Bolsonaro cabulou

G20 em Roma
O isolamento do negacionista Bolsonaro: os outros líderes o evitam e o brasileiro se comporta como turista.
Il Messaggero, Roma

José Horta Manzano

Na escola, quando alguém fugia pra não assistir a alguma aula, a gente dizia que “fulano cabulou a aula”. Muito tempo depois, quando a escola tinha ficado no passado, aprendi que cabular é verbo intransitivo. Segundo o dicionário, não se deve dizer que “fulano cabulou a aula”, mas simplesmente que “fulano cabulou”.

Soa esquisito, concordo com o distinto leitor. Mas dado que são os falantes que fazem a língua, acho que já passou da hora de o dicionário registrar essa maneira nossa de falar.

Dito isso, chegamos aonde eu queria: Bolsonaro cabulou. Cabulou o quê, minha gente? Cabulou o miolo do G20, a cúpula que reúne os dirigentes dos países que respondem por 80% do PIB mundial. Não é coisa pouca.

Mas ele foi a Roma!, dirão vocês. É verdade, foi, mas não participou de todas as palestras. Tirando o encontro com o presidente da Itália – que, por ser o anfitrião, recebeu protocolarmente todos os dirigentes estrangeiros –, não aproveitou a proximidade física dos grandes do planeta para nenhum colóquio bilateral. Nenhum. Cabulou boa parte do encontro.

E o que é que o capitão foi fazer em Roma? Turismo. Aproveitando o bom tempo e o clima ameno destes dias de outono, visitou a Fontana di Trevi – aquela onde se joga uma moedinha. Mas evitou ir lá com os demais dirigentes, que foram todos juntos. Foi numa “excursão privada”, cercado por seus 20 ou 30 cães de guarda. Sentindo-se protegido, passeou por ruas e ruelas, comeu de balcão, fez o que todo turista faz. Vê-se que o G20 não passou de pretexto para a vilegiatura.

Il Messaggero, tradicional jornal romano com história de quase século e meio, reparou na solidão do negacionista Bolsonaro: “os outros líderes do G20 o evitam, e o brasileiro vai de turista”. Sublinha a “boa ação” da alemã Merkel que, condoída do isolamento a que o capitão estava sendo submetido, deu com ele algumas palavrinhas de cortesia. Me pergunto em que língua ele terá respondido à boa ação. Se é que respondeu.

O jornal lembra a seus leitores o pesadíssimo relatório da comissão do Senado brasileiro (CPI), um ato de acusação de mais de 1.200 páginas no qual 9 crimes e delitos lhe são atribuídos, entre os quais, crime contra a humanidade. Menciona ainda os mais de 600 mil mortos de covid no Brasil.

Il Messaggero ressalta ainda que, se Bolsonaro se mostrou inerte nos trabalhos do G20, esteve ativíssimo nos giros turísticos pela capital. É verdade que ninguém imaginava que, da noite para o dia, ele se transformasse em soldado engajado na luta contra o aquecimento global, mas é incompreensível que, ao não organizar nenhum encontro bilateral, tenha deixado escapar todas as ocasiões de se entreter com os colegas.

Mas Bolsonaro está em boa companhia. Dois grandes poluidores globais também esnobaram o G20: o chinês Xi Jinping e o russo Vladimir Putin. Só que os dois tiveram a decência de manter-se à distância de Roma, enquanto nosso capitão não resistiu a levar sua avantajada comitiva de dezenas de participantes para um alegre passeio turístico pela capital italiana, enquanto líderes mais civilizados discutiam o futuro da humanidade. Ir a Roma e não ver o papa, pode?

Diferentemente dos demais dirigentes, Bolsonaro negou-se a conceder entrevista coletiva à imprensa. Mas deixe estar, já está previsto um encontro dele com Matteo Salvini, o líder da extrema-direita italiana. Será esta terça-feira em Pistoia, cidade toscana que abriga o cemitério militar brasileiro. O capitão participará de cerimônia em memória dos quase 500 pracinhas da Força Expedicionária Brasileira caídos na Segunda Guerra.

O trágico da história é que os soldados brasileiros foram enviados à Itália em 1944 justamente para combater o nazi-fascismo, doutrina admirada por Bolsonaro, Salvini e respectivos devotos. Os gestos, os atos e as falas dos dois tendem a confirmar que teriam preferido que nazistas e fascistas tivessem vencido a guerra.

Como se vê, cá como lá, a hipocrisia não tem limites.

Tuíte – 17

José Horta Manzano
Chanceler Federal (Bundeskanzler) é o título que se dá na Alemanha ao chefe do governo.

Faz hoje exatamente 15 anos ininterruptos que a chanceler Frau Angela Merkel (1949-) ocupa o posto. É longevidade pra ninguém botar defeito.

O poder costuma desgastar, mas parece que os anos não têm afetado a popularidade de Merkel. Ao contrário, sua imagem melhora a cada dia. O exemplo maior está ocorrendo agora mesmo. Desde o começo da pandemia, sua popularidade subiu incríveis 21 pontos. Este mês, está em 74%, um nível de fazer inveja a qualquer dirigente. Seu modo de gerenciar a crise da covid é a razão principal da satisfação popular.

Infelizmente, em nosso país, a gestão da pandemia não tem trazido melhora na imagem do presidente. É pena porque, se ele perde, perdemos nós também.

Ignorantões – 2

José Horta Manzano

Nos entornos da Presidência, o festival de ignorância explícita bate um recorde atrás do outro. A última pérola, no momento em que escrevo, foi fabricada ontem por doutor Bolsonaro. Ele anda ofendido pela recusa da Alemanha de continuar botando dinheiro bom num projeto ruim. Trata-se dos milhões de dólares que nos vinham de lá – a fundo perdido! –, para combater o desmatamento na Amazônia. Fartos de assistir às manobras de nosso presidente em favor do desflorestamento, os alemães fecharam a torneira.

