Recidivista

José Horta Manzano

A alemã Ursula von der Leyen, de 60 anos, foi recentemente eleita presidente da Comissão Europeia, cargo máximo da governança da União Europeia. A tomada de posse está prevista para novembro. Perfeitamente bilíngue alemão-francês, Frau von der Leyen fala também inglês fluentemente. O conhecimento perfeito de duas ou três das principais línguas europeias é imprescindível para os pretendentes a altos cargos.

No passado, ela já ocupou postos importantes no governo alemão. Foi, sucessivamente, ministra da Família, ministra do Trabalho e ministra da Defesa. Quando jovem, diplomou-se em Ciências Econômicas na Alemanha e fez cursos de aperfeiçoamento na London School of Economics. Além disso, é doutora em Medicina, com tese defendida perante banca na Universidade de Hanover. Como se vê, a moça é dona de sólido currículo.

Todos os eleitos do Parlamento Europeu têm direito a ajuda de custo para viagens e para alojamento – de fato, alguns vêm de muito longe, como os estonianos ou os portugueses, que têm de viajar mais de 2000 km. A nova presidente dispensou a ajuda em dinheiro, mas pediu que lhe instalassem um alojamento perto do lugar de trabalho. Uma pequena sala de 25m2 do próprio prédio do parlamento está sendo reformada pra servir-lhe de aposento. A presidente residirá, assim, no edifício onde trabalha, a poucos metros de sua sala.

Ursula von der Leyen, a nova presidente da Comissão Europeia

Frau fon der Leyen é recidivista. Por razões de praticidade e de economia, já havia feito a mesma coisa quando ministra na Alemanha. No cargo de presidente da Europa, sua decisão representará economia considerável no quesito proteção à pessoa. Dado que o arranha-céu de Bruxelas onde funciona a Comissão Europeia já é normalmente ultraprotegido, não haverá gasto suplementar pra garantir a segurança da residência da presidente.

Tenho certeza de que nenhum de nossos presidentes – o da República, o do Senado, o da Câmara, o do STF – tinham pensado nisso antes. Fica aqui registrada a sugestão. Agora não poderão mais dizer que não sabiam. Preocupados que estão com preservar o dinheiro do contribuinte, certamente vão estudar a questão com carinho.

A fonte desta curiosa informação é o diário alemão Die Welt.

Hacker

José Horta Manzano

No original, o verbo inglês to hack significa cortar grosseiramente. O nome hacker, portanto, designa o sujeito que passa o dia com a faca na mão a cortar, decepar, romper ou rachar. Dado que cortadores profissionais não são multidão, deduz-se que esse substantivo não há de ter sido muito usado nos séculos de antigamente.

A segunda metade do século 20 assistiu a lento movimento de popularização do computador. Alguém teve a ideia de pescar no vocabulário inglês o termo hacker pra designar o perito em segurança informática. No início, o termo indicava o profissional ‘do bem’, que exercia suas funções sem causar dano a ninguém.

Com o passar dos anos e a crescente democratização dos computadores, o número de especialistas mal-intencionados aumentou. Muito agressivo, este novo tipo de hacker age por curiosidade, por pura má-fé, por consciência política ou por interesse financeiro. Diante de um leque tão amplo de motivações, todos nós estamos ameaçados de hackeamento.

O cidadão comum, que não faz parte dos círculos do poder, não precisa temer que sua privacidade seja invadida por razões políticas. Assim mesmo, é aconselhável proteger-se contra ataques movidos por hackers de má-fé, que nunca se sabe – tem muita gente perturbada por aí.

Já os que navegam nas esferas mais elevadas – políticos, magistrados, milionários, grandes empresários – têm de ser espertos. Por óbvio, estão em permanência no olho do furacão, na mira de muitos interesses. Não há problema em usarem o telefone pra dar bom-dia ou pra marcar encontro. O embaraço começa quando têm de manter conversa confidencial, seja verbal ou escrita.

Pra garantir privacidade total, só há um meio: utilizar telefone criptografado(*), daqueles cuja inviolabilidade é garantida. Assim mesmo, o utilizador, seja ele magistrado, político ou empresário, deveria procurar assistência de um perito que o iniciasse nas artes de bloquear tentativas de invasão.

Pode parecer complicado, mas é indispensável. Mentir, mentimos todos. Bobagens, proferimos todos. Atalhos pouco republicanos, tomamos todos. Pra resumir: ninguém é santo. Portanto, mais vale prevenir antes que nossos podres sejam expostos em praça pública.

Antes de fechar, uma reflexão: todas essas revelações não fazem Lula da Silva inocente. Nem Eduardo Cunha. Nem Sergio Cabral Filho. Nem o resto da turma.

(*) Criptografado não me parece palavra adequada a esse caso. O segundo elemento (grafado) desorienta. Melhor seria dizer “telefone criptado”. Acontece que o verbo criptar ainda não está dicionarizado. Um dia, quem sabe.

Birra
Sei que não tem jeito – hacker, hackear e hackeamento vieram pra ficar. Ainda assim, continuo preferindo pirata, palavra muito mais flexível. Dá pra usar: piratagem, pirateamento, piratear, piratinha (já imaginaram “hackinho”?). E mais: piratesco, piratada, piratíssimo. O resto fica por conta da criatividade de cada um.

