Novo hino

José Horta Manzano

Você sabia?

A história do hino nacional suíço é tão movimentada como a história do país. Imagine só: até 1961, a melodia era a mesma do hino britânico. Não cheguei a assistir pessoalmente, mas imagino que a execução dos hinos antes de encontros esportivos internacionais havia de ser um momento histriônico.

Num jogo entre Suíça e Reino Unido, bastava tocar o hino uma vez só. Os britânicos cantariam «God save the Queen» enquanto os helvetos entoariam «Rufst du, mein Vaterland» (ou «Ô monts indépendants», conforme a língua do freguês).

Suisse 16Quando o hino suíço começou a se difundir pelo país, em meados do século XIX, o fato de dois países usarem a mesma melodia não tinha tanta importância. Aliás, a melodia do hino britânico ‒ cujo autor não se conhece com certeza ‒ foi ou ainda é utilizada em numerosos outros cânticos nacionais, oficiais ou reais.(*)

Em 1961, o governo federal abandonou o hino antigo e adotou um canto provisório. Foi promovido ao estatuto de Cântico Suíço e está em vigor até hoje. A adoção de uma música definitiva foi adiada. Agora, meio século depois, a hora chegou.

Em 2014, foi lançado um concurso para a escolha de novo hino. As condições, bastante restritivas, exigem que a nova melodia lembre a antiga. Além disso, a letra tem de ser calcada na mensagem contida no preâmbulo da Constituição do país. Não sobra muita margem para inventar moda.

Das 208 composições inscritas, as seis finalistas acabam de ser publicadas na rede. Todos os residentes no país estão convidados a visitar o site oficial e votar em sua preferida. Das seis, sairão as três finalistas. Todos votarão de novo, e a grande vencedora será anunciada em 12 set°, considerado dia aniversário da fundação da Suíça moderna.

Suisse 17Caso o distinto leitor tenha curiosidade em conhecer as seis classificadas, pode clicar aqui. Dado que o país tem quatro línguas nacionais, cada hino conta com quatro versões: alemã, francesa, italiana e romanche. Para mudar de língua, clique na janelinha que aparece no canto superior direito da página.

O planeta está morrendo de impaciência de conhecer o vencedor. Vai ser difícil esperar até setembro.

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(*) A melodia do «God save the Queen» foi (ou ainda é) adotada em outros países:

Alemanha ‒ hino do império até 1918
Liechtenstein ‒ hino nacional até hoje
Noruega ‒ hino real até hoje
Rússia ‒ hino nacional até 1833
Suécia ‒ hino nacional em vigor no século XIX
Suíça ‒ hino nacional até 1961

Crença

Fábio Porchat (*)

Religião 1Atendente
Boa tarde, posso ajudar?

Cliente
Eu tava querendo uma religião.

Atendente
Ah, bem legal. Tá procurando alguma coisa específica?

Cliente
Não, é mais pra distrair mesmo.

Atendente
Bom, se é para distrair, a gente vai ter uma religião católica aqui que pode ser bem interessante.

Cliente
Será? Não sei. Tô achando meio batida.

Atendente
Bom, a mais da moda é o islamismo mesmo.

Cliente
Mas daí é muito empenho, eu queria uma coisa mais pra usar em casa, uma coisa mais levezinha.

Religião 2Atendente
Temos o budismo que é bem em conta e tá saindo muito.

Cliente
É uma, hein?

Atendente
É bem relaxante essa.

Cliente
Essa aqui é qual?

Atendente
Essa é a cientologia.

Cliente
Como é que é essa aí?

Atendente
Ah, o espiritismo. Hoje o espiritismo está na promoção, tá? E se você quiser levar um espiritismo, paga apenas 50% em qualquer umbanda dessas daqui. Candomblé também.

Cliente
Aceita cartão?

Atendente
Todas as bandeiras. A evangélica é que tem muita gente usando. Mas daí custa um pouco mais caro.

Cliente
E o judaísmo, hein?

Atendente
Tem que pedir no estoque e ver se eles autorizam.

Cliente
Tá.

Atendente
Se quiser uma coisa um pouco mais radical temos uma mórmon aqui que pode ser a sua pedida. Até a Testemunha de Jeová também é uma opção…

Cliente
Não sei, acho que eu vou dar mais uma olhada.

