José Horta Manzano
Terça-feira passada, quando saiu o veredicto do STJ sobre o recurso interposto pela defesa de Lula da Silva, não ocorreu a nenhum jornal brasileiro botar na manchete que o tribunal havia confirmado a condenação do ex-presidente por corrupção. Todos pularam esse “detalhe” e passaram direto ao ajuste da extensão da pena imposta ao condenado. Assim, as manchetes variaram em torno do tema da dita dosimetria. Caciques petistas, por má-fé ou ignorância, chegaram a festejar a decisão como se de vitória se tratasse. Quem não tem cão…
Por que terá acontecido isso? A meu ver, a explicação é uma só. Na cabeça de todos, a confirmação da condenação já eram favas contadas. Sobre esse ponto não havia suspense. Ninguém, em sã consciência, imaginava que o STJ pudesse inocentar o Lula. Condenado estava e condenado continuaria, esse era o entendimento geral. A expectativa estava mesmo em torno da manutenção ou de um ajuste da pena, daí a ênfase dada à adaptação dela.
A imprensa mundial foi contaminada pelo anticlímax. Todos deram a notícia segundo a receita nacional, ou seja, ressaltando que, por unanimidade, o tribunal havia reduzido a duração da pena de prisão de Lula da Silva. A confirmação da sentença sumiu do radar ou ficou em segundo plano.
Topei com uma única exceção. Trata-se da Gazzetta del Mezzogiorno, pequeno órgão da longínqua cidade de Bari, região da Puglia (ou Apúlia, como preferem os puristas). Para quem olha para o mapa, essa região forma o salto da bota italiana. Sabe-se lá por que prodígio, o jornal deu a manchete: «Alta Corte conferma condanna Lula per corruzione – Corte Superior confirma a condenação de Lula por corrupção». A redução da pena só apareceu no subtítulo.
A dez mil quilômetros de distância, um pequeno jornal provinciano conseguiu escapar da uniformização esparramada pela grande mídia. Parabéns.