Movido pela ousadia que só a profunda ignorância lhe permite, doutor Bolsonaro deitou o verbo em conversa com jornalistas. Mandou recado direto à chanceler alemã Angela Merkel. Despeitado e desrespeitoso, disse que ela deve «pegar a grana» bloqueada e utilizá-la para reflorestar a Alemanha.

Se se informasse primeiro, doutor Bolsonaro evitaria passar ridículo. As florestas alemãs cobrem um terço da superfície do país. São exatos 32%. A marca é espantosa para um país pequeno (357 mil km2, equivalente ao Mato Grosso do Sul) e superpovoado (83 milhões de habitantes). Florestas e bosques não estão concentrados numa só região, como no Brasil, mas espalhados por todo o território. Quem atravessa a Alemanha por Autobahn (= via expressa), fica surpreso de viajar centenas de quilômetros e só ver bosques. A gente chega a se perguntar onde é que eles escondem as cidades. É um país muito verde. E a superfície florestal tem pequeno aumento a cada ano, ao passo que a nossa…

Doutor Bolsonaro está enveredando por um caminho sem volta. No exterior, mais e mais observadores passam a classificar nosso presidente como bufão. Segundo o Houaiss, bufão é “quem faz rir por falar ou comportar-se de modo cômico, ridículo, inoportuno ou indelicado, ou aquele a quem falta seriedade nas relações humanas”. Como o distinto leitor pode constatar, a definição é crua, mas é o retrato cuspido e escarrado do homem. Ele corresponde a todos os detalhes da descrição.

Pior que isso, doutor Bolsonaro vai acabar sendo persona non grata em numerosos países importantes. As portas dos países cujo dinheiro nos interessa – seja porque são grandes importadores de mercadoria brasileira, seja porque investem em nosso país – estarão fechadas para ele. Do jeito que vai, suas viagens internacionais estarão restritas a países governados por populistas. Que não são muitos.

Acordo UE-Mercosul: por que agora?

José Horta Manzano

Por inesperado, o destravamento do acordo entre o Mercosul e a União Europeia surpreendeu. Com altos e baixos, estava em banho-maria havia 20 anos. Até uma semana antes da cúpula do G20, não se imaginava que seria assinado tão já. Até mesmo na véspera da assinatura, ainda se punha o verbo no condicional.

Frise-se que o documento sacramenta apenas um acordo de princípio, que poderá (ou não) entrar em vigor um dia. Na hipótese optimista, passará a valer daqui a alguns meses; na pessimista, será daqui a muitos anos. É que tem de ser ratificado individualmente pelo parlamento dos 28 membros da UE e dos 4 integrantes do Mercosul. São 32 congressos nacionais (31, caso o Reino Unido deixe a UE). Não é brincadeira.

Já no dia seguinte ao da assinatura, mais de 300 ONGs ligadas à preservação da natureza se alevantaram, indignadas. Valendo-se da forte ação lobística de que são capazes, têm intenção de pressionar os governos europeus para que suspendam a ratificação enquanto o Brasil não der provas de ter tomado medidas concretas para impedir o avanço da destruição da floresta úmida. Alô, madeireiras!

Na França, sindicatos e associações de classe que representam os interesses dos agricultores estão de cabelo em pé e armas na mão. Enxergam a produção agrícola brasileira como ameaça. Temem que o mercado deles, antes cativo, seja inundado com produtos brasileiros, o que geraria crise na produção, com perda de renda e de empregos. Também eles sabem fazer pressão sobre os parlamentares. Alô, exportadores agrícolas!

Mas o que é que terá precipitado a conclusão de um acordo guardado na geladeira por tantos anos? Por que justamente agora, sob os holofotes da cúpula do G20, vitrina midiática de importância capital para os figurões que participam? É bem possível que o súbito desenlace tenha ocorrido por razões que pouco têm a ver com floresta tropical, defensivos agrícolas ou concorrência desleal. A razão pode ser bem mais banal.

Monsieur Macron, fragilizado pela crise dos Coletes Amarelos, precisa mostrar serviço. A finalização do acordo durante a vitrine do G20 há de ter-lhe parecido excelente ocasião. Decidiu embarcar nesse trem mesmo tendo de se expor à fúria de ecologistas e agricultores. Feitas as contas, deve ter concluído que os ganhos superam as perdas.

Frau Merkel está em fim de carreira. Já anunciou que não será candidata à reeleição. Viu no acordo um valioso item a acrescentar ao currículo. É permitido especular que tenha combinado antes com Monsieur Macron; afinal, França e Alemanha, juntas, são o motor da Europa.

Monsieur Jean-Claude Juncker é o presidente da Comissão Europeia, com mandato terminando estes dias. Pelas mesmas razões que Frau Merkel, tinha todo interesse em ver o sucesso das tratativas. Será lembrado como aquele que assinou o acordo mais importante da história da União Europeia. Ninguém resiste à força desses três personagens.

Resta falar de señor Macri e de doutor Bolsonaro, que colhem frutos que não plantaram. O presidente do país hermano, que está em campanha de reeleição, anda mal das pernas, castigado por pesquisas desfavoráveis. Para ele, a assinatura do acordo cai como luva. É trunfo não desprezível na corrida eleitoral.

Como seu colega argentino, doutor Bolsonaro está em queda de popularidade junto ao povo, em conflito com o Congresso, embrenhado no cipoal que lhe tecem os filhos. Por essas e outras, deve ter soltado um sorriso de orelha a orelha, tamanha a satisfação de ter podido assinar o acordo. Não resolve todos os problemas, mas dá-lhe oxigênio e uma trégua bem-vinda.

Eis como a convergência de interesses pessoais, alheios ao que estava sendo discutido, teve o condão de agilizar a conclusão de um acordo no qual, de tão emperrado, ninguém mais botava fé.

