Odette Roitmann

by Igor Dantas, desenhista mineiro

José Horta Manzano

As investigações em torno da quadrilha instalada no Planalto nos tempos do capitão estão apertando. A conspiração se desvenda cada dia um pouco mais e o nome dos bois começa a aparecer. A boiada começa a passar. Por ironia, tudo lembra muito o auge da Lava a Jato, quando as estrelas Moro e Dall’Agnol concentravam a luz dos holofotes e os criminosos, um a um, iam sendo mandados para a Papuda.

Quanto aos conchavos bolsonáricos, a história completa ainda está por ser escrita. Todo bom romance tem de ir até o fim – não termina enquanto a trama não estiver totalmente desenrolada. Em nosso atual “Quem matou Odette Roitmann”, não basta saber quem deu o tiro. Também tem de ficar claro quem comprou a arma, quem adiantou o dinheiro, quem pagou pela munição, quem carregou o revólver, quem catou o cartucho caído no chão, quem escondeu a arma depois de consumado o crime. Tudo tem de ser apurado, nenhum figurante deve escapar “duela a quién duela”, como disse uma vez o ilibado presidente Collor.

Nesta altura dos acontecimentos, ninguém está em condições de contar o drama de A a Z – com exceção dos personagens, evidentemente. Tenho lido numerosas análises da novela. Mas todas só vão até o capítulo atual, sem arriscar palpite sobre o que virá. Todas, não. Encontrei uma, uma apenas, que não só conta o fim de Odette Roitmann como também dá o nome do assassino e dos cúmplices.

Falo do artigo que o Estadão publicou ontem, assinado pela competente jornalista Eliane Cantanhêde. Com boa visão de conjunto e espírito de síntese, a autora dá sua visão do desenrolar do drama daqui para a frente. Vale a pena dar uma olhada.

Copiei e ponho aqui ao dispor dos corajosos leitores que preferiram abondonar o Bloco do Mamãe eu Quero para ler estas linhas. Fica aqui meu agradecimento.

Virada de Mesa.

Já são dois

José Horta Manzano

Quando dois argutos analistas políticos cogitam e olham na mesma direção e no mesmo momento, convém prestar atenção. Estou falando de Carlos Brickmann e Eliane Cantanhêde. Neste domingo, cada um deles publicou um artigo apontando uma hipotética candidatura apta a encarar Bolsonaro nas eleições de 2022 – se ele se aguentar no trono até lá, naturalmente. Aqui vai um trecho de cada artigo.

Palpite

Carlos Brickmann

Preste atenção na empresária Luiza Trajano, do Magazine Luiza: caso o plano que vem articulando para vacinar toda a população do país antes do fim do ano dê certo, ela pode ser a novidade eleitoral. Terá feito aquilo que ninguém conseguiu fazer, sua reputação é excelente, já mostrou que é muito competente e capaz de fazer o que é preciso. Mas, exatamente por isso, espere pelos obstáculos que vão colocar-lhe no caminho. Não podemos nos iludir: salvar vidas, ajudar a vencer a pandemia, melhorar a situação da população, nada importa para os lá de cima. Importa é não ter adversário.

E Luiza Trajano?

Eliane Cantanhêde

Doria, Huck, Moro e Luiz Henrique Mandetta são torpedeados antes de alçar voo, mas, como não há vácuo em política, quem pode preencher esse vácuo é uma mulher, empresária, colecionadora de êxitos, com o pé no chão e defensora de boas causas, como cotas, vacinas, menos ideologia e mais resultados. Sim, Luiza Trajano, sem partido e sem traquejo político, mas instada a botar o bloco na rua e, num carnaval tão atípico, animar e atrair um grande aliado de Bolsonaro: o eleitor desiludido, ou desesperado, que só vê o buraco aumentando.

Comentário deste blogueiro
Estes últimos vinte anos, presidentes desastrosos têm reprimido o avanço do país, deixando-nos cada vez mais firmemente ancorados num Terceiro Mundo irrevogável. Pra consertar, os brasileiros bem-intencionados estão apelando pra qualquer um, desde que jure:

  • que a Terra não é plana,
  • que não pretende armar a população,
  • que não prestigiará ditador africano,
  • que não concederá passaporte diplomático aos parentes,
  • que não acreditará no E.T. de Varginha,
  • e, principalmente, que, sim, acredita na vacina e pretende imunizar toda a população.

Se dona Luíza preencher todos os requisitos, vamos de Madame Trajano!

Frase do dia — 339

«O mundo chora os 15 mortos do terrorismo em Barcelona, mas quem vai chorar os nossos 28 mil mortos pela violência descontrolada no primeiro semestre no Brasil?»

Eliane Cantanhêde, em sua coluna do Estadão, 22 ago 2017.