Um é pouco, dois é bom

Dad Squarisi (*)

R$ 600 é muito, R$ 200 é pouco:
o porquê da concordância

A pandemia nos pegou de surpresa. Ceifou vidas e roubou empregos. Nada menos de 66 milhões de brasileiros ficaram sem salário e sem renda. O governo fez o que tinha de fazer — criou o auxílio emergencial de R$ 600. A ajuda, pra lá de bem-vinda, chega ao fim. Mas a crise sanitária continua.

E daí?
A saída é prorrogar o socorro. A equipe econômica disse que o país não aguenta manter o valor. Propôs reduzi-lo pra R$ 200. O Congresso bate pé nos R$ 600. Bolsonaro se opôs aos extremos: “R$ 600 é muito, 200 é pouco. Vamos ficar no meio-termo”.

A fala presidencial foi seguida de murmúrios. Não sobre montantes. Mas sobre a concordância: R$ 600 é muito, R$ 200 é pouco. O verbo no singular está correto? Está.

A manha
As locuções é muito, é pouco, é suficiente & cia. acompanhadas de especificação de quantidade, medida, preço, tempo e valor são invariáveis:

R$ 600 é muito.
R$ 200 é pouco.
Quinze anos é tanto tempo!
Dois quilos é pouco.
R$ 10 é suficiente.

(*) Dad Squarisi, formada pela UnB, é escritora. Tem especialização em Linguística e mestrado em Teoria da Literatura. É editorialista do Correio Braziliense e blogueira – Blog da Dad.

Implicar: regência

Dad Squarisi (*)

O verbo implicar tem três empregos. Em dois, ninguém tem dúvida. Na acepção de ter implicância, pede a preposição com:

• O diretor implicou com ele.

Na de comprometer, envolver, é a vez do em:

• A secretária implicou o chefe no escândalo.

A dúvida surge no significado de produzir consequência. Aí, implicar implica e complica. O verbo parece, mas não é. No sentido de acarretar consequências, o malandro é transitivo direto. Não suporta a preposição em:

• Autonomia também implica responsabilidade.

• Deflação implica recessão.

• Aumento da taxa de juros implica crescimento do deficit público.

(*) Dad Squarisi, formada pela UnB, é escritora. Tem especialização em Linguística e mestrado em Teoria da Literatura. É editorialista do Correio Braziliense e blogueira – Blog da Dad.

Ao nível de x em nível de

Dad Squarisi (*)

Ao nível de ou em nível de? Depende.

Ao nível de significa à altura de:

Recife fica ao nível do mar.
O cargo de Maria está ao nível de Luís.

Em nível de quer dizer no âmbito de:

Faço um curso em nível de pós-graduação.
A decisão foi tomada em nível de diretoria.
A ideia está em nível de projeto.

Nível

Cá entre nós: em nível de é dispensável. Como tudo que é dispensável, sobra. Livre-se dele. A frase ganha em concisão e elegância; veja:

Faço um curso de pós-graduação.
A decisão foi tomada pela diretoria.
O projeto ainda está no papel.

É isso. A língua é um sistema de possibilidades. Democrática, dá liberdade de escolha. Podemos dizer a mesma coisa de diferentes maneiras. A mais curta e enxuta ganha disparado. Fique com ela.

(*) Dad Squarisi, formada pela UnB, é escritora. Tem especialização em Linguística e mestrado em Teoria da Literatura. É editorialista do Correio Braziliense e blogueira – Blog da Dad.

Prostituta é professora?

Dad Squarisi (*)

O verbete está no dicionário. O Google o reproduz. Alguém consulta o significado da palavra professora. Ops! A tela mostra: “prostituta com quem adolescentes se iniciam na vida sexual”. Grupos se mobilizam no WhatsApp. Querem que o site da internet apague a acepção que ofende as mestras.

Internautas emitem opinião. A maior parte dos comentários fala em injustiça, machismo, desconsideração com a classe, contribuição para aumentar o sofrimento das maltratadas profissionais. Etc. e tal. Não faltou quem comparasse o feminino com o masculino. Aí, a revolta aumentou. Na definição de professor, não se encontra nenhuma acepção negativa.

Revolta semelhante ocorreu há 20 anos. Lúcia Carvalho, então presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, consultou o verbete mulher, no Aurélio. Encontrou 15 vocábulos sinônimos de meretriz. Entre eles, mulher-dama, mulher da rótula, mulher da rua, mulher da vida, mulher da zona, mulher de amor, mulher do mundo.

Dicionário Houaiss

E homem? No pai de todos nós, injustamente chamado pai dos burros, só aparecem significados positivos. Ela comparou homem da rua com mulher da rua. Ele é homem do povo. Ela, meretriz. E homem do mundo e mulher do mundo? Ele é homem de sociedade; ela, prostituta. A indignação da deputada foi tal que os protestos chegaram aos ouvidos de Jô Soares. O Gordo a convidou para o Programa do Jô. Ela foi. E daí?

O Aurélio, o Houaiss & cia. lexical são machistas? Devem ser condenados por registrar professora como prostituta? Ou por tratar tão desigualmente mulher e homem? Não. O dicionário é inocente. Ele sofre de incurável falta de criatividade. Incapaz de inventar, só anota as acepções que frequentam a boca dos falantes. Machista, discriminatória, injusta etc. e tal é a sociedade. O paizão repete o que ouve. É papagaio encadernado.

(*) Dad Squarisi, formada pela UnB, é escritora. Tem especialização em Linguística e mestrado em Teoria da Literatura. É editorialista do Correio Braziliense e blogueira – Blog da Dad.

