Equipe efêmera

José Horta Manzano

Na noite de 30 de outubro, quando foi declarado vencedor, Lula sacou do bolso de trás um discurso de meia hora, com começo, meio e fim. Disse tudo o que tinha de ser dito, agradeceu, louvou, prometeu e comoveu. Um pronunciamento daqueles não se improvisa. Vê-se que foi fruto de profunda reflexão, de erros e acertos, de trabalho conjunto, de polimento. A preparação há de ter consumido dias, talvez semanas.

Vencida a corrida presidencial, veio o momento de anunciar a composição da equipe de transição, que funcionará até o fim do ano, num total de 61 dias.

Considerando que o discurso de vitória foi montado com antecedência e com tanto zelo, seria de esperar que o esqueleto da equipe de transição também já estivesse planejado.

A realidade mostra que não era bem assim. Já se passaram 17 dias, e a montagem da equipe ainda não terminou. A cada dia, aparecem nomes novos. Sem estar totalmente formada, a equipe não tem como funcionar. Falta articulação. É como um veículo que, para rodar, precisa estar completo – se faltar uma roda, não anda.

Será que a intenção dos escolhidos é realmente delinear a ossatura da futura governança? Está mais parecendo um convescote entre companheiros, uma vitrine de vaidades do tipo: “Tchau, mãe! Ói eu aqui!”.

Vamos ver se conseguem terminar a montagem daqui até o Natal. Se conseguirem, ainda sobra uma semana pra trabalhar, entre Natal e o réveillon.

As eleições na mídia internacional

José Horta Manzano

As primárias e os debates que precedem a eleição presidencial nos EUA costumam ser acompanhados com atenção pelo mundo todo. Mas por acaso o distinto leitor já viu, na mídia nacional, relatos sobre debates eleitorais de algum outro país exceto os EUA? A resposta é provavelmente não.

É natural. Pelo peso mastodôntico da economia dos EUA, suas eleições interessam ao mundo inteiro. Já campanhas de outros países dão, no máximo, nota de rodapé. Mas isso não é particularidade da imprensa brasileira: por toda parte é igual. A política dos países vizinhos sempre interessa um pouco; já, de países distantes, pouco ou nada se fala.

Mas exceções acontecem. De uns 2 ou 3 anos para cá – e não exatamente pelas melhores razões –, a política brasileira entrou no foco dos holofotes. Meio divertido, meio assustado, o mundo inteiro acompanha a singular batalha presidencial que se travam dois típicos políticos nacionais: um admirador de Hugo Chávez que já passou pela casa prisão contra um admirador de Hugo Chávez que ainda há de estacionar na mesma casa.

A mídia internacional não perdeu o festival de insultos ao qual o baixo nível dos dois candidatos reduziu um momento que deveria ter sido dedicado a uma civilizada exposição de argumentos.

Foi mais uma prova de que os dois protagonistas são carentes de ideias. São ambos reativos (quando reagem…), raramente propositivos. Incapazes de traçar um programa de governo, navegam em modo visual, sem instrumentos, ao léu, ao deus-dará. Como se diz popularmente, só pegam no tranco. Isso, quando pegam.

Aqui está um florilégio de reações da mídia internacional ao debate da Band. A repercussão chegou à Turquia. E até à longínqua Lituânia, país que não é qualquer um que conseguiria apontar num mapa.

 

 

“A temperatura sobe quando Lula e Bolsonaro se encontram”
Upsala Nya Tidning, Suécia

 

 

“Bolsonaro descontrolado, Lula exausto e candidatos alternativos vitoriosos”
El Mundo, Espanha

 

 

“A senhora decerto sonha comigo à noite”
Süddeutsche Zeitung, Alemanha

 

 

“Bolsonaro e Lula se enfrentam”
Le Figaro, França

 

 

“No Brasil, corrida presidencial esquenta”
Sözcü, Turquia

 

 

“O primeiro duelo na tevê entre Bolsonaro e Lula foi uma tempestade de insultos”
Agenzia Italia, Itália

 

 

“Bolsonaro e Lula da Silva se enfrentam no debate nas eleições presidenciais brasileiras”
15min, Lituânia

 

Bolsonaro na Itália – benvenuto?

José Horta Manzano

Saudades do tempo em que visita de chefe de Estado estrangeiro era um acontecimento. Tanto cá quanto além-fronteiras, era a mesma festa. Algumas visitas chegaram a marcar a história.

Em 1961, finzinho de maio e começo de junho, John F. Kennedy, então presidente dos EUA, esteve de visita à França, presidida pelo general De Gaulle. Durante a estada, Jacqueline Kennedy, a esposa do visitante, chamou a atenção de todos. Era bela, tinha uma graça especial e, qualidade maior: falava francês. O velho general se derreteu.

