Maduro e o script

by Patrick Chappate (1964-), desenhista suíço

José Horta Manzano

A reunião de dirigentes sul-americanos desta terça-feira em Brasília está dando que falar. Já li um punhado de análises que especulam qual seria o objetivo de juntar em torno da mesa uma dezena de figurões de nosso subcontinente.

Como está – um conciliábulo de um único dia sem pauta específica – lembra um grupo de vizinhos reunidos para se conhecerem melhor, em torno de uma mesinha de centro com café e bolo. Vão conversar do quê? Se nada ficou combinado antes, só pode sair fofoca.

Há quem acredite que é isso mesmo: uma confraternização entre coproprietários, celebrada no apartamento mais espaçoso do prédio, sem maiores pretensões. Quem ganha é o ego do proprietário dessa cobertura, orgulhoso de mostrar sua estupenda vivenda aos vizinhos.

Já outros veem na reunião uma estratégia do governo Lula para proclamar ao mundo que o Brasil voltou – no sentido de potência regional. Para melhor representar seu papel de chefe, está mostrando que tem trânsito livre e que conversa com todos os países das redondezas.

Há quem veja um plano ainda mais ousado. Lula estaria afirmando ao mundo que é o Brasil quem manda no pedaço, antes que intrusos como China e Rússia façam por aqui o têm feito na África, ao implantar feudos e colônias.

Quanto a mim, penso que há razão em todos os argumentos citados. Creio que a cúpula tenha sido bolada com múltiplas finalidades. Não deixa de ser confraternização entre vizinhos. Mas é também afirmação da influência do Brasil no seu entorno. E ainda mostra os músculos, no esforço de barrar veleidades de neocolonialismo chinês e russo.

A ideia é boa. Dá alívio ver que o Itamaraty está revivendo, depois de ter passado encolhido durante o calamitoso quadriênio bolsonárico. Dá satisfação perceber que ainda há cabeças pensantes nos altos círculos da República, inteligências geopolíticas que tinham sido caladas na gestão anterior.

Até aqui, tudo são flores. Agora é que vem a hora de a onça beber água, ou seja, o momento em que, ao entrar em campo, a teoria vira prática.

O tema de convidar (ou não) Maduro há de ter sido objeto de discussão no Itamaraty e na Presidência. Se não o convidasse, o Brasil daria a impressão de não ter relações fluidas com toda a vizinhança. Não era o que Brasília queria. Se o convidasse, o Brasil mostraria que fala com todo o mundo, regimes de esquerda e de direita, ainda que a Venezuela, no conceito planetário, seja vista como ditadura.

Já conhecemos o fim da história: Caracas foi convidada. Só que o comitê de organização do encontro teve a ideia bizarra de tirar Señor Maduro da naftalina e fazê-lo vir um dia antes dos demais. O resultado foi que o ditador venezuelano, sozinho, único sobre o palco, abafou e foi o centro das atenções, com todos os holofotes sobre sua cabeça. Observado pela mídia estrangeira, foi a vedete do dia.

Na verdade, a presença de Maduro esvaziou a importância da reunião. A meu ver, apartar Maduro dos demais dirigentes não foi boa ideia. No final, passou a imagem de que o Brasil tem especial apreço pela ditadura do vizinho. O amparo dado ao autocrata vizinho é tão grande, que ele teve direito a uma homenagem exclusiva de um dia inteiro.

Como nada é perfeito, o comitê de organização se esqueceu de recomendar a Lula da Silva que não saísse do script e que não soltasse frases de improviso. O ímpeto de estrela de nosso presidente foi mais forte. Não se ateve ao discurso preparado, mas deu opiniões desastrosas em assunto sério e ultrassensível.

Deu a entender que, se a Venezuela está no buraco é por culpa das sanções econômicas dos EUA. (O argumento é falso, visto que o país já estava de pires na mão nos tempos de Hugo Chávez, quando não havia sanção nenhuma.)

Sugeriu ao ditador que inventasse uma narrativa que seja só dele e que sirva de contra-argumento para combater a difusão da informação sobre a verdadeira realidade da Venezuela.

Não deu um pio sobre presos políticos, oposição perseguida, imprensa calada à força, fome generalizada, milhões de cidadãos que têm fugido do país nos últimos anos.

Quem teve a ideia da cúpula não deve ter apreciado nadinha essas incômodas entorses ao roteiro traçado. Esses deslizes acabaram desvirtuando a causa e mostrando um Brasil conivente com o pior regime da América do Sul na atualidade.

Ninguém é incontrolável. Deve ser difícil refrear os ímpetos do antigo sindicalista que virou presidente, mas impossível não é. Está faltando quem lhe mostre que, se continuar a tirar pitacos do bolso da camisa, Lula vai continuar arruinando os melhores planos da diplomacia brasileira.

Já fez isso no G7, está fazendo agora e vai continuar a fazer.

