cofres, antes abarrotados, estão sendo rapidamente esvaziados para pagar honorários de advogados.

(*) Tralha
Etimologicamente, a palavra faz parte de extensa família. O parentesco mais próximo é com um artefato medieval chamado tragula, constituído de um gancho amarrado a uma corda. Lançava-se o gancho para agarrar algo e, em seguida, com ajuda da corda, puxava-se de volta o objeto agarrado.

Indo mais longe nas origens, chega-se ao étimo latino trahere (trazer), relacionado com o verbo alemão tragen e com o inglês drag, ambos com sentido de puxar ou arrastar. Trator, extrair, dragar, atrair, tratar e numerosas outras palavras de nossa língua descendem da mesma raíz. Até o trem. O trem da história, que acaba de passar e no qual esquecemos de embarcar.

A mão pesada da Justiça

José Horta Manzano

Juízes são formados para julgar seus semelhantes com base em leis. Em princípio, são imparciais, deixando-se guiar pela objetividade. Essa é a teoria. Na prática, como se sabe, a teoria pode ser ligeiramente distorcida.

Juízes são seres humanos como você e eu, sujeitos a emoções, a simpatias e antipatias, a humores, a pressões da opinião pública ou até da opinião familiar. Num futuro longínquo, talvez venha a ser inventado um juiz sintético, isento de paixões. Por enquanto, não é possível. Não há como ‘desumanizar’ alguém.

Ninguém aprecia ser levado no bico. Tribunais sentem especial ojeriza contra estelionatários e contra todos os que se aproveitam da boa-fé do próximo. Embora não se trate de crime de sangue, o embuste tem o poder de enraivecer. Até os que não estão diretamente envolvidos tomam as dores, como se eles mesmos tivessem sido engabelados.

Stade de France

O orçamento francês tem um subitem ‒ a bizarra grafia está correta, acredite. Eu preferia sub-item, mas… que é que se há de fazer? Vamos recomeçar. Eu dizia que a previsão de gastos anuais do governo francês inclui o FGTI (Fundo de Garantia das Vítimas de Atos Terroristas). Todo cidadão que considere ter sido prejudicado por atentado terrorista pode se candidatar a receber uma indenização. Cada caso é julgado individualmente.

Em 13 de novembro de 2015, terrível atentado ocorreu em Paris. Quase ao mesmo tempo, foram atacados a casa de espetáculos Bataclan e o Stade de France, estádio onde estava para ser disputado um amistoso de futebol entre França e Alemanha. Nos dias que se seguiram, um casal se candidatou a ser indenizado por dano moral, Alegavam ter estado presentes no estádio naquele momento. Conseguiram receber 60 mil euros, cerca de 200 mil reais, uma bela quantia.

Em 14 de julho de 2016, o mundo se estarreceu quando o caminhão de um terrorista invadiu uma avenida de Nice em plena comemoração da festa nacional deixando balanço final de 86 mortos e 435 feridos. Nas semanas seguintes, centenas de cidadãos se anunciaram às autoridades requerendo indenização. E não é que nosso casal, o mesmo que já havia sido ressarcido pelo susto levado no estádio em Paris, se apresenta de novo? Desta vez, alegaram ter estado presentes na orla marítima de Nice justo na hora da passagem do caminhão assassino.

Autoridades não são ingênuas como alguns imaginam. Cruzando os dados, deram-se conta de que o mesmo casal tinha sido vítima dos dois atentados. A coincidência era grande demais. Interrogados, os estelionatários confessaram o embuste. Foram a julgamento em dezembro passado para responder pelo primeiro estelionato, o do estádio. Considerados culpados, foram condenados a pena pesada de prisão em regime fechado: seis anos para ele e três para ela.

Neste 19 de abril, saem da cela para nova visita ao tribunal. Desta vez, já na qualidade de reincidentes, serão julgados pela trapaça que perpetraram ao se apresentar como vítimas do atentado de Nice. Imagina-se que sejam condenados a uns vinte anos de sossego atrás das grades. E à devolução da indenização recebida, naturalmente.