Foi engraçado o dia em que a senhora Kennedy, orgulhosa das origens de sua família, contou a De Gaulle: “O senhor sabe, eu tenho ascendência francesa!”. E o general, de bate-pronto: “Pois imagine a senhora que eu também!”.

Pouco antes de embarcar de volta para os EUA, o presidente americano deu uma entrevista coletiva. Logo na abertura, o homem mais poderoso do planeta mostrou que tinha forte senso de humor. Fez cara dramática e declarou, sério: “I do not think it altogether inappropriate to introduce myself to this audience. I am the man who accompanied Jacqueline Kennedy to Paris. And I have enjoyed it.” Trocando em miúdos, fica mais ou menos assim: “Pensando bem, não acho inapropriado me apresentar a esta plateia. Sou o homem que acompanhou Jacqueline Kennedy em Paris. E gostei muito.

A tradição de visitas de dirigentes brasileiros a países estrangeiros é antiga. Começou já nos tempos do imperador, quando viagens eram vagarosas e podiam demorar semanas. Das menos antigas, lembro de JK nos EUA, de FHC na França, de Lula passeando de carruagem com a rainha da Inglaterra. Todos sempre foram bem recebidos. Aliás, todos os dirigentes brasileiros sempre foram recebidos com simpatia aonde quer que se dirigissem. Correligionário ou não do presidente, todo brasileiro sentia uma pontinha de orgulho.

Agora que terminou a vilegiatura que nosso capitão fez em terras italianas, a gente sente muita tristeza. Não me lembro de ter jamais visto, no exterior, manifestações de protesto contra a visita de presidente nosso. Essas viagens costumam ser instantes de confraternização, aqueles momentos em se põem (temporariamente) as querelas de molho. Com Bolsonaro, não foi possível. Como dizem por aqui, “sua fama o precede” – antes mesmo de ele apontar na esquina, todos já sabem de que barro é feito o personagem.

Falando do capitão, Elio Gaspari resumiu com maestria: “Pisou no pé da chanceler alemã Angela Merkel, teve uma conversa desconexa com o presidente turco, conversou com garçons e, por não usar máscara nem tomar vacina, ficou sem o aperto de mão do primeiro-ministro Mário Draghi.”. Foi um vexame atrás do outro.

O capítulo mais impressionante ocorreu justamente no deslocamento sentimental ao vilarejo de origem da família. Era pra ser um momento apolítico, que não se prestava a manifestações. Mas deu chabu. A proverbial belicosidade do capitão suscita sentimentos pouco pacíficos. Aconteceu o contrário do esperado.

Em Pádua, os manifestantes estavam tão exaltados, que a polícia teve de intervir com canhões de água. A visita à basílica de Santo Antônio teve de ser cancelada. O bispo da diocese negou-se a receber Bolsonaro. Disse que, se o presidente desejasse, podia vir como um fiel comum, mas que não seria recebido com honras de visitante especial. O capitão desistiu.

Em Anguillara Veneta, a cidadezinha de origem da família, estava prevista uma recepção na prefeitura, para entrega do diploma de cidadão honorário. A intensidade das manifestações de rua não permitiram. De última hora, mudou-se o programa. O almoço e a entrega do canudo foram feitos num restaurante situado fora da cidade, instalado num casarão do século 19. Para não fomentar uma revolta entre os moradores, a prefeita resolveu pagar do próprio bolso. Pelo jeitão sofisticado do restaurante (e pelo volume da comitiva presidencial), imagino que a prefeita se  arrependeu da hora em que teve a ideia de conferir o título de cidadão a Bolsonaro.

 

 

E assim continuamos. Se já era malvisto, o capitão confirmou a fama e virou empestiado, daqueles que todos querem ver pelas costas. Nenhum dirigente estrangeiro quer ser visto em sua companhia, que é pra não perder popularidade nem votos no país natal.

Na COP26, Ninguém acreditou nas boas intenções do Brasil; a ausência do chefe dá dois recados. Primeiro, de que ele não esta ligando a mínima para aquele circo; segundo, de que o compromisso brasileiro não passa de encenação pra inglês ver – perdão! – pra escocês ver (a conferência é na Escócia).

Se a Lega (partido da extrema-direita italiana) já era vista com desconfiança, as honras oferecidas a Bolsonaro hão de ter tido o efeito contrário. Fortaleceram a convicção de que se trata de um agrupamento de gente pouco recomendável. Quem é amigo de Bolsonaro bom sujeito não é.

Resumo da ópera
Eles, que estão longe, ainda podem dar-se ao luxo de se esquivar do capitão, de ignorá-lo, de dar-lhe as costas, de fingir que não viram. Os que estão no Brasil e são obrigados a sobreviver com os sustos diários aplicados no país por aquele estropício, ah!, isso já é uma outra história. Deve fazer parte de nosso carma coletivo.

Disclaimer
No título, usei a palavra italiana benvenuto, que se traduz por bem-vindo. É ironia.