A insegurança do ministro

José Horta Manzano

Nos tempos de antigamente, piadas eram mais ingênuas. Lembro-me de uma que contava que, num país imaginário, a polícia secreta era uniformizada. E que se trajavam de vermelho. E que, à entrada do prédio onde ficava a sede, um cartaz informava: «A senha está debaixo do capacho».

Acredito que historietas assim, hoje em dia, deixem o ouvinte indiferente. Certos fatos recentes e reais, no entanto, estão longe de deixar ouvintes indiferentes. São de arrepiar o cabelo. Noticiou-se dois dias atrás, por exemplo, que o STF abriu licitação pra contratar agentes para a segurança pessoal e permanente do ministro Edson Fachin. Pode parecer banal, mas não é.

Segurança pessoal de ministro do Supremo não é coisa com que se brinque, ainda mais que o doutor tem recebido ameaças. Agente encarregado de dar proteção a uma personalidade deve responder a critérios rigorosos e, sobretudo, tem de ser pessoa de confiança. «Abrir licitação» não me parece o caminho adequado. Afinal, não estamos comprando biscoito. Abre-se licitação quando se quer comprar um produto pelo menor preço, com boas condições de pagamento e prazo de entrega conveniente. Mas pra contratar pessoa de confiança, a licitação não faz sentido.

O agente de segurança ocupa posto altamente sensível. Ele está a par da rotina do ministro, dos programas de viagem, dos horários, do roteiro diário, das atividades, das minúcias do dia a dia. Conhece a vida do acompanhado melhor até do que a esposa do dito cujo. Como é possível confiar tarefa tão crucial a alguém proveniente de concorrência pública, contratado pelo melhor preço?

A escolha de agente de segurança tem de ser feita com a maior discrição possível. Já não devia nem ter sido anunciada nos jornais. Ninguém precisa ‒ nem deve ‒ ficar sabendo. A licitação pública escancara as portas para um elemento nocivo se infiltrar no entourage do ministro. Pode atrair gente mal-intencionada. Pode chamar espiões.

Francamente, não convém seguir por esse trilho. Desse jeito, vamos acabar uniformizando agentes secretos. De vermelho.

O fator humano ‒ 1

Myrthes Suplicy Vieira (*)

Certa feita, eu havia sido chamada por uma multinacional para pesquisar a satisfação de usuários com um sistema eletrônico de vigilância doméstica. Era um sistema sofisticado e complexo, que combinava um aparelho telefônico acoplado a um computador com dispositivos móveis que enviavam continuamente imagem e som da residência a uma central de atendimento. Diante de uma emergência de qualquer tipo, um alerta era enviado automaticamente tanto para as equipes de segurança quanto para pessoas indicadas pelo usuário.

Quando voltei à empresa para apresentar os resultados, fui recebida pelo gerente técnico do produto. Era um homem com vasta bagagem na área, também habituado a sondagens técnicas e pesquisas de opinião. Ele me olhava com ar desafiador, como se dissesse: “Quero ver você apontar algum problema que eu já não conheça”. Fiz de conta que não havia percebido o desdém com que ele encarava meu trabalho e comecei a apresentação dizendo: “Detectamos um problema um tanto delicado…”

Com um meio sorriso de ironia nos lábios, ele me impediu de terminar a frase: “Só um? Nós já descobrimos vários…”. Mais uma vez, sem me deixar intimidar, prossegui: “Bom, o problema que descobrimos parece ter potencial para contaminar toda a eficácia e credibilidade do sistema”. Foi o que bastou para alterar drasticamente a atmosfera da reunião. Num gesto rápido, o homem inclinou-se para trás num susto e, na sequência, jogou o corpo com força para a frente. A cadeira oscilou e, como uma catapulta, quase o lançou ao chão. Seu rosto lívido traía a imagem de autoconfiança que ele tentava passar desde o início.

Mal pôde esperar pela conclusão do raciocínio. Com calma, expliquei que o funcionamento a contento do sistema dependia não só da tecnologia empregada, mas também e principalmente de algo corriqueiro: a estabilidade da corrente elétrica. Caso houvesse uma pane ou simples falta de energia, o usuário estaria totalmente desprotegido. E acrescentei (curtindo o prazer da retaliação, confesso): “E, como o senhor sabe, a primeira coisa que os ladrões fazem ao tentar invadir uma casa é cortar os cabos de energia para não serem flagrados por câmeras ou para os alarmes não dispararem. Em tempo: a concorrência já percebeu isso e já encontrou soluções”.

(*) Myrthes Suplicy Vieira é psicóloga, escritora e tradutora.

Bala perdida

José Horta Manzano

A notícia é trágica. De visita turística ao vizinho Uruguai, um casal de gaúchos se hospedava num condomínio. Encontravam-se os dois no segundo andar quando ouviram gritaria e barulho inabitual vindo da rua. Chegando ao terraço, deram-se conta de que se tratava de perseguição policial, fato pouco costumeiro naquele país.

Na rua, dois indivíduos estavam em fuga depois de terem roubado dinheiro de um supermercado. Seguranças e policiais estavam no encalço dos criminosos. Houve troca de tiros. Por uma dessas armadilhas do destino, o turista brasileiro, apesar de estar no segundo andar do prédio, foi atingido por uma bala perdida que lhe perfurou a artéria femoral ‒ aquela que passa pela virilha.

