TPI – Complemento

Aerolula atual

José Horta Manzano

Este texto dá sequência ao post anterior.

A fala idiota de Luiz Inácio provocou um tsunami que varreu todas as chancelarias do planeta. Nosso Lula nacional continua ignorando o alcance de suas palavras. Pela sem-cerimônia com que se exprime, ele parece achar que, como nos tempos do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, seu discurso morre na porta da fábrica. Hoje, com ele presidente, não é mais assim.

Logo depois de se exprimir, todo pimpão, diante das câmeras da tevê indiana, deve ter ouvido reprimenda de horrorizados assessores. Dá pra imaginar o diálogo.

Assessor
Não, Lula! Você não podia dizer que o Pútin não será preso se botar o pé no Brasil!

Lula
Mas por quê? Ele não está na lista vermelha da Interpol, que eu saiba.

Assessor
Não, na lista da Interpol não está. Mas tem ordem de prisão do TPI contra ele.

Lula
TPI? Que que isso? É coisa dos americanos?

Assessor
Não, Lula, não é criação americana. É um tratado internacional de cooperação judicial. O Brasil e mais 120 países assinaram faz 20 anos. Os americanos nem fazem parte. Nem a China nem a Rússia.

Lula
Como é que é? Então é engodo? Só bagrinhos assinaram? Por que que nós temos que respeitar uma ordem se os grandes não respeitam? Aí tem coisa. Semana que vem vamos dar uma estudada nesse tratado daí. Dá pra anular?

Assessor
Acho que vai ser difícil, Lula. Anular um tratado com assinatura de 120 países? Não vai ser possível.

Lula
Não, estúpido! Eu quis dizer anular a participação do Brasil! Sair do tratado.

Assessor
Possível sim, mas acho que vai pegar mal pra caramba.

Lula
Semana que vem nós damos uma olhada.

Enquanto semana que vem não chega, um Lula envelhecido e cada vez mais voluntarioso quer porque quer um avião mais confortável, com cama de casal, chuveiro e escritório particular.

Digo “um Lula envelhecido” porque foi ele próprio quem decidiu pela compra do atual Aerolula, um Airbus modelo 319. Na época, longas viagens não lhe pesavam.

Sem dúvida, há modelos maiores e mais confortáveis. Só que um exemplar de segunda mão custa entre US$ 70 mi e US$ 90 mi. Em reais, dá quase meio bilhão.

É um valor considerável pra quem quer só um chuveiro e uma cama de casal…

TPI – Tribunal Penal Internacional

José Horta Manzano

Em 7 de junho de 2002, o Diário Oficial da União publicou o Decreto Legislativo n°112, pelo qual o Congresso Nacional ratificou a adesão do Brasil ao termos do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional. A partir de então, o Brasil é Estado Parte do Tribunal.

O Artigo 86 do Estatuto reza:
“Os Estados Partes deverão, em conformidade com o disposto no presente Estatuto, cooperar plenamente com o Tribunal no inquérito e no procedimento contra crimes da competência deste.”

O objetivo é evidente: um tratado desse teor só pode funcionar se todos os Estados Partes se comprometerem a cumpri-lo. Do contrário, não faria sentido. O Estatuto de Roma congrega hoje 123 Estados Partes. Alguns países preferiram não se comprometer – entre eles, alguns importantes: os EUA, a China, a Rússia.

Em março passado, o Tribunal Penal Internacional emitiu ordem de prisão contra o cidadão Vladímir Valadímirovitch Pútin, presidente da Federação Russa. É coisa séria. Todos os Estados que assinaram o Estatuto têm o compromisso de cumprir a ordem. Não é à toa que Pútin declinou o convite para comparecer à reunião do Brics na África do Sul. Foi avisado que, caso desembarcasse no território sul-africano, poderia acabar preso.


Frase 1
”O que eu posso dizer é que, se eu sou o presidente do Brasil e ele for para o Brasil, não há por que ele ser preso”


Foi o que Lula da Silva declarou no sábado, todo sorrisos, em entrevista a um canal indiano de informação, quando lhe perguntaram se Pútin será preso se for ao Rio de Janeiro para a reunião 2024 do G20. E não parou por aí. Lula garantiu que vai mesmo convidar Pútin para o encontro. E completou seu pensamento:


Frase 2
“Ninguém vai desrespeitar o Brasil, porque tentar prender ele no Brasil é desrespeitar o Brasil”


Análise da Frase 1
O discurso suscita alguma reflexão. Ao pronunciar a Frase 1, Luiz Inácio mostra que acredita ser dono do país. Ele se faz de bobo, como se não conhecesse as atribuições do presidente da República. Vivemos numa democracia em que cada um dos Poderes é autônomo. “Mandar prender” não é assunto da quitanda dele. E ele sabe disso perfeitamente.

