Tribunal Penal Internacional

José Horta Manzano

É curioso que certas notícias envolvendo interesses brasileiros circulem somente na mídia estrangeira. Pela rádio pública francesa, fiquei sabendo de uma denúncia criminal contra Jair Bolsonaro, oferecida estes dias ao Tribunal Penal Internacional (TPI). Os autores são indígenas brasileiros de etnias amazônicas. Entre eles, está o conhecido cacique Raoni.

A base da acusação são alegados crimes ambientais e genocídio dos autóctones. O único veículo brasileiro que deu a informação foi o portal Pública. A denúncia tem 69 páginas e está muito bem documentada. Uma cópia confidencial do texto completo, traduzido para o português, está aqui.

Não se sabe ainda se a demanda será aceita pelo TPI. Se for, doutor Bolsonaro tem de começar a se preocupar. Não imagino que venham colhê-lo dentro do Palácio do Planalto para confiná-lo nas masmorras de Haia (Holanda). Enquanto for presidente, corre outros perigos, mas não este.

No entanto, assim que deixar o cargo, que tome cuidado. Livre de viajar dentro do país mas não lá fora, estará na esdrúxula situação dos que têm muito dinheiro mas só podem se locomover dentro do próprio país, como é o caso de Paulo Maluf. É que, se for dançar um tango em Buenos Aires ou andar de xícara na Disneylândia, periga ser detido e despachado para o TPI. Vai acabar provando do mesmo prato que já foi servido a outros antigos presidentes – Lula e Temer.

Reparem que, no Brasil, uma temporada (longa ou curta) na prisão está se tornando passagem obrigatória no ritual pós-presidencial. Dilma escapou por pouco. Bolsonaro só vai escapar por milagre.

Para ver navios

José Horta Manzano

No último quartel do século XIX, as fronteiras entre os países sul-americanos ainda não estavam totalmente consolidadas. A região desértica que constitui a tríplice fronteira entre Chile, Peru e Bolívia fazia parte dessa nebulosa. Por ali, quem gritasse mais alto, levava.

Por um punhado de motivos ‒ ambições territoriais, interesses comerciais, diferendos fiscais ‒ estourou uma guerra em 1879. De um lado, estava o Chile; de outro, os aliados Bolívia e Peru. Quatro anos e várias batalhas depois, o Chile saiu grande vencedor. Como troféu de guerra, apoderou-se de bom pedaço de território antes reivindicado pelos adversários.

Em 1883, um tratado foi assinado entre Chile e Peru. No ano seguinte, outro acordo pôs fim à disputa entre Chile e Bolívia. O Peru se resignou com a perda de terras que, afinal, não eram habitadas por peruanos nem eram estratégicas. Já o caso da Bolívia foi mais crucial. O território perdido era justamente sua saída para o mar. Terminada a guerra e firmados os tratados, o país tornou-se encravado no continente, rodeado de terra, obrigado a pedir licença aos vizinhos ao importar ou exportar mercadoria. Uma dependência incômoda e irritante.

Nestes quase 150 anos, governos bolivianos tentaram esporadicamente convencer o Chile a abrir mão de um naco de seu território a fim de conceder à Bolívia um acesso ao mar. Amparado pelos tratados firmados, o Chile sempre permaneceu inflexível. A situação continuou morna até que chegou Evo Morales, primeiro presidente indígena do país.

Corte Internacional de Justiça, Haia

Há mais de doze anos no poder, señor Morales está no terceiro mandato. A Constituição lhe proíbe candidatar-se a um quarto. Mas ele bem que gostaria de modificar a Constituição pra poder continuar no poder. Como fazer? O jeito é conseguir uma aura de pai da pátria, o que lhe granjearia apoio unânime. Veio-lhe a ideia de obter para a Bolívia uma saída para o mar, velho anseio nacional. Faz 5 anos, numa jogada que mirava ao futuro, Morales decidiu agir.

Entrou com interpelação junto à Corte Internacional de Justiça, sediada em Haia (Holanda), pedindo que obrigasse Santiago a negociar com La Paz novo acordo outorgando à Bolívia «um acesso pleno e soberano ao Oceano Pacífico». Depois de deliberar por cinco anos, o tribunal informou que a decisão seria anunciada neste 1° de outubro. Señor Morales se abalou até Haia para assistir, sentado na primeira fila, ao bafejo da glória.

