Orbis terrarum novissima tabula in Brasilia facta

Mapa-múndi de Nicolaes Visscher, 1658

José Horta Manzano

Artigo publicado no Correio Braziliense de 25 abril 2024

No ano de 1658, o cartógrafo e editor holandês Nicolaes Visscher publicou um planisfério de sua autoria intitulado “Orbis terrarum nova et accuratissima tabula” – Mapa novo e exato do globo terrestre. O mapa, que mostra nossa Terra distribuída por dois hemisférios, é verdadeira obra de arte, com cenas mitológicas desenhadas nos quatro cantos da folha. Os dizeres são em latim, que ainda era a língua das obras sérias, não destinadas ao povão mas a um público culto.

É interessante notar que a porção de América do Sul que mais tarde viria a ser nosso país é a terra mais central do globo. Aparece em destaque, bem no meio do mundo. Europa e América do Norte se encontram distantes do meridiano central. É compreensível que Visscher tenha decidido retratar dessa maneira o mundo então conhecido. À época, muitas terras situadas na região do Oceano Pacífico ainda estavam por descobrir, o que possibilitou ao cartógrafo amputar parte do Japão e da Austrália, regiões mal conhecidas que acabaram ficando fora do mapa. Hoje, nenhum profissional sério faria mais isso.

Duas semanas atrás, o IBGE revelou ao grande público, com estrondo, sua mais recente façanha: um mapa-múndi que, enfim, coloca o Brasil no lugar que lhe é devido – no centro do mundo! Nas palavras de Doutor Pochmann, diretor do Instituto, o costume de desenhar o planisfério com o Meridiano de Greenwich no centro não passa de “projeto eurocentrista de modernidade ocidental”. São palavras panfletárias, distantes do processo científico. Na Ciência de verdade, projetos diferentes não se excluem, se complementam.

Assim mesmo, vamos admitir que o tal “projeto eurocentrista de modernidade ocidental” existe e que o Meridiano de Greenwich são suas impressões digitais. Ainda assim, será ingenuidade acreditar que o fato de o Brasil impor a seus estudantes um planisfério em que o meridiano central foi empurrado com o cotovelo vá influir nos desígnios do planeta. A Terra vai continuar a girar e o Meridiano de Greenwich continuará aparecendo no centro dos mapas-múndi que não forem impressos pelo IBGE. Eis aí o tipo de protesto naïf e inútil, que só vai servir para confundir a cabecinha de nossos estudantes, que terão mais dificuldade em entender por que razão esse meridiano foi escolhido para iniciar a contagem das 24 horas do dia.

O alvoroço gerado pela publicação do novíssimo Atlas Geográfico Escolar do IBGE destoa da seriedade do objeto. Um atlas é coleção de conhecimentos, uma enciclopédia sócio-geográfica que tem direito a ser lançada com a reverência e o recato que lhe são devidos.

Nosso cartógrafo holandês do século XVII até que tinha direito de omitir terras ainda não exploradas. Tinha também o direito de cortar as terras distantes e pouco conhecidas em dois pedaços, aparecendo um de cada lado do planisfério. Nosso IBGE, herdeiro de 150 anos de tradição de seriedade, não tem mais esse direito. Quando preparamos um mapa do Brasil, toda a atenção tem de estar focada no Brasil, evidentemente. Já quando desenhamos um mapa-múndi, nosso horizonte tem de se alargar. Além do Brasil, temos de cartografar também o resto do mundo. Se não temos capacidade de fazer isso certinho, é melhor desistir e importar planisférios já prontos.

O Novíssimo Atlas Escolar do IBGE peca em diversos aspectos. Com o deslocamento do Meridiano de Greenwich de 30 graus a leste, a Austrália aparece cortada em dois pedaços. A China e a Rússia idem. O mesmo vale para a Indonésia. Detalhe: como integrantes do G20, nenhum desses 4 países há de apreciar a travessura de nossa Novissima Tabula. Tem mais: o Canal da Mancha é descrito como “Estreito de Dover” enquanto o Estreito de Malaca aparece como “Estreito de Málaca”. Outra pérola: as Ilhas Falkland (Malvinas), território britânico, são unilateralmente atribuídas à Argentina.

Numa prova de inconsistência, a “arte de deslocar o Brasil para fazê-lo entrar à força no centro do mundo” não contaminou toda a coleção de mapas-múndi guardados no site do IBGE. De meia centena de planisférios, somente uma meia dúzia foram redesenhados conforme a novíssima versão. Os demais continuam mostrando Greenwich no centro do mapa. Parece que nem o IBGE acredita em sua própria mágica.

No centro do mundo não se entra pela janela nem pela porta dos fundos. Se um dia o Brasil chegar lá, terá que passar pela porta da frente. E ser recebido com dupla ala de guardas de honra, emplumados e engalanados.