Pisa: nota vermelha

Dad Squarisi (*)

“Subdesenvolvimento não se improvisa. Cultiva-se.” A frase, repetida com fina ironia por Roberto Campos, se ajusta à educação brasileira. O desempenho no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) mostrou, mais uma vez, que o Brasil não conseguiu quitar a dívida referente à qualidade do ensino. No ranking com 79 países, continua na fila de trás.

Aplicado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) a cada três anos, o Pisa avalia estudantes de 15 anos. O resultado divulgado na segunda-feira reprisou fotografia de corpo inteiro de adolescentes brasileiros cuja altura se mantém. Enquanto isso, os colegas de outros países não só crescem, mas também tomam hormônio para ultrapassar os demais.

É dramática a situação da leitura. Embora tenha havido pequena oscilação para cima, quatro em cada 10 jovens são analfabetos letrados. O paradoxo se explica: eles são aprovados nos testes das séries em que estão matriculados, mas mostram-se sem aptidão para identificar a ideia central de um texto e de estabelecer a relação entre as ideias.

Não só. Nesta edição, o Pisa entrou no terreno bastante contemporâneo das fake news. Testou a habilidade de distinguir fato de opinião e de avaliar a veracidade do que se afirma. Dos 17.500 brasileiros, só 2% se saíram bem contra 10% das demais nacionalidades. Em português claro: vítimas do sistema educacional são presas fáceis de falsas promessas e políticos inescrupulosos.

A deficiência na compreensão de texto contamina as demais disciplinas. Quase metade dos rapazes e moças que frequentam salas de aula não conseguem ler gráficos, resolver problemas simples (com números inteiros) e compreender experiências científicas elementares. A razão: sem dominar enunciados, como entender as questões propostas?

O 54º lugar no ranking da leitura tem parcela de responsabilidade no 66º lugar de ciência e no 70º lugar em matemática. Estar no andar de baixo não constitui novidade. O Brasil nunca deu um salto de qualidade. Entre 2000 e 2010, porém, chamou a atenção o avanço em matemática. Mas mudanças na política educacional sem critérios técnicos emperraram o processo.

O Ministério da Educação, atolado em questiúnculas que em nada contribuem para melhorar a qualidade do ensino, revela-se incapaz de dar resposta ao maior desafio do país — universalizar o acesso ao conhecimento. Há duas décadas, com atraso em relação às demais nações, o Brasil matriculou todas as crianças na escola.

Mas estacionou na caminhada. A inércia tem preço. Condena o país ao subdesenvolvimento e à pobreza. Sem capital humano apto a ombrear com os players internacionais, imobilizamos a inovação e perdemos competitividade. Em suma: caminhamos a passos largos para a irrelevância.

(*) Dad Squarisi, formada pela UnB, é escritora. Tem especialização em Linguística e mestrado em Teoria da Literatura. É editorialista do Correio Braziliense e blogueira – Blog da Dad.

Senão ou se não? Depende

Dad Squarisi (*)

A questão surgiu no fechamento do jornal. A frase na qual apareceu a dúvida era esta: o ministro não teve alternativa… ops! senão ou se não pedir demissão? Palpites não faltaram. O que faltou foi certeza. A saída? Pesquisar. Eis o resultado:

Se não
Use separado quando:

a) puder substituí-lo por caso não: Se não chover (caso não), vamos viajar de carro. Levará falta se não (caso não) for à aula. A declaração deve dizer tudo. Se não (caso não), precisa ser revista.

b) equivaler a quando não: Pareciam amigos, se não (quando não) bons companheiros. O desafio é, se não (quando não) de solução impossível, pelo menos muito difícil. Se lhe convém, leva o trabalho a sério; se não (quando não), leva-o na brincadeira. A empresa vai demitir quatro empregados, se não (quando não) cinco.

c) for conjunção integrante. Aí, é moleza. Ninguém erra: O pai quer saber se não é melhor o filho estudar de manhã. O governador perguntou se não era possível adiar a votação do projeto. Ele se questionou se não era preferível viajar de carro.

Senão
Use coladinho nos demais casos:

Nada lhe restava senão (a não ser) a aposentadoria. O deputado não é senão (mais do que) um representante do povo. Não fazia nada senão (a não ser) chorar. Isto não compete à Câmara, senão (mas) ao governador. Não há beleza sem senão (defeito). Não lhe restava alternativa senão (a não ser) pedir demissão.

Resumo da ópera
O senão rouba pontos, promoções e prestígio. Olho vivo! Entenda as manhas do danadinho. Se não, você engordará as estatísticas de vítimas. Valha-nos, Deus!

(*) Dad Squarisi, formada pela UnB, é escritora. Tem especialização em Linguística e mestrado em Teoria da Literatura. Edita o Blog da Dad.

Arroba

Dad Squarisi (*)

José Sarney lançou a moda. “Brasileiras e brasileiros”, saudava ele. As mulheres acharam a novidade simpática. O SBT aproveitou a onda. Pôs no ar a novela com o mesmo bordão. A partir daí, distinguir o gênero deixou de ser gesto de simpatia. Virou obrigação. “Meus amigos e minhas amigas”, dizia FHC. “Senhoras deputadas e senhores deputados”, cumprimentam Suas Excelências.

De obrigação, passou a obsessão. “Convidamos os presentes e as presentes para o coquetel”, dizem os mestres de cerimônia. “Os estudantes e as estudantes devem usar uniforme”, avisa a escola. “Senhor Paulo Silva e senhora Maria Silva”, substituiu nos convites a consagrada fórmula “Senhor e senhora Paulo Silva”.