Na hora da sentença, veio a ducha de água gelada: o tribunal considera que nada obriga o Chile a sentar-se à mesa para negociar novo tratado. Desenxabido, señor Morales ficou a ver navios. “Ver navios” é, naturalmente, força de expressão. Na dura verdade, a Bolívia vai continuar, por muitíssimos anos, sem saída para o mar, vendo navios só em pintura.

Holanda: quatro séculos de patinagem

José Horta Manzano

by Hendrick Averkamp (1585-1634)
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Quatro séculos se passaram e o divertimento continua igualzinho. Com uma diferença: ao tempo dos pintores flamengos, o distinto público se contentava em deslizar, sem se preocupar com o smartphone.

O escândalo do ovo

José Horta Manzano

Você sabia?

Doutor Doria, prefeito da cidade de São Paulo, quando de recente visita à Bahia, serviu de alvo para um lançar de ovos. Se é sempre melhor levar uma ovada que uma pedrada, assim mesmo é desagradável. Moderada ou violenta, toda agressão física ‒ seja a ocupação da mesa diretora do Senado ou uma rajada de metralhadora ‒ é apanágio dos que não têm argumentos. Em linguagem de todos os dias, chamamos isso de apelação. Tivesse o incidente oval acontecido na Europa, o significado teria sido bem mais grave. Vamos começar do começo.

No fim dos anos 80, a empresa química Rhône Poulenc sintetizou uma molécula destinada a ser usada como pesticida. Seu nome técnico é Fipronil. A licença de fabricação e de comercialização pertence hoje ao gigante alemão Basf. Desde quando o produto foi lançado, estudos paralelos suspeitaram que fosse perigoso para a saúde humana. O inseticida, usado amplamente em antiparasitas para animais de companhia e também contra traças, baratas e formigas, tem sido ademais acusado de exterminar abelhas, animalzinho útil e indispensável para a polinização.

Faz alguns anos, em virtude de sérios indícios de nocividade, a União Europeia proibiu o uso do Fipronil em animais e produtos destinados ao consumo humano, entre eles, galináceos e ovos.

Passando por cima da interdição, grandes avícolas da Holanda e da Bélgica, que exportam a maior parte da produção, continuaram tratando galinhas e ovos com o pesticida. Poucos estavam a par até que, esta semana, espocou o escândalo dos ovos contaminados. A mídia não hesitou: estes dias, só se fala nisso. Foi um deus nos acuda. Dado que ovos entram na composição de grande variedade de produtos (massas, pães, bolos, doces, biscoitos, congelados, pratos «à milanesa» entre outros), as autoridades europeias estão sem saber pra que santo apelar. Descobriu-se que até ovos ditos «orgânicos» têm sido tratados com o produto proibido ‒ o cúmulo da trapaça.

Muitos produtos contendo ovos têm sido retirados das prateleiras dos supermercados mas, como se pode imaginar, é praticamente impossível conhecer a origem de cada componente de cada produto. À espera de que a poeira baixe, autoridades sanitárias tentam tranquilizar os consumidores dizendo que, em pequenas quantidades, a molécula não há de fazer mal a ninguém. Acredite quem quiser.

Pra ter certeza, pelo menos por enquanto, o melhor é comprar ovos do galinheiro da vizinha. Espero que o ovo que atingiu o cocuruto do prefeito não tenha sido importado da Holanda. O risco é pequeno, é verdade.

Filme queimado fora do país

Ana Fonseca (*)

Credibilidade é uma coisa que se conquista ao longo de muitos anos. E, quando quebrada, pode levar muito tempo (digo décadas, mesmo) para se recuperar.

Eu tenho muita atenção em servir os melhores produtos para minha família e meus convidados. A melhor carne, os melhores ovos, vegetais orgânicos, nada de soja, nada de colorantes. Talheres brasileiros da Tramontina durante churrascos. Farinheiras feitas de madeira lustrosa brasileira, lindas, lindas, e que eu uso para molho à campanha. Até panela negra de moqueca eu tenho na Holanda.

Mas a partir de agora, carne brasileira é matéria non grata na minha mesa. Acho isso profundamente triste. Estou extremamente melancólica. Virou tabu de conversa entre eu e meu marido holandês. Ele sabe que eu me sinto mal a respeito desse escândalo. Eu sei que ele sabe das notícias e que a carne lá no nosso freezer tem que ser jogada fora, por via das dúvidas.

Não vou estranhar nada nem ficar abalada se minha filha, numa situação não tão surrealista, chegar em casa chorando dizendo que as amiguinhas disseram que “No Brasil, as pessoas comem carne podre”.

Jaula para esses fiscais corruptos!