Lula e os novos tempos

José Horta Manzano

Quando vejo a dexteridade de meus sobrinhos-netos ao lidarem com telefone celular e outros teclados ainda mais sofisticados, fico aliviado. Acho ótimo que essas modernidades tenham chegado agora, quando já não preciso mais delas. E desconfio que, mesmo mais jovem, eu não teria sido capaz de escrever mensagens num tecladinho de faz-de-conta, utilizando só a pontinha de dois dedos. Para os que, como eu, fizemos curso de dactylographia em mil novecentos e nada, escrever num celular é desafio. Ainda bem que escapei dessa.

Nos dias atuais, não seria possível aguentar o tranco de uma vida profissional sem utilizar telefones e outros instrumentos que todos usam. Para voltar à ativa, eu teria de me dobrar à evidência: é indispensável me atualizar. Só que eu não quero nem pretendo retormar o batente, portanto estou dispensado de reciclagem.

Mas tem gente que, após uma pausa de anos, decide voltar à ativa sem passar pela fase de reciclagem, porque acha muito chato ter de aprender. E vai em frente e mete as caras, crente que sua esperteza vai vencer todos os obstáculos.

Talvez o distinto leitor já se tenha dado conta de que estou pensando em nosso atual presidente, Lula da Silva.

Afastado dos negócios durante uma dúzia de anos – inclusive porque esteve preso –, Luiz Inácio quis porque quis voltar à Presidência. Dos oito anos que havia passado no cargo, só guardava lembranças felizes, de reis e rainhas, de honras e louvores, de mares de bonança singrados com sucesso. Tendo descido a rampa com 80% de popularidade, pareceu-lhe ter atingido o ponto máximo, lugar de onde não se desce mais até o fim da vida.

A realidade é mais cruel. Não é permitido a nenhum mortal conservar para sempre seu prestígio no patamar mais elevado. Se até os que morreram na glória são, com o passar dos anos, rebaixados, imagine os vivos.

O fato é que o tempo passou, novos ventos sopraram e aquela aura de demiurgo que Lula carregava se dissipou. E ele não percebeu. Ou achou que seu olho vivo daria conta de reinflar o que houvesse murchado.

Descurou a voz da experiência, que ensina o óbvio:


“Tem que reciclar, Lula! Não se opera telefone celular só com diploma de dactylographia! Tudo mudou no mundo. Toma cuidado, que tu não és mais esperto que a esperteza!”


E lá se foi o Lula, com demasiada confiança em si mesmo, achando-se capaz de dar daquelas piruetas que a idade já não lhe permitia. Estivesse, ainda, cercado de profissionais de qualidade superior a aconselhá-lo (e estivesse ele disposto a seguir os conselhos), a coisa ainda teria jeito. Mas Lula é orgulhoso e cabeçudo. Além de sua equipe nem sempre ser lá essas coisas, ele refuga os conselhos bons e acolhe os maus.

A imagem que o governo envia é um cenário todo feito de desencontros, de hesitações, de morde e assopra, de batalhas palacianas, de dois passos à frente e dois atrás. Adivinha-se um Lula com sinais inquietantes de ter perdido a mão. O que antes dava certo já não funciona, e ele não encontra a chave para resolver problemas novos. Tenta soluções antigas, que não dão cabo do enrosco.

Não sei se Luiz Inácio acha que está abafando, como nos velhos tempos, ou se já admitiu, para si mesmo, em seus pensamentos mais recônditos, que os truques e mágicas do passado já não funcionam e que ele perdeu o pé.

De um lado, temos um Bolsonaro inelegível e amedrontado, aflito para escapar da justiça; de outro, temos um Lula passivo, preocupado com picuinhas, distante dos grandes projetos do passado, mais reagindo do que agindo.

Nossa gerontocracia vem a galope, já aponta o nariz na esquina. E não vem sorridente.

Roubo de eletricidade 2.0

Lauro Jardim (*)

A prática do “gato de rico” na área de concessão da Light no Rio de Janeiro está cada vez mais sofisticada.

Enquanto o “gato de pobre” consiste na ligação direta do poste à residência do fraudador, as ligações de estabelecimentos comerciais, unidades fabris ou residências em bairros nobres já contam com aparelhos mais sofisticados para roubar energia elétrica.

Por exemplo, controles remotos e sensores de presença que detectam a presença humana e desabilitam as fraudes quando a fiscalização chega.

A Light tem tentado contra-atacar usando softwares de IA que monitoram o comportamento do consumo dos clientes para a indicação de possíveis alvos para inspeção.

Nos primeiros quatro meses de 2024, a concessionária registrou um aumento de 40% de fraudes de energia na Barra da Tijuca e na Zona Sul carioca, em comparação com o ano passado.

(*) Lauro Jardim é jornalista e mantém coluna no jornal O Globo.

Nota deste blogueiro
O jornalista fala em “bairros nobres”. Discordo. Esse novo normal, essa multiplicação de roubo de energia tira toda nobreza de qualquer bairro. Melhor falar em “bairros enricados”. Enricados mas abastardados. Porém sem nobreza, porque nobres não são.

Prédios tortos

2021: Bolsonaro rebatiza Torre di Pisa como “Torre di Pizza”

 

José Horta Manzano

Todo o mundo conhece a Torre de Pisa, a construção inclinada mais famosa do mundo. Atenção, é Torre de Pisa, e não “Torre de Pizza”, como pronunciou um antigo presidente de nosso país, aquele que comia farofa na feira de Brasília e pizza na calçada de Nova York. O nome não vem das “margheritas” nem das “calabresas”, mas sim da cidade de Pisa, ali pertinho.