O polemista francês

Eric Zemmour

José Horta Manzano

Monsieur Eric Zemmour é um francês pra lá de especial. Apesar da aparência física pouco graciosa, faz anos que surge aqui e ali, nalgum programa televisivo, sempre com a mesma obsessão. Para ele, os imigrantes são a causa de todos os males da França.

Mas, atenção! Quando fala em imigrantes, leia-se: os árabes originários da Argélia, da Tunísia e do Marrocos, antigas colônias e/ou protetorados franceses). Estrangeiros provindos da Alemanha, da Espanha, da Lituânia ou da Quirguízia não entram na mira do polemista.

Polemista – é essa a palavra. Se são figuras um tanto raras no Brasil, os polemistas existem aos montes na França. Não sei se a origem desse fenômeno é a própria lingua, que se presta a debates metafísicos. Talvez seja simplesmente a tradição, a educação que cada um recebe. Os jovens já entram na adolescência ensaiando os primeiros passos no mundo da polêmica.

Discute-se por um sim ou por um não. Cada um faz questão de dar sua opinião. Atenção: as discussões são animadas, mas a agressividade costuma limitar-se às palavras, sem consequências físicas.

Monsieur Zemmour, jornalista e escritor, fez da troca de ideias sua marca de fábrica. Seja qual for o tema da conversa, não tem jeito: ele sempre acaba acusando seus “imigrantes” de todos os males. É o que alguns chamam de monomania, um defeito que incomoda.

Ele tem dado sinais de que será candidato à Presidência do país, nas eleições de abril do ano que vem. Por enquanto, não confirma, deixa que as especulações borbulhem. Mas é bem provável que, qualquer hora, se declare candidato oficial.

Entrevistado pela Folha de São Paulo(*), mandou respostas por escrito. Naturalmente, foi instado a dizer o que pensa de Bolsonaro, Trump, Marine Le Pen, Macron – uma armadilha atrás da outra. Não deixou nenhuma pergunta sem resposta. No entanto, escorreguento feito peixe ensaboado, limitou-se ao politicamente correto, sem jamais se comprometer.

Segundo Zemmour, o Brasil é exemplo de multiculturalismo que deu certo. Ele parece achar que o simples fato de todos falarem a mesma língua é fator suficiente para atestar que a noção de bem comum está arraigada na alma do brasileiro.

Se vê que o Monsieur não conhece bem nosso país. Os brasileiros têm uma baciada de qualidades, mas a noção de bem comum não está entre elas. E faz uma falta danada. A noção de bem comum anda de mãos dadas com o sentimento de pertencimento, o grande ausente da alma nacional.

Pertencimento não se resume a enrolar-se na bandeira e cantar o Hino. Vai bem mais longe que isso. Começa no respeito ao vilarejo (ou à cidade, ou à metrópole) onde se vive. Continua no comportamento civilizado, em que cada cidadão respeita o próximo e paga seu “dízimo” – sob forma de imposto –, como contribuição para o funcionamento da sociedade.

Estamos a anos-luz da noção de bem comum mencionada pelo polemista francês. No fundo, o país dele, apesar dos mal-amados “imigrantes”, está bem mais próximo da meta do que nós.

(*) Se alguém estiver interessado em ler a longa entrevista concedida por Monsieur Zemmour à Folha, faça-me saber por email.

Cada um procura sua turma

José Horta Manzano

Monsieur Nicolas Dupont-Aignan, deputado francês, já se candidatou duas vezes à Presidência de seu país. É candidato nanico, mas continua insistindo. Segue a linha política dita «soberanista», doutrina que pleiteia a saída da França da União Europeia, o abandono do euro e o retorno ao franco, o controle rigoroso das fronteiras nacionais, o isolacionismo. Em resumo, o receituário completo da extrema-direita, um belo programa.

As regras eleitorais francesas impõem que cada candidato à Presidência financie os próprios gastos de campanha. Em seguida, somente os que obtiverem pelo menos 5% dos votos válidos serão reembolsados com dinheiro público. Quanto aos outros, ficam chupando dedo. Monsieur Dupont-Aignan nunca atingiu a marca mínima; portanto, nunca foi ressarcido. Parece-me uma boa regra, na medida que inibe a multiplicação de candidaturas nanicas – aquele pessoal que só se candidata de olho no financiamento.

No primeiro turno das eleições de 2017, o deputado ficou em 6° lugar entre 11 concorrentes. No segundo turno, apoiou Madame Le Pen, candidata que também adota o ideário nacionalista e isolacionista característico da extrema-direita. No confronto final, de cada 3 eleitores, 2 votaram em Macron enquanto só 1 preferiu Madame.

