José Horta Manzano
O que se passa na cabeça de cada um é mistério. Quem saberá dizer por que cargas d’água o australiano Julian Assange resolveu, um belo dia, criar um site para espalhar segredos de Estado? Curiosa ideia.
Meus cultos e distintos leitores sabem quem é o mencionado cavalheiro. Fundou um site especializado em divulgar informações sensíveis e chamou-o Wikileaks, numa (pretensiosa) alusão a Wikipedia acoplada à raiz inglesa leak (vazamento).
Especializou-se em disseminar dados confidenciais do governo americano. Poderia ter escolhido outro país? Sem dúvida, mas, assim que recebeu de mão beijada informações sobre a diplomacia daquele país, optou pela facilidade. A limitação linguística de uma equipe monoglota também há de ter pesado na escolha.
Terá buscado a glória, aquela meia hora de fama que muitos almejam? Pode ser.
Terá agido por desafio pessoal, como aqueles que arriscam a vida escalando o Everest? Quem sabe.
Terá sido por interesse financeiro, como se esperasse recompensa por seus atos? Nada é impossível.
Terá sido para ficar na história como o homem que, sozinho, mexeu com as relações de poder entre as nações, como um Napoleão ressuscitado? Vai ver, é isso mesmo.
Ninguém me fará acreditar que um peculiar sentido de justiça o tenha movido. Pelo contrário, acho que o indivíduo, parco de inteligência, carrega visão filosófica embotada.
Apavorado com prováveis más consequências das estrepolias que praticou, refugiou-se na embaixada do Equador em Londres. Faz três anos que lá está, sem perspectiva de sair. Se puser o pé na rua, periga ser apanhado pela polícia britânica, encarcerado e extraditado para os EUA.
Louco pra sair da embaixada, Mister Assange arquitetou um plano: deixar vazar informação susceptível de encolerizar determinado país e, em seguida, pedir asilo político às autoridades do Estado ofendido. Mas tem de ser país de peso, que possa forçar o Reino Unido a conceder-lhe salvo-conduto da embaixada até o aeroporto.
Começou pela França, tradicional adversário dos ingleses. Semana passada, seu site soltou informação segundo a qual não somente o atual presidente francês foi espionado pela NSA, mas também seus dois antecessores, Sarkozy e Chirac. Quatro dias depois, Mister Assange pediu asilo à França. A resposta veio no mesmo dia. O Palácio do Eliseu, estimando que o requerente não se encontra em situação de perigo imediato, rejeitou o pedido.
O segundo na lista foi o Brasil. Logo depois que dona Dilma voltou dos EUA, Wikileaks noticiou que não só ela, mas dezenas de figurões da República tinham sido espionados. Não funcionou. O escândalo engendrado pelo Lula, quando recusou extraditar o condenado Cesare Battisti, deixou marcas em Brasília. Rapidinho, dona Dilma mandou dizer que essa história de espionagem é página virada.
Ela não disse, mas ficou o aviso: que não se atreva esse indivíduo a pedir asilo. Nem vem, que não tem.
Sejam quais forem os motivos que levaram o personagem traquinas a fazer o que fez, o preço está saindo salgado. E o equilíbrio entre as nações continua inalterado. Uma frustração. Ah, se arrependimento matasse…