A Torre de Pisa, por ser mundialmente conhecida, faz sombra a outras construções inclinadas. Aqui estão algumas delas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Verbo definir: regência

José Horta Manzano

O nobre escriba que bolou o texto acima deve ter acordado mal-humorado. Colou uma preposição para reger um verbo transitivo direto.

Esqueceu a lição de dona Yolanda: verbo transitivo direto não suporta ver preposição por perto. Quer transitar em direção a seu objeto, direto, livre e solto.

Em consequência da má escolha do verbo, o significado da chamada não ficou claro. Após releitura, acho que entendi. Sugiro: “Conselho da Petrobrás propõe pagamento de 50% dos dividendos”.

Com tanto que mexem nessa Petrobrás, como se fosse brinquedo de criança espevitada, jogado pra lá e pra cá, o cidadão prudente vai acabar se abstendo de comprar ações da companhia. O risco de turbulência é elevado.

Casa em que falta dono, todos gritam e eu abandono.

Façam como eu digo…

Lula da Silva, Rafael Correa (Equador), Hugo Chávez (Venezuela)

José Horta Manzano

Celac é acrônimo da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, organismo fundado em 2011 por um clube formado por Lula da Silva, Hugo Chávez (Venezuela) e Rafael Correa (Equador).

A organização congrega os países das Américas com exceção dos EUA e do Canadá. É uma daquelas brincadeiras adolescentes de nosso líder, que, para tentar se distanciar dos EUA, inventa soluções que acabam dando trabalho e custando dinheiro sem chegar nunca a resultados práticos. Essas pseudoassembleias emitem notas, escrevem memorandos, fazem recomendações. E só. Nada tem poder impositivo.

Pois bem, no começo desta semana, em cúpula virtual da Celac, Lula soltou uma de suas pérolas costumeiras. Em discurso veemente, passou uma carraspana no Equador por ter invadido outro dia a embaixada do México em Quito. Suas palavras:


“O que aconteceu em Quito é simplesmente inaceitável e não afeta só o México. Diz respeito a todos nós. Um pedido formal de desculpas por parte do Equador é um primeiro passo na direção correta”


Ah, na hora de passar pito nos outros, a memória humana é sempre um tanto falha. Costumamos apontar para o cisco no olho alheio sem nos dar conta da tora que está em nosso olho, já ensinava a sabedoria bíblica.

Luiz Inácio “se esqueceu” de episódio recente no qual ele mesmo ficou pessoalmente na berlinda. Todos se lembram de que, numa de suas falas jogadas fora, Luiz Inácio colocou em pé de igualdade a matança de civis cometida atualmente por militares israelenses na Faixa de Gaza e a exterminação de judeus ordenada por Hitler nos anos 1940.

Seu discurso abordou um tema delicadíssimo, que toca fundo na sensibilidade do mundo civilizado, de maneira especial nos integrantes da comunidade israelita. É terreno minado no qual convém pisar com extremo cuidado. Lula entrou de sola, como se diz. E se estrepou. Levou pancada de todos os lados.

A mídia internacional foi unânime em repudiar suas palavras. Autoridades israelenses o declararam persona non grata, uma afronta em termos de diplomacia e uma vergonha pessoal para nosso presidente. O Estado de Israel fez saber que estava à espera de um pedido de desculpas.

Lula se escondeu atrás dos vitrais do Alvorada. Dias depois, para esquivar-se, disse jamais ter pronunciado o termo Holocausto, como se fosse esse o problema. E deu o assunto por encerrado. As desculpas não vieram até hoje.

Isso visto, soa indecente ele dar pito num país inteiro (o Equador) e exigir uma postura da qual ele mesmo outro dia fugiu.

A memória humana é falha…

Observação
O Lula marcou bobeira ao não apresentar escusas pelas palavras ofensivas que pronunciou. Ele não ofendeu ninguém de propósito, só disse o que disse por pura ignorância histórica. Portanto, bastava ter escrito uma nota assim: “Não era minha intenção ofender ninguém. Se alguém se sentiu melindrado com minhas palavras, peço desculpas”. Com isso, a polêmica murchava na hora. Quis bancar o marrudinho, e deu no que deu.

Irã e prisões de segurança máxima

José Horta Manzano

O ataque lançado pela República Islâmica do Irã sobre o Estado de Israel, na noite de sábado passado, envolveu mais de 300 foguetes, incluindo 170 drones, 30 mísseis de cruzeiro e pelo menos 110 mísseis balísticos.

Para se defender, Israel contou com a ajuda de três potências: os EUA, a França e a Grã-Bretanha. Esses países contam com bases militares na região, e conseguiram deter e destruir boa parte das armas voadoras antes que atingissem território israelense. O exército de Israel fez o resto. Daí os estragos terem sido tão limitados.