(*) Ana Fonseca vive na Holanda há quase duas décadas. De lá, administra o blogue Brasil com Z. O texto que publico foi extraído de artigo que saiu no Brasil com Z em 21 março 2017.

Nota
Vegetariano há mais de 30 anos, este blogueiro não se sente à vontade para comentar o assunto. Assim, prefere manter distância do mais recente escândalo tupiniquim.

Holanda versus Turquia

José Horta Manzano

Para federar um povo e obter apoio unânime, nada como apontar um inimigo comum. Todos têm de sentir que o orgulho nacional está ameaçado. Se a ofensa vier de fora do país, melhor ainda. A ideia não é nova. Desde sempre ‒ especialmente de um século para cá ‒, tem sido utilizada com esperteza por mandachuvas. Alguns usam do artifício com esmero, enquanto outros são mais desajeitados.

É inconstestável o sucesso de um Adolf Hitler, que conseguiu cristalizar em torno de sua figura a quase totalidade do povo alemão ao apontar os judeus como origem e causa de todos os males nacionais. Stalin foi outro que se sustentou durante décadas no topo do poder culpando imaginários “inimigos do povo”. Assim também agiram Chávez e os bondosos irmãos Castro ao designar o “império“ como inimigo prestes a destruir o país.

Países Baixos e suas províncias

Uma ditadura argentina decadente valeu-se dessa estratégia em 1982. Passou a ideia de que o país estava sendo vilipendiado pelo Reino Unido, que ocupava havia século e meio um naco do território nacional. A Guerra das Malvinas logrou apoio popular mas terminou num desastre militar que acabou por levar de cambulho o que restava de ditadura.

Em nosso país, bem que Nosso Guia & clique fizeram o possível e o impossível para cindir os brasileiros entre “nós“ e “eles“, noções vagas e nunca explicadas que cada um entendeu como quis ou como pôde. Não tendo convencido, a estratégia acabou não dando certo. Aliás, em matéria de estratégia, o lulopetismo mostrou-se particularmente manquitola.

A Holanda ‒ que convém chamar de Países Baixos, dado que Holanda é o apenas o nome das duas mais importantes regiões do país ‒ atravessa momento crítico. Daqui a dois dias, os eleitores vão às urnas renovar a câmara de representantes. Um certo Herr Wilders, candidato de extrema-direita, ameaça balançar o coreto. Suas ideias e propostas são radicais e drásticas. Entre elas, a proibição pura e simples de praticar a religião maometana, veja só. É improvável que consiga maioria no parlamento, mas pode baralhar a política do país.

Modesta refeição do ministério turco

A Turquia também atravessa momento complicado. O presidente Erdoğan convocou os eleitores para um plebiscito que terá lugar mês que vem. A intenção é mudar a Constituição eliminando o cargo de primeiro-ministro e transformando o regime em presidencialista, o que dará imenso poder ao quase-ditador. As pesquisas não são lá muito animadoras, razão pela qual cada voto importa.

Milhões de turcos vivem no estrangeiro, inclusive nos Países Baixos. Para motivá-los a votar «sim», o governo turco tem mandado ministros e emissários organizar comícios eleitorais em países europeus. Para reforçar, decidiram usar a velha tática de designar um «inimigo» externo. Escolheram a Holanda. Cavando um pretexto qualquer, dispararam palavras agressivas contra o governo de Haia. Para não levar desaforo pra casa ‒ o que daria votos ao candidato de extrema-direita ‒, o governo holandês viu-se na obrigação de tomar medida forte: proibiu a entrada no país de ministros turcos.

Ministra turca expulsa dos Países Baixos

Foi a conta. A Turquia e os Países Baixos estão em pé de guerra. A mídia, naturalmente, alimenta a polêmica. Redes sociais fervilham. A bandeira holandesa do consulado em Istambul foi arrancada e substituída por bandeira turca. A Turquia promete represálias ‒ que ninguém imagina quais possam ser.

Tudo não passa de encenação, mas o povão acredita, e é isso que importa. Por um lado, a movimentação tem servido à causa do presidente turco, que aumenta seu capital de votos. Por outro, está servindo também ao atual governo holandês, que demonstra ser capaz de defender-se sem entregar as rédeas à extrema-direita.

Entre mortos e feridos, salvar-se-ão todos. (Uma mesoclisezinha de vez em quando não faz mal a ninguém.)