Além de cirurgia imediata, contra artéria perfurada não há muito que fazer. Quando deu entrada no hospital, já não havia esperança para o infeliz gaúcho. Não resistindo ao abundante sangramento, faleceu pouco depois.

Os jornais uruguaios, pouco afeitos a esse tipo de ocorrência, valeram-se da expressão brasileira para dar a notícia. Falaram em «bala perdida». A secção de comentários foi alvo de uma enxurrada de críticas de leitores indignados.

Surpresos com a expressão, numerosos foram os que passaram um pito nos redatores. Argumentaram que a bala só teria sido perdida se não tivesse atingido ninguém. Naquele caso, como tinha acertado um homem, perdida não era. A lógica fria me obriga a concordar com o raciocínio.

Em consequência do ocorrido, o Ministério do Interior uruguaio está avaliando alterar a regulamentação que impede policiais de garantir segurança a comércios. O ministro em pessoa convocou reunião com representantes da associação de supermercados do país para estudar medidas de segurança. Oferecer cursos a funcionários para ensinar-lhes como agir em caso de assalto está entre as opções.

Em nosso país, assaltos e vítimas de «balas perdidas» são tão frequentes que ninguém mais se comove. Todos dão de ombros e passam ao assunto seguinte. É pena. Barbaridades, quando deixam de impressionar e entram no ramerrão quotidiano, denunciam que continuamos descendo na escala civilizatória.

Fórum mundial e mundano

José Horta Manzano

Depois de um mês de neve e tempo fechado, o sol finalmente saiu hoje em Davos, Suíça. Três metros de flocos brancos caíram desde o Natal. Com o peso, a espessa camada de neve vai-se comprimindo, mas assim mesmo ainda mede um metro e setenta. Pra nenhum cartão de boas-festas botar defeito.

Paisagem branca com sol e céu azul é um encanto. A recepção aos participantes da 48a. edição do WEF (Fórum Econômico Mundial), que se abre hoje, promete ser grandiosa. Os setenta chefes de Estado e/ou de governo que devem circular pelo vilarejo esta semana tiveram sorte com o tempo. Não estão sozinhos, os figurões. Três mil personalidades públicas de 110 países e os dirigentes das maiores empresas do planeta também estão por lá para participar de 400 sessões de debates. Sem contar a imprensa e os numerosos assessores.

O contraste entre a população residente da acanhada cidadezinha e os visitantes que retornam a cada janeiro é surpreendente. O vilarejo tem apenas doze mil habitantes fixos. Na época do fórum, seus hotéis recebem quarenta mil hóspedes, uma enormidade. Pelo espaço de cinco dias, torna-se o lugar onde todos querem ver e ser vistos.

Davos, Suíça ‒ altitude: 1600m

Com tanta gente importante reunida num lugar só, não se brinca com a segurança. Manifestações e passeatas são terminantemente proibidas. Uma zona de exclusão aérea com raio de 46km foi determinada. (Ela inclui trechos do território de quatro países.) As ruas e os telhados estão coalhados de militares armados e atiradores de elite. Militares e policiais da Suíça inteira foram convocados em reforço. Sem esquecer os dirigentes de grandes países, como os EUA, que mandam dezenas de agentes de segurança.

Cúpulas de G7, G8, G20, Brics & assemelhados são mais vistosas, com foto de turma e reuniões de todos os participantes ao mesmo tempo. Mas são menos frutíferas que o fórum de Davos. Na cidadezinha suíça, são incontáveis os encontros informais entre dirigentes e figurões. Às vezes a solução para problemas cabeludos nasce mais facilmente numa conversa em torno de um chocolate quente do que com discursos inflamados diante de plateia que aplaude. É isso que faz a força de Davos, um fórum que, além de mundial, está-se tornando cada dia mais mundano.

Depois de dezoito anos de ausência, um presidente americano estará presente. Bill Clinton foi o último a comparecer, em 2000. Donald Trump está sendo aguardado com curiosidade. Imprevisível que é, consegue surpreender ‒ e escandalizar ‒ quando menos se espera. Outro que deve sobressair é Monsieur Macron, o presidente da França, rapaz jovem (40 anos) que se está tornando uma espécie de «presidente informal da Europa».

Há quem se insurja contra essas manifestações. Não é meu caso. Continuo acreditando no velho adágio: “É conversando que a gente se entende”.

No aguardo do visitante

José Horta Manzano

Daqui a uma dezena de dias, ocorrerá um evento histórico. Um importante personagem político deverá estar de visita a uma cidade que não costuma frequentar. Imagina-se que fará um pronunciamento. Os olhos e os ouvidos do planeta inteiro estarão abertos e atentos para não perder uma migalha do que o homem vai dizer.

Uma baciada de jornalistas do mundo inteiro estão na fila para obter a cobiçada autorização que lhes dará o direito de portar crachá e cobrir o evento. Já faz alguns dias que mil e quinhentos agentes especiais ‒ muitos deles armados ‒ já foram despachados à cidade para cuidar da logística e da segurança do visitante e de seu entourage.

