The dinner

José Horta Manzano

A foto publicada por The New York Times mostra o jantar oferecido por Donald Trump a doutor Bolsonaro. A refeição não foi servida numa residência oficial da presidência, mas numa propriedade pessoal do presidente dos EUA. Pode ser que a intenção tenha sido instalar clima de maior cordialidade. Também pode ser que Mr. Trump, como todos os que enricaram muito rápido, tenha feito questão de reafirmar sua sólida riqueza e exibir sua suntuosa propriedade, situada numa restinga de Palm Beach.

A foto foi batida antes de o jantar ser servido. Alguns detalhes surpreendem este blogueiro que, na longínqua juventude, trabalhou em hotéis de esplêndida categoria.

É verdade que a perspectiva distorce a imagem; assim mesmo, noto que o vaso de flores e a dobra da toalha não coincidem. Das duas uma: ou o vaso está descentrado, ou a toalha foi mal colocada. Ambas as possibilidades depõem contra o excelso anfitrião.

Outro ponto me chama a atenção; em restaurantes de alta categoria, a toalha é passada a ferro diretamente em cima da mesa – justamente pra evitar dobras e amarfanhados que possam enfeiar o conjunto. Vê-se que os integrantes da governança da propriedade de Mr. Trump faltaram a essa aula.

by Juan de Juanes (1523-1579), artista da renascença espanhola

O número de convivas é simbólico: são 12 ao redor da mesa. Em posição de Deus-Pai, o presidente americano sobressai. O conjunto evoca vagamente uma Santa Ceia com um personagem a menos. Só não fica claro qual dos apóstolos está faltando. Note-se, à esquerda, quase caindo da foto, um doutor Bolsonarinho – aquele que é deputado – pasmado diante da sabedoria que emana do dono da casa.

As demais mesinhas redondas que aparecem ao fundo destoam. Por lembrar prosaica festa caipira, elas atrapalham a alteza da cena. Esclareça-se que os dois personagens postados atrás dos presidentes não são apóstolos. São funcionários intérpretes, cada um a serviço do respectivo governo. Doutor Bolsonaro, que passou a vida preso à dura labuta de sete mandatos consecutivos de deputado federal, não teve tempo de aprender inglês, a língua das comunicações internacionais. Continua monoglota. Ou monolíngue, que soa mais chique.

Uma última observação. Comentaristas políticos se perguntam todos os dias quando é que Bolsonaro vai aprender isto ou aquilo. A foto dá uma pista. Reparem que, durante o solene discurso do anfitrião, todos se mantêm empertigados, em posição de respeito. Todos? Não. Doutor Bolsonaro, que não prestou atenção na postura dos demais, continua dentro de sua bolha estreita e aparece debruçado sobre a mesa, como se em casa estivesse.

Conclusão: quem não costuma observar o mundo a seu redor dá mostra de não ter capacidade de aprender. Assim sendo, está condenado a carregar suas lacunas até o fim.

Traducción, por favor!

José Horta Manzano

Dilma 15Nem a eloquência nem a clareza são atributos do discurso de dona Dilma. Até aí, nenhuma novidade: todos já nos demos conta. Há ocasiões, no entanto, em que a governante consegue se superar.

Ontem, em visita ao compañero Rafael Correa, presidente do Equador, a senhora Rousseff declarou que «o Brasil não consegue restabelecer condições sustentáveis de crescimento nesse novo contexto internacional sem o crescimento dos demais países da América Latina».

Sem dúvida, a frase é pomposa. ‘Condições sustentáveis’ e ‘contexto internacional’ são termos à la mode. Tirando os penduricalhos e trocando em miúdos, a fala presidencial permite várias interpretações.

Dilma e Correa1) O Brasil só cresce se os vizinhos crescerem primeiro.
Denota pirraça. Lembra conversa de namorado do tipo «só vou se você for». Pega mal.

2) O Brasil só cresce se os vizinhos ajudarem.
Denota fraqueza e dependência. Equivale a: ‘se vocês não me derem uma força, não consigo andar com minhas próprias pernas’. Pega pior ainda.

3) O Brasil tem tentado crescer, mas vocês estão nos atrapalhando.
Denota arrogância. Corresponde a acusar os vizinhos de fazer corpo mole. Além de pegar mal, ofende.

O distinto leitor pode torcer, rodear, revirar, enrolar, inverter a frase ‒ o sentido continua absconso. Não é de espantar, que já estamos habituados.

Da próxima vez, vale incluir na comitiva presidencial um intérprete simultâneo.

A Copa e as Olimpíadas

José Horta Manzano

Não se deve ter os olhos maiores que o estômago. Não convém botar no prato quantidade maior do que se vai comer. Quem assim fizer, periga dar vexame e decepcionar comensais.

JO 2020 3O Campeonato Mundial de Futebol (hoje chamado Copa do Mundo) e os Jogos Olímpicos de Verão (também ditos Olimpíadas) são os encontros esportivos mais importantes do mundo. Concorridos, frequentados, badalados e comentados, são preparados com esmero por atletas e pelo país-sede.

Ambos os eventos se realizam a cada quatro anos. Não por acaso se alternam, com dois anos de intervalo, como se um não quisesse pisar o pé do outro. O Brasil conseguiu que lhe fosse atribuída a organização dos dois megaeventos, assim seguidinho, um em 2014 e o outro em 2016.

Há quem acredite que foi por coincidência. Não é meu caso. Embora não seja de conhecimento público, tudo fica registrado nalgum lugar. Tenho certeza de que, um dia, as «gestões» responsáveis pela atribuição dos dois certames ao Brasil serão reveladas à luz do sol.

O governo brasileiro apostava todas as fichas na Copa 2014. Acostumados a navegar em mar de fantasia, tinham certeza de que – com a colaboração ativa do Todo-poderoso – o Brasil levaria a taça. Deu no que deu: panes de som nos estádios, obras inacabadas, metrôs e trens-bala inexistentes, vaias à presidente, retumbante fiasco esportivo. A olhos estrangeiros, a imagem de nosso País perdeu um bocado de seu brilho.

Crédito: Shizuo Kambayashi

Crédito: Shizuo Kambayashi

Tudo isso entornou água fria na expectativa que os Jogos Olímpicos despertavam. A pouco mais de um ano do evento que reunirá a nata do esporte mundial, pouco se fala neles. Nossa presidente já deve estar considerando se vale a pena participar da abertura oficial e correr o risco de levar mais uma vaia planetária.

Mas que fazer? Combinado está. O Brasil e, em especial, o Rio de Janeiro têm de se aplicar. Falta muito pouco tempo e ainda há muito que fazer. Falando em falta de tempo, o Japão, que hospedará em 2020 a edição seguinte das Olimpíadas, já arregaçou as mangas.

JO 2020 4Como também acontece no Brasil, fluência em línguas estrangeiras não é o ponto forte dos japoneses. Que não seja por isso, que há remédio pra tudo. O governo japonês já tomou as medidas que julga necessárias para preencher essa lacuna. Especial atenção está sendo dedicada à formação de policiais, bombeiros, garçons e guias fluentes em inglês.

Seminários de formação de guias bilíngues estão sendo organizados. O objetivo das autoridades de Tóquio para 2020 é dispor de 35 mil colaboradores bilíngues para dar apoio aos turistas e mostrar-lhes o espírito acolhedor dos japoneses.

Alguém sabe quantos guias bilíngues foram formados para os JOs do Rio? Procurei, mas não encontrei a resposta. Talvez algum distinto leitor possa me iluminar.