Voto em papel

José Horta Manzano

Neste período de entressafra eleitoral, volto ao voto. Temos pela frente quase dois anos sem convocação às urnas. Para o bem da democracia, parece-me período demasiado longo, mas assim são as coisas. Quanto mais repetidamente se chama o eleitorado a se exprimir, mais corriqueiro se torna o ato. Menos solene e menos apaixonado, o voto frequente faz bem ao espírito republicano. Uma votação anual seria bem-vinda. Tem seu custo, mas é gasto útil para aproximar a população de seus representantes. Um dia, quem sabe, quando a democracia anunciada em 1988 for implantada pra valer, chegaremos lá.

Esta época de reorganização da bagunça criada nas últimas décadas é propícia para repensar o calendário eleitoral. Um caminho a considerar seria a desvinculação da eleição de presidente, senadores, deputados e governadores, que ocorre de roldão, a cada quatro anos. O espaçamento desse aglomerado de escolhas não me parece ser má ideia.

voto-3Enquanto não se chega a essa reforma maior, é tempo de refletir sobre modificações menores. O voto dito eletrônico, generalizado há vários anos, pareceu-nos a todos um avanço. Quando se pensa que, nos tempos de antigamente, a apuração chegava a levar um mês, a velocidade atual da contagem é espantosa. Nos primeiros anos, vimos nisso um sinal inequívoco de modernidade.

Segundo a sabedoria do Conselheiro Acácio, as consequências costumam vir depois. A rapidez da apuração passa pela urna eletrônica. Muitos se mostram reservados quanto à confiabilidade do sistema. Quando a gente fica sabendo que piratas informáticos já conseguiram invadir sofisticadas redes informáticas, como as do governo americano, a gente sente a pulga atrás da orelha. Se acontece lá, por que não aqui?

A Holanda tomou esta semana uma decisão que mostra que o risco de manipulação de resultados é concreto. Para as eleições do mês que vem, o país abandona o sistema eletrônico e volta ao método manual, velho de guerra. Parece-me decisão sábia. O voto no papel pode até ser mais laborioso na hora da apuração mas guarda vantagens consideráveis. A apuração, feita publicamente diante de fiscais partidários e de jornalistas, não abre brecha para manipulação eletrônica. Em caso de contestação, uma recontagem ‒ parcial ou total ‒ é possível a qualquer tempo.

voto-4Tem mais. No fundo, nenhuma razão justifica demora excessiva na apuração. Em países democráticos, cada seção eleitoral tem a incumbência de contar os votos de sua própria urna. Terminada a votação, inicia-se a apuração, à frente e à vista de todos. Em poucos minutos, sai o resultado. A presença de representantes de partidos e de partes interessadas é permitida e até incentivada.

Quando uma novidade não dá certo ou dá margem a questionamento, é mais ajuizado voltar ao sistema anterior. Pelo menos até o dia em que se encontre maneira de blindar o novo método. No caso da urna eletrônica, ainda temos longo caminho para chegar à garantia de absoluta lisura.

Festivais por quilo

José Horta Manzano

Você sabia?

Fogos artificio 1Na França, realizam-se cerca de dois mil festivais a cada ano. É número respeitável. Com relação ao número de habitantes do país, seria como se houvesse seis mil festivais no Brasil. Ano após ano.

Há festivais para todos os gostos. De música principalmente: erudita, popular, regional, instrumental, sacra, pop, folclórica, ópera, jazz, rock. Como disse? De samba-canção? Nunca ouvi falar, mas há festival de dança, de cinema, de escultura, de teatro. Entre os menos corriqueiros, está um festival de pirotecnia.

Para refrescar a memória, o termo pirotecnia é composto de duas raízes gregas: pýr (fogo) e techné (arte). É a arte de dominar o fogo. Em linguagem de todos os dias, o festival é um concurso de fogos de artifício.

Fogos artificio 2É organizado anualmente, em agosto, na cidadezinha de Saint-Brevin (13 mil habitantes), na costa atlântica. A cada edição, concorrem três países. Este ano, Alemanha, Holanda e Brasil eram os candidatos. Não sou admirador desse tipo de espetáculo, mas, a julgar pelas fotos e pelos filmes, há de ter sido deslumbrante.

A equipe brasileira levou a taça. Eta nós! Não chega a lavar o vexame da Copa do Mundo, é verdade. Mas, convenhamos, deixar pra trás justamente a Alemanha e a Holanda sempre deixa um gostinho especial.

Pena que, dissipada a fumaça, volte a realidade dura, nua e crua: nada mudou, o Brasil continua atolado. O resto é pirotecnia.

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PS: Está no youtube um filminho com a apresentação dos artífices brasileiros. Por aqui.

No creo en brujas…

… pero que las hay, las hay.