Não precisa ser especialista em assuntos militares pra se dar conta de que o Irã lançou mão de apreciável quantidade de foguetes – arsenal fabricado por eles, ainda por cima. Tivessem atirado três bombinhas, é possível que Israel, ao constatar a fragilidade do inimigo, já estivesse enviando seus próprios foguetes para destruir Teerã.

Acredito que a amplidão do ataque seja um dos fatores que estão fazendo o governo de Tel Aviv hesitar. Se os dois países entrarem em guerra de verdade, o risco é grande de o equilíbrio regional (e talvez mundial) sentir o baque e sair abalado.

Faz quase duas décadas que o Irã vive sob sanções pesadas aplicadas pelos EUA e também pelos países aliados. Na teoria, o Irã deveria estar exangue, com a língua de fora, pedindo arreglo. Não foi o que se viu sábado passado. Analistas tentam minimizar a força do Irã, argumentando que o arsenal é antiquado, fora de moda, impreciso e isto e aquilo. Me parece mais é desculpa de despeitado.

Antiquado ou não, o arsenal despachado pelo Irã não bate com a imagem de um país mendigo, de pires na mão, pária do mundo civilizado. Como é possível? “Fatta la legge, fatta la burla”, como dizem os italianos (a lei nem bem acabou de ser feita, já se dá um jeito de fraudá-la).

Nosso cândido Lula da Silva gosta de se apresentar como “aliado” deste ou daquele país, o Irã entre eles. Ser aliado é mais do que sair na foto ao lado do “parceiro”. Inclui unir forças em busca de um objetivo comum. Qual é o objetivo comum entre Brasil e Irã, além de buscar o progresso do povo respectivo? Concluo que o Brasil não é “aliado” de fato do Irã. Ainda bem.

O fato é que o Irã tem petróleo e o mundo precisa de petróleo. Pronto, a conexão está feita. Dinheiro não compra tudo, mas quase. Petróleo pode ser excelente moeda de pagamento. Se uns se recusam a comprar óleo iraniano, outros fecham os olhos para os excessos do regime dos aiatolás e entram na fila dos compradores.

Assim, com dinheiro na mão e meio quilo de esperteza, qualquer país “pária” dá logo um jeito de passar por cima das sanções e adquirir tudo o que quiser. Com os equipamentos assim importados, os iranianos vão construindo seus drones e seus mísseis. Não vamos esquecer que, junto com a Turquia, o Irã está entre os melhores fornecedores de drones da Rússia.

Tudo isso mostra que impor sanções é o mesmo que tapar um cano d’água com peneira de taquara: o fluxo pode até diminuir, mas a água continua passando.

Os protocolos de segurança de uma prisão “de segurança máxima” funcionam de forma semelhante. Por mais medidas que se tomem, como celas revistadas, algemas no passeio, informação compartimentada e encarcerados isolados, sempre resta alguma brecha. E é por ali que passa toda a comunicação que não devia passar.

Em conclusão, vamos dizer que não somos “aliados” de papel passado do Irã nem temos prisões de absoluta “segurança máxima”. Jair Messias já quebrou os dentes quando levou um ‘chega pra lá’ de Viktor Orbán, seu “aliado” húngaro. Não me venha agora Luiz Inácio com suas manias de considerar seus ditadores de estimação como “aliados do Brasil”.

Tanto Bolsonaro quanto Lula estão errados. O capitão, após a decepção da embaixada, já caiu na realidade. Entendeu que, em política internacional, não existe amizade.

E tu, Lula, vais continuar batendo na mesma tecla?

A madeira e a lenha

José Horta Manzano

O site Metrópoles, plataforma de informação, traz hoje notícia desnorteante. A história começa pelos anos 1980. Sob os céus cinzentos e pesados da Brasília de então, foram plantadas algumas centenas de hectares de pinheiros, espécie não nativa mas adaptável ao bioma da região.

De lá pra cá, as árvores cresceram bonito e formaram um bosque frondoso, sobressaindo da vegetação local como um espaço exótico que faz esquecer os calores do cerrado e se imaginar imerso no frescor das serras do Sul.

Durante quarenta anos foi assim. Mas tudo tem um fim, Seu Valentim. O Instituto Brasília Ambiental, uma espécie de Ibama local, é responsável pela manutenção da Floresta Distrital, que cresce naquele entorno do Lago Paranoá. Esse instituto, por razões que a razão tem dificuldade em explicar, decidiu que um bosque de pinheiros francamente não combina com o bioma local.

De fato, pinheiro destoa no meio da vegetação do cerrado. E daí? O pequeno pedaço de floresta de coníferas (473 hectares) não faz mal a ninguém, não atrapalha o crescimento de outras árvores em seu entorno, só encanta os olhos de quem o visita.

Nada feito. O Instituto responsável bateu pé firme na solução que lhe pareceu a melhor: derrubar aquela floresta de coníferas para extirpar as intrusas. E depois, como é que fica? Depois a gente vê o que faz.

E assim foi feito. Motosserras (daquelas com pneus da altura de um homem) foram chamadas e, em três tempos, botaram abaixo os pinheiros. A madeira? Parte vai para a serraria; o resto vai virar lenha(!).