Firme pero no mucho

José Horta Manzano

Quando uma afirmação é martelada repetidas vezes, é sinal de que não há grande certeza de ela ser verdadeira. Tomando a coisa pelo avesso: quando a gente tem certeza de algo, não sente necessidade de ficar repetindo o tempo todo.

A Constituição que reinstaurou a democracia plena em nosso país completou 30 anos faz algumas semanas. Os mais jovens nem fazem ideia de como poderia ser um regime não democrático. Parece até que o atual regime faz parte dos direitos adquiridos da população.

No entanto, não se passa um dia sem algum figurão repetir que «nossa democracia está consolidada» ou que «nossas instituições funcionam». É tão frequente ouvir isso, que a gente se pergunta se essa tal democracia está tão consolidada assim. Fica a impressão de que a repetição do mantra faz parte de um exorcismo, um ritual de esconjuro celebrado pra afugentar todo risco de retrocesso.

Felipe VI, rei da Espanha

Esta semana, a Constituição espanhola completou 40 aninhos. Ela marcou o fim de longo período de ditadura franquista. A data foi celebrada como se deve. O rei atual, o rei emérito e todos os primeiros-ministros ainda vivos estiveram no parlamento para a ocasião. Em fala solene, Dom Felipe VI mandou: «Nuestra democracia es firme y consolidada!».

Liguei uma coisa à outra. Entendi que, no país das touradas, também parecem estar esconjurando um retrocesso. Se o próprio rei acha necessário sublinhar que a democracia é um bem adquirido, sólido, seguro e garantido, é justamente porque não tem tanta certeza assim quanto à perenidade da situação.

Dá pra imaginar Theresa May, Donald Trump ou Angela Merkel afirmarem algo parecido com «Nossa democracia é firme e consolidada»?

Três casos emblemáticos

José Horta Manzano

Caso número um
Em fevereiro de 2013, doutora Annette Schavan, ministra da Educação da Alemanha e amiga chegada da chanceler Angela Merkel, foi acusada de plágio. Descobriu-se que sua tese de doutorado havia sido fortemente inspirada ‒ pra não dizer copiada ‒ de textos anteriores.

Em países sérios, não se brinca com certas coisas. «Com o coração partido», segundo suas próprias palavras, Frau Merkel não hesitou: separou-se na hora da ministra trapaceira. Incriminada, a doutora foi chorar sua vergonha nalgum canto. Nunca mais se ouvir falar dela.

Caso número dois
Em março de 2013, uma investigação levada a cabo por um jornal parisiense descobriu que o ministro do Orçamento da França havia sido titular de uma conta pessoal secreta num banco suíço. Se o fato já seria grave para um cidadão comum, imagine a saia justa do ministro ao qual cabe cuidar do orçamento do país.

Num primeiro momento, monsieur Cahuzac compareceu à Assembleia Nacional e, diante dos eleitos do povo, negou veementemente. Mas o jornal tinha mais trunfos. Deu a público uma gravação em que o ministro se referia abertamente à conta secreta. Não teve jeito. Imediatamente, monsieur Hollande, então presidente do país, mostrou ao ministro a porta da saída. Banido da vida pública, o antigo ministro teve de enfrentar processo criminal.

Caso número três
Em janeiro de 2018, uma certa doutora Cristiane Brasil ‒ nome pio e sobrenome patriótico ‒ foi designada pelo presidente da República para assumir a pasta do Trabalho.

Antes que fosse ungida no cargo, veio à tona a notícia de que a doutora é ré em processo que corre na Justiça do Trabalho. Pelo menos três antigos funcionários a acusam de haver burlado leis trabalhistas. Acionado, um juiz suspendeu liminarmente a nomeação da doutora.

Diante do contrassenso de instalar no Ministério do Trabalho uma pessoa contra a qual correm processos justamente na Justiça trabalhista, o presidente da República cancelou imediatamente a nomeação. Certo?

Errado, senhores! O presidente mandou acionar a Advocacia Geral da União ‒ cujos funcionários, como todos os demais, são (bem) remunerados com nosso dinheiro ‒ e deu-lhes a incumbência de lançar mão de todos os recursos possíveis para segurar o rojão e assegurar que a quase ex-futura ministra tome posse do cargo.

E ainda há quem se pergunte por que raios o Brasil não consegue sair do subdesenvolvimento…

Pé torto

José Horta Manzano

Tem gente que é pé quente. De outros, a gente diz pé frio. Já PÉ TORTO é mais raro mas existe. Gente assim nem sempre tem final feliz.

Todos se lembram do instantâneo que colheu doutor Jânio Quadros, então presidente da República, em posição pra lá de incômoda, com os pés em posição bizarra, como se cada um quisesse seguir em direção oposta ao outro. Deu no que deu: pouco tempo depois, o homem pendurou os sapatos, desistiu da presidência e exilou-se em Londres.

Mais recentemente, assistimos a cena de teor semelhante. Foi quando doutora Dilma foi surpreendida ao examinar a posição dos pés desencontrados da chanceler alemã, dando a impressão da professora que confere se a aluna aprendeu a lição. A chanceler (ainda) não caiu, mas a professora já cumpriu seu destino. Foi apeada do salto alto. Caiu atirando mas caiu. Já no chão, continua disparando. Mas o destino é cruel. Os estampidos que ela provoca se atenuaram a ponto de hoje se confundirem com estalo de bombinha de São João.

Estes dias, foi a vez de doutor Temer. Um fotógrafo arguto colheu o figurão em posição assaz incômoda, que faz lembrar seus ilustres predecessores na linhagem dos pés tortos. A orientação dos pés exibida pelo presidente não é de bom augúrio.