Religião 3Atendente
Se você quiser, a gente pode aqui preparar uma mistura pra você com um pouquinho de tudo. Funciona bem também. O brasileiro adora. É um pacotão completo: Você passa a acreditar em Deus, acha que vai pro céu, mas também acende uma velinha, vê espírito, medita, pula sete ondinhas e lê a Bíblia.

Cliente
Ah, gostei dessa.

Atendente
Todo mundo gosta.

Cliente
Mas coloca aí nesse pacote as 70 virgens.

Atendente
Quer que embrulhe?

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(*) Fábio Porchat é empresário e figura da mídia. Crônica publicada no Estadão.

Tresnoitados

José Horta Manzano

Relogio CFF

Hoje, que é domingo, ainda não está dando pra perceber, mas amanhã é que todos vão sentir na pele. Ou na pálpebra. Sentir o quê? A mudança de hora, ora! Todos os países europeus ‒ com exceção da Rússia e de dois ou três vizinhos ‒ entraram na hora de verão este fim de semana.

Como no resto do mundo, a justificativa para impor esse desagradável ritual bianual é poupar energia. Muitos contestam argumentando que os inconvenientes pesam mais que a diminuta economia. É discussão sem fim, que vem dando pano pra mangas e não vai se extinguir tão já.

A primeira experiência concreta de instaurar hora de verão teve lugar na Alemanha, em 1916, em plena guerra mundial. A ideia, considerada genial, foi adotada pelo Reino Unido e pela França naquele mesmo ano.

De lá pra cá, a adoção da mudança de hora foi esporádica. De quando em quando, um país decidia instaurá-la, enquanto vizinhos não tocavam no relógio. Nos tempos em que as comunicações internacionais em tempo real eram reduzidas, a discrepância não incomodava muito.

Mas os tempos mudaram, e a uniformização da prática foi-se fazendo necessária. A partir do início dos anos 80, um após o outro, todos os países europeus foram-se alinhando à rotina.

Relógio solar

Relógio solar

Nos primeiros anos, o Reino Unido, embora adotasse a hora de verão, não mexia em seus relógios ao mesmo tempo que os demais países europeus. A mudança entrava em vigor com defasagem de algumas semanas com relação aos vizinhos. Maldosos, os franceses aproveitavam para repetir que «os ingleses não conseguem mesmo fazer nada como os outros».

Essa excepcionalidade terminou em 1998. Naquele ano, a União Europeia normatizou a prática. Ficou combinado que a hora de verão passasse a vigorar da 1h (GMT) do último domingo de março até às 2h (GMT) do último domingo de outubro.

Relógio moleAgricultores e criadores de gado detestam a medida. Argumentam que vacas, que não usam relógio, devem ser ordenhadas sempre à mesma hora. É grita inútil. A norma que estabelece a dança das horas periga continuar ad vitam aeternam.

Anotemos pois: a partir deste 29 de março, Brasília está distante quatro horas de Lisboa, Dublin e Londres. E cinco horas dos outros países da Europa ocidental.

Falando nas agulhadas que ingleses e franceses adoram aplicar-se mutuamente, ocorre-me que nossa expressão sair de fininho se traduz assim:

Interligne vertical 13em inglês: «take a French leave» (sair à francesa)

em francês: «filer à l’anglaise» (escapar à inglesa).

Mal-educados são sempre os outros, nunca nós mesmos. Interessante, não?

Vamos terminar parodiando o fecho com que Millôr Fernandes costumava encerrar suas historietas: pano rapidíssimo.

O grande título

Carlos Brickmann (*)

Que semana maravilhosa! Temos manchetes de tipos variadíssimos e pouco usuais. Uma delas permite até a metaleitura. Embora não trate do assunto, demonstra claramente que:

Interligne vertical 11a) o ensino primário pode se chamar fundamental, pode se chamar primário, mas não pode ser chamado de ensino;

b) os meios de comunicação estão recrutando profissionais com um quarto cheio de diplomas internacionais, mas esqueceram de pedir que os candidatos à vaga preencham pessoalmente uma ficha de pedido de emprego.

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Comecemos com este, de um dos maiores portais noticiosos do país, ligado a um dos maiores grupos noticiosos do país:
“Investigação da PF Lava Jato aponta propina trêz vezes maior do que no mensalão”
O destino, piedoso, permitiu que profissionais como Emir Macedo Nogueira, Eduardo Martins, Napoleão Mendes de Almeida fossem poupados de ler essa frase.