Ao se pronunciar assim, Lula deixa em ouvidos estrangeiros a convicção de que o Brasil vive sob um regime de republiqueta de bananas, em que o líder máximo detém poder absoluto sobre todas as instituições. É ele que “manda prender” ou “manda soltar”.

Ao agir dessa maneira, Luiz Inácio faz um desfavor a si mesmo e ao país inteiro. Está agindo como um certo capitão que o antecedeu, aquele que passou quatro anos tentando escantear as instituições. Lula entra de sola em paróquia alheia, o que nunca é muito bom.

Ao anunciar que, em caso de visita do russo, passará por cima da autoridade do TPI (Tribunal Penal Internacional), Luiz Inácio deixa claro que considera seu juízo melhor que o do próprio Tribunal. Os juízes da Haia (Holanda) lançaram mandado de prisão contra um indivíduo, mas Lulinha paz e amor resolveu estufar o peito e dar guarida ao procurado pela justiça.

Com essa ideia escrachada – um triste repeteco do caso Cesare Battisti –, Lula informa que o Brasil continua sendo um país acolhedor para fugitivos da justiça, mas pouco confiável no geral, visto não respeita nem a própria assinatura em tratados internacionais.

Análise da Frase 2
“Tentar prender ele no Brasil é desrespeitar o Brasil”. Como é que é? A princípio, achei que Lula quisesse dizer que o Brasil deixaria de ser um país de respeito se prendesse o ditador russo. Achei até que a ideia trazia um propósito patriótico, de um presidente preocupado com a imagem do país.

Só que não era isso. Ao reler, me dei conta de que Luiz Inácio não parece ter ideia do que seja um mandado de prisão internacional. As palavras que ele pronunciou mostram que ele teme que “alguém” (uzamericânu?) vá prender Putin em território brasileiro, o que seria “desrespeitar o Brasil”.

É urgente que alguém avise ao presidente que o temor dele é infundado. Nenhum comando armado até os dentes vai singrar as águas da Baía de Guanabara no mormaço noturno, todos vestidos de preto, para sequestrar o ditador russo e despachá-lo para a Holanda. Não é assim que costuma funcionar.

Conclusão
Por um lado, Lula acredita que “alguém” pode abduzir o visitante e fazê-lo desembarcar diante dos magistrados do TPI. Por outro, o mesmo Lula garante que o ditador russo pode vir tranquilo, que nada lhe acontecerá.

Ora, se a ameaça de sequestro vem de fora, Lula não tem como garantir a integridade física do visitante.

Enquanto isso, Pútin, que não é ingênuo e sabe os perigos que corre, não irá rever os encantos de nossa terra tropical. E será melhor assim.

Tribunal Penal Internacional

José Horta Manzano

É curioso que certas notícias envolvendo interesses brasileiros circulem somente na mídia estrangeira. Pela rádio pública francesa, fiquei sabendo de uma denúncia criminal contra Jair Bolsonaro, oferecida estes dias ao Tribunal Penal Internacional (TPI). Os autores são indígenas brasileiros de etnias amazônicas. Entre eles, está o conhecido cacique Raoni.

A base da acusação são alegados crimes ambientais e genocídio dos autóctones. O único veículo brasileiro que deu a informação foi o portal Pública. A denúncia tem 69 páginas e está muito bem documentada. Uma cópia confidencial do texto completo, traduzido para o português, está aqui.

Não se sabe ainda se a demanda será aceita pelo TPI. Se for, doutor Bolsonaro tem de começar a se preocupar. Não imagino que venham colhê-lo dentro do Palácio do Planalto para confiná-lo nas masmorras de Haia (Holanda). Enquanto for presidente, corre outros perigos, mas não este.

No entanto, assim que deixar o cargo, que tome cuidado. Livre de viajar dentro do país mas não lá fora, estará na esdrúxula situação dos que têm muito dinheiro mas só podem se locomover dentro do próprio país, como é o caso de Paulo Maluf. É que, se for dançar um tango em Buenos Aires ou andar de xícara na Disneylândia, periga ser detido e despachado para o TPI. Vai acabar provando do mesmo prato que já foi servido a outros antigos presidentes – Lula e Temer.

Reparem que, no Brasil, uma temporada (longa ou curta) na prisão está se tornando passagem obrigatória no ritual pós-presidencial. Dilma escapou por pouco. Bolsonaro só vai escapar por milagre.