Nota
A mão pesada dos juízes franceses se explica pelo que eu dizia no início do post. Devem ter sentido raiva como se tivessem sido pessoalmente ludibriados pelo casal. O mesmo raciocínio se aplica aos juízes que decidem, no âmbito da Lava a Jato, o destino dos que colaboraram com a rapina e com o estelionato. Daí a mão pesada que se tem visto. É benfeito(*).

(*) Essa grafia é de arrepiar, não? Mas é o que determina o mal costurado Acordo Ortográfico de 1990. Melhor obedecer pra evitar mão pesada de juiz.

Mudanças na Turquia

José Horta Manzano

Nem todas as nações têm um pai. Muitas têm figuras que influenciaram a formação do país. George Washington (EUA), Otto von Bismarck (Alemanha), Camillo Benso di Cavour (Itália), Charles de Gaulle (França) são personagens capitais implicados na criação ou na modernização do respectivo país. Assim mesmo, americanos, alemães, italianos ou franceses não chegam ao ponto de os considerar «pai da pátria».

A Turquia vai um bocadinho mais longe. A contribuição de Mustafa Kemal Atatürk (1881-1938) à formação da Turquia moderna foi tão marcante que os turcos não se privam de considerá-lo pai da nação. Aliás, a expressão Atatürk (literalmente: pai dos turcos) foi acrescentada a seu nome. E é assim que todos o conhecem hoje. Muita gente, fora do país, até acredita que Atatürk seja seu sobrenome de nascimento. Não é.

Mustafa Kemal Atatürk, o pai dos turcos

Foi coincidência providencial: o homem certo que apareceu na hora certa. O país tentava, com dificuldade, reaprumar-se depois da débâcle da Primeira Guerra, durante a qual tinha escolhido o lado errado. O apoio dado ao Império Alemão foi infeliz. Perderam a guerra. A desordem que se seguiu pedia um homem forte. Foi naquela época que sobressaiu Mustafa Kemal, oficial do exército e hábil político. Encarnou o salvador da pátria.

Teve méritos, sem sombra de dúvida. Com mão de ferro, galgou escalões e se instalou no topo do poder. Determinado, arrancou o país da Idade Média e o inseriu diretamente no século 20. Reformou a Turquia de alto a baixo. Entre dezenas de medidas, estão: a abolição do califato, o estabelecimento da soberania popular através do voto, a tolerância com relação a minorias religiosas, a separação entre Estado e religião, a proibição feita às mulheres de portarem o véu islâmico, o banimento da poligamia, a mudança da capital de Istambul para Ânkara.

Istambul, Turquia

No entanto, a meu ver, o maior legado de Atatürk foi a reforma da língua escrita. O turco, língua originária da Ásia Central, era escrito, até os anos 1920, em caracteres árabes. Ora, diferentemente do árabe, a língua turca é riquíssima em sons vocálicos. O árabe, pobre em vogais, não está adaptado para grafá-las convenientemente. Exagerando um pouco, escrever turco com letras árabes é como grafar nossa língua com caracteres chineses. Não dá.

Mustafa Kemal sentiu que, para entrar para o clube do progresso, tinha de abolir os caracteres árabes e passar a grafar o turco com letras latinas. Para tanto, formou uma equipe de filólogos e linguistas e os despachou para a Europa para prepararem um alfabeto para o turco, usando letras latinas. O comitê pediu cinco anos para terminar a tarefa. Atatürk lhes concedeu três meses.

Conseguiu o que queria: em poucas semanas, o alfabeto latino ‒ com pequenas modificações ‒ estava adaptado para o turco. As particularidades são poucas. Têm o s normal e o ş (esse cedilha). Têm o i normal e o ı (i sem pingo). Têm o g normal e o ğ (g com um circunflexo côncavo). O resultado é o que se esperava: a escrita turca é rigorosamente fonética. A cada letra corresponde um som, a cada som corresponde uma letra.