Como se sabe, a queima de lenha é responsável pelo aumento dos gases de efeito estufa. Portanto, nossa floresta deixou de capturar e passou a emitir esses gases. Bonito!

Fico pensando (e, quando penso, há sempre o risco de brotar alguma ideia maquiavélica). A floresta de pinheiros tinha comemorado seus 40 aninhos. Brasília já fez 60. Todos hão de concordar que tampouco a nova capital da República faz parte do bioma do cerrado. Foi ali plantada como um corpo estranho, uma brotoeja trazida de fora, que significou a perda de hectares de vegetação logo substituída pelo concreto.

O distinto leitor e a encantadora leitora já entenderam aonde quero chegar. É isso mesmo. Está na hora de demolir a Brasília oficial, aquelas fieiras de prédios de estilo soviético tardio, que envelheceu mal. Que seja tudo varrido e que o espaço seja devolvido ao bioma originário, campestre, com flores e passarinhos. E, sobretudo, apolítico.

E para onde vamos mudar a Brasília oficial? Pois faremos como foi feito com os pinheiros: uma parte vai para a serraria, o resto vira lenha. Com tanta cara de pau que tem por ali, há de queimar com gosto.

Verdades para um domingo molenga

  • No Havaí, todas as sandálias são havaianas.
  • A primeira missa do Brasil foi o maior programa de índio.
  • Mulher grávida reclama de barriga cheia.
  • Os filósofos têm um problema para cada solução.
  • Lixo são as coisas que jogamos fora.
  • Coisas são o lixo que guardamos.
  • Herói é o covarde que não teve tempo de fugir.
  • Tinja o cabelo de preto para namorar e de branco para  encontros de negócio.
  • Relógio que atrasa não adianta.
  • Nasci careca, nu e sem dente. O que vier é lucro.
  • Um chato nunca perde o seu tempo, perde o dos outros.
  • Não brinque com fogo: ele não sabe brincar.
  • Celebridade é uma pessoa que trabalha duro muito tempo para se tornar conhecida, e depois passa a usar óculos escuros para não ser reconhecida.
  • Você estará velho quando começar a achar que antigamente era melhor.
  • No avião o medo é sempre passageiro.
  • Canela: parte do corpo de extrema serventia para achar móveis no escuro.
  • Amigo é alguém que tem os mesmos inimigos que você.
  • A fé move montanhas. Os ecologistas são contra.
  • Ser canhoto é muito fácil, difícil é ser direito.
  • Quando não restar mais nenhuma opção, leia o manual de instruções.
  • Evite acidentes; faça de propósito.
  • Quando criança, eu pensava que dinheiro era a coisa mais importante do mundo. Hoje tenho certeza.
  • Você sabe que está ficando velho quando as velas começam a custar mais caro que o bolo.
  • A primeira amnésia a gente nunca esquece.
  • A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com a mesma piada como se fosse a primeira vez.
  • Não existem ateus numa pane de avião.

Musk, o TOD poderoso


Myrthes Suplicy Vieira (*)

Sabe aquela criança que passa o dia inteiro jogando videogame e, quando a mãe o chama para comer, ele responde “Agora não, mãe. Não estou com fome”? E, quando a mãe insiste, ela responde com agressividade: “Não enche, mãe, deixa de ser chata, estou quase passando de fase”. E, pela terceira vez, quando a mãe ameaça recorrer ao pai para ser obedecida, ela replica: “Tudo bem, não tô nem aí, pode chamar”. E, se finalmente ela perde a cabeça e bate no filho, ele reage com deboche: “Pode bater, não tá nem doendo!”.

Não conheço o histórico de vida de Elon Musk, mas por tudo que já li a respeito de suas ações no comando do X, da Tesla e da Space X, além de suas relações com Trump e outras figuras de extrema-direita no mundo e dos incontáveis conflitos que tem provocado com o sistema judiciário de diversos países, posso afirmar, sem sombra de dúvida, que ele se enquadra no diagnóstico de personalidade TOD, o transtorno opositor desafiador.

O TOD é comumente originado na infância e, embora não tenha uma causa específica, o risco de seu desenvolvimento costuma ser maior se os pais também têm a disfunção ou se a criança é abusada por eles e exposta a um ambiente hostil. Li recentemente que Musk teve um pai extremamente abusivo, que lhe infligia severos castigos corporais e desdenhava de suas emoções e comportamentos. Além disso, foi vítima de muito bullying na escola, tendo sido hospitalizado certa vez em decorrência de um espancamento de colegas. Em recente declaração, ele próprio admitiu “não dominar os códigos sociais”, isto é, ter dificuldade de reconhecer e entender as emoções de outras pessoas. E, por ser também portador da síndrome de Asperger (uma forma leve de autismo), como ele próprio alega, só é capaz de apreender o significado literal das palavras.

Ele diz lutar, por exemplo, pela liberdade de expressão – e, para ele, o conceito de liberdade é sem limites, não estar sujeito a nenhum tipo de amarra ou impedimento externo. Daí o corolário de que quem se opõe a esse “direito” é um “ditador brutal”.

