Dinheiro vivo

José Horta Manzano

Olhando assim, distraidamente, a gente quase não se dá conta, mas o fato é que a vida de corrupto está cada dia mais complicada. Corrupção sempre houve e não está perto de acabar mas antigamente passava praticamente despercebida. Uma vez a cada morte de papa, estourava um escândalo ‒ que costumava acabar numa confraternização em torno de uma bela pizza. E tudo bem.

A tendência a descerrar a cortina entrou na pauta do dia. O fator principal foi o advento da internet, que escancarou portas para a propagação da informação em larga escala e em alta velocidade. Muito lixo inútil circula na rede, mas quem tem o cuidado de separar o joio do trigo encontra informações preciosas. Sem o concurso da internet, a própria Operação Lava a Jato não teria tido o sucesso espetacular que teve.

Não devemos perder de vista que, apesar do sentimento difuso de impunidade continuada, terminamos o ano de 2017 com um balanço extraordinário, fora dos padrões nacionais. Temos um ex-presidente condenado a quase dez anos de gaiola, uma presidente destituída, os dois maiores figurões políticos da primeira década do século em prisão domiciliar ou fechada (Dirceu & Palocci). Sem contar governadores de Estado, prefeitos, deputados, senadores presos e condenados. Até o Maluf entrou em 2018 vendo o sol nascer quadrado. Um espanto!

A acelerada extinção de paraísos fiscais confiáveis tem dado dor de cabeça a muita gente com dinheiro para esconder. Nem a Suíça escapou! Os portos seguros que subsistem nem sempre inspiram confiança. Alguém cometeria a temeridade de guardar fortuna no Panamá ou em Chipre?

Doleiros existem às centenas. Quem quiser mandar para o exterior (ou de lá mandar vir) cinco ou dez mil dólares não encontrará problemas. Já pra dinheiro grosso, a história é diferente. Os grandes atores brasileiros do mercado de transferência internacional de capitais estão na cadeia ou com tornozeleira. A quem apelar?

Sobrou a última desesperada opção: guardar dinheiro em casa. Ninguém há de se esquecer da foto do ano, aquela que mostra um apartamento abarrotado com mais de cinquenta milhões. É a prova das atuais dificuldades de movimentar grandes montantes. Em outras épocas, aquela fortuna já estaria agasalhada em Genebra, em Luxemburgo ou em Jersey.

Mas o pior vem agora. Dia 1° de janeiro entrou em vigor instrução normativa exarada pela Receita Federal regulamentando movimentação em espécie. Todo pagamento acima de 30 mil reais em dinheiro será obrigatoriamente declarado, por quem recebe, à Receita Federal. Realmente, a coisa está preta.

Por curiosidade, fiz as continhas. Pra escoar aqueles 51 milhões encontrados no apartamento baiano ‒ pagando no máximo 29 mil reais de cada vez, para escapar ao contrôle ‒ seria preciso fazer 1750 pagamentos. E deixar um certo espaço de tempo entre cada um deles, que é pra não dar na vista. Já imaginou a mão de obra?

Francamente, corruptos profissionais precisam seriamente pensar em mudar de profissão.

 

Lembrete

Myrthes Suplicy Vieira (*)

Atenção, políticos, parlamentares, ministros e presidente da República, que estão tentando blindar o homem forte do atual governo:

Quem ignora as lições da história está fadado a repeti-la como farsa.

palhaco-3Pretendendo estar acima do bem e do mal e imaginando que a população os vê como últimos biscoitos do pacote, vocês acabam de se dar um comovente abraço de afogados.

Remember: Dilma, Delcídio, Mercadante, Lula, Dirceu, Genoino, Suplicy, Collor, Sarney, Cunha, Cabral, Garotinho, Maduro, Cristina Kirchner, Hillary Clinton, Margareth Thatcher, Sarkozy, Berlusconi, Gadafi, Ceausescu…

Não se esqueçam ainda que o povo também é humano (desculpem-me chocá-los com a revelação!) e, portanto, passível de errar ‒ e nem sempre disposto a persistir no erro.

(*) Myrthes Suplicy Vieira é psicóloga, escritora e tradutora.