Inovações correm soltas. “Car@s amig@s” escrevem enlouquecidos que decretaram o fim do gênero na língua. “Pessoas e pessoos”, escreveu o Millôr. “Povo e pova”, conclamou o Verissimo. “Humanidade e mulheridade”, ironizou um gaiato. “Seres humano e mulherano”, completou outro. “Mulher sapiens”, lançou Dilma.

Vamos combinar? Nesta alegre Pindorama, distinguir o feminino e o masculino não é questão de correção gramatical. Brasileiros, por exemplo, engloba homens e mulheres. Meus filhos, filhas e filhos. Os funcionários, funcionárias e funcionários. Gramaticalmente recebe nota 10. Mas, segundo as feministas, torna a mulher invisível. Com o feminino explícito, marca-se a igualdade dos dois gêneros. É questão de poder. Quem pode… aparece. Mas o exagero cansa. Ou não?

(*) Dad Squarisi, formada pela UnB, é escritora. Tem especialização em Linguística e mestrado em Teoria da Literatura. Edita o Blog da Dad.

Por que se deve escrever certo

Dad Squarisi (*)

Sabia? A ortografia é dispensável para a comunicação eficiente. Se alguém escreve casa com z, cachorro com x e coração sem til, o leitor entende o recado. Prova é a língua usada nos chats da internet. Lá, porque vira pq; você, vc; beijo, bj; obrigado, obg. Muitos não gostam do que leem, mas entendem o recado. A razão?

De aorcdo com peqsiusa de uma uinrvesriddae ignlsea, não ipomtra em qaul odrem as Lteras de uma plravaa etãso, a úncia csioa iprotmatne é que a piremria e útmlia Lteras etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma bçguana ttaol, que vcoê anida pdoe ler sem pobrlmea. Itso é poqrue nós não lmeos cdaa Ltera isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo.

Por que, então, preocupar-se com acentos, esses e zês? Porque é o combinado. Para viver em sociedade, firmamos pactos. Combinamos andar vestidos em público. Combinamos não arrotar à mesa. Commbinamos não cuspir no chão. Combinamos, também, escrever como manda o dicionário.

Ele, baseado em critérios etimológicos ou fonéticos, diz que hospital se grafa com h; pesquisa, com s; exceção, com ç. A razão: como todas as línguas de cultura, o português tem a grafia oficial. A ortografia é convenção. Escrever certo pega bem.

(*) Dad Squarisi, formada pela UnB, é escritora. Tem especialização em Linguística e mestrado em Teoria da Literatura. Edita o Blog da Dad.

Maiúsculas e minúsculas: quando usar

Dad Squarisi (*)

O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp) manda grafar com inicial grandona:

1. Nomes próprios
Rafael, Renascimento, Avenida Atlântida, Presidência da República, Poder Judiciário, Região Sul, o Sul do Brasil, Região Centro-Oeste, o Centro-Oeste, o Nordeste, Oriente, Ocidente, Antiguidade, Idade Moderna, Renascimento, Belle Époque, Seleção Brasileira, Seleção Chinesa de Vôlei Feminino, Campeonato Nacional, Copa do Mundo, Olimpíadas, Medalha do Pacificador.

2. Nome de disciplinas
Marcos levou pau em Português e Matemática. Mas safou-se em Inglês.

3. Nomes de impostos e taxas
Imposto de Renda, Imposto Predial Urbano, Taxa do Lixo.

4. Atos de autoridades quando especificado o número ou o nome
Lei 2.346; Medida Provisória 242; Decreto 945; Lei Antitruste.

O ato perde a majestade em dois casos

Um: depois da 1ª referência.
A medida provisória mencionada trata do Plano Real.

O outro: na ausência do número
O presidente vetou a lei.

5. Os pontos cardeais
Norte, Sul, Leste, Oeste.

Se o ponto cardeal define direção ou limite geográfico, usa-se a inicial minúscula
O carro avançava na direção sul. Cruzou o Brasil de norte a sul, de leste a oeste.

6. As palavras Estado (país), União e Federação (associação de estados)
A sociedade controla o Estado. A Constituição enumera as competências da União. Impõe-se preservar a Federação.

7. Datas comemorativas e nome de festas religiosas
Sete de Setembro, Proclamação da República, Natal, Páscoa, Dia das Mães, Dia dos Namorados, Dia da Árvore.

Atenção, gente fina. As festas pagãs se escrevem com a inicial pequenina: carnaval, ano-novo. Também: quaresma, semana santa, quarta-feira de cinzas, sábado de aleluia.

8. Nomes científicos de famílias animais e vegetais (o segundo elemento com minúscula)
Coffea arabica, Hevea brasiliensis, Ranitomeya vanzolinii.

9. Oração incluída dentro de parênteses quando constitui oração à parte, completa, precedida de ponto. No caso, começa com letra maiúscula e termina por ponto
Na praça, o sentimento geral era de grande frustração. (Nenhum candidato se dignara comparecer ao comício.)

10. Citação
Quando vem depois de dois pontos, a citação começa com letra maiúscula. Caso contrário, com minúscula:
Fernando Pessoa escreveu: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.
Segundo Fernando Pessoa, “tudo vale a pena se a alma não é pequena”.

Curiosidade
Na língua dos Césares, majusculus quer dizer um tanto maior. Maioral, maioria, maioridade, major, majoritário, majorar pertencem à mesma família. Todos são aparentados com maior. Por isso, têm complexo de Deus. Se deixar, ocupam um senhor espaço. Manda o bom senso pôr-lhes o pé no freio. Para dar-lhes um chega pra lá, dois princípios se impõem. Um deles: só as use nos casos obrigatórios. O outro: não as empregue para valorizar ou destacar ideias. Maiúsculas devem ser as ideias, não as letras.

