Você sabia?
José Horta Manzano
«Quando não vai por bem, vai por mal». Desde pequenos, ouvimos essa expressão. Há variantes, entre as quais: «Se não for pelas boas, vai com casca e tudo». Parece lugar-comum dizer isso, mas a sabedoria popular é realmente bem mais profunda do que imaginamos.
Há regras e normas que, por preguiça ou negligência, costumamos ignorar. Todos nós sabemos, por exemplo, que é proibido estacionar um veículo em cima de uma faixa de pedestres. Assim mesmo, não se passa um dia sem que flagremos carros parados bem em cima de faixas protegidas. Por que acontece isso? Será por deficiência visual do motorista? Não acredito. É negligência, fruto da quase certeza da impunidade.

Saco oficial
Por aqui, faz anos que se incita o povo a triar o lixo doméstico. Nossa sociedade produz montanhas de detritos que precisam, de um modo ou de outro, ser tratados. Que se os incinere, enterre, recicle, algum fim tem de ser dado a todo esse descarte. No passado, já cheguei a ver famílias com vários recipientes em casa, cada um etiquetado para um tipo de despejo. Mas não era muita gente a proceder assim, pois a decisão dependia unicamente da boa-vontade e da consciência ecológica de cada um. As autoridades bem que tentaram fazer que os cidadãos entendessem que nem tudo o que se joga fora é lixo inaproveitável. Desde que se faça uma triagem conscienciosa, muita coisa pode ser utilizada para outros fins. Depois que está tudo misturado, a separação fica difícil, se não impossível.
Pelas boas, não foi. Os conselhos não adiantaram muito. Mentalidades não se mudam assim, da noite para o dia, sem mais nem menos, só com um apelo à consciência de cada um. A parte mais sensível do homem, como se sabe, é o bolso. Como não houve outro meio, restou a maneira forte.
Foi o que relatei num artigo postado em 21 de dezembro de 2012, quando lhes relatei sobre a nova taxa que estava para vigorar no município onde vivo. É a «taxa do lixo» também conhecida como «taxa por saco».
Na época, insurgi-me contra a obrigatoriedade do novo regulamento. Cheguei a fazer referência jocosa à história do «homem do saco», aquela figura inventada pelos antigos para domar, pelo terror, crianças desobedientes. Fiz alguns cálculos apressados e concluí que as novas regras poderiam representar uma despesa extra de 550 dólares anuais para uma família, o que me pareceu desproporcional e injusto.
Já vai para dois meses que a nova regra entrou em vigor. Dado que toda a região a adotou ao mesmo tempo, não dá nem mesmo para fazer «turismo do lixo», ou seja, embarcar o saco de entulho no automóvel para jogá-lo num município vizinho.
Todos os habitantes receberam um livreto de instruções da prefeitura municipal, todo bonitinho, com desenhos coloridos, coisa fina. Estão lá descritos todos os objetos que um cidadão costuma descartar. Começa com remédios vencidos, passa por móveis velhos, pilhas gastas, lâmpadas queimadas, papel, metal, plástico, tecidos, e vai até o lixo orgânico.
Ninguém paga de bom grado 2,50 dólares por um saco de plástico para enchê-lo de lixo. Assim mesmo, todos os habitantes fomos obrigados a nos sujeitar ao novo regime. Pois pasmem, caros e fieis leitores! Constato hoje que a mudança de hábitos foi extremamente salutar. No final, ganham todos.
Temos hoje em casa 7 recipientes, um para cada tipo de descarte. O mais volumoso ― eu não imaginava! ―, é o de plástico. É incrível o que se utiliza de matéria plástica, sobretudo para embalagens.
Temos ainda um recipiente para metais, onde vai o que for de ferro, aço ou alumínio. Não serve para pilhas nem para lâmpadas, que essas têm de ser devolvidas à loja que as vendeu.
Uma outra caixa é para papel e papelão. Uma outra ainda fica reservada para PET, aquele polímero usado para água engarrafada. Antes de descartar, tem-se de pisar a garrafa para tirar o ar e atarraxar de novo a tampinha no bocal. Uma quinta caixa serve para objetos de vidro.
O sexto recipiente é especial: serve para o lixo orgânico, ou seja: resto de comida, casca de fruta, escama de peixe, coisas desse tipo. É conveniente que esse recipiente seja pequeno, de modo a caber no congelador. Se não, ai, ai, ai, vai exalar um cheirinho. É conveniente forrá-lo com um saco de material biodegradável, que será aceito como lixo orgânico. Essa matéria, depois de processada, vai se transformar em adubo. Por caminhos tortuosos, voltará a nossos pratos.
Por fim, sobrou… a antiga lixeira, devidamente forrada com seu novo (e caro) saco. Depois da triagem, pouco ou nada sobra para este sétimo recipiente. Talvez algum saco de aspirador, objetos que contenham plástico e metal ao mesmo tempo, fraldas de recém-nascido, coisas assim.
O depósito de lixo municipal tem caçamba para cada tipo de lixo. Cada habitante do município pode levar seus detritos ao depósito e lançá-los no contêiner adequado. Não pagará nada. As crianças adoram jogar garrafas na caçamba apropriada. Não só as crianças. É um dos raros lugares onde se pode quebrar vidro sem sentimento de culpa. Mas atenção, há um requinte: garrafas brancas, verdes ou marrons vão em recipientes diferentes.
Para facilitar a vida dos munícipes, evitando que tenham de visitar o depósito municipal a todo momento, pequenos contêineres de cor marrom estão instalados em pontos estratégicos da cidade, disponíveis o tempo todo. São reservados exclusivamente para lixo orgânico, aquele que ninguém quer guardar muito tempo.
Pode parecer complicadíssimo, mas não é. É questão de costume, acreditem. E é sempre reconfortante saber que cada um está fazendo sua parte na preservação do planeta.
Não deu para introduzir a nova prática pelas boas. Foi pelas más.
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