Brexit ‒ 6

José Horta Manzano

Faz hoje um ano que o povo do Reino Unido decidiu que era chegada a hora de se divorciar da União Europeia. Um ano já! Como passa o tempo! Dá a impressão de que foi ontem. No dia seguinte ao voto, boa parte dos britânicos levou um susto quando se levantou. Contrariando todas as pesquisas ‒ que unanimemente indicavam resultado favorável à permanência na UE ‒, 52% do eleitorado exprimiu desejo de deixar o bloco. Não foi pouca gente, não. A diferença entre o «leave» (partir) e o «remain» (ficar) chegou perto de um milhão e meio de votos num universo de trinta e poucos milhões. A vontade popular foi claramente expressa.

Nem os dirigentes britânicos nem os colegas europeus estavam preparados para a surpresa. Nada parecido tinha acontecido antes, e o susto desnorteou meio mundo. O bloco europeu, que tinha começado com seis pioneiros em 1957, cresceu até atingir 28 membros. Encolher, não tinha nunca encolhido. Daí a perplexidade. Como proceder? A receita não está nos manuais.

Passado um ano, tudo ainda está por inventar. Inconformados, os que gostariam que o Reino Unido permanecesse na UE ainda acalentam a esperança de reverter a decisão. Tanto britânicos quanto estrangeiros trabalham nesse sentido. Muitos dos que depuseram na urna voto favorável à saída mordem as unhas ao se dar conta da sinuca em que meteram o país. Se o plebiscito fosse hoje, é grande a possibilidade de o resultado ser diferente. Mas o que está feito, está feito.

As negociações de verdade, previstas para durar dois anos, começam estes dias. Efeitos negativos já se manifestaram. Pra começar, Mr. Cameron, o organizador do plebiscito, foi pressionado a deixar o cargo de primeiro-ministro. Saiu de má vontade, mas saiu. Mrs. May, que imaginou reforçar sua base parlamentar por meio de eleições antecipadas, deu-se mal: tem hoje menos deputados que antes. Se conseguir segurar-se no cargo por mais alguns meses, será muito. A libra esterlina sentiu o baque e perdeu valor com relação ao euro e ao dólar. Se, por um lado, a notícia é boa para exportadores britânicos, é péssima para o cidadão comum, obrigado a pagar mais caro por tudo o que é importado. E olhe que, com a agricultura limitada por razões climáticas, o arquipélago é extremamente dependente de importação de alimentos.

A eleição de Monsieur Macron, seguida pelo estrondoso sucesso dos candidatos de seu partido nas eleições parlamentares francesas, não vem facilitar o trabalho de Theresa May. De fato, muitos viam na deserção britânica o princípio do fim da UE. A consagração de Monsieur Macron, europeu convicto e forte aliado de Frau Merkel, faz a balança pender para o outro lado. A Europa ganhou um reforço e tanto.

Até o momento em que o Reino Unido se tiver emancipado completamente do bloco, quase 50 anos de casamento terão decorrido. É uma existência. Dezenove mil leis comuns a todos os membros terão de ser revistas, revogadas ou reescritas. O trabalho é monumental. Há 3,6 milhões de europeus estabelecidos na Grã-Bretanha. Há também milhões de britânicos residindo em países da UE, especialmente aposentados que escolheram a França, a Espanha, a Itália ou Portugal para passar a velhice. Como é que fica esse povo todo? Serão despachados de volta pra casa?

Haveria ainda muitos pontos a mencionar, mas vamos parar por aqui, senão o artigo fica cansativo. Acredito que dois anos, prazo concedido para a conclusão do Brexit, está longe de ser realista. Vai levar muito mais tempo. Talvez seja mais simples votar de novo e ver se o povo não mudou de ideia. Afinal, todo o mundo pode se enganar e deve ter direito a uma segunda chance.

Parlamentarismo à francesa

José Horta Manzano

Em teoria, a França vive sob regime parlamentarista. Entretanto, a Constituição em vigor, promulgada em 1958 sob medida para o general de Gaulle, dá poderes não habituais ao presidente da República. A costura acabou inventando um regime híbrido, a meio caminho entre parlamentarismo e presidencialismo. Diferentemente do que costuma ocorrer em outros países, o chefe do Estado francês (o presidente) tem projeção muito maior do que o chefe do governo (o primeiro-ministro). Quer uma prova?

Vamos ver. Quem é que conhece o nome do atual primeiro-ministro francês? Todos sabem que sua colega alemã é Frau Merkel. Quem governa o Reino Unido é Mrs. May. Señor Rajoy é quem dirige o governo espanhol. Mas… e na França, quem será? Pois o primeiro-ministro ‒ e chefe do governo ‒ é Monsieur Édouard Philippe. Isso mesmo: Philippe é o sobrenome.

Assembleia nacional francesa

A Constituição do país garante ao chefe do Estado poderes que, em outros países europeus, são atribuídos ao primeiro-ministro. É eleito pelo voto popular. Pode dissolver a Assembleia e convocar eleições. Pode propor plebiscitos, nomear e demitir ministros, assinar decretos, nomear embaixadores, conceder graça a condenados, negociar e assinar tratados. É ele quem preside a reunião governamental, realizada todas as quartas-feiras, com a presença de todos os ministros. Em cúpulas internacionais como o G7 e o G20, é o presidente quem representa o país.

A cada cinco anos, um mês depois da eleição presidencial, os franceses vão às urnas para renovar a Assembleia. O voto é distrital puro. O país é dividido em 577 distritos de população equivalente. Cada um elege um deputado que o representará na Assembleia Nacional. Em cada distrito, será eleito o candidato que tiver obtido maioria absoluta, ou seja, 50% mais um dos votos válidos. É raro que isso aconteça já no primeiro turno, daí a necessidade de um segundo. Qualificam-se para a segunda rodada os candidatos que obtiverem voto de pelo menos 12.5% do eleitorado (não somente dos que tiverem efetivamente votado).