José Horta Manzano

Bruja 2Não sou muito dado a assuntos esotéricos. Em matéria de vidência, premonição e artes conexas, costumo ficar com um pé atrás. Previsão boa mesmo é aquela que foi registrada em cartório. De preferência, antes de ocorrer o fato previsto. Isso é coisa rara.

Programa de tevê gravado e difundido no youtube antes do acontecimento tem, a meus olhos, o mesmo valor. Nestes tempos modernos, podemos dispensar carimbo, estampilha, autenticação e firma reconhecida.

Não sei se meus distintos leitores conhecem um certo senhor Carlinhos, de Apucarana (PR), para quem o futuro não envolve segredos. Vê e conta, a quem quiser ouvir, o que vai acontecer. Por vezes, erra – que ninguém é perfeito. Mas seus acertos são despudorados e desconcertantes. Fiquei sabendo hoje da existência do homem.

Se você não conhece o rapaz e dispõe de 7 minutos, recomendo seguir o caminho seguinte:

Bruja 1Primeiro, assista a um vídeo de 2 minutos, gravado pela TV Apucarana na primeira fase da «Copa das copas», ainda antes do encontro Brasil x México. O filminho foi publicado no youtube em 16 jun° 2014. Contrariando a esperança de milhões, o vidente afirma, com todas as letras, que o Brasil não ganhará a Copa. Diz também que os times que mais se aproximam do título são Alemanha, Holanda e Argentina. Diz mais ainda: se o Brasil pegar a Alemanha ou a Holanda, vai perder – vai levar um gol atrás do outro. E tem mais um detalhe: afirma que Neymar estará afastado do campo durante um ou dois jogos da segunda fase.

O vídeo, disponível no youtube, está aqui.

Em seguida, dê uma olhada no vídeo de 5 minutos gravado durante um programa do canal SBT e inserido no youtube em 12 jul° 2014. Indagado sobre as eleições que ocorreriam dali a 3 meses, o rapaz dá o nome dos três finalistas, na ordem de chegada. Põe Aécio em 1° lugar, Dilma em 2° e Marina em 3°. Repare bem que ele já menciona o nome de Marina Silva, esquivando Eduardo Campos, o candidato que viria a falecer dois meses mais tarde.

O vídeo, também disponível no youtube, está aqui. Se tiver pressa, pode pular o começo e assistir a partir do último minuto.

Urna 2Do jeito que vão as coisas, só resta aos atuais mandatários um último recurso: manipular os resultados das exóticas «urnas» eletrônicas.

Neste Brasil versão século XXI, uma desonestidade a mais ou a menos não há de fazer diferença.

Feitios de oração

Fernão Lara Mesquita (*)

Proporcionou «a melhor Copa da História fora dos gramados» quem, cara-pálida? O governo ou o povo brasileiro? Pelo bico da Dilma, que não destravou nem na hora de entregar a taça, ela sabe pelo menos que ela é que não foi.

O que é que a imprensa internacional está festejando, a «organização perfeita», que já começa a ser enfiada na História do Brasil, ou a tradicional simpatia do povo brasileiro somada à ausência do desastre anunciado?

E o povo brasileiro, o que é que ele deve comemorar, já que futebol é que não será? A metade das obras que lhe foi entregue ou o dobro do preço das obras inteiras que ele pagou e vai continuar pagando por décadas a fio, com juros e correção monetária?

Reza 1Que as festas brasileiras são as melhores do mundo não é novidade. Que a nossa permissividade ampla, geral e irrestrita é uma delícia para umas férias de 15 dias, idem. Mas nesta hora em que os 57 mil soldados do exército ― um para cada brasileiro assassinado na rua no ano passado ― vão voltar para os quartéis, nós é que vamos continuar tendo de criar nossos filhos no meio do tiroteio das feiras livres de drogas e da libertinagem geral. Os alemães vão voltar pra casa e criar os deles naquela chatice da paz, da abundância, da boa educação e dos melhores serviços públicos do mundo, que vigoram lá onde eles vivem.

No dia seguinte ao do Mineiratzen, diante da boa vontade geral com que o Brasil recebeu a «matemática criativa» do Felipão a nos provar que aqueles 7 x 1 não foram nada e que o time estava indo muito bem, fiquei sinceramente com medo que ele acabasse ganhando um ministério do PT. Vieram a calhar, portanto, os 3 x 0 da Holanda, para nos livrar de vez de mais essa bizarrice acachapante neste país onde nada rende mais dividendos que um bom e velho «malfeito».