Arruaceiros de lá e de cá

José Horta Manzano

Aconteceu em maio de 2003. A Cúpula Anual do G8 estava para realizar-se na cidade francesa de Evian, estação de águas à beira do Lago Leman, localidade bastante turística. A reunião de líderes dos países mais importantes incluía a Rússia conduzida por um Putin que ainda não tinha mostrado seu lado B. Só depois da anexação da Crimeia é que a Rússia seria expulsa e o bloco passaria a chamar-se G7.

Durante os três dias da Cúpula, a cidadezinha de Evian estaria totalmente isolada do mundo, com entradas e saídas rigorosamente controladas por militares armados vindos da França inteira. Só habitantes e visitantes credenciados teriam o direito de entrar. Helicópteros e drones sobrevoariam a localidade. Afinal, eram figurões os que se reuniriam: Jacques Chirac, Vladimir Putin, Silvio Berlusconi, George W. Bush, Tony Blair & alia.

Grupos de jovens, que se autodefiniam como “anti G8”, preparavam manifestações pacíficas. A sabedoria popular, que não costuma falhar, afirma que “é conversando que a gente se entende”. É por isso que até hoje não consegui captar o objetivo daqueles manifestantes que viam com maus olhos o diálogo entre líderes. Será que preferiam que eles se estapeassem ou botassem tanques nas ruas?

Na impossibilidade de penetrar em Evian, onde se realizava a Cúpula, os jovens idealistas escolheram manifestar-se em Genebra (Suíça), cidade bem maior, situada a uns 50 km de distância, à beira do mesmo lago. Os manifestantes marcaram passeatas para os três dias de duração da cimeira. Eram marchas simbólicas com cartazes, megafone e palavras de ordem. Acreditavam que, quando aparecessem nas manchetes e no jornal da tevê, sua visão “anti G8” tocaria corações mundo afora.

Mas nenhuma felicidade é perfeita nem eterna. Grupos de arruaceiros, ao tomar conhecimento das passeatas, sentiram que era chegado o momento de armar um bom quebra-quebra em Genebra. Desordeiros vieram até do estrangeiro – havia alemães, franceses, austríacos, italianos – todos armados de tacos de beisebol e coquetéis Molotov. Um primor.

Vários comerciantes genebrinos, sabedores de que estava para chegar uma horda de agitadores violentos, protegeram a vitrina com tapumes de madeira. Mas nem todos tomaram essa providência. Genebra é uma cidade grandinha, impossível de ser trancada. O fato é que os baderneiros se instalaram na cidade.

Já na véspera da abertura da Cúpula, os profissionais do quebra-quebra entraram em ação. Aproveitaram do escuro da noite para agir. Encapuzados e mascarados, quebraram vitrines, incendiaram lojas, destruíram mobiliário urbano. Foi uma noite de caos. A polícia não pôde fazer muito. Os arruaceiros sempre escolhem agir em campo descoberto, de onde possam escapar rapidamente; nunca se arriscam a jogar bomba em beco sem saída.

E assim continuaram pelas noites seguintes. Hotéis foram atacados e restaurantes McDonald’s, depredados. Os agressores são desocupados sem ideologia: vêm de longe e destroem pelo simples prazer de destruir. Assim que a reunião do G8 terminou, desapareceram. E nunca mais se ouviu falar deles.

Outro dia, em Brasília, quando nosso presidente eleito foi diplomado, arruaceiros tupiniquins decidiram agir. Aproveitando que um punhado de apóstolos do bolsonarismo ainda acampa nas ruas choramingando por um milagre, vestiram-se de amarelo e promoveram uma noite de horror.

Me fizeram lembrar de Genebra 2003 – com eficácia menor, porém. Agiram em campo aberto: posto de gasolina, viaduto, esplanada diante de instituições. São lugares de onde se pode escapar rápido, caso a situação aperte.

A população vê, nesses agressores, bolsonaristas enfurecidos. Já os bolsonaristas acreditam que os autores do quebra-quebra sejam petistas infiltrados.

É difícil dizer com certeza, mas não é impossível que tenham sido agitadores compulsivos, que não precisam necessariamente ser remunerados. Destroem pelo prazer de destruir – o que não os impede de ter preferências políticas. Quais são? Só Deus sabe.

Encontro bilateral

Villa La Grange (Genebra) e seu parque
Sede do encontro histórico

José Horta Manzano

Em 1917, a cidade de Genebra, na Suíça, recebeu uma herança valiosa. Monsieur William Favre, riquíssimo habitante, legou à cidade uma propriedade familiar que consistia em uma enorme mansão, grande como um palácio, plantada em meio a um parque de 200 mil m2, área equivalente a 30 campos de futebol. Tudo isso situado às portas da cidade.

A propriedade tem sido utilizada como parque público, aberto para a visitação. Em raras ocasiões, o château é sede de algum evento excepcional. É o que vai ocorrer amanhã, quarta-feira 16 de junho de 2021. Uma cúpula reunindo Joe Biden e Vladimir Putin terá lugar no local.

