José Horta Manzano
Antes de se tornar frenesi comercial como conhecemos hoje, Natal já foi festa religiosa. Talvez os mais jovens não consigam dar-se conta disso.
Famílias reunidas – e com fome – iam à Missa do Galo, rito solene e demorado, que começava à meia-noite do 24 para o 25. Digo que iam com fome porque precisava estar em jejum pra receber a comunhão. O número de horas sem comer, que chegou a ser de 12 horas, foi-se afrouxando com o tempo. Depois da missa, ceia simples e levinha esperava em casa. A reunião familiar, de verdade, era para o almoço do dia 25.
É interessante saber também que, antes de ser comemoração religiosa, o fim de dezembro, período de solstício de inverno no hemisfério norte, era pontilhado por festas pagãs. O povo manifestava júbilo e alívio porque as longas noites iam começar a encurtar. A partir da época do Natal, os dias se alongam a olhos vistos. Dependendo da latitude, o período diurno vai mordiscando a noite e vai ganhando um, dois, quatro, cinco minutos por dia sobre o período de escuridão. O Natal anuncia a primavera e o renascimento.
A origem da figura do Papai Noel moderno é conhecida, mas não custa repetir. Até o começo do século XX, algumas regiões da Europa cultivavam a lenda do velhinho que vinha, na época do Natal, presentear as crianças bem-comportadas e castigar as que tivessem sido desobedientes.
Diferentemente do que ocorre hoje, presente de Natal não vinha automaticamente, não era uma evidência. Não bastava ser criança para merecer prêmio. Precisava ter-se comportado bem. Pequerruchos rebeldes arriscavam-se a levar umas chicotadas do velhinho. Era ensinamento útil. Inculcava, nos pequeninos, a noção de que não existe almoço grátis – para atingir um objetivo, há que se esforçar.
A imagem que hoje temos de Papai Noel nada mais é que fruto da imaginação de desenhistas americanos. Em 1921, por ocasião de uma campanha de propaganda encomendada pelos fabricantes de Coca-Cola, bolaram aquele velhinho gordo e sorridente, de bochechas rosadas, viajando num trenó puxado por renas. E dizendo “ho, ho, ho!”.
Na Holanda, identificavam o velhinho do Natal com São Nicolau e o chamavam Sinterklaas. Por influência de imigrantes holandeses, os americanos adotaram o nome depois de o terem anglicizado para Santa Claus. Nos EUA, esse é o nome de Papai Noel. Vai, aqui abaixo, uma pequena lista dos diferentes nomes que diferentes povos dão ao bom velhinho do “ho, ho, ho”.
EUA: Santa Claus (São Nicolau)
França: Père Noël (Pai Natal)
Brasil: Papai Noel [francês traduzido pela metade]
Portugal: Pai Natal
Rússia: Санта Клаус (Santa Claus)
Reino Unido: Father Christmas (Pai Natal)
Alemanha: Weihnachtsmann (Homem da noite de Natal)
Catalunha: Pare Noel (Pai Noel) [francês traduzido pela metade]
Dinamarca: Julemanden (Homem do Natal)
Lituânia: Kalėdų senelis (Vovô Natal)
Holanda: Kerstman (Homem do Natal)
Suécia: Jultomten (Gnomo de Natal ou Duende de Natal)
Bulgária: Дядо Коледа (Vovô Natal)
Noruega: Julenissen (Gnomozinho de Natal)
Romênia: Moș Crăciun (Antepassado do Natal)
Turquia: Noel Baba (Pai Noel) [francês traduzido pela metade]
Polônia: Święty Mikołaj (São Nicolau)
Publicado originalmente em 25 dez° 2014