Recordar é viver ― 7

As dúvidas do Lula

José Horta Manzano

23 set° 2010
Questionado sobre os ataques feitos anteriormente à imprensa, Lula disse duvidar «que exista um país na face da terra com mais liberdade de comunicação do que neste País, da parte do governo».

20 out° 2013
Sobre denúncias de corrupção, Lula disse duvidar «que exista no mundo um país com a quantidade de fiscalizações que o Brasil tem».

Blabla 228 ago 2014
Cutucando o PSDB, Lula disse duvidar que o partido do ex-presidente FHC «tenha feito 10% do que fiz para investigar». E usou uma analogia doméstica para explicar a diferença entre os partidos. «Eles tinham um tapete desse tamanho para jogar a sujeira debaixo. Nós tiramos esse tapete da sala», afirmou. «Só tem um jeito: é ser honesto e ter decência. Se fizer sacanagem com o dinheiro público tem que pagar».

19 out° 2006
«Se houve crime eleitoral, terei que pagar», diz Lula. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que estará sujeito à punição da Justiça Eleitoral caso seja comprovado que o dinheiro apreendido pela Polícia Federal que supostamente seria usado para compra do dossiê contra tucanos saiu da sua campanha de reeleição.

24 set° 2007
Deu no NYT: Lula duvida de provas contra Dirceu
Além de exaltar a economia brasileira e evitar falar do colega venezuelano, o presidente Lula disse em entrevista ao jornal New York Times que não há provas do envolvimento do ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu (PT) com o mensalão.

Blabla 725 ago 2012
«Lula duvida que Aécio concorra à presidência. Acha até que ele trabalhará para costurar o apoio dos tucanos a Eduardo Campos.»

1 fev° 2012
«Lá nos EUA, a crise é um tsunami. Aqui, se chegar, vai chegar uma marolinha que não dá nem para esquiar.»

20 jan° 2016
«Não tem uma “viv’alma” mais honesta do que eu neste país», diz Lula.

A ousadia

José Horta Manzano

Ainda que muitos não liguem a mínima pra isso, bato pé firme: não aceito que o meu País se transforme em esconderijo de bandidos, fugitivos de Justiça ou párias internacionais. Já bastam nossos bandidos, nossos fugitivos de Justiça e nossos párias nacionais. Já temos Dirceus e Malufs em quantidade suficiente. Chega, obrigado.

Uma coisa é dar abrigo a perseguidos por razões de raça, de etnia, de religião, de orientação sexual, de opinião política. Outra coisa, bem diferente, é acolher bandidos e fugitivos de Justiça. Coração de mãe não é covil de malfeitores.

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O Brasil mudou muito de uns 5 ou 6 anos pra cá. A economia já não vai tão bem quanto ia, é verdade. Apesar disso ― ou, talvez, por causa disso ― o povo parece ter aberto um olho. Se a proposta de acolher uma futura Copa do Mundo tivesse de ser tomada agora, em 2014, é duvidoso que fosse aceita.

Briga 2O povo descobriu que tem dirigentes. E os dirigentes se deram subitamente conta de que não vivem em círculo fechado. Perceberam que têm um povo por detrás e que essa gente pode até ― ora, vejam só! ― cobrá-los por seus feitos e malfeitos. Francamente, o mundo está de ponta-cabeça.

Pela primeira vez na história dos campeonatos mundiais de futebol do pós-guerra, o Chefe de Estado do país-sede não dirige palavras de boas-vindas aos participantes. Nada, nenhuma saudação! Três pombas se encarregaram de acolher zilhões de telespectadores de olho colado na telinha. Que vexame! Podiam ao menos ter integrado no magro espetáculo de dança uma coreografia de saudação ao mundo. Ficou demonstrado que nossos dirigentes temem o povo.

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Que é que tem acontecido no mundo? No plano internacional, Chávez desceu sete palmos, Ahmadinedjad foi varrido pra fora da arena e nossos belicosos vizinhos de parede ― atolados em problemas ― andam meio apagados. Do lado de cá das fronteiras, o Lula se foi, o Amorim foi mandado pra escanteio, o ‘top top’ Garcia se recolheu à sua insignificância. Dona Dilma está mais é preocupada em se manter de pé num momento em que todos tentam puxar-lhe o tapete.