A próxima presidencial francesa será, como a nossa, em 2022. Com bastante adiantamento, Dupont-Aignan se prepara para a terceira tentativa. Com esse propósito, esteve ontem de visita a Brasília, onde teve uma audiência de 15 minutos com doutor Bolsonaro. Aproveitou a ocasião para se encontrar com um dos bolsonarinhos, aquele mais deslumbrado, que um dia chegou a imaginar-se embaixador em Washington.

Já se sabe que, com covid ou sem ela, nenhum estrangeiro importante quer ser visto ao lado de Bolsonaro. Nenhuma personalidade de destaque visita mais Brasília. Nosso presidente, por seu lado, não recebe mais convite para visitar país nenhum. O encontro com o deputado francês deixa no ar um gosto meio amargo de reunião de segunda classe, do tipo «quem não tem cão caça com gato».

Outubro de 2021

José Horta Manzano

Pelo sacolejar da carroça, Lula da Silva estará logo livre. Pra determinar a soltura, o STF terá de agir em três tempos: cassar o julgamento do ex-presidente, anular a confirmação da segunda instância e invalidar a reconfirmação do STJ. Dito assim, parece muita anulação de processo, mas nosso tribunal maior tem mostrado desenvoltura no trato de esquisitices.

Se esse for o figurino, o(s) processo(s) volta(m) para a primeira instância e o Lula volta pra casa. Como qualquer cidadão, terá o direito de concorrer a eleições. Não o imagino candidatando-se a prefeito de Garanhuns, sua terra natal. Acredito que vá direto registrar candidatura para a Presidência. Na época da eleição, em outubro de 2021, nosso guia já estará com 76 anos. Seu bom aspecto, no entanto, parece indicar que está em boa saúde. Idade, em si, não é doença.

Supondo que o presidente atual aguente de pé até o fim do mandato, teremos uma situação curiosa. De um lado estará doutor Bolsonaro, que já declarou intenção de candidatar-se à própria sucessão. Do outro, Lula da Silva, concorrendo pela sexta vez.

Vamos agora fazer continha de chegar. Suponhamos que tanto o Lula quanto doutor Bolsonaro contem, cada um, com o apoio de um terço do eleitorado. São os ‘ultras’, os incondicionais, os devotos. Se meus números não estiverem muito longe da verdade, pode-se apostar que ambos têm lugar garantido no segundo turno. É aí que começa o dilema para o último terço do eleitorado, aquele que não reza pela cartilha de nenhum dos dois, mas cujo voto vai decidir a eleição. Que rolo, coronel!

Da última vez, ocorreu algo semelhante. Lula da Silva, retido por compromissos inadiáveis em Curitiba, nomeou procurador pra representá-lo. As pesquisas apresentaram doutor Bolsonaro como o único Quixote capaz de vencer o lulopetismo.

Do Lula, sabíamos que havia permitido o assalto aos cofres da nação. Desgostosa, a maioria do eleitorado não queria um repeteco. De doutor Bolsonaro, não se sabia grande coisa. Seus apoiadores ‘de raiz’, somados aos eleitores que não queriam o lulopetismo de volta, formaram maioria. Vai daí, venceu Bolsonaro.

Desta vez, o nó será bem mais apertado. O Lula continua o mesmo, não mudou nem um nadinha. Persiste em negar beatamente a feia realidade que todos conhecemos. Seus protestos de pureza soam falso. De doutor Bolsonaro – a incógnita da última eleição –,temos agora um balaio de informação. Se ainda estamos procurando suas qualidades, conhecemos bem seus abundantes defeitos.

O dilema, portanto, será pontudo. Todos os que não forem lulistas de carteirinha nem bolsonaristas de coração estarão numa sinuca complicada. Não queremos que nenhum deles seja presidente do país. Mas teremos de escolher ‘entre a peste e a cólera’, como dizem os franceses. Não vai ser fácil. Preparem-se.

Exame para presidente

José Horta Manzano

Quando a gente escreve muito, não tem jeito, acaba se repetindo. Bom, tem uma coisa. Pra todo observador do mundo, há uma justificativa: escândalos, enormidades e bizarrices se repetem. Não passa um dia sem alguém voltar a dizer a mesma besteira, cometer a mesma asneira, tropeçar na mesma pedra. Assim é, não há como mudar. Vamos agora ao que interessa.

Será que o distinto leitor confiaria sua saúde aos cuidados de um indivíduo não formado, que não tivesse, pendurado na parede do consultório, diploma de habilitação para a profissão? Contrataria para defendê-lo no tribunal, numa causa cabeluda, um sujeito que não tivesse concluído uma faculdade de direito? Deixaria alguém que não tivesse cursado engenharia ou arquitetura construir seu sobrado? A resposta a todas essas perguntas é, sem dúvida, um sonoro não.

Pra dirigir um simples automóvel, a lei exige do condutor que tenha tido sucesso no exame de habilitação. Enfermeiro tem de ter estudo e diploma. Até para funções mais simples como faxineiro, vigia e operador de empilhadeira, exigem-se experiência anterior e referências.