Pra se ter uma ideia da raridade desses encontros bilaterais, o último que ocorreu entre dirigentes dos dois países teve lugar também em Genebra, no longínquo ano de 1985. Na época, Ronald Reagan havia se encontrado com Mikhail Gorbatchov.

Que ninguém espere grandes resultados do encontro de amanhã. Não será hora e meia de tête-à-tête que há de iluminar o caminho do planeta. O importante desses eventos é o lado simbólico. Com a crescente importância da China no cenário mundial, a Rússia – potência militar de primeira linha – está se tornando o trunfo que tanto chineses quanto americanos gostariam de ter a seu lado. Ciente disso, Putin deve estar adorando a paquera, que fortalece sua imagem.

Faz duas semanas que milhares de pessoas trabalham sem descanso, cada um nas suas atribuições, pra que tudo dê certo amanhã. É um batalhão de gente, operários, especialistas em logística, seguranças, mecânicos, eletricistas, cozinheiros, motoristas, militares, policiais. Por seu lado, o exército suíço deslocou 1000 homens em dedicação exclusiva. Centenas de policiais de Genebra participam, e boa parte da cidade está interditada ao tráfego. Com o espaço aéreo fechado, o aeroporto está sofrendo perturbação. Há atiradores de elite encarapitados nos prédios e homens armados com metralhadora por toda parte. A gente não se dá conta do desafio logístico que representa um deslocamento do presidente americano. É impressionante.

Como eu dizia, não se deve ter ilusões. Em geral, grandes decisões não são tomadas nesses encontros, mas nos bastidores. O encontro vale mais pela imagem que fica. Conversar é sempre melhor do que arreganhar os dentes, cada qual no seu canto.

Efeito Bolsonaro

Cúpula do G7: foto de família em modo distanciamento social

José Horta Manzano

O status de “potência emergente” que o planeta atribuía ao Brasil até pouco anos atrás murchou feito pastel de vento depois da primeira mordida. A pandemia tem parte nisso, mas não é a única responsável. A danada afetou o mundo todo, não só nosso país. Se demos um passo atrás por causa dela, todos também deram. Portanto, empatou. Essa desculpa é furada. Atualmente, a grande diferença, o principal fator que alarga a distância entre nós e o mundo mundo civilizado tem nome: é Jair Bolsonaro.

Nossas instituições – Congresso, Forças Armadas, Poder Judiciário – vêm aceitando flacidamente o extravio presidencial, cada dia mais evidente. Por seu lado, o povo continua anestesiado, a discutir o número exato de motocicletas que participaram da última motociclata patrocinada pelo capitão. Fora de nossas fronteiras, em terras em que o peso de palavras e atos segue outra escala, a história é diferente.

Pouco divulgada no Brasil, teve lugar no fim de semana passado a cúpula anual do G7. Os grandes deste mundo se reuniram – presencialmente! –  de 11 a 13 de junho numa estância balneária do sul da Inglaterra. Pra se ter uma ideia da importância do encontro, note-se que é a primeira viagem de Joe Biden ao exterior desde que assumiu a Presidência.

A última cúpula do G7 realizada em caráter presencial tinha sido a de Biarritz (França), em agosto de 2019. Na ocasião, a zombaria que Bolsonaro acabava de fazer com relação à aparência física da primeira-dama francesa tinha sido posta à mesa pelo presidente Macron e abundantemente comentada pelos participantes estupefatos.

Tradicionalmente, nas cúpulas do G7, o anfitrião tem o direito de convidar dirigentes de outros países, que vêm na qualidade de observadores. Nesta edição, Boris Johnson, o dono da casa, resolveu convidar a Índia, a África do Sul, a Coreia do Sul e a Austrália. Honrados, todos aceitaram o convite. O distinto leitor há de ter reparado que, à exceção da China e da Rússia, que não são considerados países democráticos, o Brics inteiro foi chamado pra fazer a festa. Faltou o Brasil. É que, graças ao trabalho incansável do capitão, nosso país passou a fazer parte dos empestados, aqueles que ninguém quer ver por perto.

Tem avançado a ideia de reformar o G7 e transformá-lo no D10, um clube com as dez principais democracias. Índia, Coreia do Sul e até Austrália são cotados para entrar na agremiação. Nosso país, apesar de ter peso econômico maior do que os futuros integrantes, não aparece entre eles. De fato, não passaria pela cabeça dos integrantes do G7 convidar o Brasil de Bolsonaro. Quando se sabe que um país pode causar dor de cabeça, ele é posto na geladeira. Ninguém abre a porta de casa para sujeito encrenqueiro.

Como se sabe, nosso país não é uma ilha nem está situado no planeta Marte. Estamos com os pés fincados na velha e boa Terra, e daqui não há meio de sair. Os vizinhos que temos – próximos e distantes – são o que são, não temos escolha. São eles que compram o que produzimos em excesso; é deles que compramos aquilo que não colhemos nem produzimos. Não somos autossuficientes, sequer em produção de alimentos. Portanto, não é possível dar uma banana pro mundo, como faz nosso capitão, e esperar que, em troca, nos mandem beijinhos. Amor, com amor se paga.