É fácil para qualquer um perceber que ele gabarita nos sintomas do TOD, dentre os quais estão: desobedecer a regras, importunar intencionalmente outras pessoas, mentir e/ou agir por vingança ou com crueldade. O ponto fulcral do transtorno é, portanto, opor-se e desafiar toda e qualquer figura de autoridade, reafirmar que não há nenhuma superior à própria.

É como se ele tivesse de repetir todos os dias para seus desafetos: “Eu posso mais do que você”. O fato de ser um bilionário agrega ainda mais arrogância ao seu perfil: não importa quantos clientes ele perca por dia, quantos funcionários o processem, o quanto a lucratividade de suas empresas esteja em declínio, a espiral de negação da importância dos outros em sua vida não para de se alargar. Nem é preciso dizer que, a despeito da minha necessária solidariedade ao sofrimento emocional que certamente aflige o ego de Musk, fica evidente que ele jamais conhecerá limites para se impor. E a melhor – quiçá a única – maneira de lidar com ele é deixá-lo falando sozinho, simplesmente forçando-o a arcar com as consequências legais de suas falas e feitos.

No caso do recente embate com o ministro do Supremo Alexandre de Moraes, Musk parece ter encontrado sem querer um competidor à altura. Radicalmente inflexível no julgamento de qualquer um que questione seu poder e sua autoridade, Moraes parece ter caído na armadilha preparada por Musk e seus aliados bolsonaristas. O que o clã Bolsonaro não conseguiu fazer em 4 anos no poder, Musk se divertiu fazendo em 2 ou 3 madrugadas insones. A promessa de reabilitar os perfis bloqueados por Moraes, “mesmo que o X tenha de sair do Brasil’, equivale a repetir, como a criança rebelde sem causa, “Você não manda em mim”.

E, como diz um velho provérbio, quando dois elefantes brigam quem paga é a floresta. É difícil avaliar quem mais sai perdendo com essa insana troca de chumbo. Embora à primeira vista o conflito tenda a favorecer as hostes bolsonaristas, em especial nas próximas eleições municipais, uma consequência imprevista das bravatas de Musk ainda pode mudar a direção dos ventos: desenvolveu-se no Facebook uma campanha para estimular o abandono imediato do X como uma espécie de questão de honra da brasilidade, à qual já aderiram inúmeros jornalistas, artistas, intelectuais e subcelebridades, além de boa parte do eleitorado não-bolsonarista. Muitos políticos, mesmo constrangidos, querendo evitar a contaminação de sua imagem para os próximos pleitos, uniram-se em torno de Moraes e passaram a defender a regulamentação urgente das redes sociais.

Além disso, a retomada da polarização ideológica acabou sendo aproveitada por muitos para desqualificar mais uma vez o senso de “patriotismo” das hostes bolsonaristas. Esse é um fenômeno que já vi acontecer em outras circunstâncias: quando nordestinos discutem entre si, as diferenças de costumes e de linguajar tendem a ser apontadas acidamente, mas quando um sulino ou sudestino se junta à discussão, os nordestinos imediatamente se unem em bloco para refutar a superioridade dos brasileiros de outras regiões.

E, para os autoproclamados defensores da democracia e do estado de direito, mesmo os irritados com o protagonismo e a politização do STF, Moraes passou a simbolizar uma espécie de salvador da pátria, um pai de punho firme capaz de peitar e aniquilar quem ameaça o bem-estar de seus filhos – um papel pra lá de paradigmático para os brasileiros, convenhamos.

(*) Myrthes Suplicy Vieira é psicóloga, escritora e tradutora.

Patriota?

by Matías Tolsà (1983-), desenhista argentino

 

José Horta Manzano


O brasileiro ama o Brasil?


Deixo a pergunta no ar. Volto a ela mais tarde.

Um dos expedientes mais utilizados por ditadores para se firmar no poder é a fabricação de um inimigo externo. A própria pátria estar sendo ameaçada de fora para dentro é situação capaz de federar os cidadãos e despertar neles a detestação profunda e unânime do agressor e a urgência de defender a pátria em perigo.

Nessa linha, Putin não se cansa de repetir ao povo russo que a Ucrânia, governada por nazistas, é uma ameaça existencial para a Rússia. Trump se atraca à ameaça representada pela imigração de gente pobre e suja que periga corromper o “sangue americano”. Maduro tenta convencer seu povo de que os malvados vizinhos guianenses roubaram a Guiana Essequiba, parte integrante da Venezuela. E assim por diante.

Mr. Musk, um novo-rico arrogante nascido na África do Sul e naturalizado americano, é daquele tipo de nababo convencido de que, com seu dinheiro, consegue comprar tudo. É verdade que sua imensa fortuna é maior que o PIB anual de dezenas de países ao redor do globo, só que nem tudo está à venda. A dignidade de uma nação, por exemplo, não está. Ou não deveria estar.

Com a petulância que sua fortuna lhe concede, o insolente personagem decidiu afrontar a justiça brasileira. Declarou, alto e bom som, que não cumpriria injunções emanadas por nosso Tribunal Supremo. De lambuja, aproveitou para insultar pessoalmente um dos magistrados.