Agora reflita um instante e diga-me se não é uma irresponsabilidade confiar o cargo mais importante do país – a Presidência da República – a alguém que não estudou para isso nem deu prova de estar preparado pra exercer o cargo. Em linguagem imaginária, pode-se dizer que essa pessoa vai dirigir o Brasil sem ter carteira de habilitação. Que vai cuidar dos males do país sem ter conhecimentos médicos. Que vai construir o futuro da nação sem a menor noção de engenharia. É loucura ou não é?

A meu ver, o voto de sei lá quantos milhões de eleitores não basta. Pra complicar, o voto no Brasil é obrigatório, fato que arranha a legitimidade do pleito. Quantos votaram por convicção e quantos compareceram unicamente pra não levar multa? Ninguém sabe. Seja como for, não são três ou quatro debates mambembes e engessados que permitem conhecer profundamente cada candidato.

Acredito que a Constituição deveria aumentar as exigências para os candidatos a presidente. Ser brasileiro nato e ter 35 anos é muito pouco. Tinham de enfrentar um exame, exatamente como qualquer brasileiro que pleiteia um emprego ou um diploma. Exame escrito e oral. Teriam de demonstrar que, além de serem alfabetizados, têm conhecimento básico de como funcionam as instituições, de como o Brasil se posiciona em meio às demais nações. Tinham de mostrar noções básicas de Geografia e História. Não me refiro a detalhes pontudos, falo de noções básicas.

Uma prova teria de ser exigida também de candidatos a outros cargos eletivos, mormente senadores e deputados federais. Um exame bem estruturado nos teria evitado os palhaços (profissionais e virtuais) que aparecem vez por outra. Um Lula, uma Dilma e um Bolsonaro não teriam como passar pela prova. A ausência desse trio infernal na chefia do Executivo teria evitado graves problemas que nos castigam agora e que continuarão a infernizar gerações inteiras de brasileiros.

Os prejudicados pela incapacidade de nossos dirigentes somos nós e nossos compatriotas inocentes. Estamos todos pagando caro pela incapacidade (apimentada pela má-fé) de dirigentes, indivíduos que bem podiam estar fazendo outra coisa na vida em vez de afundar o país.

Nada é eterno, doutor!

José Horta Manzano

Artigo publicado pelo Correio Braziliense em 27 abril 2019.

Para quem se apresentava como o único candidato capaz de acabar com política contaminada por ideologia, doutor Bolsonaro está saindo melhor que a encomenda. Por detrás de cada ato, de cada nomeação, de cada pronunciamento, cochila um laivo doutrinário. As viagens presidenciais ao exterior, por exemplo, têm vindo embaladas pra presente, descritas como importantes para reforçar laços comerciais. Rasgado o invólucro vistoso, aparece o papel pardo de armazém chinfrim a denunciar que a motivação era, na realidade, ideológica.

Uma regra não escrita determina que a primeira viagem de todo presidente nosso seja a Buenos Aires. A razão é simples: ainda que não seja o maior cliente de nossas exportações, a Argentina é nosso mais importante vizinho de parede. Ainda que acontecimentos extraordinários deixem o mundo de ponta-cabeça, nossos hermanos estarão sempre ali, colados, do outro lado da fronteira. Pra viver em harmonia, convém tratar bem a vizinhança. Doutor Bolsonaro preferiu passar por cima dessa lógica trivial. Reservou a primeira saída internacional para uma visita ao Chile. Na volta, a geografia não havia mudado: a Argentina continuava vizinha. Vizinha e de nariz torcido.

Faz uns vinte anos, formou-se nos EUA o Congresso Mundial das Famílias, movimento ultraconservador dirigido contra os homossexuais, contra o divórcio, contra direitos LGBTs, contra o aborto, contra tudo que escape aos rígidos limites do que entendem ser a família tradicional. Desconfio um pouco desses movimentos que são contra. É mais produtivo ser a favor. As armas para lutar em prol de alguma coisa são sempre menos agressivas do que as que se utilizam pra lutar contra. Ser contra tanta coisa ao mesmo tempo só pode ser fonte de mau humor. Nas reuniões desse movimento, sorriso há de ser artigo raro. Vade-retro!

Cruzada medieval

Os congressos mundiais do grupo têm lugar anualmente. Dos três últimos, realizados na Geórgia, na Hungria e na Moldávia, pouco se falou. Este ano, dado que a honra de acolher a edição coube à Itália, o evento cresceu em importância. Quando alguém declara não ter «nada contra homossexuais, cada um que viva a vida que escolheu», fique de pé atrás, distinto leitor. É quase certo que se trata de alguém digno de ostentar carteirinha de sócio do Congresso das Famílias. Usando declaração desse teor como guarda-chuva, Matteo Salvini, vice-primeiro-ministro da Itália, avalizou o evento com sua presença. Impossibilitado de comparecer, doutor Bolsonaro fez-se representar pela secretária nacional da Família – que prestigiou o congresso com um discurso. Para um presidente que prometia acabar com ideologias, está de bom tamanho.