Esse batalhão de homens treinados está encarregado de cuidar minuciosamente de todos os detalhes de hospedagem, alimentação e transporte do ilustre líder. Naturalmente, sem descurar a segurança, ponto primordial.

Para evitar manifestações hostis, a polícia local isolará e garantirá ordem e segurança no trajeto que o personagem deve seguir e nos pontos que deve visitar. O espaço aéreo da cidade será fechado a todo sobrevoo. Drones e helicópteros das forças policiais, munidos de câmeras com visão noturna, esquadrinharão em permanência toda a área central da cidade para prevenir toda tentativa de incursão.

Se o distinto leitor me acompanhou até aqui, há de estar imaginando que estou a descrever eventual comparência do messias de Garanhuns a Porto Alegre para inteirar-se do destino que a Justiça lhe reserva. Sou obrigado a decepcioná-lo. Não, não estou me referindo ao Lula.

Descrevi os preparativos para a esperada visita que Mr. Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, deve fazer à Suíça daqui a dez dias. O dirigente vai participar do World Economic Forum, evento organizado todo janeiro em Davos.

Este ano, espera-se a presença de 350 líderes governamentais oriundos dos quatro cantos do planeta ‒ entre os quais 60 chefes de Estado ou de governo(!) ‒, além de um milhar de personagens importantes da sociedade civil, da vida acadêmica e da mídia. É esperada ainda alentada comitiva de ministros do governo americano, de senadores e de deputados.

A atenção do mundo estará voltada para os pronunciamentos e para os tuítes que Mr. Trump emitirá. Jornalistas se esforçarão para destrinchar as palavras do líder, por vezes cabeludas.

O anúncio que o tribunal de Porto Alegre fará, referente aos crimes de nosso ex-presidente, não deverá ocupar a manchete dos grandes veículos mundiais. Será relegado a nota de rodapé. A vida é cruel. Ninguém se condói da desgraça de líderes decaídos.

Desperdiçando dinheiro

José Horta Manzano

Saiu ontem nova pesquisa sobre a popularidade do presidente. A Confederação Nacional do Transporte(!) encomendou a uma empresa especializada, por nome MDA, sondagem de opinião. Imagino batalhões de agentes vasculhando os grotões a fim de descobrir o que o povo acha do governo atual. O resultado não trouxe surpresa. O presidente goza de apenas uns 10% de aprovação plena. Na outra ponta, quase metade dos habitantes estão muito descontentes. Para os demais, não fede nem cheira.

estatisticas-7aAcoplada à pesquisa sobre o presidente atual, veio um apenso ‒ um jabuti enxertado ‒ com perguntas sobre intenções de voto para as próximas eleições presidenciais. Faltando um ano e meio para o voto, ninguém sabe sequer quais serão os candidatos, especialmente quando se leva em conta o momento turbulento que o país atravessa. Ora, que não seja por isso. O instituto especializado simplesmente repetiu o nome dos candidatos das últimas eleições. A simulação cobre o primeiro e até o segundo turno! Quando se sabe que todo eleitor tende a mencionar os nomes mais conhecidos, fica fácil imaginar o preferido. Em diversas simulações dá nosso guia na cabeça. Quanto blá-blá-blá! A probabilidade de ele estar encarcerado é maior do que a de que saia candidato.

Não sou especialista em pesquisa de opinião, muito menos em transporte. Assim mesmo, como cidadão dotado de alguns gramas de espírito crítico, fico a cogitar sobre a razão pela qual a Confederação dos Transportes estaria interessada nesse tipo de sondagem. Suponho que custe um dinheirão. A pergunta inevitável é: de onde vêm os fundos para financiar a pesquisa? Quem teria interesse em sua publicação? Cui bono? ‒ quem é que ganha com isso?

Sem consultar minha bola de cristal, eu já imaginava ‒ e meus distintos e cultos leitores também ‒ que senhor Temer não era apreciado. Não tanto por carisma ou por falta dele. Num momento em que a inflação anda comendo braba, o desemprego corre à solta, a segurança nas ruas lembra Bagdá, bandoleiros se tornaram donos das cadeias, metade dos homens políticos está com um pé na prisão, é compreensível que o povo esteja desgostoso. E é natural que essa insatisfação se cristalize na figura do chefe do Executivo.

Estatísticas 8Que os descontentes sejam 40%, 50% ou 80%, pouca diferença faz. Sabemos todos que, salvo cataclisma, o presidente-tampão lá deve permanecer até o fim do ano que vem. Sabemos também que este é o melhor momento para destravar reformas estruturais engavetadas há anos ‒ a da Previdência Social em primeiríssimo lugar, mas não só. Antipático por antipático, melhor fazer o que tem de ser feito.

Nesse sentido, o governo atual, apesar dos pesares, tem dado passos na boa direção. Portanto, pergunto de novo: de que servem essas medições de antipatia? É mais que previsível que o presidente chegue ao final do mandato com aprovação baixíssima e reprovação nas alturas. No momento sinistro que o país atravessa, gastar dinheiro medindo popularidade de presidente e tentando adivinhar o sucessor parece-me desperdício. Estão jogando dinheiro pela janela. Só desperdiça quem tem pra desperdiçar. De onde vem essa dinheirama?

De atentados

José Horta Manzano

É fácil ser profeta do passado. Acontecido o fato, é cômodo dizer “eu tinha avisado”.