(*) Dad Squarisi, formada pela UnB, é escritora. Tem especialização em Linguística e mestrado em Teoria da Literatura. Edita o Blog da Dad.

Queísmo

Dad Squarisi (*)

Certos verbos sofrem de alergia. Ficam vermelhos, empolados e com coceira quando seguidos do quê. Transitivos diretos, exigem objeto direto nominal, mas não aceitam a oração objetiva direta. Veja alguns:

  •  alertar (alerta-se alguém, mas não se alerta que)
  • antecipar (antecipa-se alguma coisa, mas não se antecipa que)
  • definir (define-se alguma coisa, mas não se define que)
  • denunciar (denuncia-se alguma coisa ou alguém, mas não se denuncia que)
  • descrever (descreve-se alguma coisa, mas não se descreve que)
  • expor (expõe-se alguma coisa, mas não se expõe que)
  • falar (fala-se de alguém ou de alguma coisa, mas não se fala que)
  • indicar (indica-se alguma coisa ou alguém, mas não se indica que)
  • lamentar (lamenta-se alguma coisa, mas não se lamenta que).

(*) Dad Squarisi, formada pela UnB, é escritora. Tem especialização em Linguística e mestrado em Teoria da Literatura. Edita o Blog da Dad.

Pleonasmos: relação em ordem alfabética

Dad Squarisi (*)

A novela é antiga como o rascunho da Bíblia. A prova está na etimologia da palavra. Pleonasmo vem do grego. Lá e cá mantém o significado. É a redundância de termos, a superabundância. Como sobremesa em excesso, enjoa. É o caso de subir pra cima, descer para baixo, entrar pra dentro, sair pra fora. Só se entra pra dentro, só se sai pra fora, só se sobe pra cima, só se desce pra baixo. Entrar, sair, subir e descer são suficientes. Dão o recado. Exemplos de abusos não faltam. São tantos que os apresentamos em ordem alfabética. Como livrar-se do desperdício? É fácil. Basta tirar a palavra que está entre parênteses.

A
Abertura (inaugural)
Abusar (demais)
Acabamento (final)
(Ainda) continua, se mantém
Além…(também)
Almirante (da Marinha)
Alvo (certo)
Amanhecer (o dia)
Assessor direto (não existe indireto)
A seu critério (pessoal)
Avançar (pra frente)
A razão é (porque)

B
Brigadeiro (da Aeronáutica)

C
Cale (a boca). Diga “cale-se”.
Certeza (absoluta)
Colaborar (com uma ajuda)
Comparecer (pessoalmente)
Com (absoluta) correção
Como (por exemplo)
Compartilhar (conosco)
(Completamente) vazio
Comprovadamente (certo)
Consenso (geral)
Continua a (permanecer)
Continua (ainda)
Conviver (junto) com
Criar (novo)

D
(Demasiadamente) excessivo
Descer (pra baixo)
Destaque (excepcional)
De sua (livre) escolha
Detalhes (minuciosos)

Subir pra cima
by Mysticlolly, desenhista francesa

E
Elo (de ligação)
Em duas metades (iguais)
Empréstimo (temporário)
Encarar (de frente)
Entrar (pra dentro)
Epílogo (final)
Erário (público)
Escolha (opcional)
Estrear (novo)
Estrelas (do céu)
Eu (particularmente)
Exceder (em muito)
Experiência (anterior)
Exultar (de alegria)

F
Fato (real)
Frequentar (constantemente)

G
Ganhar (grátis, de graça)
Goteira (do teto)
Gritar (alto)

H
Há … atrás
Habitat (natural)

I
Individualidade (inigualável)

J
Já… mais (já não faz (mais) isso; não faz mais isso)
Jantar de noite
(Juntamente) com

L
Labaredas (de fogo)
Lançar (novo)
Luzes (acesas) — as lâmpadas é que estão acesas ou apagadas

M
Manter (a mesma)
Medidas extremas (de último caso)
Minha opinião (pessoal)
Monopólio (exclusivo)
Multidão (de pessoas)

N
Número (exato)

O
Obra-prima (principal)
(Outra) alternativa

P
País (do mundo)
Panorama (geral, amplo)
Particularmente (do meu ponto de vista)
Passatempo (passageiro)
(Pequenos) detalhes
Planejar (antecipadamente)
Planos (para o futuro)
Pode (possivelmente ocorrer)
Pôr algo em seu (próprio) lugar
Pôr algo em seu (respectivo) lugar
Preconceito (intolerante)
Prevenir (antes que aconteça)
Propriedade (característica)

Descer pra baixo

R
Relações bilaterais (entre dois países)
Repetir (de novo): se for mais de uma vez
Retroceder (pra trás)
Retornar (de novo)

S
Sair (pra fora)
Sentido (significativo)
Seu (próprio)
Sintomas (indicativos)
Sorriso (nos lábios)
Subir (pra cima)
Sugiro (conjecturalmente)
Superavit (positivo)
Surpresa (inesperada)

T
(Terminantemente) proibido
Todos foram unânimes (Todos indica unanimidade. É melhor: todos concordaram. A decisão foi unânime)
(Totalmente) lotado

U
Última versão (definitiva)

V
Vandalismo (criminoso)
Vereador (da cidade)

(*) Dad Squarisi, formada pela UnB, é escritora. Tem especialização em Linguística e mestrado em Teoria da Literatura. Edita o Blog da Dad.

Bibi no céu

Dad Squarisi (*)

Zeus bate à porta do céu. São Pedro o recebe. Mal entra, o deus dos deuses ouve aplausos intermináveis. Entende logo. Anjos, arcanjos, serafins e demais moradores do paraíso recebem Bibi Ferreira. O dono da casa, fã dos fãs, está na primeira fila.