A terrível ameaça de que a Dilma e o Aldo Rebelo façam pelo futebol brasileiro o mesmo que o PT e o PC do B têm feito pela nossa economia e pela credibilidade do futuro do Brasil com as suas sucessivas «intervenções» pode, entretanto, ter aumentado com mais essa pá de cal. Dado que não há mesmo como exorcizar a ameaça, pelo menos até o resultado da próxima eleição, só resta mesmo rezar.

No que diz respeito ao desempenho da Seleção, a explicação reside nas duas diferentes maneiras de rezar. Os alemães e os holandeses são daquela religião em que a reza é o trabalho. Eles acreditam que Deus só ajuda quem se ajuda e que o paraíso se conquista pelo tanto que cada um consegue, dando o melhor de si, acrescentar à obra coletiva.

Heroi 1Já nós somos daquela religião que acredita que, sendo isto aqui um vale de lágrimas onde só rola o que Deus manda independentemente do que façamos, cada um pode fazer o que quiser, inclusive ― e principalmente ― viver fora da regra de Deus. No fim das contas, já que Ele é o culpado de tudo, nós já estamos previamente perdoados. Falta apenas saber quantas ave-marias teremos de rezar com todo o fervor na hora H para zerar a conta ― e para conseguir que a intervenção divina nos desobrigue de colher aquilo que plantamos. E para que pães e gols, por milagre, se multipliquem.

Essa diferença faz pelo futebol o mesmo que faz pelo PIB de cada um de nós. A menos que apareça um «salvador da pátria» que, em si mesmo, já seja um milagre ambulante ― como já tivemos tantos ― e que conceda a graça de desvincular a colheita da semeadura. Sem que seja preciso nem mesmo rezar.

Só que desta vez não deu.

(*) Fernão Lara Mesquita é jornalista. Edita o site http://vespeiro.com/

Lá vêm os holandeses

José Horta Manzano

Aqui na Europa, principalmente nos países mais quentes, a chegada da primavera é anunciada pelo alongamento dos dias, pelo chilrear dos passarinhos, pelas folhas que brotam dos troncos nus das árvores e… pela chegada dos holandeses.

Caramujo 2Todos os europeus dão grande valor à chegada dos dias de sol e calor. É compreensível. Após 7 ou 8 meses de frio, vento, neve, gelo, chuva e céu cinzento, o sol é recebido com reverência.

É costume tirar férias no período que vai de maio a setembro. Quem estiver com a carteira mais recheada toma um avião e embarca para algum destino longínquo, tipo Tailândia ou República Dominicana. Volta com munição para fazer vizinhos babarem de inveja. Quem estiver menos abonado escolhe um pacote para Malhorca ou para a Turquia. O sol e o calor são garantidos e acaba saindo mais em conta.

Por alguma razão que desconheço, os simpáticos holandeses têm especial predileção por deslocar-se com a casa nas costas, feito caramujo. De maio a setembro, as estradas europeias ficam coalhadas de veículos que servem de meio de transporte e de casa ao mesmo tempo. Conforme a língua, têm nome diferente: trailer, motor-home, caravane, camping car, remolque, Wohnwagen, camper. Os portugueses costumam dar-lhe o sugestivo nome de casa móvel.

Caravane 1É incrível como país tão pequeno consegue exportar tantos viajantes, cada um com a família no trailer. Vêm quase todos para o sul: França, Itália, Espanha, Portugal, Grécia, Croácia. São simpáticos, os holandeses. Povo alegre, exuberante, daqueles que falam alto, riem muito, são bons copos em qualquer reunião. Gente alta, corpulenta e extrovertida.

Acampamento holandês

Acampamento holandês

Dizem as más línguas que os comerciantes não os apreciam particularmente. É que parece que, tirando a água e o pão, já trazem todos os mantimentos de casa. Assim, não apresentam grande interesse para quitandeiros, feirantes e hoteleiros. Não posso confirmar, estou-lhe vendendo o peixe pelo preço que paguei.

Fiquei surpreso quando soube que um grupo de bravos batavos(1) havia atravessado o Atlântico para se estabelecer temporariamente em São Paulo a fim de trazer apoio à seleção holandesa de futebol. Ainda mais surpreendido fiquei quando soube que a onda laranja(2) havia montado acampamento à beira da Represa Guarapiranga, nas cercanias da cidade. Acampar em São Paulo!

Enfim, cada um tem direito de armar sua barraca onde bem lhe aprouver. Isso tudo deixa uma certeza: vão faltar alguns holandeses nas estradas europeias este verão.Interligne 18c

(1) Batavo é o outro nome que se dá aos holandeses. Quem quiser variar pode usar também neerlandeses.