Reparem que, com Bolsonaro no poder, já começamos a ser discriminados. As portas fechadas do D10 são apenas um aperitivo, uma amostra das sanções que nos esperam. São só o comecinho.

Chapéu na mão

José Horta Manzano

Em 2019, assim que assumiu a Presidência, Bolsonaro se indispôs com meio mundo. Nas relações exteriores, brigou com vizinhos e com todos os países amigos – com exceção dos EUA de Trump.

Aconselhado pelos luminares que o cercam, o capitão cuspiu em cima das doações milionárias da Alemanha e da Noruega, destinadas à preservação da Amazônia brasileira. Ofendido, deu a entender que o Brasil tinha como ponto de honra a manutenção da própria soberania. O recado passado ao mundo foi o de que não precisávamos nem desejávamos dinheiro de ninguém. Éramos crescidinhos e suficientemente fortes para cuidar de nosso território nós mesmos, sem interferência nem participação externa.

Para esta semana, Joe Biden convocou uma cúpula sobre o clima, com a participação de 40 líderes planetários. Bolsonaro está sendo esperado. Em contradição total com a arrogância de dois anos atrás, nosso “mito” fará uma apresentação humilde e indigente. Anunciou que pretende entrar de chapéu na mão, pedindo esmola. Deverá apresentar a chantagem que o Planalto preparou para confrontar o resto do mundo: ou me dão 10 bilhões de dólares por ano, ou a Amazônia brasileira vai continuar minguando até desaparecer. Se assim procederem, nossas autoridades vão transmitir a imagem de um Brasil empobrecido mas sempre vigarista. Como todas as iniciativas do governo atual, esta também é fruto de burrice entranhada. É impressionante como falta inteligência àquele pessoal.

Por certo não estão se dando conta de que a proposta é confissão pública e definitiva de impotência. A chantagem tupiniquim vai escancarar a realidade e dar razão aos que sugerem a internacionalização da floresta tropical. De ora em diante, todos saberão que, sem ajuda externa, o Brasil não tem condições de cuidar do próprio território.

Fica mais uma vez comprovado que os repentes de patriotismo bolsonárico não passam de patriotadas para a galeria. Na hora do vamos ver, é rabo entre as pernas e pires na mão.

Três indícios e uma hipótese

José Horta Manzano

O que escrevo aqui abaixo não é fake news. É pura suposição minha, que não deve ser tomada por verdade bíblica. O distinto leitor é livre de discordar.

Primeiro indício
Faz menos de uma semana, os dirigentes dos países do G20 se reuniram numa cúpula especial realizada por videoconferência. Como é natural, a conversa não foi pública; o que sabemos é o que filtrou do Planalto.

Devido ao grande número de participantes e ao tempo exíguo, cada dirigente que quis se manifestar teve poucos minutos. No tempo que lhe coube, doutor Bolsonaro preconizou que a proteção da saúde ande de mãos dadas com a preservação dos empregos, o que é uma evidência. Até aí, ninguém discordou.

O resto de seu tempo, nosso presidente gastou tecendo elogios a uma substância farmacêutica chamada hidroxicloroquina, vendida no Brasil sob a marca comercial de Plaquinol. Segundo o doutor, o remédio – desenvolvido para tratar paludismo e poliartrite crônica evolutiva – é tiro e queda pra curar covid-19. É fácil imaginar a surpresa dos demais dirigentes. É que as palavras do doutor cairiam bem na boca de um representante farmacêutico; vindas do presidente do Brasil, soam esquisitas.

Segundo indício
Doutor Bolsonaro diz ter sido testado duas vezes pra descobrir se estava infectado pelo coronavírus. Afirma que, nas duas vezes, o teste deu negativo. Jornalistas reclamaram a prova do teste. O hospital, que deve ter sido pressionado pela Presidência, negou-se a mostrar papel assinado.

Terceiro indício
Domingo passado, doutor Bolsonaro saiu a passeio por bairros de Brasília para atirar-se nos braços de admiradores e «ouvir o que o povo quer». Mostrou não estar nem um pouco preocupado com contágio, nem ativo, nem passivo.

Hipótese
Juntando os três indícios, é possível formular uma hipótese. Doutor Bolsonaro teria sido contagiado pelo vírus, exatamente como Wajngarten, o general Heleno e mais uma vintena de assessores. Assim que sintomas leves apareceram, ele fez o teste. Deu positivo. Aceitou, então, conselho para medicar-se com Plaquinol. Como acontece na maioria dos casos de infecção pelo novo coronavírus, os sintomas foram leves e desapareceram após dois ou três dias. Os sintomas teriam desaparecido espontaneamente, mas o presidente atribuiu a cura milagrosa ao remédio que havia tomado.