O senhor do Olimpo espera com paciência. Quando surge a oportunidade, aproxima-se de Deus. Os olhos de ambos se encontram. Gentil mas determinado, o grego solta o vozeirão:

‒ O lugar da Bibi é no Olimpo. Lá vive Dionísio, o deus do teatro. Nada mais justo que fiquem juntos.

Protestos ecoam. Deus entende. Os celestes também querem a estrela. Sorri. Mira o visitante e propõe:

‒ Que tal ouvir a diva?

Bibi faz a escolha salomônica. Passará seis meses no Olimpo. E seis meses no céu. O calendário ajuda. No verão, quando o céu exibe todo o esplendor, a musa brilhará com os astros. Mas sobressairá. À noite, olhe para o alto. Lá estará ela.

Para ler a sequência deste artigo, clique aqui.

(*) Dad Squarisi, formada pela UnB, é escritora. Tem especialização em Linguística e mestrado em Teoria da Literatura. Edita o Blog da Dad.

Com ou sem crase? ‒ respostas

Dad Squarisi (*)

Aqui está a solução do teste de ontem sobre o emprego do sinal indicativo de crase.

1. O governador vai a Santa Cruz domingo de manhã.

2. Tinha de agradecer muita coisa a muita gente.

3. Empregados domésticos têm direito a férias.

4. Convém esclarecer às mães solteiras de seus direitos.

5. Eis as notas promissórias correspondentes às duas últimas prestações.

6. O presidente compareceu à sessão solene de instalação dos trabalhos legislativos.

7. O sistema está parado desde as 15h30.

8. Não é essa a blusa a que me referia.

9. Estava à toa na vida.

10. Aquela pasta é igual à que comprei.

11. Fez prova semelhante à de Maria.

12. Ele pertence a uma academia com projeção nacional.

13. Não foi possível chegar a conclusão alguma.

14. Chegou à conclusão de que não valia a pena.

15. Conseguiu o emprego devido a suas qualidades.

16. A secretaria funcionará de segunda a quinta das 14h às 18h30.

17. Na faixa leste do estado, o tempo está sujeito a instabilidade passageira.

18. Ante as arremetidas dos opositores, o parlamentar se recolheu sem reação.

19. A declaração pode ser preenchida a lápis ou a (à) tinta.

20. Considerando os difíceis processos apresentados, sente-se o comitê à vontade para expressar…

21. Dirigiu a S. Exª os agradecimentos da noite.

22. O expediente será das 8h às 10h.

23. Todo infrator está sujeito a punição.

24. A situação atual, dada a ignorância dos presentes, tende a piorar.

25. Fica prejudicado o contribuinte de rendas médias devido à percentagem de apenas 55%.

26. Não pude sair devido à falta de tempo.

27. A regra também se pode aplicar à frase de Irene.

28. A regra também se pode aplicar a esta frase.

29. Espera-se um futebol à brasileira.

30. Nas minhas férias fui a Manaus.

31. Reportou-se à Roma dos Césares.

32. Faço minhas orações a Nossa Senhora.

33. Rezei à Mãe de Deus.

34. É recomendável não dar confiança a mulher alheia.

35. Emprestei o livro a (à) Teresinha.

36. Retornou à casa de Petrópolis.

37. No festival não se assistiu a nenhuma grande peça.

38. Disse gentilezas a você.

39. A fusão corresponde às expectativas do grupo.

40. Colocou o painel à direita do semáforo.

41. Para ter os direitos reconhecidos, recorreu a (à) instância superior.

42. Quando quiser saber o sentido e a forma exata de uma palavra viva, vá às pessoas.

43. Fez referência a (à) minha tia e à sua.

44. Dirigiu-se àqueles que até ontem eram seus pares.

45. Dirigiu-se às que pareciam suas amigas até ontem.

46. Eis a matéria à qual você se referia ontem.

47. Vou a casa buscar o agasalho.

48. Vou à casa de amigos buscar agasalhos.

49. Observe-a a distância, discretamente.

50. Observe-a discretamente à distância de uns 100 metros.

51. Curso de português a distância.

52. Não gosto de bife à milanesa.

53. Estava a ponto de bala.

54. Ufa! Reclama a toda hora.

55. É honesto a toda prova.

56. À medida que se acostuma no novo ambiente de trabalho, fica mais produtiva.

57. Paulo é a pessoa a quem você deve favores à beça.

58. Este é o homem a cuja filha você se referiu ontem.

59. A água inundou até a cozinha.

60. O marinheiro não está a bordo.

61. Não me refiro a Vossa Senhoria, mas à senhora que o acompanha.

62. Viram-se cara a cara.

63. Daqui à Esplanada são cinco minutos de carro.

64. Daqui a uma hora chegaremos a Brasília.

65. Tomou o remédio gota a gota.

(*) Dad Squarisi, formada pela UnB, é escritora. Tem especialização em Linguística e mestrado em Teoria da Literatura. Edita o Blog da Dad.

Com ou sem crase?

Dad Squarisi (*)

Muitas vezes, o uso da crase dá dor de cabeça. Vai aqui abaixo um teste com 65 questões sobre o emprego do sinalzinho indicativo de crase. O distinto leitor está convidado a examinar cada frase e anotar se o a (as) deve ou não receber acento grave. As respostas serão publicadas amanhã.