No domingo 11 de junho, ocorreu o primeiro turno de votação. Somente quatro deputados conseguiram eleger-se diretamente, com mais de 50% dos votos do distrito. Os eleitores das demais 573 circunscrições voltarão às urnas uma semana depois, em 18 de junho, para escolher entre os dois primeiros colocados. Este ano, há um único caso dito «triangular», em que três candidatos se qualificaram para o segundo turno.

Assembleia Nacional francesa

O sistema de voto distrital puro tem vantagens e desvantagens. Do lado bom, cada cidadão sabe perfeitamente qual é o deputado que o representa em Paris. A campanha tem custo muitíssimo menor do que no Brasil, por exemplo. O candidato, que percorre um território relativamente pequeno, fica mais próximo do eleitor, distribui santinhos pessoalmente, multiplica apertos de mão, beija crianças, tira «selfies» com apoiadores, visita feiras-livres, exposições, pequenos comércios.

Além disso, os franceses residentes no exterior também são representados. O planeta foi dividido em onze distritos eleitorais, conforme a concentração de expatriados em cada um. Portanto, dos 577 deputados, 566 representam os franceses residentes no território nacional e onze trazem a voz dos que vivem fora. Os três milhões de brasileiros que moram fora do Brasil não gozam de direito equivalente.

Do lado menos positivo, a tendência ao bipartidarismo é forte. A composição da Assembleia não reflete necessariamente a proporção de votos obtidos por cada partido. Ao final das atuais eleições francesas, a Frente Nacional, partido de extrema-direita antieuropeu e anti-imigração, não conseguirá eleger mais que uma dezena de deputados. O número de eleitos não bate com o número de eleitores do partido. No caso específico de partidos extremistas (de esquerda ou de direita, pouco importa), a distorção não incomoda os cidadãos de orientação moderada, que formam, ao fim das contas, a maioria da população.

Se um dia tal sistema for instituído no Brasil, a consequência mais imediata será o desaparecimento de siglas de aluguel, chaga nacional. Ganharemos todos.

Mudança de geração

José Horta Manzano

A eleição francesa, cujo desfecho se deu ontem com a eleição em segundo turno de novo presidente, representou um marco importante na caminhada da quinta potência econômica do mundo (e segunda da União Europeia). Como numa corrida de revezamento, uma geração de políticos precocemente envelhecida passou adiante o bastão. Vem aí a juventude deixando a velha guarda a comer poeira.

Emmanuel Macron (1977-)

Só pra ter ideia da inusitada juventude de Monsieur Emmanuel Macron, dê uma olhada nas seguintes considerações:

•   Com 39 anos e 4 meses, Macron é o mais jovem chefe de Estado francês desde o advento da República, no século XIX. Antes dele, o detentor do recorde era Louis-Napoléon Bonaparte, eleito em 1848 aos 40 anos de idade. Valéry Giscard d’Estaing, considerado então extremamente jovem, tinha-se tornado presidente em 1974 aos 48 anos.

•   Monsieur Macron é, de longe, o líder mais jovem do G20. Até Monsieur Trudeau, o sorridente primeiro-ministro do Canadá, é seis anos mais velho que ele.

•   Na União Europeia, um único dirigente é mais jovem que ele. Trata-se do primeiro-ministro da pequenina Estônia, Jüri Ratas, atualmente com 38 anos. A idade média dos dirigentes europeus é de 54 anos. Frau Merkel e Ms. May são já sexagenárias.

•   No mundo, somente quatro chefes de Estado são mais jovens que Monsieur Macron. A campeã é Vanessa D’Ambrosio, uma das cabeças da regência bicéfala de San Marino, microrrepública independente encravada na Itália. Signorina D’Ambrosio acaba de completar 29 anos.

•   Há outros três chefes de Estado mais jovens que Macron, embora não tenham sido eleitos pelo povo mas designados por hereditariedade. O mais jovem deles é Kim Jong-Un (34 anos), o belicoso e imprevisível ditador da Coreia do Norte. Vem em seguida Tamim ben Hamad Al Thani (36 anos), emir do Catar, que sucedeu ao pai. Por fim, lembremos Jigme Khesar Nambyel Wangchuck (37 anos), rei do Butão, pequeno país encravado entre Índia e China.

Paul Doumer (1857-1932)

Como curiosidade, note-se que Paul Doumer foi o presidente francês eleito em idade mais avançada. Chegou ao posto máximo em 1931, quando já tinha 74 anos. Não ficou lá muito tempo. Um ano mais tarde, seria assassinado.

Tomara que a presidência de Monsieur Macron seja menos agitada. Que ele tenha tempo de fazer uma França melhor, o que só pode ser benéfico para a Europa e para o planeta.

Três trapaças

José Horta Manzano

Na Alemanha
Em 2013, Frau Annette Schavan, então ministra alemã da Educação ‒ e amiga pessoal de Angela Merkel ‒ foi acusada de ter plagiado um bom pedaço de sua tese de Filosofia. A primeira reação veio rápido da própria universidade: seu título de doutora foi cassado. Menos de uma semana depois, não teve mais jeito. A trapaceira, constrangida, entregou sua carta de demissão do cargo. Com o «coração pesado», Frau Merkel aceitou imediatamente. Nunca mais se ouviu falar da doutora picareta.

Frau Annette Schavan, ex-ministra da Educação da Alemanha

Frau Annette Schavan, ex-ministra da Educação da Alemanha

No Uruguai
Semana passada, señor Raúl Sendic, vice-presidente do Uruguai, foi citado pela Justiça pelo delito de usurpação de título. Deverá prestar esclarecimentos sobre uma suspeita de fraude. De fato, alguns meses atrás, apresentou-se ‒ em documentos públicos e em atos oficiais ‒ como diplomado em Genética Humana.

Acontece que sua licenciatura não consta em nenhuma instituição de ensino uruguaia. Señor Sendic alega ter feito seus estudos e obtido o diploma em… Havana, Cuba. O quiproquó já dura desde o mês de fevereiro. Havana continua em silêncio, sem confirmar o que diz o vice-presidente. Eis por que a Justiça perdeu a paciência e intimou o figurão. Agora, ou vai ou racha.