Pra se dar conta do desprezo e da grosseria implícitos no palavreado do bacana, basta pensar um pouco. Será que ele ousaria atacar da mesma forma um país europeu? Será que se alevantaria contra a justiça alemã ou francesa? É de duvidar fortemente.

Desdém desse quilate é reservado a países do Terceiro Mundo. Portanto, ao mesmo tempo, o empafiado personagem atacou nossas instituições e mostrou o menoscabo que sente por nosso povo. É dose pra elefante, suficiente pra pôr nosso povo de pé em repúdio à ousadia do atrevido. Os articulistas da imprensa fizeram sua parte. O presidente do STF também se manifestou. Na Presidência, Luiz Inácio, com suas metáforas peculiares, escrachou o personagem.

No entanto, uma parte dos congressistas, muitos deles filiados ao mesmo partido que o antecessor de Lula, engoliu a ofensa. Fez mais que isso: uniu-se e formou uma frente de defesa do agressor.

São raras as ocasiões que o Brasil tem de forjar um inimigo externo. Quando um aparece, claro e nítido como agora, é desolante perceber que interesses paroquiais impedem alguns congressistas de alargar o próprio horizonte e enxergar mais longe que o próprio umbigo. O que interessa a essa gente é resolver suas picuinhas, a honra da pátria que se lixe.

A figura do inimigo externo costuma funcionar por toda parte mas, em nossa terra, não convence a todos. Repito a pergunta:


O brasileiro ama o Brasil?


Grande parte dos brasileiros amam sem dúvida sua pátria. Mas os acontecimentos destes últimos dias indicam que muitos, embora se apresentem como “patriotas”, põem interesses mesquinhos à frente do patriotismo.

Praticam o novíssimo “patriotismo relativo”.

Refúgio na embaixada

Embaixada do México em Quito invadida no meio da noite pela polícia equatoriana

José Horta Manzano

Quando me inteirei do que tinha acontecido na noite de 5 para 6 de abril na embaixada do México em Quito (Equador), me lembrei de Jószef Mindszenty, o cardeal húngaro que passou 15 anos na embaixada dos EUA em Budapest, de 1956 a 1971.

O prelado, ao mesmo tempo antifascista e anticomunista, conseguiu a façanha de irritar todos os tipos de governo que a Hungria teve ao longo de anos (os pró-Hitler e os pró-Stalin). As temporadas que passou na prisão não foram suficientes para fazê-lo renunciar a suas convicções.

Um dia, aproveitou uma liberação temporária da cadeia onde cumpria pena de prisão perpétua e solicitou asilo à embaixada americana em Budapest. Foi acolhido e passou a viver no imóvel da representação diplomática. Permaneceu lá à espera de ser liberado para transferência para os EUA. Mas os anos se passavam e a solução para seu caso não vinha.

Foi só depois de 15 anos de espera e muita negociação entre a Hungria comunista, os Estados Unidos, a Áustria e o Vaticano que o cardeal conseguiu autorização para viajar para Viena (Áustria), onde viria a se instalar, falecendo 4 anos mais tarde, aos 83 anos.

Não vamos esquecer que, naqueles tempos sombrios, a Hungria vivia sob a tutela de Moscou e amargava um rigoroso regime comunista. Assim mesmo, apesar do pouco respeito que se dava então aos direitos humanos, as forças policiais húngaras nunca ousaram forçar a inviolabilidade da representação diplomática. Policiais vigiando em roda do edifício da embaixada americana, é certo que havia. Mas nenhum jamais tentou arrombar a porta.

Neste fim de semana, de repente, estoura a notícia de que a polícia do Equador invadiu a embaixada do México em Quito para recuperar um cidadão equatoriano que lá se encontrava. Esse cidadão, que foi vice-presidente do Equador, tinha procurado abrigo na embaixada meses atrás para escapar da cadeia.

Segundo convenções internacionais (e segundo o bom senso) toda missão diplomática de um país no estrangeiro é considerada juridicamente território nacional desse mesmo país. Sua sede é inviolável. Violar intencionalmente uma representação diplomática equivale a invadir o território nacional do país ali representado. É ato de extrema gravidade, verdadeiro casus belli – motivo suficiente para declaração de guerra.

Nosso ex-presidente sabia disso quando entrou na embaixada da Hungria em Brasília para solicitar asilo diplomático – refúgio que, em 48 horas, lhe foi negado. Se seu pedido tivesse sido aceito, sua permanência ali havia de criar uma dor de cabeça para os governos húngaro e brasileiro. Mas Bolsonaro deu com os burros n’água, o que lhe arrefeceu os ânimos. Vai pensar duas vezes antes de entrar noutra embaixada.

O eco da selvageria cometida pelo Equador foi planetário. Missão diplomática é santuário, todos os países concordam. Como é que o pequeno Equador ousou cometer tamanha irresponsabilidade? A reação dos países não se fez esperar.

O México, país agredido, cortou na hora suas relações diplomáticas com o Equador; seu pessoal diplomático deixou o país no dia seguinte, domingo, no primeiro voo comercial. A Nicarágua de Ortega emulou o México e também anunciou a ruptura de suas relações com o Equador. Os demais latino-americanos reprovaram a violência contra as convenções internacionais.