Se verdadeira, minha hipótese explica:

• por que Bolsonaro usou o tempo de palavra no G20 pra elogiar uma molécula cujo efeito contra o coronavírus ainda não está acertado. O remédio é perigoso: tem mais de 30 efeitos secundários potenciais. Só poderá (ou não) ser indicado para combate ao vírus ao fim de estudo específico e sério.

• por que Bolsonaro se negou a mostrar o resultado do teste em papel assinado pelos diretores do hospital.

• por que Bolsonaro continua a sair por aí, a se jogar nos braços do povo, a circular como se não houvesse epidemia.

• por que Bolsonaro se gaba de seu passado de atleta ter driblado a doença: sou forte, pulo no esgoto e nada me acontece.

• por que Bolsonaro nega a gravidade da covid-19 e continua a fazer força pra desconfinar os confinados.

Até atitudes aparentemente irracionais, como as de nosso presidente, têm explicação. Difícil é encontrá-la.

Aqui é meu lugar

José Horta Manzano

Semana passada, comemoraram-se os cem anos do fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Para a ocasião, o governo francês providenciou cerimônia solene. A França, palco principal do sanguinário conflito, foi um dos países que mais sofreram naqueles anos sombrios.

Dirigentes de mais de setenta países acudiram ao convite e acorreram a Paris. Ao pé do Arco do Triunfo, entre dezenas de outros, estavam Trump, Putin, Merkel, Netanyahu. Procurei, na foto de família que se costuma tirar nessas ocasiões, nosso presidente. Perda de tempo. Ele não se dignou de comparecer. Apesar de o Brasil ter atuado nessa guerra ao lado dos aliados ‒ numa participação modesta mas ativa ‒, doutor Temer não julgou necessário estar presente de corpo.

Tampouco a ocasião de manter colóquio informal com algum colega dirigente motivou nosso cansado presidente. Doutor Temer, aprecie ou não, ainda tem mês e meio pela frente na chefia do Executivo. Está sendo pago pra isso.

Nestes dias, tem lugar, na capital da Guatemala, a Cúpula Ibero-Americana 2018, encontro dos dirigentes dos países ibéricos e latino-americanos. Com exclusão dos EUA, não precisa nem dizer. A intenção dos participantes é encontrar solução para desviar o planeta do destino trágico ao qual está condenado caso nacionalismos e regionalismos continuem a vicejar. Observo uma curiosa contradição: organiza-se uma cúpula regional, que exclui todo forasteiro, no intuito de denunciar e condenar regionalismos.

Doutor Temer, que não deu o ar da graça em Paris, embarcou dia 15 de novembro para Guatemala City. Tinha encontro marcado com o rei da Espanha ‒ figura politicamente decorativa ‒ e com o dirigente do Principado de Andorra. Estava previsto também um encontro reservado com o anfitrião, o presidente da Guatemala. São todos colóquios de primeira grandeza, como se vê.

Doutor Temer mantém-se fiel à doutrina da diplomacia Sul-Sul, instaurada por seus antecessores. Afinal, não se deve esquecer de que ele foi eleito na chapa de Dilma Rousseff. O passado deixa marcas.

Sexta-feira 13

José Horta Manzano

Hoje é sexta-feira 13. Para uns, é dia de jogar na loteria ou fazer uma fezinha na Paratodos. Para outros, é dia de tomar cuidado ao sair de casa. Os mais exagerados preferem nem pôr os pés na rua. E se calha de cruzar com um gato preto? É azar garantido por sete anos. Te esconjuro!

Não sei se por sorte ou azar, temos hoje nova presidente da República. Não se trata da ressureição da doutora de triste memória, felizmente. Quem está hoje no trono é a discreta ministra Cármen Lúcia, do STF. Em realidade, ela é a quarta na linha sucessória da presidência. Só assume por estarem ausentes do país os três precedentes.

O primeiro sucessor é o próprio doutor Temer, que se tornou presidente permanente desde a destituição da doutora. O segundo é doutor Maia, presidente da Câmara. O terceiro é doutor Eunício Oliveira, presidente do Senado. Por razões que lhes são próprias, todos os três estão fora do país. Eis por que dona Cármen Lúcia é nossa presidente por um ou dois dias.

Ao embarcar para o exterior, doutor Temer entregou o poder a dona Cármen. Em princípio, ele vai levar a voz do Brasil à reunião de cúpula que terá lugar em Lima, no Peru. Só que a situação é grotesca. O bom senso ensina que é impossível ser e não ser ao mesmo tempo. Ora, a partir do instante em que entregou o poder a dona Cármen, doutor Temer deixou de ser presidente do Brasil. Quem vai à reunião de Lima é o cidadão Temer que, embora seja figura conhecida, não é o presidente da República. Trata-se de um usurpador. Bizarro, não?

O instituto da vice-presidência é uma excrescência, uma reminiscência que já devia ter sido abandonada há tempos. Fazia sentido no passado, quando uma viagem ao exterior do imperador ou do presidente podia levar semanas ou meses, período durante o qual o viajante ficava incomunicável. Hoje, com o avanço tecnológico, nenhuma viagem interfere no exercício da função. O presidente, ainda que esteja do outro lado do globo, dispõe das mesmas facilidades de que disporia se estivesse no gabinete.