(2) Sabe por que o uniforme deles é cor de laranja? Porque os soberanos dos Países Baixos pertencem à dinastia de Orange-Nassau. A origem do nome Orange é bem antiga e tem a ver com a cidadezinha de mesmo nome, situada no sul da França. Mas essa já é uma outra história. Entre orange e laranja, ninguém duvidou: a cor tornou-se símbolo do país. E tingiu o uniforme dos jogadores.

De menor

José Horta Manzano

Artigo publicado pelo Correio Braziliense em 5 abril 2014

Atividades criminosas ocorrem em qualquer lugar do mundo. Em nosso país, infelizmente, sua frequência tende a ser mais elevada do que a média mundial. Refiro-me a todos os comportamentos que se enquadram no Código Penal, desde roubo de maçã até assassinato, passando por todo tipo de assalto ao erário. O volume exagerado de malfeitos tem poder anestesiante. A gente acaba nem prestando mais a atenção que deveria.

by José Bello da Silva Jr, desenhista mineiro

by José Bello da Silva Jr, desenhista mineiro

Crimes particularmente odiosos têm, ainda assim, o poder de sacudir a opinião pública. Quando algum feito escabroso é obra de um menor de idade, uma grita costuma se levantar para pedir que seja adiantada a idade da maioridade penal.

É o que acontece estes dias. Na sequência de crime excepcionalmente abjecto cometido por um menor de idade, o legislativo prevê desengavetar e levar a votação, ainda este mês, projeto de adiantamento da maioridade penal. A proposta é baixar o limite, em casos específicos, de 18 para 16 anos de idade.

A mim, me parece que o assunto é complexo demais para ser tratado a vassouradas. Comoção nacional não é boa conselheira. Decisão tomada na hora do abalo, sob o impacto de forte emoção, periga não ser a mais adequada. A problema complexo, solução ajuizada e bem arquitetada.

Para começar, há que encarar uma questão que roça a filosofia: que objetivo se persegue ao determinar que seja tolhida ou limitada a liberdade do criminoso condenado? Fazemos isso por simples castigo ou por vingança? Interessa à sociedade tentar a reeducação do delinquente? Ou será que procuramos simplesmente banir a ovelha negra para evitar que a contaminação se alastre aos demais cidadãos?

Basilar, essa reflexão extravasa amplamente dos limites do parlamento. Merece ser confiada a uma comissão de sábios, que inclua gente do ramo e gente de bom-senso. Antes de definir a razão pela qual mandamos o transgressor para trás das grades, não faz sentido discutir idade.

A fixação da idade a partir da qual as leis penais são aplicáveis é assunto espinhoso. Nem países europeus, que já uniformizaram longa fieira de procedimentos em variados campos, enxergam essa matéria de maneira homogênea. Na falta de acordo, cada qual procede a seu modo.

Nosso Código Penal talha a questão de modo exageradamente brusco, sem grande sutileza: a barreira que separa o adolescente do adulto cai, abrupta, no dia em que o cidadão completa seus dezoito anos. À meia-noite, mais precisamente.

Crédito: sigoendireitando.blogspot

Crédito: sigoendireitando.blogspot

Ora, sabemos todos que o amadurecimento não acontece, como por milagre, de um dia para o outro. Ninguém vai dormir criança para, de manhã, acordar adulto. O processo de desenvolvimento do indivíduo é gradual. E como tal deveria ser encarado. Quando não se sabe que caminho tomar, não há que envergonhar-se. Tomar decisões no escuro será ainda pior. Melhor mesmo é baixar a crista e tomar o pulso em outros países. Quem sabe outros povos já não terão encontrado soluções que nos possam ser úteis?

A fixação da maioridade penal está longe de ser universal. É controversa e varia de país a país. Na Suíça, a idade a partir da qual o indivíduo pode ser considerado penalmente responsável é de 7 anos. Na Inglaterra, de 10 anos. Na Holanda, de 12 anos. Na França, de 13 anos. Na Alemanha e na Itália, de 14 anos. Na Bélgica e na Espanha, de 16 – sendo que, neste último país, está em estudo a redução para 13 anos. Em vista do volume crescente de crimes graves cometidos por adolescentes, a Alemanha e a Bélgica tencionam baixar o limite da responsabilidade penal para 12 anos.

A alteração que está sendo proposta no Brasil, de 18 para 16 anos, não vai, por si, conter a violência. Vai – isso sim – contribuir para a superlotação das prisões, que são por muitos consideradas verdadeiras escolas do crime.