Alanya, Turquia
Balneário turístico

Pode não parecer, mas a iniciativa teve importância imensa. Facilitou o aprendizado de turco a estrangeiros e, principalmente, o aprendizado de línguas estrangeiras a jovens turcos. De cara, todos eles já conhecem o alfabeto, o que não é coisa pouca. Regimes, leis, regras e regulamentos podem mudar ‒ e, de fato, mudam constantemente. Domingo passado, por exemplo, o povo votou por uma modificação política profunda. Já a escrita em letras latinas veio para ficar. Nessa, ninguém mexe mais.

Conheci a Turquia faz muito tempo. Cheguei até a trabalhar no país, por alguns meses, em 1966. Guardo lembranças muito boas. Cheguei a aprender algumas frases em turco que, com a falta de uso, acabei esquecendo. Lembro-me da vez em que conhecemos um rapaz jovem, com ar simplesinho, que batia no peito com a mão direita aberta e dizia: «Atatürk, my father!» ‒ Atatürk, meu pai!

Na hora, ficamos muito impressionados achando que o moço fosse filho do antigo mandachuva. Bem mais tarde ficamos sabendo que todos os turcos se consideram filhos de Atatürk. De modo simbólico, naturalmente.

Recorde de velhice

José Horta Manzano

Você sabia?

Faz dois dias, bem no Sábado de Aleluia, morreu a pessoa mais velha do mundo. Era italiana e se chamava Emma Morano. Dos nascidos no século 19, foi a última a deixar este vale de lágrimas. Tinha vindo ao mundo dia 29 de novembro de 1899 num minúsculo lugarejo da Província de Vercelli, norte da Itália. Faleceu, portanto, com 117 anos e 137 dias. Para situar no tempo, lembre-se o distinto leitor que, naquela época, o Império Britânico ainda era encabeçado pela rainha Victoria. Tecnicamente, o mundo vivia a era vitoriana!

Emma Morano

Emma viveu como vivem as pessoas simples. Depois de perder o noivo, morto no campo de batalha durante a Primeira Guerra, casou-se por pressão familiar com um homem que não lhe era simpático. Teve um único filho, que faleceu na primeira infância. Em 1938, acabou separando-se do marido, um homem violento de quem levava pancada. A decisão foi pra lá de ousada para os padrões de uma época em que mulher não morava sozinha.

Até se aposentar aos 75 anos, trabalhou como operária numa indústria têxtil da região. Viajou pouco, não chegou nem a conhecer Roma. Em compensação, a longa vida lhe permitiu assistir à passagem de três reis da Itália, doze presidentes da República, onze papas e mais de noventa primeiros-ministros. Sobreviveu a duas guerras mundiais. Faz parte do clube seletíssimo dos que conheceram três séculos.

Como acontece quando se espalha a notícia do aparecimento de novo supercentenário (vivente que tenha ultrapassado 110 anos de idade), cientistas acorreram, estes últimos anos, para conhecer a receita de tamanha longevidade. Signora Emma Morano decepcionou a todos. Nunca praticou esportes. Comia pouquíssma fruta e quase nenhum legume. Ingeria dois ovos crus todos os dias, hábito que manteve até o fim. Além disso, um pouco de carne moída ‒ a falta de dentes não lhe permitia ir além.

Emma Morano

Com a morte de dona Emma, não sobra mais nenhum vivente asseguradamente nascido no século 19. A pessoa mais velha do mundo passou a ser Ms. Violet Moss Brown, da Jamaica, nascida em 1900, que deve soprar 117 velinhas este ano.

Já o homem mais velho é senhor Israel Kristal, nascido em 1903 numa localidade então pertencente ao Império Russo (hoje parte do território polonês). Senhor Kristal sobreviveu ao campo de concentração de Auschwitz e vive hoje em Israel.

Mas nenhum deles ameaça o excepcional desempenho da pessoa comprovadamente mais longeva de que se tem notícia. Trata-se da francesa Madame Jeanne Calment, falecida em 1997 aos 122 anos e 164 dias.

