José Horta Manzano
Ignorante e encastelado, nosso presidente vive em universo minguado. Sua visão não alcança além da ponta do nariz. Os cortesãos, também adeptos do ensimesmamento, não ajudam. Até os (poucos) cujo currículo mostra alguma abertura no passado acabam por curvar-se em oportuno mimetismo: arrogantes e agressivos, imitam o chefe.
O grande desejo de doutor Bolsonaro é que a duração do mandato seja a mais longa possível. Permanecer no trono lhe dá certa proteção contra a prisão. Ele tem atacado muita gente e feito muitos inimigos. Sabe que vingança é prato que se come frio. Sabe que um dia, fatalmente, perderá a imunidade – e teme esse dia. Lembra-se do que aconteceu com Lula da Silva, que, apesar da monumental popularidade com que deixou o governo, teve de purgar ano e meio de cadeia.
Doutor Bolsonaro tem razão de temer. A insistir em dirigir os negócios do Estado brasileiro com tal cegueira, o acúmulo de inimigos ressentidos o levará à Papuda após o fim do mandato.
Primeiro fator
Ele não sabe (e ninguém lhe diz) que o planeta está em rápida mutação; a sensibilidade ecológica, incipiente no Brasil, está crescendo muito depressa mundo afora.
Segundo fator
Ele não percebe (e ninguém lhe conta) a repercussão global causada por sua tresloucada política de destruição da Amazônia, que não combina com a sensibilidade ecológica do século 21. No exterior, é assunto que rende. Não se passa um dia sem que a mídia mundial volte ao assunto. Jornais, rádios e tevês apontam sem parar o bizarro dirigente que promove o aniquilamento da maior floresta equatorial do mundo.
Conclusão
Ele não enxerga (e ninguém lhe revela) que os importadores de produtos brasileiros estão sofrendo pressões cada dia mais fortes para deixar de comprar do Brasil e passar a importar de outras fontes.
Ao viver na ingenuidade dos ignorantes, doutor Bolsonaro está brincando com fogo. A força das ruas e a bateção de panelas não são nada se comparadas com a potência silenciosa dos grandes exportadores brasileiros. Na hora em que os negócios deles começarem a diminuir, o tom vai mudar. Empresário nenhum aprecia que alguém lhe atravanque o caminho. O que Bolsonaro não consegue ver vai custar caro a todos – a ele e a nós também.
A seguir, um sortilégio de artigos que se recortam todos os dias na imprensa mundial. Recortei comentários indignados até na mídia de Bangkok, na longínqua Tailândia.