Na esteira dos atentados que têm castigado a Europa ultimamente, muita gente tem aproveitado para emitir críticas. Depois da carnificina de Berlim, tenho ouvido comentários injustos. Até respeitados analistas vêm censurando a Alemanha por não se ter premunido contra camicases e atacantes. «Onde está a proverbial eficiência alemã? Deviam ter protegido melhor os frequentadores da feira berlinense!» É, falar é fácil.

feirinha-1Feiras natalinas são manifestações de rua tradicionais na Europa do norte, mas não só. Nesta época, são montadas por toda parte. Para se ter uma ideia de como são populares, leve-se em conta que, somente em Berlim contam-se quase sessenta feiras. Na Alemanha inteira, são muitas centenas. O mesmo acontece na França, na Suíça, na Áustria, assim como nos países escandinavos, nos Países Baixos e até na Europa mediterrânea. As barraquinhas oferecem sortimento variado: comes e bebes, artigos de Natal, artesanato, obras de artistas desconhecidos, roupas, tricô, crochê e muita coisa mais.

Prevenir atentado é tarefa impossível. Não se pode pôr um segurança ou um policial protegendo cada cidadão. É ilusório imaginar soluções miraculosas. Haverá sempre uma brecha para um coquetel molotov, uma rajada de Kalashnikov, um camicase com cintura de explosivo, um atropelamento múltiplo. Quando se sabe que um único indivíduo ‒ um «lobo solitário» ‒ pode causar estrago pesado agindo praticamente desarmado, a gente se sente indefeso. Com razão.

feirinha-2Até certo ponto, pode-se reforçar a segurança de aeroportos e estações ferroviárias, que são lugares confinados. Pórticos de detecção de metais, policiamento ostensivo, controles inopinados, câmeras de vigilância não eliminam todo risco, mas ajudam. Já nas ruas, em feirinhas, em grandes lojas, em centros comerciais, em igrejas, nunca se alcançará proteção total. O atentado de Berlim, infelizmente, não foi o último.

Sobra um (magro) consolo: tudo acaba passando. A história é feita de ciclos, de altos e baixos, de vaivéns, de tempestades e bonanças. Durante os anos 70 e 80, sequestros de avião eram praga mundial. Não passava uma semana sem avião desviado. Hoje, já não se ouve mais falar. O dia chegará em que atentados às cegas, como os atuais, serão apenas amarga lembrança.

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Nota linguística
Os alemães chamam essas manifestações de Weihnachtsmarkt. Os franceses dizem Marché de Noël. Os espanhóis dizem Mercado (mercadillo) navideño, enquanto os italianos preferem Mercatino di Natale. Os suecos dizem Julmarknad. Ainda que adaptada ao espírito de cada língua, todas as expressões empregam a raiz mercado.

Alguns jornalistas se deixam contaminar pelo original estrangeiro e traduzem por «Mercado de Natal». Não me parece apropriado. Mercado, para nós, é outra coisa. Nossa expressão «Feirinha de Natal» é mais adequada.

Extremismo à brasileira

Myrthes Suplicy Vieira (*)

Cabeçalho 13

Olá,

Somos um grupo amador brasileiro especializado em atentados a bancos, empresas e veículos de segurança, tráfico de armas e de drogas. Apesar de já termos galgado posição de destaque junto à criminalidade dentro e fora do território do Rio de Janeiro, sentimos que ainda não alcançamos a projeção a que aspiramos e à qual acreditamos ter direito na mídia brasileira e internacional. Atribuímos esse estado de coisas à acirrada concorrência que temos enfrentado nos últimos anos na esfera política nacional. São tantos e tão variados os escândalos de corrupção na administração municipal, estadual e federal que praticamente não sobra tempo à imprensa livre para cobrir eventos ‒ por mais impactantes que sejam ‒ fora do âmbito político-empresarial.

Assalto 10Em função dessas contingências, estamos pensando em nos profissionalizar e atuar fora de nossa área de especialização, evoluindo para a área do terrorismo internacional. Contamos com muitas habilidades que, temos certeza, serão de grande valia para sua organização durante a realização dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Conhecemos cada minúsculo beco da cidade-sede, temos gente nossa infiltrada em milícias das várias comunidades cariocas, na polícia estadual e até mesmo em quadros da administração local. Além de podermos facilmente nos misturar à multidão, não enfrentamos obstáculos maiores para lidar com o controle de fronteiras, em especial no sul do país, já que contamos com soldados habituados a tratar com militares na tríplice fronteira Brasil – Argentina – Paraguai.

JO 2016Para melhor servi-los, já nos inscrevemos em cursos diversos, inclusive artes marciais, tiro e língua árabe. Adquirimos recentemente algumas metralhadoras AK-47 numa transação virtual com lojas do Paraguai para não levantar suspeitas desnecessárias, coisa que certamente teria ocorrido caso nos tivéssemos deslocado até lá.