1. O governador vai a Santa Cruz domingo de manhã.

2. Tinha de agradecer muita coisa a muita gente.

3. Empregados domésticos têm direito a férias.

4. Convém esclarecer as mães solteiras de seus direitos.

5. Eis as notas promissórias correspondentes as duas últimas prestações.

6. O presidente compareceu a sessão solene de instalação dos trabalhos legislativos.

7. O sistema está parado desde as 15h30.

8. Não é essa a blusa a que me referia.

9. Estava a toa na vida.

10. Aquela pasta é igual a que comprei.

11. Fez prova semelhante a de Maria.

12. Ele pertence a uma academia com projeção nacional.

13. Não foi possível chegar a conclusão alguma.

14. Chegou a conclusão de que não valia a pena.

15. Conseguiu o emprego devido a suas qualidades.

16. A secretaria funcionará de segunda a quinta das 14h as 18h30.

17. Na faixa leste do estado, o tempo está sujeito a instabilidade passageira.

18. Ante as arremetidas dos opositores, o parlamentar se recolheu sem reação.

19. A declaração pode ser preenchida a lápis ou a tinta.

20. Considerando os difíceis processos apresentados, sente-se o comitê a vontade para expressar…

21. Dirigiu a S. Exª os agradecimentos da noite.

22. O expediente será das 8h as 10h.

23. Todo infrator está sujeito a punição.

24. A situação atual, dada a ignorância dos presentes, tende a piorar.

25. Fica prejudicado o contribuinte de rendas médias devido a percentagem de apenas 55%.

26. Não pude sair devido a falta de tempo.

27. A regra também se pode aplicar a frase de Irene.

28. A regra também se pode aplicar a esta frase.

29. Espera-se um futebol a brasileira.

30. Nas minhas férias fui a Manaus.

31. Reportou-se a Roma dos Césares.

32. Faço minhas orações a Nossa Senhora.

33. Rezei a Mãe de Deus.

34. É recomendável não dar confiança a mulher alheia.

35. Emprestei o livro a Teresinha.

36. Retornou a casa de Petrópolis.

37. No festival não se assistiu a nenhuma grande peça.

38. Disse gentilezas a você.

39. A fusão corresponde as expectativas do grupo.

40. Colocou o painel a direita do semáforo.

41. Para ter os direitos reconhecidos, recorreu a instância superior.

42. Quando quiser saber o sentido e a forma exata de uma palavra viva, vá as pessoas.

43. Fez referência a minha tia e a sua.

44. Dirigiu-se aqueles que até ontem eram seus pares.

45. Dirigiu-se as que pareciam suas amigas até ontem.

46. Eis a matéria a qual você se referia ontem.

47. Vou a casa buscar o agasalho.

48. Vou a casa de amigos buscar agasalhos.

49. Observe-a a distância, discretamente.

50. Observe-a discretamente a distância de uns 100 metros.

51. Curso de português a distância.

52. Não gosto de bife a milanesa.

53. Estava a ponto de bala.

54. Ufa! Reclama a toda hora.

55. É honesto a toda prova.

56. A medida que se acostuma no novo ambiente de trabalho, fica mais produtiva.

57. Paulo é a pessoa a quem você deve favores a beça.

58. Este é o homem a cuja filha você se referiu ontem.

59. A água inundou até a cozinha.

60. O marinheiro não está a bordo.

61. Não me refiro a Vossa Senhoria, mas a senhora que o acompanha.

62. Viram-se cara a cara.

63. Daqui a Esplanada são cinco minutos de carro.

64. Daqui a uma hora chegaremos a Brasília.

65. Tomou o remédio gota a gota.

Amanhã vêm as respostas!

(*) Dad Squarisi, formada pela UnB, é escritora. Tem especialização em Linguística e mestrado em Teoria da Literatura. Edita o Blog da Dad.

De onde vem o nome dos meses?

Dad Squarisi (*)

Janeiro
O primeiro mês do ano homenageia Jano. O deus grego tem duas caras. Uma olha pra frente. A outra, pra trás. A primeira abre as portas dos 365 dias que se iniciam. A segunda fecha as do ano que se despede. Janela, que também abre e fecha, pertence à família do entra e sai.

Fevereiro
O segundinho, que tem menos dias que os irmãos, se inspira em Februa, deus da purificação dos mortos.

Março
Epa! Marte, o deus da guerra, originou vários nomes na nossa língua de todos os dias. Um deles é março. Outros, Márcio e Márcia. Marciano também. E marcial? Idem.

Abril
Todos a amam e todos a querem. Trata-se de Vênus, a deusa do amor e da entrega. Em homenagem a ela, criou-se aprilis. Trata-se da comemoração sagrada dedicada à musa olímpica. Daí nasceu abril.

Maio
A primavera no Hemisfério Norte corresponde ao nosso outono. Com inverno rigoroso, os campos se cobrem de neve, e a agricultura sofre. As comemorações que se faziam depois do frio reverenciavam Maia e Flora – deusas do crescimento de plantas e flores.

Junho
Hera em grego. Juno em latim. Ela era a primeira-dama do Olimpo. Defensora incondicional do casamento, ao descobrir as traições do marido, Zeus, não punha em risco o próprio lar. Punia a outra. Passou a ser considerada a protetora da maternidade. Para render-lhe loas, junho se chama junho.

Julho
Julho era o quinto mês do ano antes de janeiro e fevereiro mudarem de lugar. Chamava-se quintilis. Mas, em 44 a.C., mudou de nome por causa de Júlio César. O grande líder romano foi assassinado por gente de casa, Brutus, o próprio filho. Mas não caiu no esquecimento. Ganhou lugar cativo na história e no calendário.

Agosto
Agosto, que rima com desgosto, serve de prova da ciumeira. Por ser o sexto mês do ano, chamava-se sextilis. Mas, como julho balançou o calendário, o primeiro imperador de Roma, sucessor de Júlio César, não ficou atrás. “Eu também quero”, disse ele. Levou. Agosto se chama agosto em homenagem a Augustus.