Num país onde o ministro da Justiça – aquele que tem a faca, o queijo, o pão e a manteiga na mão – já chegou a declarar que «preferia morrer» caso tivesse de cumprir alguns anos em prisão brasileira, a idade em que o indivíduo atinge a maioridade penal é de importância secundária. Nenhuma reforma do sistema será eficaz se não incluir reformulação total do universo prisional. Do porão ao telhado. País rico é país sem miséria carcerária.

A fanfarrice e suas consequências

José Horta Manzano

Imaginemos que um país sério decida promover uma ofensiva comercial. Para nosso exemplo, façamos de conta que o país que quer aumentar suas vendas seja a Alemanha, o Japão, o Canadá, a Nova Zelândia, a Holanda, tanto faz.

A receita é sempre a mesma: no embalo de um evento qualquer ― uma feira comercial, uma visita presidencial, um simpósio ― uma comitiva de grandes empresários acompanha um figurão agregador. O pivô em torno do qual gravitam os homens de negócios pode ser um capitão da indústria, um ministro ou até um chefe de Estado.

No caso que me preparo a comentar, a figura agregadora era justamente a presidente de nossa República. Na brecha aberta pela sessão anual da ONU, dona Dilma se fez acompanhar por seu ministro da Fazenda e por uma revoada de empresários.

Um editorial do Estadão de 26 set° nos revela ― e Patrícia Campos Mello nos confirma na Folha de São Paulo de 27 set° ― que o grupo gastou seu tempo martelando, como numa litania, que o Brasil costuma respeitar contratos.

The Economist conceituada revista britânica

The Economist
À esquerda, edição de nov° 2009                                                            À direita, edição de set° 2013

Alguém em sã consciência poderia jamais imaginar um grupo de empresários alemães, japoneses, canadenses, neozelandeses ou holandeses declamando uma tal ladainha? Não precisa, ça va de soi, é uma evidência.

Que nosso grupo de empresários se tenha sentido na obrigação de reafirmar com tanta veemência que o Brasil é um país sério é mau sinal. A necessidade tão premente que o capitão de indústria sente de dar garantias prévias ao investidor denuncia um clima de desconfiança. Ninguém quer aplicar seu dinheiro em empreitada duvidosa.

Visto do estrangeiro, o Brasil não é o mesmo. Para o investidor externo, muitos dos grandes acontecimentos nacionais passam em branco. O mensalão simplesmente não existe na mídia internacional. Engorda a conta da corrupção endêmica do País, já conhecida por todos. Disputas partidárias, mais médicos ou menos médicos, asilo de senador boliviano & outros temas que nos parecem transcendentes simplesmente não são noticiados. Não interessam a aplicadores estrangeiros.

Já os caminhos políticos, sim, são observados com lupa e analisados com minúcia. A inserção de nosso país no conjunto das nações importa. O governo de dona Dilma está pagando por um pecado que não cometeu. E todos nós, de tabela, entramos na dança. Essa desconfiança com relação ao Brasil planta suas raízes na ingênua e desastrada política exterior levada a efeito por nosso messias e sua veneranda equipe.

O presidente que antecedeu dona Dilma abraçou Chávez, confraternizou com os irmãos Castro, estendeu tapete vermelho para Ahmadinejad, distribuiu afagos a sanguinários ditadores africanos, chamou Kadafi de irmão, intrometeu-se na política interna de Honduras, concedeu asilo a um terrorista condenado pela justiça italiana, atropelou grandes potências ao tentar impor um xeque-mate mal alinhavado no Oriente Médio. Esse rosário de fracassos deixa a impressão de que o Brasil é governado por gente presunçosa, conquanto ingenua e ignorante.

Como conquistar o investidor estrangeiro segundo Amarildo Lima

Como conquistar o investidor estrangeiro
segundo Amarildo Lima

São fatos que permanecem na memória dos que controlam os grandes fluxos de capitais. No Brasil os descalabros se sucedem vertiginosamente. O escândalo de hoje empurra o de ontem para o esquecimento. Já quem olha de fora usa outros óculos e não costuma acreditar em duendes. A mais recente edição da celebrada revista The Economist veio de encomenda para reforçar a reticência de investidores já hesitantes.

Se eu tivesse alguns milhões e estivesse procurando um país para aplicar meu capital, dificilmente escolheria o Brasil. Quando se trata de dinheiro grosso, pouco importa o nome do país. O investidor quer, antes de tudo, segurança. Se o retorno for bom, melhor ainda.