Falam de nós – 16

0-Falam de nósJosé Horta Manzano

A colheita da semana é magra. As manchetes que mencionam o nome de nosso país foram, como de hábito, desalentadoras. Aqui estão algumas, de cinco diferentes países.

Gang of Kids
Reportagem do site Yahoo dedicado a viagens e viajantes está longe de encorajar turistas a visitar o Brasil em geral e o Rio de Janeiro em particular. Traz um vídeo de 40 segundos, presumivelmente produzido pela empresa Globo, em que uma impressionante sequência de assaltos é praticada à luz do dia em pleno centro da cidade.

Quem convive diariamente com situações como essas não se espanta. Mas duvido que um estrangeiro, depois de assistir a essas imagens, persevere no projeto de visitar o Brasil.

Assalto 9Carestia alastrante
O austríaco Der Standard dá informação sobre a «transbordante» inflação, que ultrapassou dez por cento em 2015. Entre as causas, são destacadas as «suntuosas» despesas do governo.

Karneval der Korruption
Carnaval da Corrupção. Com esse título, o alemão Frankfurter Rundschau conta que a temática da próxima festa nacional brasileira de facto ‒ o Carnaval ‒ será a corrupção sob todos os aspectos. Máscaras, marchinhas, carros alegóricos farão parte dos festejos. Até ‘o japonês da Federal’ é mencionado.

Carnaval 12Queda livre
Brasil em queda livre ‒ é manchete do Neue Zürcher Zeitung, jornal suíço de referência. O longo artigo pinta, com tintas vivas e realistas, a atual situação do Brasil. Fala de tudo: corrupção, rebaixamento por agências de classificação de risco, falências, desemprego, inflação, troca de ministros, catástrofe ambiental, Jogos Olímpicos.

Para rematar com olhar optimista, o articulista observa que a desvalorização do real pode representar excelente oportunidade para os exportadores brasileiros que forem rápidos no gatilho.

Dragon 1Decaída
“Brasile: dalla gloria dei Brics al terzo mondo.” Brasil: da gloria do Brics ao Terceiro Mundo. É o que constata artigo alojado no italiano Corriere della Sera. Pessimista, dá uma imagem bastante crua do momento brasileiro. Fala de uma presidente que passa o tempo a defender-se do impeachment. Lembra que o partido atualmente no poder está envolvido em escândalos sem fim, cujo denominador comum é o financiamento ilícito de campanhas acompanhado por enriquecimento pessoal de líderes. Menciona estatais saqueadas que se encontram em estado terminal.

Num escárnio, termina perguntando se Deus seria mesmo brasileiro, como dizem. A dúvida fica no ar.

Falam de nós – 9

0-Falam de nósJosé Horta Manzano

Como podem imaginar meus distintos leitores, as manifestações populares de 16 de agosto tiveram repercussão planetária. Dou-lhes, aqui abaixo, um apanhado das manchetes internacionais.

AlemanhaStern, maior revista europeia de atualidades
«Hunderttausende Brasilianer fordern Präsidentin Rousseff zum Rücktritt auf»
Centenas de milhares de brasileiros exigem renúncia da presidente Rousseff

SuíçaAgefi, jornal financeiro suíço
«Brésil: manifestations dans plus de 200 villes contre Dilma Rousseff»
Brasil: manifestações em mais de 200 cidades contra Dilma Rousseff

Suécia – Dagens Nyheter, jornal de referência
«Den brasilianska medelklassen protesterade i går i 239 städer i landet och krävde president Dilma Rousseffs avgång»
A classe média brasileira protestou ontem em 239 cidades do país e reivindicou afastamento da presidente Dilma Rousseff

América Latina – BBC de Londres, edição latino-americana
«“Brasil está siendo destruido”: lo que dicen los manifestantes anti-Rousseff»
Brasil está sendo destruído: é o que dizem os manifestantes anti-Rousseff

Alemanha – Frankfurter Allgemeine Zeitung, jornal importante
«Hunderttausende fordern Rousseffs Amtsenthebung»
Centenas de milhares exigem deposição de Rousseff

Manif 23Reino Unido – BBC de Londres, edição em inglês
«Brazilian protesters call for President Dilma Rousseff’s impeachment»
Manifestantes brasileiros clamam por impedimento da presidente Dilma Rousseff

Itália – Gruppo 24 Ore
«Brasile, destra in piazza per l’impeachment della Rousseff»
Brasil: a direita nas ruas pelo impeachment de Rousseff

França – Le Monde, jornal de referência
«Des centaines de milliers de Brésiliens disent ‘dehors’ à Dilma Rousseff»
Centenas de milhares de brasileiros dizem ‘fora’ a Dilma Rousseff

China – South China Morning Post, de Hong Kong
«Hundreds of thousands rally in Brazil to demand president’s resignation amid corruption scandal»
Centenas de milhares agrupam-se no Brasil para exigir renúncia da presidente em meio a escândalo de corrupção

Dinamarca – Jornal Fyens
«Hundredtusinder kræver præsidents afgang i Brasilien»
Centenas de milhares reivindicam afastamento da presidente do Brasil

Manif 24France Info – Rádio pública francesa
«Brésil: 900.000 manifestants réclament le départ de Dilma Rousseff»
Brasil: 900.000 manifestantes clamam pelo afastamento de Dilma Rousseff