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O nome do senhor Glenn Greenwald, empresário, advogado e jornalista americano, é bastante conhecido no Brasil. Todos o conhecem por ter anunciado ao mundo que os EUA tinham meios de espionar o planeta.

Briga 3Não foi, digamos assim, uma revelação de capital importância. Todos já sabiam disso. Há certas verdades sobre as quais é melhor manter a boca calada. Sabe Deus por que razão, Greenwald passou por cima dessas conveniências. Julgando-se dono da virtude, houve por bem botar a boca no trombone e proclamar bem alto o que todos já sabiam. Causou alguma marolinha, mas nada que abalasse o equilíbrio do planeta. O maior prejudicado foi ele mesmo.

O que menos gente conhece é o passado errático, movimentado e sulfuroso do jornalista. Poucos sabem que já foi até proprietário de um site pornográfico ― atividade pra lá de malvista em sua terra de origem. E que não se justifique como «erro de juventude»: foi 12 anos atrás, quando o advogado já tinha 35 aninhos. O gajo é useiro e vezeiro em matéria de desacato a seu próprio país.

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O senhor Greenwald concedeu entrevista estes dias ao jornal Zero Hora, de Porto Alegre. Ele reivindica que o Brasil dê asilo a Snowden ― aquele maluquinho que andou roubando informações secretas de seu país e, procurado por todas as polícias do mundo, há um ano se encontra encurralado nas estepes russas.

A certa altura, o jornalista preconiza que o Brasil ofereça abrigo a Snowden. Segundo ele, «o Brasil não deve ter medo de deixar os EUA zangados, e acho que qualquer país independente vai acolher o Snowden. Na Europa, os países são muito submissos aos EUA e jamais vão fazer algo que os EUA não queiram. A questão é se o governo brasileiro é independente, mesmo.»

Briga 4Inacreditável! Um estrangeiro atreve-se a lançar desafio às autoridades brasileiras! Justamente um forasteiro que vive em nosso território em situação análoga à de um asilado ― não ousa voltar à sua terra por medo de ser preso.

A que ponto chegamos! A escalada da agressividade continua. Hoje, qualquer um xinga a presidente da República, ameaça de morte o presidente do STF, acusa a Justiça de parcialidade, destrói patrimônio público ou privado, e fica por isso mesmo.

Agora temos o que faltava. Um estrangeiro, que, embora esteja sendo aqui acolhido «de favor», ousa desafiar as mais altas autoridades da República com algo do tipo «vamos ver se você é homem».

É insuportável.

Como desvirtuar um símbolo

José Horta Manzano

Será certamente por ignorância, não vejo outra explicação. O dito «gesto de Lenin», braço levantado com punho cerrado, tem-se demonstrado útil em muitíssimas ocasiões. Como aquela famosa palha de aço, tem 1001 utilidades.

A recrudescência de gente fazendo esse gesto é sinal de nossos tempos, pelo menos no Brasil e nos demais países sul-americanos.

Por um lado, mostra a ignorância histórica dos que ensaiam toscamente imitar o pai da Revolução Russa.

Por outro, revelam feio significado que se esconde atrás do símbolo. Explico.

Mão aberta, em qualquer cultura, indica generosidade, dádiva, acolhida, saudação. Mão fechada, em qualquer agrupamento humano, é sinal de avareza, de mesquinhez, de egoísmo, de amor a seus próprios interesses em detrimento das necessidades do próximo.

É a cara de nossos líderes atuais. E dos que pretendem tomar seu lugar.

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Vladimir Ilitch Lenin, o professor

Vladimir Ilitch Lenin, o original

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Dolores Ibarruri, la Pasionaria "Más vale morir de pié que vivir de rodillas"

Dolores Ibarruri, la Pasionaria
“Más vale morir de pié que vivir de rodillas”

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Lula de punho em riste ― 2013

Um imitador flagrado em 2013

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Dirceu: braço direito Crédito: Agência Estado

Dois imitadores tupiniquins
Crédito: Agência Estado

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Nicolás Maduro, o opressor

Nicolás Maduro, um imitador vizinho nosso

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Leopoldo López, o oprimido

Leopoldo López, o imitador que pretende derrubar o personagem retratado logo acima

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Venezuela: o resultado

O resultado da soma de ignorância com má-fé

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Rapidinha 12

José Horta Manzano

Com reportagem de Ricardo Chapola, o Estadão nos informa que foi criado um site exclusivamente para passar o chapéu e arrecadar uma ajudazinha do distinto público. Para quê? Ora, para pagar a multa a que um dos réus do mensalão foi condenado.