Setembro, outubro, novembro e dezembro
O quarteto não estava nem aí para a mudança de janeiro e fevereiro. Eles mantiveram o nome. Setembro, do latim septem, era o sétimo mês do ano. Outubro, de octo, o oitavo. Novembro, de novem, o nono. Dezembro, de decem, o décimo.

Gregoriano
Ufa! Até chegar à forma de hoje, o contar dos meses sofreu muitas alterações. Com elas, falhas foram corrigidas. A última mexida, do papa Gregório XIII, ocorreu em 1582. Por isso nosso calendário se chama gregoriano.

(*) Dad Squarisi, formada pela UnB, é escritora. Tem especialização em Linguística e mestrado em Teoria da Literatura. Edita o Blog da Dad.

Falsa crase

Dad Squarisi (*)

Aqui são balas perdidas. Nos EUA, rajadas de metralhadora. Na Finlândia, facadas. Na Espanha, quatro rodas. No Iraque, homens-bomba. O terror à solta virou notícia nos jornais, no rádio, na tevê, na internet. Ao contar as histórias, dois fatos sobressaem. Um: a certeza da insegurança geral. Nem bebê na barriga da mãe está protegido. O outro: a dúvida sobre o emprego da crase.

Morto à bala? Morto a bala? Com crase ou sem crase? Alguns escreveram à bala. Outros, a bala. Qual a forma correta? A resposta será dada à prestação. Ou seria a prestação? Em bom português: a resposta será dada por partes.

A duplinha a + a
A crase indica o casamento de dois aa: preposição a + artigo a: Dirigiu-se à piscina.

O primeiro a é exigido pelo verbo dirigir-se (a gente se dirige a algum lugar). O segundo é o artigo pedido pelo substantivo cidade (a cidade). Pronto: a + a = à.

Tira-teima
Na dúvida, basta substituir o substantivo feminino por um masculino. Não precisa ser sinônimo nem aparentado. A única exigência é que seja do mesmo número (singular ou plural). Se na troca aparecer ao, sinal de crase. Se não, nada feito:

• Foi à cidade. Foi ao clube.

• Refere-se a pessoas estranhas. Refere-se a trabalhos estranhos.

• Compareceu a duas reuniões. Compareceu a dois encontros.

• Compareceu às duas reuniões. Compareceu aos dois encontros.

Falsa crase
Voltemos à dúvida inicial. Morto à bala? Morto a bala? Apresentado à prestação? Apresentado a prestação?

Nem sempre — e aí reside o xis da dúvida — o acento resulta de crase (a + a). Às vezes, por questão de clareza, apela-se para a falsa crase. Usa-se à mesmo sem a contração dos dois aa. Vender à vista, por exemplo. Aí, não há crase. Quer ver? Vamos ao masculino: vender a prazo.

Por que o à? Para evitar mal-entendidos. Sem o acento, poder-se-ia entender que se quer vender a vista (o olho). O mesmo ocorre com bater à máquina. Sem a crase, parece que se deu pancada na máquina. Não é bem isso, convenhamos.

Casos
Em que casos o duplo sentido ocorre? Geralmente nas locuções que indicam meio e instrumento:

Matou-o à bala.
Feriram-se à faca.
Está à venda.
Escrever à tinta.
Feito à mão.
Enxotar à pedrada.
Fechar à chave.
Matar o inimigo à fome.
Entrar à força.

O acento é obrigatório? Ou só se deve recorrer a ele em caso de ambiguidade? Sem risco de duas interpretações, fica a gosto do freguês. Mas há forte preferência pela falsa crase. Use-a. Você acertará sempre.

(*) Dad Squarisi, formada pela UnB, é escritora. Tem especialização em Linguística e mestrado em Teoria da Literatura. Edita o Blog da Dad.

S ou z: formação de palavras

Dad Squarisi (*)

Embriaguez se escreve com z. Português, com s. No caso, z e s soam do mesmo jeitinho. Por que a grafia diferente? A resposta está na origem:

  • Se a palavra primitiva for adjetivo, o z pede passagem:
    macio = maciez,
    líquido = liquidez,
    sólido = solidez,
    frígido = frigidez,
    embriagado = embriaguez.
  • Se a palavra primitiva for substantivo, é a hora e a vez do s:
    Portugal = português,
    corte = cortês,
    monte = montês,
    economia = economês,
    campo = camponês.

(*) Dad Squarisi, formada pela UnB, é escritora. Tem especialização em Linguística e mestrado em Teoria da Literatura. Edita o Blog da Dad.

Fatal: emprego

Dad Squarisi (*)

Fatal quer dizer que mata. O acidente mata. É fatal. Veneno mata. É fatal. Queda pode matar. Pode ser fatal.

Muitos dizem “vítima fatal”. Bobeiam. A vítima, coitada, morre. Não mata. Se a pessoa perdeu a vida, diga que ela morreu:

O acidente provocou duas mortes.
No acidente, duas pessoas morreram.
O acidente matou duas pessoas.

(*) Dad Squarisi, formada pela UnB, é escritora. Tem especialização em Linguística e mestrado em Teoria da Literatura. Edita o Blog da Dad.

A vírgula na guerra dos sexos

Dad Squarisi (*)

Desde que nasceu, a vírgula provoca discussões. Alguns dizem que empregá-la é questão de gosto. A gente põe o sinalzinho onde tem vontade. Outros afirmam que basta ler a frase. Parou pra respirar? Pronto. Taca-lhe a marca da pausa. Aí surge um problema. Como os gagos e os asmáticos se virarão?

