José Horta Manzano
A finalidade principal deste blogue não é, definitivamente, tratar de assuntos de religião. Especular sobre o resultado da escolha que os cardeais farão no próximo conclave seria como dar palpite em briga alheia.
Parece que nem todo o mundo pensa como eu. Alguns continuam imaginando que o próximo papa tem de estar sintonizado com a situação declinante do catolicismo no Brasil, que tem de levar em conta nossa situação «emergente», que não pode ignorar o fato de que concentramos o maior número de católicos declarados.
Aos que pensam assim, eu gostaria de dizer que:
1°) Ao assumir seu encargo, o papa ganha automaticamente a nacionalidade vaticana. Não há papa italiano, nem polonês, nem brasileiro, nem tadjique. São todos vaticanos. Ou vaticanenses, como preferirem. Os dicionaristas hesitam.
2°) O chefe supremo de uma Igreja não é escolhido necessariamente em função da comunidade mais numerosa entre as muitas que compõem seu rebanho. Pelo contrário. Se, no Brasil, a alternância e o contraditório tornaram-se noções fora de moda, continuam valendo em outras esferas e em outras partes do mundo.
3°) O papa não é o secretário-geral da Igreja Católica brasileira, mas o chefe supremo do catolicismo planetário. A população (que se diz) católica no Brasil, de 120 milhões de almas, não está muito à frente do número de fiéis americanos, filipinos, mexicanos.
4°) No Brasil, o número de pessoas que se declaram católicas vem decaindo dia após dia. O futuro papa pouco ou nada pode fazer contra essa debandada. Como também tem limitado poder contra a perseguição de cristãos na Índia, no Egito ou no Paquistão. Se os católicos abandonam a Igreja tradicional, não será por razões filosóficas nem teológicas. As causas do sangramento estão fora do alcance do poder papal.
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Cabe à cúpula da Igreja decidir em que direção quer avançar e, coerentemente, escolher o chefe mais bem sintonizado com o programa.
Podemos até nos considerar «emergentes», visto que latifundiários tupiniquins vendem atualmente muita soja e muito minério de ferro aos chineses. Ainda assim, não chegou a hora de nos atrevermos a pressionar os grandes eleitores de cúpulas religiosas.
Conclave não é reunião de diretoria de ong. Não se está a eleger o síndico de um condomínio.
Não quero botar mais gasolina nessa fogueira, mas mantenho a minha opinião de que o novo papa virá não de um país com o maior número de católicos (como o Brasil), mas muito provavelmente de um país com um número insignificante de fiéis da igreja católica. Continuo achando que o Vaticano está em busca de novos mercados ainda relativamente inexplorados e/ou de mercados em que a concorrência está mais enraizada. Eu apostaria num africano (o primeiro papa negro) ou num asiático.
Quem viver verá!
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A mim, cara Myrthes, pouco se me dá que o papa venha da Lapônia ou do Zimbábue. O que me chocou foi a manchete do artigo. Ela traz a visão de um prelado ― nem melhor nem pior que qualquer outro, frise-se ― declarando que “o Brasil quer”.
Não deleguei a esse senhor poderes para fazer pronunciamentos em meu nome. Que cuide de sua paróquia, e já estará de bom tamanho. Se fizesse questão de sobressair, que dissesse “eu quero”. Se preferisse dar mais um passo ainda, poderia até ter dito “para o Brasil, seria interessante se”.
Para dizer o mínimo, parece-me inconveniente que um indivíduo, que não foi designado por ninguém, se arrogue o privilégio de fazer declarações em nome do País inteiro. Ele é tão dono do País como você, eu ou qualquer um de nós.
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