Outro de nossos diferenciais é que fazemos parte de uma população universalmente reconhecida como inventiva, adepta da improvisação e aberta às mais diversas orientações sociais, religiosas e ideológicas. Multiculturalismo, acolhimento de estrangeiros e sincretismo religioso são pontos fortes de nossa cultura e de nosso grupo. Ainda que nos agrade pensar que somos abençoados pelo Cristo Redentor, não vemos incongruência em aderir aos preceitos muçulmanos, principalmente se as virgens prometidas aos mártires da fé puderem ser desfrutadas com antecedência, já neste plano, e se nossa cervejinha santa de todos os dias puder ser consumida excepcionalmente por nossos combatentes, ao menos nos dias de ação.

Cerveja 1Podemos adicionalmente oferecer consultoria quanto às características físicas, vestimentárias e comportamentais a ser observadas por lobos solitários que venham a ser recrutados. Como deve ser de seu conhecimento, o calor da cidade do Rio de Janeiro, inclusive no inverno, torna contraindicado trajar vestes pesadas ou portar cinturões de explosivos que só serviriam para retardar o deslocamento e a fuga. Dispomos de farto estoque de bananas de dinamite que poderiam ser rapidamente alocadas em diversos locais de concentração de público. Ninguém se assustaria também com a visão de armas de grosso calibre, nem com eventuais tiroteios, uma vez que isso já faz parte da paisagem natural carioca. Nosso trânsito caótico pode permitir ainda a utilização de todo tipo de veículos leves e pesados, mesmo em áreas interditadas. Atropelamentos não são exatamente uma novidade para nós. Podemos considerar inclusive a utilização de embarcações de todos os tipos para rápido deslocamento por mar durante as provas aquáticas. Finalmente, estamos preparados para nos valer de infinitas formas de disfarce, como é tradição em nosso Carnaval.

Odalisca 1Expostas todas essas características, só nos resta torcer para que vocês, companheiros de luta, se sensibilizem e aceitem nosso pedido de filiação. Aguardamos ansiosamente sua resposta e nos colocamos à disposição para toda informação adicional concernente à nossa expertise. Aproveitamos o ensejo para solicitar que a comunicação entre nós fique restrita à troca de faxes, considerando o alto risco de rastreamento de nossos celulares.

(*) Myrthes Suplicy Vieira é psicóloga, escritora e tradutora.

Frase do dia — 266

«De acordo com a constatação insuspeita de Frei Betto, nas favelas que se multiplicam por todo o País se encontram hoje barracos devidamente equipados com geladeira, eletrodomésticos, televisores moderníssimos, às vezes até mesmo carros populares e outros objetos de consumo.

Mas, quando saem porta afora, as pessoas não encontram escolas, postos de saúde e hospitais decentes, transporte público eficiente e barato, segurança adequada, enfim, os bens sociais que são muito mais essenciais a um padrão de vida digno do que os bens de consumo que lhes oferecem a ilusória sensação de prosperidade.»

Editorial do Estadão, 20 out° 2015.

O pão e o brioche

José Horta Manzano

Revolution 1«Ils n’ont pas de pain? Qu’ils mangent donc des brioches!» Não têm pão? Que comam brioches!

A frase maldosa, que provavelmente nunca foi pronunciada, é atribuída a Marie-Antoinette, esposa do rei de França Luís XVI.

A rainha, de origem austríaca, era odiada pelo povo francês, que a chamava, com desdém, “a estrangeira”. Tanto ela quanto o marido foram precipitados à guilhotina, na esteira da Revolução Francesa.

O fato é que, naqueles tempos de monarquia absolutista, os do andar de cima viviam numa bolha, desconectados do povo. A população servia para fornecer combatentes para repetidas guerras. Fora isso, cada um que se virasse como pudesse.

Guardadas as devidas proporções, os altos círculos políticos do Brasil atual lembram a França pré-revolucionária do século XVIII. Basta atualizar alguns conceitos. Quer ver? Troque-se monarquia absolutista por desvario político. E substitua-se o termo ‘combatentes’ por ‘eleitores’. Pronto. Vamos reescrever a frase.

Manif 2Nestes tempos de desvario político, os do andar de cima vivem numa bolha, desconectados do povo. A população serve para pagar impostos e para votar nos candidatos “certos”. Fora disso, cada um que se vire como puder.

A frase de Marie-Antoinette também tem de ser atualizada. Fica assim: “Eles não têm escola, nem segurança, nem saúde? Que se contentem com a bolsa família!”

A fúria que se levantava contra a rainha francesa dois séculos atrás corresponde hoje à antipatia que cresce no povo brasileiro contra a presidente da República.

Guilhotina passou de moda, mas o futuro de nossa Marie-Antoinette tupiniquim não se apresenta sereno.

Por que me ufano de meu país

Myrthes Suplicy Vieira (*)

Perdoem-me a falta de números precisos. É que sempre estive do lado das ciências qualitativas e, por isso, desaprendi a me importar com estatísticas. Em nosso curso de Estatística na Faculdade de Psicologia, circulava até mesmo uma piada a respeito da importância das análises baseadas na quantificação: “A estatística mostra tudo, menos o essencial”.

Estatísticas 3Se você puder abandonar por um instante a expectativa de dimensionar a importância real das circunstâncias abaixo, provavelmente vai se surpreender com a face oculta dos feitos nacionais, quando filtrados por olhos de qualidade. Acredito que, uma vez elaborado o impacto dessas constatações, será possível recorrer a sites especializados para obter os números que você necessitar.

