José Horta Manzano
Brasileiros em geral e cariocas em particular ainda hão de passar anos a lamentar-se por ter hospedado os Jogos Olímpicos de 2016. Do «legado» prometido pelos medalhões, ninguém sabe. E ninguém viu. Não beneficiou nem esportistas, nem os demais habitantes. A chegada de turistas não aumentou. Ficou a desagradável sensação de enormes somas terem sido atiradas pela janela.
Eu disse pela janela? Pois alguns espertalhões deviam estar esperando do outro lado com as mãos abertas. Alguns desvios foram descobertos, mas sabemos que eles são apenas a ponta do iceberg. O grosso da roubalheira, por desgraça, não virá jamais a público. Restam-nos os olhos pra chorar.
Como sabe o distinto leitor, os JOs de verão alternam com os de inverno. Quanto a estes últimos, a edição de 2014 foi realizada na cidade russa de Sôtchi ‒ justamente onde está atualmente hospedada nossa seleção de futebol. A de 2018 teve lugar em Pyeongchang (Coreia do Sul) e a próxima já foi atribuída a Pequim.
Faz alguns anos que o cantão suíço do Valais está em efervescência com a ideia de apresentar candidatura para os Jogos de 2026. Muitos fatores são favoráveis ‒ afinal, faz quase oitenta anos que a Suíça recebeu os JOs de inverno pela última vez. A infraestrutura está praticamente pronta, só faltando ajeitar um detalhe aqui, outro ali.
A realização do evento foi orçada em cem milhões de dólares. O governo federal garantiu cobrir boa parte. Só faltava perguntar ao povo se estava de acordo ‒ um detalhe sem importância no Brasil, mas primordial na Suíça. O plebiscito ocorreu ontem, 10 de junho. Por maioria de 54%, o povo recusou acolher os JOs de 2026.
Para o comitê de organização foi um golpe. Mas que remédio? Na Suíça, quem manda é o povo. A razão mais invocada para a recusa foi o gasto previsto. Os cidadãos acreditam que esses cem milhões poderão ser empregados em alguma coisa mais útil. Não botam fé em «legado» dos Jogos, que isso é balela pra enganar povo e engordar corrupto.
Não há como não lhes dar razão.