José Horta Manzano
Rapidez de raciocínio não é a qualidade mais notável do capitão. Sua capacidade de percepção global de uma situação também não é lá essas coisas. Assim mesmo, ele ainda consegue nos surpreender.
Ontem, foi questionado sobre o desaparecimento na selva de um jornalista estrangeiro e de um sertanista brasileiro. Soltou a seguinte frase: “Realmente, duas pessoas apenas num barco, numa região daquela completamente selvagem é uma aventura que não é recomendada que se faça (sic)”.
E o principal veio em seguida:
“Pode ser acidente, pode ser que tenham sido executados”.
Não é comum ouvir um presidente confessar com candura que, no país por ele governado, há regiões sem lei, onde cidadãos perigam “ser executados” assim, sem mais nem menos. Repare que ele não disse “assassinados”, mas “executados”.
Tirando o fato (já conhecido) de ele se exprimir em linguagem de miliciano, é surpreendente o capitão não se dar conta de que sua fala é confissão de fracasso.
De fato, tirando regiões em estado de guerra como a Síria ou o Iêmen, nenhum dirigente diria coisa desse tipo. Nem que fosse verdade.
Fica a desagradável impressão de que o governo não controla parte do território nacional.
Ou, pior ainda: que, tendo recebido informações confidenciais sobre o acontecido, o presidente as está sonegando ao distinto público.
Há ainda uma última (e terrível) hipótese: a de que a ordem de “execução” tenha emanado das mais altas esferas do poder. Mas seria tão absurdo, que prefiro nem falar nisso.
Observação
Não se espera de um presidente da República que emita comentários pessoais sobre o maior ou menor perigo que indivíduos tenham decidido enfrentar.
Neste momento de preocupação nacional, cabe a ele tranquilizar a população e assegurar que está “pessoalmente empenhado” em descobrir rapidamente o paradeiro dos desaparecidos.
Pode até ser blá-blá-blá, mas é o que se espera de um dirigente.