Rir 2Outra manchete notável consegue, sem ser humorística, despertar o riso. E, simultaneamente, fazer com que retomemos contato com os textos sagrados. “Ministros entregam a Renan pacote anticorrupção”
Agora só lhes falta entregar a Herodes o plano nacional de cuidados com a infância.

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Um título sugestivo também permite a leitura no subtexto. Traz a informação e, instigante, permite que busquem as causas do evento:
“Haddad volta a dar aulas na USP após 12 anos”
Demorou. Deve ter ido para a universidade de bicicleta, no meio da buraqueira mal pintada a que chama de ciclovia.

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E o grande título, capaz de provocar uma pergunta de difícil resposta:
“Morena, Angélica diz que perdeu virgindade aos 17”
E loira, com que idade terá acontecido?

 

Rir 1CURTINHAS

● Da tuiteira Bea M. Moura:
“Herrar uma vez é lulice. Herrar duas veis é dilmais.”

● Do jornalista Sandro Vaia:
“A entrevista de Cardozo e Rosseto prova que o fracasso também sobe à cabeça.”

● Do presidente do Congresso, senador Renan Calheiros:
“O Aloízio Mercadante tem resposta para tudo e solução para nada.”

● Do jornalista Leão Serva:
“Petrobrás vai privatizar propriedades da empresa. Mas tucanaram a privatização: agora se chama ‘desinvestimento’.”

● Do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, PMDB, sobre o PT:
“Eles fazem tudo aquilo que pensavam que nós fazíamos.”

Rir 5● Do jornalista Ricardo Noblat:
“A presidenta já avisou que é a pessoa mais humilda da galáxia!”

● De uma faixa na manifestação de 15 de março, erguida (supõe-se) por um palmeirense:
“Fora Dilma, Alckmin e Valdívia.”

● Da jornalista Maria Helena Amaral:
“Pedro Barusco foi o melhor investimento da Petrobrás nos últimos cinco anos. Roubou US$97 milhões a R$ 1,70 e devolveu a R$ 3,10.”

● Do deputado comunista Roberto Freire, presidente nacional do PPS:
“Nada mais patético do que petistas que participaram conosco do impeachment de Collor falarem de terceiro turno e golpismo.”

● Do jornalista James Akel, comentando o baixo ibope do programa de TV apresentado por Marina Mantega:
“A filha é tão boa apresentadora quanto o pai era ministro.”

● Do jornalista Jarbas de Barros Domingues:
“Quando um homem consegue finalmente entender as mulheres, já está velho demais para se interessar por elas.”

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(*) Carlos Brickmann é jornalista, consultor de comunicação. Publica a Coluna Carlos Brickmann em numerosos jornais.

Frase do dia — 233

«O Ministério da Saúde financia Cuba, os Correios dão uma forcinha ora para a Venezuela, ora para a campanha de reeleição da presidente, e a Petrobrás financia PT, PP e PMDB antes, durante e depois de eleições, para eternizar um projeto de poder.

Tem muita investigação, muito inquérito, muitos réus, muita gente presa, mas, no frigir dos ovos, adivinha quem paga essa conta? Você!»

Eliane Cantanhêde, em sua coluna do Estadão, 20 fev° 2015.

Jeitinho e amadorismo

Dad Squarisi (*)

by Ivan Cabral, desenhista potiguar

by Ivan Cabral, desenhista potiguar

Vamos combinar? O Estado faliu. Não dá conta sequer de cumprir os mandamentos da Constituição. A Carta assegura que a saúde e a educação são direito de todos e dever do Estado. Mas cadê? No país em que há leis que não pegam, o que está escrito é letra morta. A educação pede socorro. A saúde está na UTI. A mobilidade não anda. A segurança ergue muros e se cerca de câmeras. Nem assim protege.

E daí? Em palestra proferida no lançamento do livro Saúde, educação e família, Ruy Altenfelder apresenta dados que jogam luz sobre os caminhos e descaminhos da realidade nacional. Põe o dedo na gangrena que apodrece a estrutura da administração pública. O mal se centra na ausência de planejamento e no amadorismo da gestão, dupla que abre as portas para o desperdício e a corrupção.

by Pawel Kuczynski, desenhista polonês

by Pawel Kuczynski, desenhista polonês

Altenfelder contesta boatos que, de tão convenientemente repetidos, ganham status de fatos. Um deles: faltam recursos para a saúde. Relatório do Banco Mundial de 2013 comprovou que os problemas do SUS estão relacionados mais com desorganização e ineficiência do que com falta de dinheiro. Em bom português: é possível fazer mais e melhor com o orçamento atual.