Um alerta importante: não há nada de novo ou original neste condensado de motivos para nos orgulharmos de nossa pátria. Tudo já foi dito e repisado ad nauseam e a emoção contida originalmente nas palavras foi se perdendo ao longo do tempo. Assim, por favor, entenda este arrazoado como uma simples tentativa de resgatar a pulsação emocional de nossos concidadãos.

Eu me ufano de meu país porque:

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● Somos um dos países com a maior carga tributária do planeta e campeões absolutos em não retornar à população os serviços essenciais de que ela necessita e pelos quais pagou.

● Estamos na liderança das nações mais corruptas do planeta, se considerados em conjunto nossos governantes, nossos parlamentares, nosso sistema judiciário, nossos empresários, nossa elite social, nossa elite religiosa e boa parte de nossos cidadãos comuns.

● Estamos na vanguarda das maiores concentrações de renda dentre os países ditos civilizados do mundo contemporâneo.

● No plano social, não perdemos para ninguém no mundo em termos de desassistência às populações de rua, aos idosos, às crianças e aos cuidados materno-infantis.

Pobreza 1Interligne vertical 10● Nosso sistema educacional nos enche de orgulho por figurar nas primeiras colocações dentre aqueles que ainda não conseguiram universalizar o acesso ao saber e à tecnologia de ponta, e no qual a desautorização e o desrespeito aos mestres são os grilhões que nos prendem à era medieval.

● Nosso sistema público de saúde bem poderia ser usado para ilustrar textos científicos sobre a forma como a medicina era praticada nos burgos feudais. Poderia também servir de referência para análises científicas a respeito da qualidade do atendimento médico e psicossocial em países conflagrados por guerras civis.

● Nosso sistema judiciário é líder planetário no que tange à lentidão na distribuição da justiça, ao foco em tecnicalidades legais, ao tratamento desigual dispensado aos cidadãos de maior e menor renda e aos privilégios concedidos a certas autoridades e a certas categorias profissionais.

Atoleiro 1Interligne vertical 10● Nossa capacidade de investimento em infraestrutura é campeã em atraso na aprovação e execução de projetos, na má distribuição dos recursos disponíveis, na burocracia e no desvio de dinheiro público.

● Nossa segurança pública é das mais combalidas em todo o planeta. Atingimos o primeiro lugar honrosamente graças à má gestão na seleção, treinamento e remuneração tanto dos oficiais de nossas forças armadas quanto de nossas polícias estaduais e federal. Mais importante, devemos esse galardão à forma como nossos governantes voltam as costas para nossas demandas de participação na administração.

● Nossa capacidade de dar acolhimento a ex-ditadores, ex-governantes corruptos e a fugitivos da justiça de toda espécie não encontra paralelo em nenhum outro país. Ao mesmo tempo, nos excedemos em não dar abrigo a cidadãos de outros países atingidos por cataclismas naturais, guerras ou perseguição religiosa e ideológica.

Assalto 1Interligne vertical 10● Nosso potencial para atingirmos a excelência em diversas outras áreas, como, por exemplo, o patrocínio oficial a atividades culturais, é gigantesco e consolida em definitivo nosso epíteto de “país do futuro”.

● Finalmente, porque somos um país de dimensões continentais que se rege por um único idioma oficial. Mesmo assim, ganhamos o campeonato mundial de distância entre a linguagem culta e a linguagem das ruas. Graças a essa soberana característica nacional, impedimos que o cidadão comum absorva intelectualmente os ditames políticos, o jargão usado por especialistas de todas as áreas – em especial médicos e juristas – e nos confraternizamos com expressões compartilhadas por todos: “É nóis na fita, mano! kkkkkkkk”

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(*) Myrthes Suplicy Vieira é psicóloga, escritora e tradutora.

Frase do dia — 158

«O padrão Fifa acaba junto com o torneio. A segurança exaltada pelos estrangeiros que vieram ao país para a Copa é tão atípica quanto a goleada alemã. Sem Copa, o exército deixa as ruas. Um jogo do campeonato brasileiro não mobilizará dois mil policiais, nem haverá feriados que garantam a fluidez do trânsito.»

João Bosco Rabello, colunista do Estadão, em artigo de 9 jul° 2014.

Conselhos aos turistas

José Horta Manzano

Nos anos 90, a coisa fervia pelos lados da Península Balcânica. Entre sérvios, croatas, bosnianos, a convivência ficou explosiva. Muito guerrearam, muitos mataram, muitos morreram.

Mãos ao alto 1Se, na época, um hipotético viajante tivesse de aventurar-se por aquelas bandas, convinha seguir rigorosas regras de sobrevivência em regiões de conflito. Assim mesmo, por mais obediente que fosse nosso aventuroso turista, regra nenhuma poderia salvá-lo de um míssil ou uma bomba.

A Guerra dos Bálcãs acabou. Hoje, não só a Albânia é uma festa (dixit Jorge Amado), mas toda a península. A Albânia, por sinal, com seus 3 milhões de habitantes, recebe 3 milhões de visitantes a cada ano. A Croácia, país de 4 milhões de almas, acolhe incríveis 10 milhões de turistas! Manuais de sobrevivência saíram de moda.

Oficialmente, o Brasil não está em guerra ― pelo menos no papel. No entanto, a situação de conflagração civil que castiga o país e se agrava ano após ano causa efeitos iguais aos de um conflito tradicional. Talvez até piores.

