José Horta Manzano
Quando viu baterem à porta de casa os policiais que o vinham prender, señor Alan García ‒ que foi duas vezes presidente do Peru ‒ pressentiu o frio das algemas e o peso da humilhação. Preferiu não enfrentar. Suicidou-se.
Para bordar o assunto, a mídia compôs listas de dirigentes que, nos últimos cem anos, decidiram, seja por que razão for, tirar a própria vida. Não são poucos. Entre eles, aparece Getúlio Vargas, que mandou no Brasil por 19 anos. A lista inclui ainda Adolf Hitler e o chileno Salvador Allende(1).
O elenco mais impressionante é o de ex-presidentes latino-americanos presos ou investigados por corrupção. A gente imagina que o caso de Lula da Silva seja único, mas não é bem assim. O clube dos corruptos, que perpetua secular tradição em nosso continente, tem muitos membros.
O Peru aparece em boa posição, com seus cinco últimos presidentes na lista. Além do recém-falecido Alan García, aparecem Alberto Fujimori, Ollanta Humala, Alejandro Toledo, Pedro Pablo Kuczynski. Todos eles já passaram algum tempo atrás das grades ou estão envolvidos em processo por corrupção. Os três últimos citados foram regados pelo propinodutro internacional patrocinado pela brasileira Odebrecht ‒ nossa maior exportadora de corrupção.
O clube dos presidentes corruptos tem mais gente fina. Está lá a argentina Cristina Fernández de Kirchner, que só escapou da cadeia até agora em razão de sua imunidade parlamentar. Outra figurinha carimbada é Rafael Correa, ex-presidente do Equador. Está sendo processado por “delinquência organizada” no caso Odebrecht. A América Central não está ausente. A representá-la, estão o panamenho Martinelli, o hondurenho Callejas, os guatemaltecos Pérez Molina e Álvaro Colom, todos ex-presidentes. Os representantes brasileiros nessa exemplar confraria são, como é sabido de todos, Lula da Silva e Michel Temer.
Li hoje entrevista concedida por um jornalista que trabalhou para O Pasquim nos anos 1970. Ele pondera que o fato de Lula da Silva estar preso é prova de vigor da democracia. Sem dúvida. Mais vigorosa seria a democracia, no entanto, se nenhum dirigente tivesse de ir pra cadeia por crime de corrupção.
(1) Dizem uns que Salvador Allende se suicidou, enquanto outros asseveram que «foi suicidado». Passado quase meio século sem conclusão confiável, a controvérsia tende a se perpetuar.