Vale o exemplo da rede de hospitais, cuja produtividade poderia ser triplicada: 65% das unidades têm menos de 50 leitos. O consenso internacional fixa o mínimo de 100. Daí por que em Pindorama a taxa média de ocupação de leitos e salas cirúrgicas é de 45% contra a média mundial de 70% a 75%. As consequências, como diz o conselheiro Acácio, vêm depois. No caso, a superlotação dos hospitais de referência. Etc. e tal.

by Wilmar (Wilmarx) de Oliveira Marques, desenhista gaúcho

by Wilmar (Wilmarx) de Oliveira Marques, desenhista gaúcho

Nada menos de 30% das internações são recursos que vão pelo ralo. Os ambulatórios dariam conta das ocorrências. Mais: aqui se remedeia em vez de se prevenir. O SUS trata a doença, não mantém a saúde. Acompanhar as enfermidades crônicas e rastrear o câncer (de mama e de colo do útero) é receita certa pra reduzir as internações e a mortalidade. Mas…corrigir rumos? Só quando a população exigir. Talvez não demore. Quando o serviço público é ruim, o privado, sem concorrência, piora.

(*) Dad Squarisi, formada pela UnB, é escritora. Tem especialização em linguística e mestrado em teoria da literatura. Edita o Blog da Dad.

Desastre de avião

José Horta Manzano

Avião 7Quando eu era criança ‒ faz muitos anos ‒ um tio meu gostava de contar velha piada. Falava de um sujeito que tinha medo de andar de avião; o homem não entrava em máquina voadora nem por decreto do papa.

Veio um outro e lhe disse:
«Mas que bobagem! Cada um tem seu dia de morrer. Se não for seu dia, nada vai acontecer.»

E o medroso:
«É, pode não ser o meu dia, mas… e se for o dia do piloto?»
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Acabo de me lembrar dessa historinha. Só que hoje não faz rir. Nesta quinta-feira de manhã, reforçou-se a suposição de que o pavoroso desastre de avião ocorrido há dois dias nos Alpes franceses pode ter sido fruto de ato deliberado de quem estava dirigindo o aparelho.

As primeiras análises da «caixa preta» (que, na realidade, é de cor laranja) sugerem que o piloto se tinha ausentado da cabine. Na volta, deu de nariz na porta. Bateu, mas o copiloto não abriu. Tentou arrombar, sem sucesso. Fico imaginando o sobressalto e a angústia por que hão de ter passado os que se tiverem dado conta da situação. Há de ter sido como num filme de horror, com o avião descendo inexoravelmente sem que ninguém pudesse fazer nada.

A confirmar-se a hipótese, fica reforçada a imagem de um mundo que, gradativamente, perde as estribeiras. Normas de convívio civilizado tradicionalmente aceitas estão-se dissolvendo rapidamente.

Foto AFP/Christophe Ena

Foto AFP/Christophe Ena

Até não muito tempo atrás, o mais longe que «pasionarios» ousavam ir, em busca de atenção para sua causa, era imolar-se pelo fogo em praça pública. Mais recatadamente, um que outro se suicidava no recôndito de um cômodo deixando uma carta-testamento ‒ foi o que fizeram Stefan Zweig e Getúlio Vargas.

Hoje, as porteiras se abriram e a boiada desembestou. Aviões transformados em bomba, homens-bomba, mulheres-bomba e até crianças-bomba arrastam para a morte gente inocente que nada tinha a ver com a história. Quanto mais gente, melhor.

Prefiro acreditar que o copiloto do avião que se espatifou nos Alpes tenha perdido consciência. É insuportável imaginar que, num gesto suicida, tenha levado consigo 150 existências cuja única culpa era ter embarcado naquele aparelho.

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O acidente ocorreu na França na segunda-feira, mas a maior parte dos viajantes desaparecidos provinha da Espanha e da Alemanha. Os mandatários-mores dos três países cancelaram sua agenda e se deslocaram até o lugar do desastre. No dia seguinte, estavam lá os três. Não foram levar nenhuma ajuda prática, é verdade, mas o gesto marcou solidariedade mútua. São atos que cabe a todo dirigente civilizado cumprir.