As funções do vice-presidente estão vagamente estipuladas no Artigo 79 da Constituição. Diz lá que o vice «auxiliará o presidente, sempre que por ele convocado para missões especiais». Mais vago, impossível. O vice, portanto, não tem função definida a não ser ficar, como urubu, à espreita da vacância do cargo maior. Apesar de não ter deveres nem obrigações, goza de todas as (caríssimas) benesses do cargo: um palácio só pra ele com a respectiva principesca mordomia.

Assim que baixar a poeira que atualmente estagna sobre a Praça dos Três Poderes, seria bom começar a pensar na eliminação do inútil cargo de vice-presidente. E do de vice-governador. E também vice-prefeito. É tão simples: na vacância do cargo principal, convoca-se nova eleição e estamos resolvidos.

Se não tivéssemos tido vice quando a doutora foi apeada, três meses mais tarde teríamos elegido novo presidente e muitos problemas teriam sido evitados.

Fórum mundial e mundano

José Horta Manzano

Depois de um mês de neve e tempo fechado, o sol finalmente saiu hoje em Davos, Suíça. Três metros de flocos brancos caíram desde o Natal. Com o peso, a espessa camada de neve vai-se comprimindo, mas assim mesmo ainda mede um metro e setenta. Pra nenhum cartão de boas-festas botar defeito.

Paisagem branca com sol e céu azul é um encanto. A recepção aos participantes da 48a. edição do WEF (Fórum Econômico Mundial), que se abre hoje, promete ser grandiosa. Os setenta chefes de Estado e/ou de governo que devem circular pelo vilarejo esta semana tiveram sorte com o tempo. Não estão sozinhos, os figurões. Três mil personalidades públicas de 110 países e os dirigentes das maiores empresas do planeta também estão por lá para participar de 400 sessões de debates. Sem contar a imprensa e os numerosos assessores.

O contraste entre a população residente da acanhada cidadezinha e os visitantes que retornam a cada janeiro é surpreendente. O vilarejo tem apenas doze mil habitantes fixos. Na época do fórum, seus hotéis recebem quarenta mil hóspedes, uma enormidade. Pelo espaço de cinco dias, torna-se o lugar onde todos querem ver e ser vistos.

Davos, Suíça ‒ altitude: 1600m

Com tanta gente importante reunida num lugar só, não se brinca com a segurança. Manifestações e passeatas são terminantemente proibidas. Uma zona de exclusão aérea com raio de 46km foi determinada. (Ela inclui trechos do território de quatro países.) As ruas e os telhados estão coalhados de militares armados e atiradores de elite. Militares e policiais da Suíça inteira foram convocados em reforço. Sem esquecer os dirigentes de grandes países, como os EUA, que mandam dezenas de agentes de segurança.

Cúpulas de G7, G8, G20, Brics & assemelhados são mais vistosas, com foto de turma e reuniões de todos os participantes ao mesmo tempo. Mas são menos frutíferas que o fórum de Davos. Na cidadezinha suíça, são incontáveis os encontros informais entre dirigentes e figurões. Às vezes a solução para problemas cabeludos nasce mais facilmente numa conversa em torno de um chocolate quente do que com discursos inflamados diante de plateia que aplaude. É isso que faz a força de Davos, um fórum que, além de mundial, está-se tornando cada dia mais mundano.

Depois de dezoito anos de ausência, um presidente americano estará presente. Bill Clinton foi o último a comparecer, em 2000. Donald Trump está sendo aguardado com curiosidade. Imprevisível que é, consegue surpreender ‒ e escandalizar ‒ quando menos se espera. Outro que deve sobressair é Monsieur Macron, o presidente da França, rapaz jovem (40 anos) que se está tornando uma espécie de «presidente informal da Europa».

Há quem se insurja contra essas manifestações. Não é meu caso. Continuo acreditando no velho adágio: “É conversando que a gente se entende”.

Integração furada

José Horta Manzano

Pela 51a. vez, os líderes do Mercosul se encontraram em reunião de cúpula. Realizada desta vez em Brasília, a cimeira se propunha a avaliar o balanço do período de gestão temporária exercida pelo Brasil e para entregar a batuta ao presidente paraguaio, cujo país presidirá o bloco pela próxima temporada.

Engana-se quem imaginar que esses encontros se realizem em comitê restrito, a portas fechadas, com a presença apenas dos quatro presidentes mais um ou dois assessores. Membros do Mercosul e Estados associados se fazem acompanhar por alentada comitiva. A enorme sala de reuniões do Itamaraty dá justinho pra acomodar a tropa toda.

Cúpula do Mercosul, 20-21 dez° 2017

Como sói acontecer, o volumoso número de participantes está na razão inversa dos resultados. Trocam-se amabilidades, tiram-se fotos de família, assinam-se documentos preparados com grande antecedência, e vamos ficando por aí. Resoluções, no duro, não se tomam. Querem a prova?