Até o Brasil, que, nestes tempos lulopetistas, tem ficado frequentemente em cima do muro, soltou uma nota bastante dura contra a atitude equatoriana. Notas de condenação foram emitidas por chancelarias tão diversas como: Cuba, Chile, Venezuela, Argentina, Bolívia, Panamá, Costa Rica.

Não sou amigo do Bolsonaro, mas aproveito o espaço para mandar-lhe um aviso.

 

Prezado ex-presidente,

Se ainda lhe passar pela cabeça mendigar asilo em embaixada estrangeira, recomendo-lhe evitar o Equador. Essa mancada que acabam de dar ao invadir a embaixada do México não é a primeira na história recente do país. Há pelo menos um grave precedente.

Vosmicê deve se lembrar que, tempos atrás, deram refúgio a Julian Assange na embaixada equatoriana em Londres, não lembra? Pois é, depois de abrigar o asilado durante sete anos, um belo dia avisaram que a autorização de permanência tinha vencido e não seria renovada. Ao fim e ao cabo, o infeliz hóspede teve de deixar a embaixada e se entregar à polícia inglesa, que o levou para uma prisão de segurança. Está lá há vários anos.

Portanto, risque o Equador de sua lista, Seu Jair. De toda maneira, embaixada é cumbuca furada. Papuda é lugar mais tranquilo, acredite.

Saudações

 

Nós, que não estamos fugindo da polícia, vamos hoje parando por aqui.

Tiroteio

credit: Markku Uländer via Reuters

José Horta Manzano

Para nós, ouvir falar de disparos de arma de fogo dentro de uma escola finlandesa parece notícia falsa (em bom português: fake news). Para um finlandês, é ainda mais perturbador. De memória, não me lembro de ter nunca ouvido falar de ocorrência desse tipo num país que é considerado o mais feliz do mundo.

Pois foi o que aconteceu alguns dias atrás num colégio da capital, Helsique. Professores e alunos, ninguém está preparando para um acontecimento desse calibre. Foi chamada uma força de intervenção. A foto acima mostra a chegda de alguns dos policiais, armados até os dentes.

Vosmicê vai reparar que, dos quatro figurantes, um destoa do resto do batalhão. O rapaz calça tênis e veste uma calça jeans (que, na minha juventude, levava o jurássico nome de ‘calça rancheira’). Onde é que já se viu integrante de força de intervenção tática carregando metralhadora e… calçando tênis?

Talvez o homem estivesse de folga e foi sacudido na cama? Ué, mas nesse caso teria vestido o uniforme e não essa roupa de passear no parque.

Talvez o uniforme estivesse no tintureiro, quando ele foi chamado às pessas? Ora, nesse caso, um outro policial teria sido convocado no lugar desse.

Talvez a polícia esteja com falta de pessoal e, na urgência, tenha chamado esse cidadão na rua: “Ei, você aí, que é alto e fortão, precisamos de você! Venha já aqui, é a pátria chamando!”

Não saberemos nunca o que aconteceu. Mas que é engraçado, é.

Repare também que, na Finlândia, prédios residenciais não têm guarita nem porteiro. E janelas do andar térreo não têm grades. As bicicletas se estacionam na rua, em frente de casa. É um outro mundo.

Que um muro alto proibia 2…

Chamada Folha de SP

José Horta Manzano

Se as autoridades competentes tivessem sido competentes, a penitenciária estaria rodeada por um muro de 4 metros de altura desde a inauguração. Teria custado menos que a caça aos bichos-homem.

Atenção! A dica é extensiva às outras quatro prisões federais “de segurança máxima”. Um muro alto pode evitar futuros vexames.

Terremoto em Taiwan

credit: Markku Uländer via Reuters

José Horta Manzano

Há imagens que não dizem grande coisa. Há outras que prendem a atenção e fazem refletir. A foto acima é daquelas que não deixam ninguém indiferente.

Esteticamente, é belíssima, uma réplica taiwanesa da torre original, situada em Pisa. Acho até que a inclinação desse prédio é mais forte do que a da torre italiana.

Há outros espantos. Dos aparelhos de ar condicionado, nove ainda estão lá, quietinhos, exatamente no lugar em que foram instalados. Aguentaram o baque. Instalador taiwanês é gente competente.

Dos vidros espelhados, excetuando os que foram esmagados no movimento de inclinação, a quase totalidade resistiu sem cair.

Fico imaginando o pavor de quem estivesse dentro do prédio na hora do sismo. Sentir um tranco e perceber que o assoalho se inclina, se inclina… Situação de infarto.

Aqui em Pindorama, volta e meia cai um prédio aqui, outro ali, sem terremoto mesmo. Engenheiros e arquitetos da ilha de Formosa (hoje Taiwan) merecem forte aplauso. Sabem fazer edifícios sólidos e resistentes.

Dá a impressão de que, com um guindaste gigantesco, se conseguiria erguer o imóvel e recolocá-lo na posição original.

Vai ver que ele só se inclinou pra dar bom-dia à cidade.