Três dúvidas me ocorrem:

Interligne vertical 141) O partido ao qual esse senhor é afiliado é considerado abastado. Por que não enfiam a mão no bolso e acabam logo com essa encenação?

2) Dados relativos a movimentação bancária são, em princípio, sigilosos. Quem garante que o montante anunciado terá sido realmente alcançado? De qualquer maneira, seja qual for a quantia declarada, ninguém poderá contestar.

3) Três dos condenados no processo do mensalão pertencem ao mesmo partido. A vaquinha está sendo lançada para dar arrimo apenas a um deles. Por que razão os outros dois não ousam recorrer à caridade pública? Será lícito tomar esse silêncio por uma reconhecimento de culpa?

Quem viver verá.

Frase do dia — 45

«Para evitar o impeachment, Lula abriu os braços a oligarcas e representantes do atraso no país. Sarney, Collor, Maluf e Renan são hoje amigos do peito do ex-presidente petista. Eles estão soltos. Dirceu e Genoino estão presos. Faz sentido.»

Vinicius Mota, in Folha de São Paulo, 18 nov° 2013

A simbologia e a inconsistência

José Horta Manzano

Observem a imagem das duas figuras mais emblemáticas do mensalão quando faziam pose para as câmeras pouco antes de serem despachadas à Papuda.

Dirceu: braço direito Crédito: Agência Estado

Dirceu: braço direito e sorrindo = ERRADO
Crédito: Agência Estado

Desde tempos imemoriais, o homem se serviu de braços e mãos para assinalar sua presença, saudar, ameaçar, demonstrar alegria, repúdio, desprezo, satisfação. Mas a saudação com o punho fechado é pouco generosa. Não precisa ser especialista em semiologia nem em ocultismo para entender que, enquanto a mão aberta dá, a mão fechada retém e guarda para si.

Saudar com a mão aberta é simpático, familiar, amistoso. Todos costumamos fazer isso para dizer oi, para dizer tchau, para dar adeus. Não viria à cabeça de ninguém fazer a outrem um gesto com o punho cerrado. Instintivamente, evitamos o que pode ser interpretado como agressão.

Genoino: braço dobrado

Genoino: braço dobrado = ERRADO

Como se dizia antigamente, nossos dois pitorescos personagens ouviram cantar o galo, mas não sabem onde. A saudação conhecida como «de Lênin» se faz com o punho fechado, o braço esquerdo esticado e levantado, sem esboçar nenhum sorriso. Tem de ser o braço esquerdo. E não pode estar dobrado, mas sempre estendido para cima.

Como todo gesto hostil, é perigoso: não fica claro a quem está sendo dirigido. Ao povo? Ao governo? Ao Supremo Tribunal? Aos policiais? Aos companheiros de partido que escaparam de condenação? Cada um é livre de interpretar como lhe aprouver. Um símbolo que não é entendido pela assistência não tem valor.

Ao longo do tempo, esse gesto tem sido usado por dezenas de grupos e grupelhos. Esquerdistas, direitistas, anarquistas, constestadores, revolucionários, separatistas, feministas, terroristas, socialistas, trabalhistas foram ― alguns ainda são ― adeptos desse tipo de saudação.

Hugo Chávez: braço direito

Hugo Chávez: braço direito e sorrindo = ERRADO

Pelas ambiguidades que pode criar, mais vale evitar o gesto. No entanto, quem fizer questão de saudar assim deve fazê-lo sempre com o punho cerrado, o braço esquerdo totalmente estendido e dirigido para cima. E sem sorrir.

Nossos guias regionais, como se pode apreciar pelas fotos desta postagem, têm uma interpretação bastante pessoal e aproximativa da rígida «saudação de Lênin». Braço esquerdo ou direito, estendido ou meio dobrado, tanto faz. Pode até mostrar os dentes num sorriso.

Sem dúvida, a atitude leviana e displicente combina com a inconsistência dos personagens.