Faz dez dias, na preparação de nova estrepolia, doutor Bolsonaro mandou um dos filhos em viagem exploratória a países da Europa, selecionados a dedo, que pretende visitar ainda este ano. São a Polônia e a Hungria, destinos que, somados, respondem por 0,4% de nossas exportações. Já se vê que a motivação comercial é pouca pra abalar presidente. À boca pequena, corre explicação mais convincente. O objetivo é inscrever nosso país no bloco ultraconservador cujos contornos já se desenham em forma de «cinturão bíblico» a proteger a Europa contra hipotéticas hordas de incréus. E lá vamos nós comprar mais uma guerra que não é nossa.

Mas a história é cíclica e o destino inexorável de todo bloco é o desmanche. Os de direita e os de esquerda se desfazem. Tanto o temível eixo Berlim/Roma quanto a poderosa URSS desmoronaram bonito. A vertigem do poder costuma cegar e impedir os ungidos de enxergar essa evidência. No entanto, se os filhos ainda não têm maturidade para entender, doutor Bolsonaro já tem idade e experiência pra se convencer de que o importante é melhorar as condições de vida do povo brasileiro, objetivo maior de seu mandato. Blocos, fugazes por natureza, fazem-se e desfazem-se ao sabor da alternância de dirigentes. O que vale hoje pode já não valer amanhã. Penduradas as chuteiras, melhor será ser lembrado por ter construído um Brasil melhor do que por ter sido membro de um grupo que virou pó.

Da força das pesquisas

José Horta Manzano

Uma discussão se alevanta, estes últimos tempos, sobre pesquisas de opinião. Computados os erros e os acertos dessas previsões, muitos acreditam que melhor seria se deixassem de ser publicadas. Já outros, alegando a liberdade de informação do cidadão, lutam pela manutenção da ordem atual.

No Reino Unido, o fiasco das sondagens por ocasião do plebiscito sobre o Brexit deu origem à atual discussão. Até a véspera do voto, todos os institutos de sondagem davam como certo que, por folgada maioria, o eleitorado recusaria o divórcio. Na véspera, foram todos dormir tranquilos. Imaginando que o assunto estava resolvido, muitos nem se abalaram pra ir votar. Os que queriam que o país permanecesse na União Europeia estavam tranquilos. Os demais, conformados.

Dia seguinte, catapum! Ninguém acreditava no que tinha acontecido. Grupos saíram às ruas, uns pra expressar euforia, a maioria pra gritar indignação. O malogro das pesquisas fez que muitos passassem a olhar os institutos com desconfiança e desprezo.

Transpondo o problema para o contexto brasileiro, o assunto dá que pensar. A seis meses da eleição presidencial, temos três ou quatro candidatos declarados e mais uma dúzia de «candidatos» entre aspas. Um deles está na cadeia. Um outro, sentado na presidência. Outros ainda são réus na justiça criminal.

Do portal Poder 360
Um candidato ainda não declarado já é dado como eleito

O quadro é baralhado e confuso. Assim mesmo, institutos de pesquisa já começaram a publicar os resultados de seus trabalhos. Não há como negar que, num cenário nebuloso como o atual, os supostos candidatos que aparecem bem nas pesquisas tendem a atrair a simpatia de eleitores perdidos. É inegável que elas podem, sim, influenciar os votantes. Afinal, ninguém quer «jogar fora o voto» nem «perder a eleição».

Embora ainda falte meio ano para o dia do voto, já se fala em candidatos «que não decolam». Na outra ponta, institutos já dão como vencedores candidatos que nem sequer se declararam. A meu ver, essas pesquisas, além de não servir pra nada, ainda dão nó na cabeça de muita gente. Acabam distorcendo os resultados.

Que partidos façam sondagens internas, está muito bem. Cada um deles tem o direito de saber como está se comportando o candidato que lançou. Já não vejo bem a utilidade de divulgar pesquisas ao grande público. Elas acabam orientando o voto de muita gente, num desvio do objetivo primeiro. Sem contar que, segundo as más línguas, certos institutos, subordinados a determinados interesses, organizam os questionários de modo a favorecer quem lhes dá ordens.

Constato que, segundo as pesquisas, já estão praticamente sentados no trono presidencial candidatos que ainda nem se declararam e dos quais não conhecemos as linhas básicas do programa de governo. Como é possível? Estaríamos elegendo candidato pela foto, como num concurso de Mr. Sorriso?

Rematado absurdo. Dependesse de mim, ficava abolida a publicação de pesquisas eleitorais.