Señor Raúl Sendic, vice-presidente do Uruguai

Señor Raúl Sendic, atual vice-presidente do Uruguai

No Brasil
Já dizia o outro que, a cada quinze anos, o Brasil esquece o que aconteceu nos quinze anos anteriores. De fato, era assim, mas parece que o ritmo de esquecimento se acelera. Alguém se lembra de que dona Dilma, então ministra da Casa Civil do Lula, foi um dia apanhada em flagrante delito de trapaça?

Pois é. Foi em 2009, sete anos atrás. Em currículo publicado na mui séria e conceituada Plataforma Lattes, a então ministra se atribuía créditos de doutoramento aos quais não fazia jus. Pra encurtar o caso, tentava tapear, de forma rasteira, o grande público.

Dilma 15Descoberta e denunciada, classificou o embuste de «equívoco», provável obra de algum assessor arteiro. (Como todo universitário sabe, ninguém acessa o próprio currículo se não tiver a senha.)

Como terminou a história? Em pizza. Uma semana depois, ninguém mais lembrava. Virou-se a página e ficou tudo por isso mesmo. Meses mais tarde, a doutora foi eleita para a presidência, num verdadeiro prêmio à pilantragem.

Brexit ‒ 1

Cabeçalho 11José Horta Manzano

Nota soberana
As agências de notação Standard & Poor’s e Fitch anunciaram, nesta segunda-feira 27, a degradação da nota soberana do Reino Unido. De AAA, passou a AA com perspectiva negativa. A nota já havia sido carimbada com perspectiva negativa pela Moody’s, a terceira das grandes agências.

Retorção
Cresce a antipatia ‒ nem sempre verbalizada ‒ e a má-vontade dos europeus contra o Reino Unido. Essa disposição não vai amenizar as discussões.

Artigo 50
A saída de um membro da UE está prevista no Artigo 50 do Tratado de Lisboa. O dispositivo foi posto ali proforma ‒ just in case, como diriam os ingleses. Ninguém imaginava que pudesse ser acionado um dia. É análogo ao artigo da Constituição brasileira que estipula a possibilidade de impedimento do presidente da República.

Artigo vago
O artigo só estabelece o princípio, sem descer aos pormenores. Dado que se trata da primeira vez que um dos Estados se prepara a desfiliar-se do clube, não há rotina estabelecida. Tudo terá de ser inventado.

Rainha Elizabeth 1Surpresa
Todos foram surpreendidos com o resultado do voto dos britânicos. Todos apostavam no «in», imaginando que o «out» estivesse fora de cogitação. Perderam todos. O espanto foi ainda maior no campo dos que tinham pedido o divórcio. Nigel Farage, presidente do partido ultranacionalista Ukip, anda perdido como cego em tiroteio. Não estava preparado para essa eventualidade. Não sabe o que fazer.

Cameron de pé firme
Recusando-se a agir como é praxe em ocasiões como essa, David Cameron, o perdedor, recusa-se a deixar o cargo de primeiro-ministro imediatamente. Prefere esperar que a poeira baixe. Sabe que, assim que a ficha cair, o panorama vai ficar bem mais escuro para seu sucessor.

Consulta
Por incrível que pareça, a saída do Reino Unido está longe de ter sido formalizada junto à UE. O plebiscito tinha caráter meramente consultativo. Numa hipótese absurda, o parlamento britânico poderia até ignorar o resultado e seguir adiante como se nada tivesse ocorrido.

Formalização
Para ser levado em conta, o pedido de saída tem de ser feito de maneira oficial à direção do clube, em Bruxelas. Pode ser que esse passo ainda demore a ser dado.

Composição da Union Flag (= Union Jack)

Composição da Union Flag (= Union Jack)

Uns com pressa…
Monsieur Hollande (França) e Signor Renzi (Itália), entre outros, têm pressa e querem que o processo corra acelerado. Compreende-se. França e Itália têm regiões que reclamam a independência. Quanto mais rápido se apagar esse incêndio, melhor será.

… Outros sem
Frau Merkel (Alemanha) gostaria que o processo fosse bem vagaroso, sem um grama de precipitação. O Reino Unido é o terceiro parceiro comercial da Alemanha, daí a prudência germânica. Além disso, a Alemanha não tem nenhuma região reclamando independência.

Quantos à mesa?
Como ninguém havia previsto um plano B, é hora de improvisar. A reunião de chefes de Estado marcada, já faz tempo, para 28 e 29 de junho vai se realizar. O jantar de terça-feira contará com os 28 mandatários. O primeiro-ministro britânico, no entanto, não foi convidado para o almoço de quarta-feira. Vai comer sanduíche.

Façam de conta que não estou aqui

José Horta Manzano

Cameron 1Nas sociedades pequenas e nas tribos, o chefe reúne todos os membros, sobe numa pedra ou num pedestal qualquer, e fala a seu povo. Olha todos de frente, dirige-lhes a palavra, dá as instruções, distribui eventuais elogios ou admoestações. E, em certas ocasiões, recebe apupos ‒ faz parte dos riscos do ofício.

Com o crescimento das sociedades, reunir todos os componentes foi-se tornando problemático. O chefe viu-se obrigado a viajar para dirigir-se a pequenos grupos em cada parada.

Putin 1Cem anos atrás, a popularização do rádio esboçou a solução. A voz, ouvida em receptores e amplificada por alto-falantes, compensava a ausência física do personagem. De Winston Churchill a Getúlio Vargas, de Josef Stalin a Juan Domingo Perón, todos os grandes dirigentes recorreram ao rádio para falar ao povo.

O advento da televisão melhorou o grau de comunicação. Além da voz, a imagem do chefe passou a chegar a cada cidadão. É como se o personagem estivesse ali, na sua frente, numa conversa entre quatro olhos.