Dizem que Matusalém viveu 400 anos. Dado que, até hoje, ninguém conseguiu apresentar a certidão de nascimento, o recorde oficial fica mesmo com a francesa.

Frase do dia — 331

«Lula não inventou a corrupção, mas criou uma forma bastante insólita de fazer negócios escusos. Transformou a bandalheira em política de Estado. Com isso, corruptos, velhos e novos, tiveram ganhos nos anos petistas que pareciam não ter limites.

Não foi por acaso nem por patriotismo, por exemplo, que o governo petista estimulou as empreiteiras a expandir sua atuação para novas áreas, como a exploração de petróleo. Assim, incluía-se mais uma oportunidade ao portfólio de negociatas da tigrada de Lula.»

Editorial do Estadão, 16 abril 2017.

Os sinos e os ovos

José Horta Manzano

A maior parte da população do planeta vive fora das regiões tropicais. Está, assim, sujeita a variações climáticas mais acentuadas do que as que conhecemos no Brasil. Por sinal, ao aportar à nova terra, o escriba da esquadra de Pedro Álvares Cabral surpreendeu-se com essa singularidade tropical, que via pela primeira vez. Ao descrever a paisagem a El-Rey, foi elogioso: «E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem».

Nas regiões temperadas do globo, as estações do ano, bem delineadas, imprimem o ritmo e dão o tom. Atividades do dia a dia, hábitos alimentares, maneira de se vestir, de trabalhar e de se divertir variam conforme a época do ano. No inverno, ninguém vai à praia. Aspargos, só em abril e maio, a não ser que sejam importados. Em julho e agosto, não se patina sobre gelo ‒ rinques estão fechados ao público. Em janeiro, ninguém sai à rua em manga de camisa. Férias são tiradas de preferência entre maio e setembro, quando o tempo é mais camarada.

A entrada do Sol no signo de Áries marca o fim do inverno e assinala o equinócio, o período em que dias e noites têm duração igual. Os rigores do inverno se despedem, o que é motivo de regozijo. Não é por acaso que a liturgia cristã fixou a celebração da Páscoa no início da primavera. Há toda uma simbologia por detrás: o renascimento após um período de trevas e de privações.

Ovos pintados à mão ‒ artesanato típico russo

No mundo cristão, até poucas décadas atrás, a quaresma ‒ que coincide com o final do inverno ‒ costumava ser período de penitência e de jejum. Entre o carnaval e a Páscoa, comia-se pouco. No entanto, as galinhas, desde sempre, ignoraram soberbamente todo preceito religioso. Quaresma ou não, continuavam botando. Impedidos de consumir os ovos, os fiéis os conservavam à espera da liberação pascal. Para evitar avaria, os ovos eram cozidos.

Passados os quarenta dias de penitência, a quantidade de ovos armazenados era considerável. Para alegrar os festejos, estabeleceu-se o costume de os colorir antes de oferecê-los como presente. Em certas regiões ‒ como na Rússia e na Europa oriental ‒ a arte de decorar ovos cozidos atingiu grande perfeição. A tradição perdura até nossos dias.

Os sinos das igrejas não tocam entre a Sexta-Feira Santa e o Domingo de Páscoa. Conta a lenda que, nesse período, eles vão a Roma buscar as bênçãos. Ao retornar, trazem também ovos coloridos, que vão deixando cair pelo caminho. No Domingo de Páscoa, a gurizada acorda toda excitada. Correm todos ao jardim à cata dos ovos. É como um repeteco do dia de Natal, desta vez com sinos no papel de Papai Noel.

E por que é que os ovos, hoje em dia, são de chocolate? Porque todo o mundo adora chocolate, ora! Mas primeiro foi preciso descobrir a América e conhecer o cacau, originário da região. Foi necessário também esperar até meados do século 19 para apurar a técnica e encontrar um meio de solidificar o chocolate a fim de obter uma massa maleável. Só então a matéria pôde ser moldada.

O costume de jejuar na quaresma desapareceu. Mas todos fazem questão de se encher de chocolate na Páscoa. Ovinhos e coelhinhos serão sempre bem-vindos.