Crédito: Lydia Bultel

Crédito: Lydia Bultel

Lembrei-me do acidente que vitimou avião da TAM, em 17 jul° 2007, no Aeroporto de Congonhas. Os mortos foram 199. Fiquei, na época, muito impressionado com o silêncio do então presidente, o folclórico Lula.

Naquele momento de comoção nacional, nosso número um se escondeu atrás de um mutismo vil. Só se manifestou 73 horas depois ‒ isso dá três dias! Naquele momento, nem todos nos dávamos conta, mas hoje sabemos: quando o caldo engrossa, nosso guia sai de cena. Desaparece até que baixe a poeira.

Ainda bem que o mundo civilizado ainda não adotou o modo Lula de reagir a catástrofes.

Frase do dia — 232

«A Constituição prevê como função das Forças Armadas a garantia da ordem interna do país. Os militares perderam poder político nos últimos anos, mas, se a crise avançar para uma rebeldia civil, caberá a eles intervir. E a desculpa para todos os golpes até hoje foi justamente a anarquia da sociedade, a corrupção e a subversão. Um golpe de Estado seria uma tragédia, mas, infelizmente, não é impossível.»

Roberto Romano, professor de Filosofia e Ética na Unicamp, em entrevista ao jornal gaúcho Zero Hora.

Privatização à bolivariana

José Horta Manzano

Isla Margarita - praia de areia branca

Isla Margarita – praia de areia branca

Até o ano de 2005, as operações do aeroporto da Ilha Margarita – ao largo da costa venezuelana – eram exercidas por um consórcio formado pelo aeroporto de Zurique e por uma empresa chilena.

Alçado ao poder, Hugo Chávez lançou um plano de nacionalização de empresas a fim de reforçar o controle do Estado sobre a economia. A partir dos primeiros anos deste milênio, numerosas empresas particulares foram encampadas. Entre elas, estava o aeroporto Santiago Mariño, que serve ao paradisíaco ponto turístico de importância internacional.

Isla Margarita - Enseada

Isla Margarita – Enseada

 

Sentindo-se esbulhados, os concessionários submeteram a causa ao Tribunal de Arbitragem Internacional do Banco Mundial. Obtiveram ganho de causa: o Estado venezuelano foi condenado a pagar-lhes 35 milhões de dólares pela tomada do aeroporto.

A Venezuela, valendo-se dos meandros jurídicos que o caso permite, esperou até o último dia para entrar com recurso contra a arbitragem. Ganhou, assim, alguns meses, talvez alguns anos. Para Caracas, é um alívio, visto que a desastrada política econômica levada a efeito estes últimos quinze anos conduziu o país a um beco sem saída: não estão conseguindo mais nem honrar compromissos.

Isla Margarita 3No entanto, o tempo é senhor da razão. O que é justo é justo e vai acabar aflorando. Um dia ou outro, a querela há de chegar a um ponto final. E os concessionários terão de ser ressarcidos da perda.

Caso a Venezuela insista em se apoderar à força do bem alheio sem conceder indenização, perderá o pouco que lhe resta de credibilidade(?) no mercado global. Levando ao extremo o raciocínio, podemos até antever o dia em que nem mesmo o BNDES, de costume tão bonzinho, ousará financiar projetos naquele país.

Aí, sim, é que a porca vai torcer o rabo.

Primavera em Paris

José Horta Manzano

Estes dias marcam o equinócio – período do ano em que os dias e as noites têm a mesma duração em todos os pontos do globo, inclusive nos polos. Ocorre em torno do dia 21 de março e, de novo, por volta de 23 de setembro.

As regiões temperadas ficam cinco ou seis meses sem folhas, sem sol, sem cores e sem canto de pássaros. As gentes costumam se alegrar com a chegada da primavera.

Photo: Reuters/Philippe Wojazer

Photo: Reuters/Philippe Wojazer

A foto foi tirada faz dois dias em Paris.

Pátria deseducadora

Myrthes Suplicy Vieira (*)

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(*) Myrthes Suplicy Vieira é psicóloga, escritora e tradutora.

Paraíso fiscal

Cláudio Humberto (*)

Por inveja, preconceito e ignorância, o governo brasileiro coloca Singapura na lista de “paraísos fiscais”, porque considera assim qualquer país de carga tributária inferior a 20%. Tributos em Singapura somam 17%.