Merkel 2Faz meio século que todos os chefes de Estado ou de governo entenderam o alcance da palavra oral associada à imagem. Garante a presença e pode operar milagres. Fotos e vídeos circulam diariamente, mas não são eles a impressionar. Há momentos simbólicos em que pronunciamento solene se impõe. O período das festas de fim de ano é um deles.

Valendo-se da ocasião, os principais dirigentes do planeta falaram a seus eleitores. Olho no olho, prestaram contas do ano que se termina e esboçaram as perspectivas para o que entra.

Hollande 4No Reino Unido, David Cameron fixou o olho na câmera e dirigiu-se a cada britânico. O mesmo fez Vladimir Putin na Rússia. Direto de Berlim, Angela Merkel seguiu o mesmo caminho. De Paris, François Hollande também deu seu show televisivo. Matteo Renzi, chefe do governo italiano, foi mais longe: convocou coletiva de imprensa. O fundo da verdade é que nenhum deles deixou passar a ocasião de mostrar quem é o capitão do navio.

Interligne 18h

Enquanto isso, no Brasil…
Ah, já vão longe os tempos do «Trabalhadoooores do Brasil!» radiofônico do velho Getúlio. Por medo de panelaço ou de tropeços na elocução, nossa chefe-mor não apareceu na tevê. Nem mesmo o rádio transmitiu sua voz. A dirigenta limitou-se a assinar um texto escrito sabe-se lá por quem. Está no site do Planalto.

Patria Educadora 1Vivemos num país onde o slogan «Pátria Educadora» ainda não se transformou em realidade. Há, entre nós, milhões de semiletrados incapazes de compreender fala formal ‒ muito menos se for escrita. Nossa sociedade vegeta imantada pela imagem televisiva. Ao deixar publicar em seu nome longo texto de 2 páginas, 5665 toques e 876 palavras, a intenção da presidente ficou clara: «Me esqueçam! Façam de conta que não existo!»

No fundo, tem razão dona Dilma. Quando nada se tem a dizer, mais vale recolher-se à própria insignificância.

Os poderosos

José Horta Manzano

Copacabana 5A Forbes publicou a lista de personalidades que, segundo seus critérios, são as mais influentes do ano.

Todos os primeiros 10 lugares da lista planetária são ocupados por governantes e personagens das finanças ou do mundo corporativo. É realmente gente que manda, gente que tem real poder.

Já na lista brasileira… a coisa é bem diferente. Entre os 20 primeiros, 9 são jogadores ou gente ligada ao futebol. Os demais são artistas ou pessoas ligadas ao espetáculo. Acrescente-se um autor de romances populares, um piloto de automóvel, uma supermodelo e a lista está completa.

Nenhum político e nenhum empreendedor. Faz sentido. A coisa vai e a coisa vem. Assim como o povo não significa grande coisa para os políticos – a não ser na hora da eleição, os políticos não representam grande coisa para os brasileiros.

A lista dos «poderosos» brasileiros é por demais eloquente: mostra que o ideal do brasileiro – futebol, novela, praia, gente bonita e pouca roupa – não é só um clichê.

Os dez mais poderosos no planeta:
1. Vladimir Putin      Presidente da Rússia
2. Barack Obama        Presidente dos EUA
3. Xi Jinping          Presidente da China
4. Papa Francisco      Chefe do Estado do Vaticano e da Igreja Católica
5. Angela Merkel       Primeira-ministra da Alemanha
6. Janet Yellen        Presidente do Banco Central Americano (FED)
7. Bill Gates          Fundador da Microsoft
8. Mario Draghi        Presidente do Banco Central Europeu
9. S. Brin & L. Page   Dirigentes do Google
10. David Cameron      Primeiro-ministro britânico

Coqueiro 1Os vinte mais poderosos do Brasil:
1. Neymar
2. David Luiz
3. Paulo Coelho
4. Ivete Sangalo
5. Gisele Bündchen
6. Daniel Alves
7. Pelé
8. Roberto Carlos
9. Caetano Veloso
10. Luciano Huck
11. Kaká
12. Luis Felipe Scolari
13. Cláudia Leitte
14. Ronaldo Nazário
15. Gilberto Gil
16. Felipe Massa
17. Chico Buarque
18. Romário
19. Muricy Ramalho
20. Angélica

Cada povo prestigia os melhores. Ou não?

Fontes:
Forbes
Hugo Gloss

O Lula em lua de mel

Lua de mel

Wálter Maierovitch (*)

Para a mídia alemã não representa notícia de interesse público o fato de a chanceler Angela Merkel, chefe de governo, não dar carona ao marido em avião oficial. Por exemplo, Merkel passou a Páscoa na cidade italiana de Nápoles a fim de descansar. O avião oficial que a transportava desembarcou na sexta-feira e o corpo de segurança alemão a acompanhou à residência que alugara com dinheiro próprio.

Avião 6Cerca de quatro horas depois do desembarque de Merkel em Nápoles, chegou o seu marido. Estava programado que o casal passaria a Páscoa em Nápoles. O “maridão”, no entanto, pegou um vôo comercial Berlim-Roma e, na sequência, uma conexão para Nápoles.

Por que não pegou uma “carona” com a poderosa chanceler e esposa? A resposta é simples. A carona em vôo oficial, segundo a legislação alemã, é muito cara. Mais de dez vezes o preço de um bilhete aéreo comercial. Por isso, o casal Merkel viajou separado. Em outras palavras, para economizar. Assim, o varão viajou como um comum mortal que, temporariamente, é esposo da chefe de governo da Alemanha. A mandachuva, de enormes responsabilidades institucionais, cumpriu a lei e fez economia doméstica.

AviaoDepois da Páscoa, um avião alemão oficial conduziu Merkel de volta a Berlim, sede do governo e sua cidade natal. O esposo da chanceler partiu em vôo de carreira, com conexão e passagem paga por ele próprio e não pelo cidadão alemão.