A cúpula se desenrolou dias 20 e 21 de dezembro. Por coincidência, a ONU tinha marcado para 21 de dezembro o voto de uma resolução de repúdio à decisão dos EUA de reconhecer em Jerusalém a capital de Israel. Embora o resultado do voto não tenha o poder de fazer os EUA voltarem atrás, reveste-se de alto simbolismo. Evidencia a rejeição a uma decisão que contraria jurisprudência da própria ONU.

Como eu, o distinto leitor há de ter imaginado que a data não podia cair melhor. O fato de os quatro presidentes do Mercosul estarem reunidos ‒ e rodeados de dezenas de assessores ‒ favoreceu um entendimento a fim de todos votarem uniformemente, certo? Errado!

Mostrando mais uma vez que não tem vocação para se inserir nos negócios do mundo, o Mercosul fez cara de paisagem. Não ocorreu a ninguém combinar um voto homogêneo. A debandada foi vexaminosa: Brasil e Uruguai votaram a favor da moção, enquanto Argentina e Paraguai se abstiveram.

Pega mal. Um bloco que não consegue nem pôr os próprios membros de acordo num voto simbólico na ONU não pode ser levado a sério pelo resto do planeta. Quem é que lhe vai dar crédito?

Se nem isso conseguem, por que insistir em levar adiante esse arremedo de organização regional? Depois de um quarto de século e 51 reuniões de cúpula, o que é que sobra? Se espremer, não sai muito caldo. Melhor seria que acabassem com esse circo e que cada um seguisse seu caminho. Daria mais certo.

Nota
Só para constar, o resultado final do voto de condenação à atitude americana de reconhecer Jerusalém como capital de Israel foi o seguinte:

A favor:    128 países
Contra:       9 países
Abstenções:  35 países

Basílica de Aparecida

José Horta Manzano

Você sabia?

Este ano, celebrou-se o terceiro centenário do achado da estatueta da Virgem que viria a se tornar padroeira do Brasil. A basílica erigida em Aparecida (SP) ‒ que, com 18 mil metros quadrados de área, é o maior santuário mariano do mundo ‒ levou anos se preparando para a ocasião.

Na previsão das festividades de 2017, o artista plástico brasileiro Cláudio Pastro, hoje falecido, foi incumbido de idealizar a decoração da cúpula do templo. De sua prancheta, saíram 14 mil folhas com os planos detalhados dos mosaicos da obra grandiosa. Afinal, eram 2 mil metros quadrados de superfície a revestir com uma infinidade de pecinhas de poucos centímetros cada uma.

Região do Friúli, Itália

Em 2012, a encomenda foi passada a uma firma italiana especializada no ramo, a Friul Mosaic, localizada entre Veneza e Trieste, na região do Friúli. Essa região fica no nordeste do país e faz fronteira com a Áustria e a antiga Iugoslávia (hoje Eslovênia). O empreendimento exigiu trabalho de oito pessoas, em tempo integral, durante cinco anos. Só a confecção dos mosaicos consumiu 12 mil horas.

Orgulhosa, a firma concedeu entrevista ao portal local Il Friuli. Os dirigentes garantem que as peças ‒ mosaicos de esmalte e ouro ‒ são genuinamente italianas, todas produzidas em Veneza.

Quando se olha de relance, não se imagina quanto trabalho está por detrás de uma obra desse porte. Estão aqui abaixo algumas fotos mostrando a montagem e o trabalho terminado.

Basílica de Aparecida
Revestimento da cúpula

Basílica de Aparecida
Detalhe dos mosaicos da cúpula

Basílica de Aparecida
Revestimento de mosaicos

Basílica de Aparecida
Vista geral da cúpula

 

Atrás da fachada, nada

José Horta Manzano

Estes dias realizou-se em Hamburgo uma cúpula do G20, com participação dos países mais importantes. Os olhos do mundo inteiro estiveram cravados no acontecimento. Estávamos todos na expectativa de como seria o primeiro encontro entre Donald Trump e Vladimir Putin. Jornalistas mediram a duração do aperto de mãos entre os dois, estimando até a intensidade e a força muscular. Escrutaram o sorriso compartilhado, beberam as palavras da declaração de cada um. Quanta bobagem…

Foto de família do G20 de Hamburgo, 2017
A posição de cada um depende do tempo durante o qual vêm ocupando o cargo. Reparem que o recém-eleito Macron está na ponta, quase fora da foto.

Esse clube de parceiros díspares não tem a vocação nem a pretensão de influir no destino do planeta. Cada membro tem interesses próprios, que não necessariamente se ajustam aos dos parceiros. Além de mostrarem um PIB elevado, o que é que há em comum entre uma Argentina, uma Turquia, uma Indonésia, uma Austrália? Brasil, Arábia Saudita e Índia também integram a patota. E daí?

