José Horta Manzano
Bandeira Brasil
Bandeira nacional (ou supranacional) não é estandarte de escola de samba nem flâmula de time de futebol. É péssima ideia pôr nela desenhos complexos, miúdos, detalhados. É igualmente ruim escrever palavras, frases, lemas – tudo o que exigir leitura. Bandeira não funciona como logo de empresa.
A bandeira ideal tem de ser reconhecível de longe, no meio de outras. Até uma criança deverá ser capaz de identificá-la. Terá desenho simples e cores definidas. É importante que os elementos sejam dispostos de forma simétrica, para fazer que ela possa ser vista dos dois lados. Em resumo, tem de ter personalidade.
Nossa bandeira verde-amarela peca em alguns desses pontos. Traz palavras escritas, o que não é recomendado. Essas palavras, que são o lema da nação, continuam tão incompreensíveis e tão distantes da realidade como eram 130 anos atrás, quando foram inscritas ali. Representam o presente a louvar ou o ideal a perseguir? Sabemos todos que nosso presente não é o reino da ordem e do progresso. Sabemos também que, no passo atual, esses ideais se situam cada vez mais afastados de nossa realidade. Portanto, se não passa de abstração, esse lema nem devia figurar no símbolo da nação.
Além dessas considerações filosóficas, resta um fato concreto: a bandeira brasileira não poder ser vista dos dois lados. Olhando pelo avesso, as palavras aparecem invertidas. Devido a essas letras, mas também à faixa e às estrelas dispostas assimetricamente, ela tem frente e verso. Pra ser vista corretamente de ambos os lados quando ondula ao vento atada a um mastro, é preciso costurar duas bandeiras uma de costas para a outra, o que não é muito prático.
Bandeira Mercosul
Fundado há exatos 30 anos, o Mercosul sempre esbarrou em lutas políticas que pouco ou nada tinham a ver com o comércio. Embora não devesse ser assim, a simpatia (ou antipatia) entre governantes de turno tem condicionado as relações entre os países-membros. Como exemplo, temos a inclusão da Venezuela, que entrou pela janela, na esteira de um golpe urdido pelo PT da doutora Dilma.
O passo atravessado do Mercosul já começou na hora de dar nome ao mercado comum. O espanhol e o português, principais idiomas da região, têm a vantagem de serem muito semelhantes. Pois não é que, apesar de termos enorme quantidade de palavras em comum, foram escolher justamente uma que difere nas duas línguas? De fato, nosso Sul se diz Sur em espanhol. Vai daí, a associação tem dois nomes, um para cada língua: Mercosur para eles, Mercosul para nós. Um ‘nós x eles’ deslocado no tempo e no espaço.
É pena. Podiam ter escolhido Mercoaustral, por exemplo. Ou qualquer outra palavra, existente ou inventada. Tremenda falta de imaginação.
Para piorar, resolveram inscrever o nome na bandeira. Como resultado, temos hoje duas diferentes versões da mesma bandeira, uma para cada língua, numa demonstração explícita de desunião e desentendimento entre membros. Exatamente o oposto do que se queria construir. Já imaginaram uma bandeira da Europa com a expressão União Europeia inscrita nas 24 línguas oficiais da organização?
Como é que se diz insensatez nas nossas duas línguas irmãs?