José Horta Manzano
Aporrinhado por uma hecatombe de acontecimentos ruins ― derrota doída no gramado, vaias e apupos recorrentes, inflação em alta e outros males crônicos ― o Planalto se vê na urgente e ingrata obrigação de encontrar notícias boas.
Já faz fários anos, o ministro Mercadante, fiel escudeiro da Casa Civil, disse uma vez que havia tomado a decisão irrevogável de retirar-se do governo. Não só não saiu, como até hoje está lá. A firmeza e a exatidão de suas palavras têm, desde então, o valor que cada um queira lhes atribuir.
Pois bem, o senhor Mercadante acaba de apresentar balanço turístico do período da «Copa das copas». Afirmou, com indisfarçado orgulho, que mais de um milhão de turistas estrangeiros visitaram o Brasil.
Um número isolado, sem referencial, é pouco significativo. Para ser avaliado, falta saber quantos turistas costumam visitar o País a cada ano. Melhor ainda, é bom verificar como se situa nosso país-continente na escala internacional da movimentação turística.
Dados do Ministério do Turismo garantem que 5,7 milhões de turistas estrangeiros aportaram no Brasil em 2012. Grosso modo, ano sim, outro também, dá meio milhão de pessoas por mês. Portanto, do milhão de indivíduos assinalados pelo senhor Mercadante durante o mês do mundial, há que subtrair o meio milhão que viria de qualquer maneira. No frigir dos ovos, o campeonato atraiu apenas 500 mil visitantes extras.
Agora, convenhamos. Considerando que a Copa exigiu investimento de 25 bilhões, o resultado é pífio. Com muitíssimo menos, o Ministério do Turismo deveria poder atrair turistas ― afinal, é para isso que ele serve. Se não tem conseguido alçar o número de visitantes, é por incompetência.
Torneios de futebol, embora sejam eventos de repercussão planetária, têm duração muito curta. Efêmeros, seus efeitos não se prolongam no tempo. Senão, vejamos: alguém se sente impelido a visitar a África do Sul na esteira da Copa que ali se realizou quatro anos atrás?
Reproduzo aqui dados da Organização Mundial do Turismo, órgão da ONU, relativos ao movimento turístico global:
Número de turistas estrangeiros recebidos
em cada país – Dados de 2012
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1. França 84,0 milhões
2. EUA 63,3 milhões
3. Espanha 58,7 milhões
4. China 58,6 milhões
5. Itália 46,1 milhões
6. Turquia 36,7 milhões
7. Reino Unido 29,2 milhões
8. Alemanha 28,4 milhões
9. Malásia 24,1 milhões
10. México 23,4 milhões
11. Áustria 23,0 milhões
12. Rússia 22,6 milhões
13. Hong Kong 22,3 milhões
14. Ucrânia 21,4 milhões
15. Tailândia 19,0 milhões
16. Canadá 18,2 milhões
17. Saudi-Arábia 17,6 milhões
18. Grécia 14,4 milhões
19. Polônia 13,3 milhões
20. Macau 12,9 milhões
21. Holanda 11,3 milhões
22. Singapura 10,3 milhões
23. Hungria 10,2 milhões
24. Croácia 9,9 milhões
25. Coreia do Sul 9,7 milhões
26. Egito 9,4 milhões
27. Marrocos 9,3 milhões
28. Dinamarca 8,7 milhões
29. Rep.Tcheca 8,7 milhões
30. Suiça 8,5 milhões
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… Brasil 5,7 milhões

Receitas trazidas pelo turismo internacional
a cada país – Dados de 2012 (em dólares)
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1. EUA 126,2 bilhões
2. Espanha 55,9 bilhões
3. França 53,7 bilhões
4. China 50,0 bilhões
5. Macau 43,7 bilhões
6. Itália 41,2 bilhões
7. Alemanha 38,1 bilhões
8. Reino Unido 36,4 bilhões
9. Hong Kong 32,1 bilhões
10. Austrália 31,5 bilhões
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… Brasil 6,6 bilhões

Verificamos que cada estrangeiro em visita ao Brasil gasta em média 1160 dólares. Portanto, os turistas suplementares que a “Copa das copas” nos trouxe hão de ter gasto menos de 600 milhões no total.
É muito pouco para justificar os bilhões investidos. É urgente procurar outro legado.
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