Há, também, os exagerados. Esbanjadores, usam todas as vírgulas a que têm direito — as obrigatórias e as facultativas. Não deixam passar uma. Resultado: acabam com o estoque. Mas a controvérsia não fica por aí. Como quem fica parado é poste, a danadinha meteu a colher em temas da modernidade. Entrou na guerra dos sexos. Por causa dela, homens e mulheres se digladiam. O xis da questão: onde pôr a mocinha nesta frase?

*Se o homem soubesse o valor que tem a mulher andaria de quatro à sua procura.

Elas acharam a resposta rapidinho:
*Se o homem soubesse o valor que tem a mulher, andaria de quatro à sua procura.

Eles não ficaram atrás. Espertos, mudaram o lugar do sinal. E, claro, puxaram a brasa pra própria sardinha:
*Se o homem soubesse o valor que tem, a mulher andaria de quatro à sua procura.

Resumo da ópera: a língua é um sistema de possibilidades. Quando mais as conhecemos, mais livres ficamos. E, claro, mais poderosos. Na guerra dos sexos, homens e mulheres usaram a vírgula a favor da própria causa. Eles empataram. Nós ganhamos.

(*) Dad Squarisi, formada pela UnB, é escritora. Tem especialização em Linguística e mestrado em Teoria da Literatura. Edita o Blog da Dad.

Erros que roubam pontos

Dad Squarisi (*)

A lista não tem fim. São tropeços que atropelam redações, entrevistas e diálogos amorosos. É o caso da poetisa que ganhou importante prêmio literário. Os amigos decidiram homenageá-la com um jantar de adesão no restaurante que a artista mais apreciava. Quando ela soube, contou ao namorado. “Eu adero”, respondeu ele entusiasmado. Pra quê? Jogou água fria na paixão. O amor acabou ali.

Ele se esqueceu de pormenor pra lá de importante. Aderir joga no time de preferir. Um e outro se conjugam do mesmo jeitinho: eu prefiro (adiro), ele prefere (adere), nós preferimos (aderimos), eles preferem (aderem). Outras falhas desempenham papel similar. Eis algumas. Xô! Xô! Xô!

Ladrões de pontos

houveram – no sentido de existir ou ocorrer, o verbo é impessoal. Só se conjuga na 3ª pessoa do singular: Houve distúrbios. Houve três acidentes.

intermedia – intermediar se conjuga como odiar: odeio (intermedeio), odeia (intermedeia), odiamos (intermediamos), odeiam (intermdeiam).

interviu – intervir deriva de vir: ele veio, ele interveio.

irá dizer – a indicação do porvir pode ser feita de duas formas. Uma: o futuro simples (dirá). A outra: o futuro composto (vai dizer). Assim — com o verbo ir no presente. Nunca no futuro.

manter o mesmo – manter só pode ser o mesmo. Se não é o mesmo, escolha outro verbo. Que tal trocar? Ou mudar?

medio – mediar se conjuga como odiar: odeio (medeio), odeia (medeia), odiamos (mediamos), odeiam (medeiam).

meio-dia e meio – a concordância nota 10 é meio-dia e meia (hora).

Nóbel – Nobel é oxítona como Mabel, papel, cruel.

obrigado – ele diz obrigado; ela, obrigada; eles, obrigados; elas, obrigadas. Todos respondem por nada.

o óculos – óculos, como férias e pêsames, é substantivo plural: os óculos, óculos escuros, meus óculos.

panorama geral – todo panorama é geral. Basta panorama.

passeiamos — não presenteie formas dos verbos terminados em -ear com o i: passear, frear, cear & cia. têm um capricho. O nós e o vós dos presentes do indicativo e subjuntivo dispensam o izinho que aparece nas demais pessoas. Dê-lhes crédito: eu passeio, (freio, ceio) ele passeia (freia, ceia), nós passeamos (freamos,ceamos), vós passeais (freais, ceais) eles passeiam (freiam, ceiam).

pequeno detalhe – todo detalhe é pequeno. Basta detalhe.

plano para o futuro – todo plano é para o futuro. Basta plano.

pôrcos – nomes em que o o soa fechado no masculino e aberto no feminino o plural opta pelo salto alto e batom. Segue o feminino: porco, porca, porcos, porcas; porto, porta, portos, portas, torto, torta, tortos, tortas. Exceções? Elas confirmam a regra. É o caso de canhoto e canhota. No masculino, o som é fechado. No feminino, aberto. O masculino plural não segue o feminino. É canhotos, com o o fechado.

possue – não confunda a terminação dos verbos terminados em -uir: a 3ª pessoa do singular do presente do indicativo termina com i — ele possui, ele contribui, ele retribui, ele diminui, ele atribui (não: possue, contribue & cia. indesejada).

pobrema — não troque sons: problema (não: probrema), estupro (não: estrupo), mendigo (não: mendingo), encapuzado (não: encapuçado).

récorde – recorde se pronuncia como concorde. A sílaba tônica é cor.

rúbrica – rubrica é paroxítona como futrica. A sílaba fortona: bri.

rúim – a palavra é dissílaba – ru-im. A sílaba tônica: im.

se eu caber, se eu deter, se eu pôr, se eu trazer, se eu ver – olho no futuro do subjuntivo: se eu couber, detiver, puser, trouxer, vir.

seje – a forma é seja.

subzídio – pronuncie o s como em subsolo.

vítima fatal – fatal significa que mata. A vítima não mata. Morre. Diga morto.

vou estar mandando & similares – vou mandar.

Ufa!

(*) Dad Squarisi, formada pela UnB, é escritora. Tem especialização em Linguística e mestrado em Teoria da Literatura. Edita o Blog da Dad.