(No Brasil, o senador Eduardo Suplicy, depois de noticiado o fato na imprensa, correu para devolver o valor de uma passagem aérea que o seu gabinete, por sua ordem e numa relação privada, havia comprado para a namorada.)

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(*) Wálter Fanganiello Maierovitch é jurista e professor. Já foi desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo. O texto apareceu no Portal Terra já faz algum tempo. Foi recentemente repercutido pela Tribuna da Internet.

Bundeskanzlerin

José Horta Manzano

Você sabia?

Despacho do Der Spiegel anuncia que Frau Angela Merkel, a chanceler federal (Bundeskanzlerin) alemã, conta assistir de corpo presente ao jogo Alemanha x Portugal, previsto para 16 de junho em Salvador, válido pela “Copa das copas”. Vai verificar in loco o que é que a baiana tem.

Sepp Blatter & Angela Merkel

Sepp Blatter & Angela Merkel

A chefe do governo alemão é grande apreciadora de ludopédio(*). Ela não confirma, mas garantem que seu jogador favorito é o bávaro Bastian Schweinsteiger.

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(*) Ludopédio, termo pouco utilizado, é o outro nome do futebol. Combina as raízes latinas ludus (brincadeira, jogo, diversão) e pedis (pé).

Cada quar com seu cada quar

Esta semana, aconteceu uma coincidência. Dois antigos chefes de Estado tiveram a ideia de fazer uma visita de cortesia a um mandatário estrangeiro.

Cada um escolheu seu par. Faz sentido. A conversa é sempre mais agradável quando se está em companhia de gente como a gente.

Cada um procura sua turma, é ou não é?

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Sarkozy & Merkel Visita de cortesia ― 28 fev° 2014 Crédito: Handout, Reuters

Sarkozy & Merkel
Visita de cortesia  ―  Berlin, 28 fev° 2014
Crédito: Handout, Reuters

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Lula & Fidel Castro Visita de cortesia Foto divulgada em 28 fev° 2014

Lula da Silva & Fidel Castro
Visita de cortesia, La Habana
Foto divulgada em 28 fev° 2014

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Primeira-ministra destituída

O Estadão continua deixando as manchetes a cargo de estagiários. Sem supervisão, hoje rebaixaram Frau Angela Merkel ao posto de presidente.

Estadão, 31 dez° 2013

Estadão, 31 dez° 2013

Está errado. O presidente da República Federal da Alemanha é Herr Joachim Gauck. Naquele país, a presidência é cargo meramente honorífico. Frau Merkel é chanceler. Se quiser chamar de primeira-ministra, ela não há de se ofender. Presidente, nein!

As boas-vindas

José Horta Manzano

Chega-me a notícia de que o sorridente Bill Clinton, antigo presidente ― de esquerda, frise-se ― dos EUA teve um encontro com dona Dilma faz dois dias.

Agindo com pouca elegância, nossa presidente aceitou que fossem incluídas frases agressivas no discurso que lhe prepararam para pronunciar na ocasião. Nossa presidente ainda não aprendeu que não convém assumir atitude professoral e desafiante do tipo conosco, ninguém podosco diante de visitantes estrangeiros. Pega mal pra danar.

Dona Dilma declarou que, no panorama atual, «não há espaço para relações hegemônicas»(*). Palavreado estabanado, malcriado, inútil, e típico de quem sofre do que Nélson Rodrigues chamou um dia de complexo de vira-lata. Explico.

Dilma Rousseff & Bill Clinton Crédito: Daniel Marenco, Folhapress

Dilma Rousseff & Bill Clinton
Crédito: Daniel Marenco, Folhapress

É estabanado porque visa a atingir em cheio o estrangeiro. É pisão no pé de propósito.

É malcriado porque colide com nossa tradição de dar boa acolhida a quem vem de visita. Não era hora nem lugar de proferir esse tipo de discurso.

É inútil porque se dirige a alguém que já deixou o poder há 12 anos e que não pode ser responsabilizado pela orientação política atual de seu país.

É marca de um governo que sofre manifestamente de complexo de vira-lata. Ou alguém imagina Frau Angela Merkel, Monsieur François Hollande ou Mr. David Cameron fazer esse tipo de advertência a um antigo mandatário dos Estados Unidos? É o tipo de discurso que se pode esperar de um Chávez, de um Castro, de um Evo. Na boca da presidente do Brasil, não cai bem.

A inflação voltou; o PIB empacou; o Mercosul emperrou; a cada mês que passa, mais famílias se credenciam a receber a bolsa família ― o que é péssimo sinal; o Brasil está cada dia mais longe de ser admitido com membro permanente do CS da ONU; nossas prisões, já superlotadas, passam a aceitar políticos que se julgavam acima do populacho. Com tudo isso acontecendo, é ousadia levantar a crista e tentar dar lição de relações políticas a quem entende do riscado.

Quer dona Dilma queira ou não, quer seus áulicos gostem ou não ― alô, doutor «top-top» Garcia! ― os EUA continuarão ainda por longos anos na dianteira tecnológica, econômica e bélica. Ainda não está à vista o dia em que a situação se alterará.

Em vez de dar murro em ponta de faca, nossa mandachuva-mor deveria se comportar mais como chefe de Estado e menos como chefe de facção.Interligne 12

(*) «Relações hegemônicas» é formulação tortuosa, daquelas que parecem eruditas, mas são pobres de significado. O que a presidente queria dizer ― mas provavelmente não ousou ― era que não há espaço para hegemonias. No entanto, ela se engana. Ou se ilude, o que é ainda pior. Hegemonias existirão sempre, que é assim desde que o mundo é mundo: o forte domina o fraco. O Planalto pode muito, pode mexer até em leis federais, mas não conseguirá mudar leis da natureza. Vai ficar no palavreado.