José Horta Manzano
Ontem à tarde, cruzei com meu amigo Sigismeno. A prosa foi curtinha porque estávamos os dois apressados. Assim mesmo, depois das amenidades costumeiras ‒ olá, como está, tudo bem, a família, a saúde ‒, fiz questão de pedir o prognóstico dele para a eleição presidencial dos EUA.
‒ Afinal, quem ganha?
‒ Hillary Clinton evidentemente!
‒ Mas, Sigismeno, as pesquisas andam meio assim assim. Um dia acham que ganha ela, outro dia garantem que ganha ele. De onde vem a sua certeza?
‒ Ora, é o Sistema. Ninguém vence o Sistema.
‒ Sistema, Sigismeno? Que sistema? É algum método mágico de ganhar sempre na loteria, é?
‒ Não brinque com coisa séria. O Sistema, assim com S maiúsculo, é o conjunto dos donos do mundo.
‒ Que é isso, Sigismeno? O mundo não tem dono. É de todos.
‒ Isso é balela pra inglês ver. Sistema é o nome que eu dou ao que outros chamam de establishment. Falo do conjunto de gentes e de interesses que regem o mundo. Falo do clube relativamente restrito que, em virtude da força financeira, segura as rédeas da política mundial.
‒ Uma espécie de conspiração mundial, Sigismeno?
‒ Menos, meu amigo, menos. Só conspira quem pretende tomar o poder da mão de outros. Os donos do poder não precisam conspirar. Já estão lá.
‒ E por que é que Mister Trump não é aceito pelo tal de Sistema?
‒ Porque se recusa a entrar no molde. O Sistema é discreto, enquanto o boquirroto Trump fala muito e diz muita bobagem. O Sistema tem plano e rumo, enquanto o imprevisível Trump é impossível de ser controlado. O Sistema faz questão de ser impessoal, de não ter rosto definido, enquanto o Trump, dono de ego superinflado, faz tudo pra aparecer, desde Boeing pessoal até esposa vistosa. Personalidades assim não podem entrar para o clube.
‒ Ah, Sigismeno, mas como é que o Sistema pode impedir que o povo escolha? Só se os resultados forem manipulados! Você ousa imaginar que, nos EUA, isso seja possível?
Meu amigo deu uma rápida olhada no relógio. Desculpou-se por ter de se despedir imediatamente. Virou as costas e se foi.