No entanto, ao contrário do Brasil, é país austero, sério, de gestão pública eficiente… e livre de corrupção. Singapura mantém comércio anual superior a US$ 4 bilhões com o Brasil. De tanto ser hostilizado, vai acabar desistindo de investir no nosso país.

Singapura 1Tecnocratas incompetentes não entendem como Singapura pode cobrar menos impostos e ter qualidade de vida de primeiro mundo.

Em Singapura, não há burocracia cara, ineficiente e corrupta como a brasileira, e o imposto é revertido em benefício da população.

Há pleno emprego em Singapura, 9º melhor IDH do mundo, onde tudo funciona, é limpo e exemplar. E 90% da população tem casa própria.

(*) Cláudio Humberto, jornalista, publica coluna diária no Diário do Poder.

Hans Erni

José Horta Manzano

Hans Erni (1909-2015) faleceu ontem aos 106 anos de idade. Era pintor, desenhista, gravador e ilustrador suíço.

Muitos enxergam, em seu traço, a influência dos espanhóis Pablo Picasso, Joan Miró e Salvador Dalí.

Aqui está uma pequena amostragem da prolífica obra deste artista pouco conhecido além-fronteiras.

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It’s time of panelaço

Guilherme Fiuza (*)

by Roque Sponholz, desenhista paranaense

by Roque Sponholz, desenhista paranaense

«Dilma Rousseff é a representante máxima de um projeto político podre, que engendrou os dois mais obscenos escândalos de corrupção da história da República, e não pode ser investigada porque… Por que mesmo? Porque o Brasil acredita em qualquer bobagem que lhe seja dita de forma categórica em juridiquês castiço.

Assim é o Brasil de hoje. Dilma não pode ser investigada, e a casta intelectual que a apoia espalha que a multidão de verde-amarelo contra a corrupção usava camisas da CBF… Só faltou denunciar os que foram protestar contra o petrolão pegando ônibus com diesel da Petrobrás…

Como se vê, a covardia não tem limite. Vejamos se a paciência tem.»

(*) Guilherme Fiuza é jornalista e escritor. Excerto de artigo publicado na revista Época. Para ler na íntegra, clique aqui.

É deles

«A Petrobrás é nossa e ninguém tasca.»

by Eduardo "Duke" dos Santos Reis Evangelista desenhista mineiro

by Eduardo “Duke” dos Santos Reis Evangelista
desenhista mineiro

Fecho de artigo publicado, em 20 mar 2015, no blogue do cidadão José Dirceu de Oliveira e Silva, que se deixa tratar – elegantemente – por Zé Dirceu.

O figurão e blogueiro tem percurso singular. É autor da proeza pouco comum de ter conhecido a prisão em duas ocasiões assaz distintas. Na juventude, foi mandado às masmorras por tentar derrubar o regime da República. Anos mais tarde, já maduro(?) e instalado na confortável posição de mandarim-mor, voltou ao xilindró por ter convertido o Planalto em balcão de negócios.

by Arnaldo Angeli Filho desenhista paulista

by Arnaldo Angeli Filho
desenhista paulista

“A Petrobrás é nossa” é afirmação supérflua. Já nos tínhamos todos dado conta de que a empresa se tornou deles, do Zé e de sua turma. Nós, o povo brasileiro é que estamos tentando tomar de volta o que nos pertence de direito. Queremos reintegração de posse. Está difícil, mas hemos de chegar lá.

O figurão mostra que não perdeu a ingenuidade. Duas temporadas no cárcere não foram suficientes para ensinar-lhe o significado da palavra prudência.

Pois ele que se cuide, que a roda gira, e ninguém sabe o que nos reserva o amanhã.

Frase do dia — 231

«Não faço julgamento sobre a qualidade, mas, para nós, Paulo Coelho é escritor internacional sem nenhuma ligação com o Brasil. ‘Best-seller’ é um tipo de livro que devoramos, mas que nunca relemos depois. A literatura é feita de livros que muitas vezes não vamos ler, mas que, se for o caso, podemos ler mais tarde.»

Michel Chandaigne, editor francês, livreiro, lusófono e grande apreciador da literatura em língua portuguesa. É fundador e proprietário da Librairie portugaise & brésilienne, Paris. A frase consta de entrevista concedida à Folha de São Paulo.