Numa guerra, pelo menos, há um inimigo declarado, o que facilita sua identificação. Num estado de quase-guerra, como é o caso brasileiro, a ameaça é difusa. O inimigo não ataca necessariamente com bazuca. O leque de armas é mais sutil, bem sortido, traiçoeiro. A ameaça pode vir de onde menos se espera.

Mãos ao alto 2Não é à toa que a Croácia, cujo território ardia inóspito 20 anos atrás, acolhe hoje o dobro de turistas que acolhemos nós no Brasil. Tenha-se em mente que o pequeno país balcânico tem área equivalente à do Estado da Paraíba.

A Suécia não passou pelas eliminatórias e não conseguiu se classificar para a fase final da «Copa das copas». Assim mesmo, alguns apreciadores do esporte decidiram viajar ao Brasil para assistir a alguns jogos. Estive lendo, horrorizado, as recomendações que o governo sueco dá a seus ousados súditos que se estejam dirigindo a nosso paraíso tropical.

Aqui está uma seleção dessas advertências.

Interligne vertical 11cConselhos de segurança

* A vigilância é sua melhor defesa. Procure saber onde você se encontra e preste atenção a toda modificação súbita na composição do grupo. Fique sempre junto a seu grupo ― quanto mais gente, melhor.

* Mulheres não devem viajar sozinhas sob nenhum pretexto.

* Não use transporte público, especialmente depois de escurecer. Viaje somente em táxis munidos de taxímetro. À noite, se estiver sozinho, o melhor mesmo é evitar andar de táxi.

* Não passeie na praia após o pôr do sol. Evite todo e qualquer lugar pouco frequentado.

* Escolha um hotel seguro. Nunca abra a porta do quarto antes de saber quem está batendo. Em caso de dúvida, confirme por telefone com a portaria antes de abrir.

* Seja cauteloso ao comer ou beber em lugares muito frequentados. Nunca aceite comida ou bebida de estranhos.

* Estelionatos e engodos são comuns: seja vigilante se um estranho tentar atrair sua atenção ou distraí-lo.

* Deixe documentos originais no cofre do hotel. Carregue uma cópia, se necessário.

* Planeje com bastante folga traslados entre hotel e aeroporto. Certos percursos são mais arriscados que outros.

* Nunca ofereça resistência a criminoso armado. Guarde a calma e entregue, sem hesitação, seus pertences. Evite olhá-lo nos olhos.

* Não dirija. Se não houver outro jeito, siga as regras de proteção contra assaltos e sequestros.

* ‘Arrastões’ são uma forma local de crime. Uma gangue pode, por exemplo, bloquear uma rua, uma loja, um bar ou um restaurante e roubar todos os que ficarem encurralados.

Francamente, um guia para intrépidos viajores de malas prontas para Cabul, Bagdá ou Damasco não seria muito diferente. Ou não?

Dá uma vergonha…

Perigo à vista

José Horta Manzano

As coisas vão mal em Brasília. Deputados se escondem atrás do anonimato do voto secreto para dar apoio a colegas criminosos. Enquanto isso, a presidente e seus áulicos, acuados por suas repetidas trapalhadas, se escondem do povo, com medo de apupos.

Artigo do Correio Braziliense de 29 de agosto nos dá conta de que as manifestações de junho abalaram mais do que se imagina. A maioria que nos governa há mais de dez anos, acostumada a arrancar aplausos e a colher vivas por toda parte, está sendo obrigada a rever sua estratégia. Os tempos estão mudando rapidamente.

As festividades de 7 de setembro, a data maior, estão aí na esquina. Por um lado, lembrarão aos distraídos que nosso País se emancipou de Portugal em 1822 e tornou-se soberano. Oficialmente, pelo menos.

Por outro lado, os festejos deixarão patente a fragilidade dos que achavam que tudo estava dominado, que estavam por cima da carne seca.

7 de setembro ― preparação Crédito: Correio Braziliense

7 de setembro em Brasília ― preparação
Crédito: Correio Braziliense

Em outras plagas, aparição pública de figurões causa suor frio nos encarregados da segurança. O pavor maior é o de um atentado, de uma bomba, de uma bala disparada por um franco-atirador. É compreensível.

Assim como Júlio César, Dom Carlos de Portugal, John Kennedy e Anuar El-Sadat, muitos mandatários já perderam a vida quando de uma aparição em público. Sem contar os que passaram rente à catástrofe e sobreviveram, como De Gaulle, o papa João Paulo II, Jacques Chirac e outros.

Mas… em nossas terras tropicais, tem disso não! O medo aqui é outro, minha gente. Nossos mandachuvas têm medo mesmo é de povo. Tantas aprontam, que começam a suar frio só de pensar em encarar uma multidão.

Nos bastidores ou diante de uma seleta assembleia de correligionários, político brasileiro se solta, conta bravatas, esbraveja, acusa, se autoexalta, faz o diabo. Já quando tem de enfrentar povo de verdade, só falta fazer cocô nas calças. Uma sonora vaia machuca o ego. Quanto mais alto é o coqueiro, mais forte é o tombo. Quanto mais inflado é o ego, maior pungente é a dor.