Na escola, todos nós já tiramos fotos de turma. Passado algum tempo, a gente revê os retratos e mal se lembra do nome dos colegas. Brics, G7, G8, G20 & congêneres dão ocasião para magníficas fotos de grupo. Todos sorriem, alinhados, perfilados, às vezes acenando, uma beleza. No entanto, ao fim e ao cabo, o que restam são as fotos e um comunicado final suficientemente vago e vazio de significado. Satisfaz a todos mas não resolve o problema de ninguém.

G20 de Hamburgo, 2017
Loja vandalizada

As verdadeiras tratativas entre países não se fazem à luz dos flashes. Grandes decisões são tomadas nos bastidores, independentemente de reuniões que servem apenas para atazanar a vida dos moradores da cidade que as hospeda. Estes dias, Hamburgo está em pé de guerra. Baderneiros profissionais vêm de longe, do estrangeiro, percorrem quilômetros com a única intenção de quebrar vitrinas, saquear, incendiar e semear pânico.

Alguém acredita que Trump e Putin já não tenham estado em contacto, bem antes da cúpula, talvez até antes da eleição presidencial americana? Alguém esperava que, por milagre de Santo Antônio, senhor Trump fosse mudar de ideia e realinhar-se com o compromisso de diminuir a emissão de gases que aumentam o efeito estufa? Alguém supunha que, num gesto de desprendimento, senhor Putin fosse abandonar a Crimeia e cedê-la à Ucrânia?

G20 de Hamburgo, 2017
Fim de festa

Não, senhores. Cimeiras desse tipo são o substitutivo atual do pão e do circo com que se brindavam os habitantes da Roma antiga. Distraem o povo, nada mais. Ainda por cima, custam verdadeira fortuna. Cada país envia alentada comitiva. São centenas, talvez milhares de pessoas que se empenham para que a festa pareça um sucesso. Melhor seria evitar esse desperdício e doar o dinheiro para mitigar o sofrimento de populações que morrem de fome na África e alhures.

Fugiu de medo

José Horta Manzano

Este último fim de semana, importante reunião de cúpula do Mercosul teve lugar na capital paraguaia. Como se sabe, porém, grandes decisões costumam ser acertadas em reuniões de corredor e de sala de café, dificilmente em encontro de chefes de Estado.

Mercosul 5Cúpula solene, com aquela imensa mesa retangular ao redor da qual se sentam mais de cem pessoas, com todo aquele aparato, aquelas reverências, aqueles convidados ilustres, não é lugar propício para discussões. Cada figurão já vem com discurso pronto, escrito, burilado, ensaiado. Não há surpresa, a atmosfera é modorrenta.

Desta vez, no entanto, havia expectativa de ebulição. Señor Macri, recém-empossado presidente da Argentina, já havia deixado claro que cobraria de señor Maduro, presidente da Venezuela, mudança radical de atitude com relação à democracia em geral e a presos políticos em particular.

Mercosul 6Receoso de passar vergonha em público, ainda por cima em terra estrangeira, Maduro renunciou à viagem na última hora. Dilma, Mauricio Macri (Argentina), Tabaré Vazquez (Uruguai) e Horacio Cartes (Paraguai) ‒ os chefes de Estado do Mercosul ‒ estavam lá. Até Michèle Bachelet, presidente do Chile, compareceu. A deserção do brutamontes venezuelano foi gritante e pegou pra lá de mal.

De pouco adiantou ter fugido. Cumprindo o que havia prometido, Macri balançou o coreto ao pedir publicamente «por la pronta liberación de los presos políticos en Venezuela». Para enfatizar seu pensamento, acrescentou que «no puede haber lugar para la persecución política por razones ideológicas ni la privación ilegítima de la libertad por pensar distinto». Mais claro, impossível. Dona Dilma deve ter engolido em seco.

Como se sabe, não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe. O castigado povo argentino, finalmente, começa a avistar luz no fim do túnel. Ainda vai demorar pra chegar lá, mas estão em boas mãos. Resta-nos a esperança de que os bons (e novos) ares de Buenos Aires soprem em nossa direção e nos ajudem a livrar-nos dos miasmas que nos sufocam.

O lado folclórico da cúpula ficou por conta de dona Dilma. Apesar de pronunciar discurso já escrito e de estar sendo atentamente vigiada pelo inefável assessor Marco Aurélio «top-top» Garcia, tropeçou.

Na intenção de prestar homenagem ao Paraguai, país que organizava a reunião, declarou: «O povo e o governo brasileiros têm, pelo povo e pelo governo uruguaio (sic), uma grande amizade.» Desculpou-se em seguida, mas o mal estava feito.

Senhora Rousseff acrescentou uma pérola a seu (já extenso) rosário.

Interligne 18h

PS: Notei que nenhum dos participantes se servia de fone de ouvido, daqueles que costumam transmitir tradução simultânea. Cada um falava sua língua e os outros que se virassem. Fico aqui a me perguntar até que ponto dona Dilma terá entendido o que diziam os hermanos. E, principalmente, até que ponto os hermanos terão entendido a fala claudicante de dona Dilma.