Façam como eu digo ‒ 2

José Horta Manzano

Os franceses, povo altamente politizado, não desdenham uma boa discussão política. Estamos no período que separa o primeiro e o segundo turno da eleição presidencial, momento de alta tensão. O espaço de duas semanas é considerado demasiado longo por muitos. Acho que têm razão. O assunto é, de fato, objeto de todos os instantes. Só se fala nisso e acaba cansando.

Faz 40 anos que se faz um debate televisivo entre os dois finalistas. A tradição manda que se organize um único encontro, emoldurado por regras rígidas acertadas entre os assessores dos candidatos. Detalhes aparentemente insignificantes são levados em conta e regrados milimetricamente. Ambas as equipes têm de aprovar os entrevistadores, o formato do programa, se os candidatos se apresentarão de pé ou sentados, o formato da mesa, o horário, a cor e a eventual estampa do pano de fundo. Devem ainda concordar sobre os temas que serão abordados. Até a temperatura do estúdio será regulada conforme decisão comum.

O «grand débat» terá lugar nesta quarta-feira. Será transmitido pelos dois principais canais do país. Para quem estiver curioso: o termômetro do ambiente estará cravado nos 19 graus. Pode parecer meio fresquinho, mas evita que gotículas de suor possam brotar no rosto dos entrevistados em momentos mais acalorados. Calcula-se que 20 milhões de telespectadores devem beber as palavras dos postulantes. Sabendo que a população é de 67 milhões e eliminando crianças, anciãos, enfermos, surdos, trabalhadores noturnos e os que têm de ir cedo pra cama, pode-se dizer que o país inteiro estará grudado diante da telinha.

Imagina-se que cada candidato traga no bolsinho frases de efeito, golpes baixos, revelações comprometedoras, acusações inesperadas. Tudo o que cada um puder fazer pra puxar o tapete do outro será feito. Numa eleição atípica em que, a quatro dias do voto, um terço do eleitorado ainda não escolheu seu candidato, uma escorregadela pode ser fatal.

Hoje, os finalistas não põem o nariz na rua pra distribuir santinhos nem pra apertar mãos. Ficam ambos de molho, rodeados de assessores e marqueteiros, ensaiando frases, posturas, sorrisos. E encharcando-se de dados, estatísticas e números. O sorteio decidiu que Madame Le Pen será a primeira a falar, ao passo que Monsieur Macron fará o fecho. Não tive confirmação, mas imagino que ambos venham vestidos de azul, cor que se supõe transmitir paz e amor.

Fabricação nacional… pero no mucho

O interesse pela eleição extravasa os limites nacionais. Os países limítrofes, especialmente os de língua francesa, seguem com atenção. O Brexit aumentou o interesse de parceiros da União Europeia pela eleição francesa. De fato, a candidata Le Pen declara-se abertamente nacionalista e anti-europeia. Já declarou que, caso seja eleita, fará o que estiver em seu poder para tirar a França do euro e da Europa.

Madame Le Pen, que se apresenta como a candidata do «made in France», contrária a tudo o que vem de fora ‒ coisas e gentes ‒ foi apanhada em flagrante delito de contradição esta semana. Por ocasião de um comício em que camisetas de propaganda de seu partido estavam sendo vendidas aos participantes, uma jornalista mais curiosa procurou saber se a roupa tinha sido fabricada na França. Constatou que todas as etiquetas tinham sido cuidadosamente cortadas. No entanto, como gato que se esconde atrás da porta e esquece o rabo de fora, os cortadores de etiqueta tinham esquecido uma: justamente a do exemplar que vestia o manequim. Estava lá a prova: Made in Bangladesh.

Façam o que eu digo…

Bicho-papão

José Horta Manzano

Como de costume, a verdade costuma brotar das entrelinhas. Com frequência, o que não foi dito vale mais do que as palavras pronunciadas.

Chamada do Estadão, 11 jan° 2017

Chamada do Estadão, 11 jan° 2017

Nosso guia, que sabe muito bem que encarna, na cabeça da maioria dos brasileiros, o mal do qual o Brasil está tentando se livrar, usa a fantasia de eventual candidatura à presidência como ameaça. Age como a mãe que chantageia o filho com o espantalho do bicho-papão.

Quem será o destinatário das ameaças do Lula? Cada um é livre de tirar suas conclusões.

Ame-o ou deixe-o

José Horta Manzano

Você sabia?

Nos anos 1970, os mais negros do regime militar, não saía do país quem quisesse, assim sem mais nem menos. Havia uma prática que os jovens de hoje não conheceram. O bordão «Brasil, ame-o ou deixe-o», superdifundido na época, era puro marketing, que a realidade era bem mais feroz.

ame-o-ou-deixe-oNum esforço para capturar fugitivos e mal-amados, o regime instituiu um bizarro Visto de Saída, traço típico de regimes autoritários tipo Cuba ou Coreia do Norte. Estar de posse de passaporte válido não bastava. Para viajar ao exterior, exigia-se que todo cidadão brasileiro tirasse um visto prévio. Em princípio, era expedido pelas autoridades fiscais, mas dizia-se, à boca pequena, que a Receita não passava de fachada. Na realidade, escrutava-se a ficha policial de todo candidato a viajar. Por detrás de um passaporte, poderia esconder-se um terrorista ‒ assim refletiam os donos do poder.