Nova Zelândia – New Zealand Herald
«Anti-government protesters take to streets across Brazil»
Manifestantes contra o governo ganham as ruas em todo o Brasil

Suíça – Blick, o jornal de maior tiragem no país
«Massenproteste setzen Brasiliens Präsidentin unter Druck»
Protestos maciços põem a presidente do Brasil sob pressão

Bélgica – La Libre Belgique, jornal belga de referência
«Brésil: 400.000 manifestants exigent le départ de la présidente Rousseff»
Brasil: 400.000 manifestantes exigem afastamento da presidente Rousseff

Canadá – Métro, jornal em língua francesa
«Manifestations antigouvernementales au Brésil»
Manifestações antigovernamentais no Brasil

Manif 25Holanda – De Volkskrant, jornal diário
«Opnieuw massale protesten tegen Braziliaanse president»
De novo, protestos maciços contra presidente do Brasil

Suíça – Neue Zürcher Zeitung, jornal de referência
«Aufmarsch gegen eine paralysierte Präsidentin»
Concentração contra uma presidente paralisada

Holanda – NOS, portal informativo
«Weer massale protesten in Brazilië»
Novos protestos de massa no Brasil

Portugal – Expresso, diário lisboeta
«“Fora Dilma”, gritaram novamente os brasileiros»

A fanfarrice e suas consequências

José Horta Manzano

Imaginemos que um país sério decida promover uma ofensiva comercial. Para nosso exemplo, façamos de conta que o país que quer aumentar suas vendas seja a Alemanha, o Japão, o Canadá, a Nova Zelândia, a Holanda, tanto faz.

A receita é sempre a mesma: no embalo de um evento qualquer ― uma feira comercial, uma visita presidencial, um simpósio ― uma comitiva de grandes empresários acompanha um figurão agregador. O pivô em torno do qual gravitam os homens de negócios pode ser um capitão da indústria, um ministro ou até um chefe de Estado.

No caso que me preparo a comentar, a figura agregadora era justamente a presidente de nossa República. Na brecha aberta pela sessão anual da ONU, dona Dilma se fez acompanhar por seu ministro da Fazenda e por uma revoada de empresários.

Um editorial do Estadão de 26 set° nos revela ― e Patrícia Campos Mello nos confirma na Folha de São Paulo de 27 set° ― que o grupo gastou seu tempo martelando, como numa litania, que o Brasil costuma respeitar contratos.

The Economist conceituada revista britânica

The Economist
À esquerda, edição de nov° 2009                                                            À direita, edição de set° 2013

Alguém em sã consciência poderia jamais imaginar um grupo de empresários alemães, japoneses, canadenses, neozelandeses ou holandeses declamando uma tal ladainha? Não precisa, ça va de soi, é uma evidência.

Que nosso grupo de empresários se tenha sentido na obrigação de reafirmar com tanta veemência que o Brasil é um país sério é mau sinal. A necessidade tão premente que o capitão de indústria sente de dar garantias prévias ao investidor denuncia um clima de desconfiança. Ninguém quer aplicar seu dinheiro em empreitada duvidosa.

Visto do estrangeiro, o Brasil não é o mesmo. Para o investidor externo, muitos dos grandes acontecimentos nacionais passam em branco. O mensalão simplesmente não existe na mídia internacional. Engorda a conta da corrupção endêmica do País, já conhecida por todos. Disputas partidárias, mais médicos ou menos médicos, asilo de senador boliviano & outros temas que nos parecem transcendentes simplesmente não são noticiados. Não interessam a aplicadores estrangeiros.

Já os caminhos políticos, sim, são observados com lupa e analisados com minúcia. A inserção de nosso país no conjunto das nações importa. O governo de dona Dilma está pagando por um pecado que não cometeu. E todos nós, de tabela, entramos na dança. Essa desconfiança com relação ao Brasil planta suas raízes na ingênua e desastrada política exterior levada a efeito por nosso messias e sua veneranda equipe.

O presidente que antecedeu dona Dilma abraçou Chávez, confraternizou com os irmãos Castro, estendeu tapete vermelho para Ahmadinejad, distribuiu afagos a sanguinários ditadores africanos, chamou Kadafi de irmão, intrometeu-se na política interna de Honduras, concedeu asilo a um terrorista condenado pela justiça italiana, atropelou grandes potências ao tentar impor um xeque-mate mal alinhavado no Oriente Médio. Esse rosário de fracassos deixa a impressão de que o Brasil é governado por gente presunçosa, conquanto ingenua e ignorante.

Como conquistar o investidor estrangeiro segundo Amarildo Lima

Como conquistar o investidor estrangeiro
segundo Amarildo Lima

São fatos que permanecem na memória dos que controlam os grandes fluxos de capitais. No Brasil os descalabros se sucedem vertiginosamente. O escândalo de hoje empurra o de ontem para o esquecimento. Já quem olha de fora usa outros óculos e não costuma acreditar em duendes. A mais recente edição da celebrada revista The Economist veio de encomenda para reforçar a reticência de investidores já hesitantes.

Se eu tivesse alguns milhões e estivesse procurando um país para aplicar meu capital, dificilmente escolheria o Brasil. Quando se trata de dinheiro grosso, pouco importa o nome do país. O investidor quer, antes de tudo, segurança. Se o retorno for bom, melhor ainda.