Lembro-me de um episódio pitoresco ocorrido naquele tempo. Sobrevoava o território brasileiro um avião de carreira, saído da Argentina com destino aos EUA. No meio do caminho, uma passageira grávida deu sinais evidentes de que estava para dar à luz. Pânico a bordo. Que fazer?

O comandante notificou o controle em terra e solicitou permissão para pouso urgente. O aeroporto mais próximo era Belém do Pará. Ali desceu o aparelho, a parturiente desembarcou e o voo continuou. A moça, levada às pressas para a maternidade, deu nascimento a um bebê em perfeita saúde. Correu tudo à maravilha.

Visto de Saída

Visto de Saída

Passados alguns dias, a estrangeira teve alta e decidiu seguir viagem com o filho. Só que havia um problema. Tendo nascido em território nacional, o recém-nascido era automaticamente brasileiro. Portanto, para deixar o território, tinha de ser registrado, tirar documentos, pedir passaporte e, mais importante que tudo, solicitar (e obter) o incontornável visto de saída. Armou-se um imbróglio.

O nó só se desfez quando o presidente da República, por decreto especial, autorizou, em caráter excepcional, que o jovem brasileirinho fosse dispensado das formalidades habituais e do famigerado visto.

Mãe e filho foram-se. Nunca mais tive notícia deles.

Afinal, quem vence?

José Horta Manzano0-Sigismeno 1

Ontem à tarde, cruzei com meu amigo Sigismeno. A prosa foi curtinha porque estávamos os dois apressados. Assim mesmo, depois das amenidades costumeiras ‒ olá, como está, tudo bem, a família, a saúde ‒, fiz questão de pedir o prognóstico dele para a eleição presidencial dos EUA.

‒ Afinal, quem ganha?

‒ Hillary Clinton evidentemente!

‒ Mas, Sigismeno, as pesquisas andam meio assim assim. Um dia acham que ganha ela, outro dia garantem que ganha ele. De onde vem a sua certeza?

Crédito: DonkeyHotey

Crédito: DonkeyHotey

‒ Ora, é o Sistema. Ninguém vence o Sistema.

‒ Sistema, Sigismeno? Que sistema? É algum método mágico de ganhar sempre na loteria, é?

‒ Não brinque com coisa séria. O Sistema, assim com S maiúsculo, é o conjunto dos donos do mundo.

‒ Que é isso, Sigismeno? O mundo não tem dono. É de todos.

‒ Isso é balela pra inglês ver. Sistema é o nome que eu dou ao que outros chamam de establishment. Falo do conjunto de gentes e de interesses que regem o mundo. Falo do clube relativamente restrito que, em virtude da força financeira, segura as rédeas da política mundial.

‒ Uma espécie de conspiração mundial, Sigismeno?

‒ Menos, meu amigo, menos. Só conspira quem pretende tomar o poder da mão de outros. Os donos do poder não precisam conspirar. Já estão lá.

A Casa Branca segundo Donald Trump by Patrick Chappatte, desenhista suíço

A Casa Branca segundo Donald Trump
by Patrick Chappatte, desenhista suíço

‒ E por que é que Mister Trump não é aceito pelo tal de Sistema?

‒ Porque se recusa a entrar no molde. O Sistema é discreto, enquanto o boquirroto Trump fala muito e diz muita bobagem. O Sistema tem plano e rumo, enquanto o imprevisível Trump é impossível de ser controlado. O Sistema faz questão de ser impessoal, de não ter rosto definido, enquanto o Trump, dono de ego superinflado, faz tudo pra aparecer, desde Boeing pessoal até esposa vistosa. Personalidades assim não podem entrar para o clube.

‒ Ah, Sigismeno, mas como é que o Sistema pode impedir que o povo escolha? Só se os resultados forem manipulados! Você ousa imaginar que, nos EUA, isso seja possível?

Meu amigo deu uma rápida olhada no relógio. Desculpou-se por ter de se despedir imediatamente. Virou as costas e se foi.

Falam de nós – 11

0-Falam de nósJosé Horta Manzano

«Se pensava che la sua ricandidatura alle prossime presidenziali fosse una passeggiata, Luiz Inacio Lula da Silva si è sbagliato.»

«Se imaginava que sua candidatura à próxima eleição presidencial fosse um passeio, Luiz Inácio Lula da Silva se enganou.»

Bluewin, portal de Swisscom – a mais importante operadora suíça de telecomunicações –, em artigo publicado em língua italiana em 5 set° 2015.