Mão pesada

Sônia Racy (*)

Cláudia Cruz, ao ser condenada por evasão de divisas anteontem no TRF4, tornou-se o mais novo exemplo de como a corte é mais dura que Moro, que a havia inocentado.

Até agora, 134 sentenças do juiz de Curitiba passaram pelo TRF4. Em 67 casos, a pena aplicada ficou igual ou… aumentou. Em outros 8 casos, o tribunal condenou quando Moro havia absolvido.

(*) Sônia Racy (1956-) é jornalista.

Ofensa por ofensa

Discussão 1Sonia Racy (*)

Cássio Cunha Lima, líder do PSDB no Senado, adotou um “santo remédio” como resposta para quem o chama de “golpista”: devolver com um “petista”.

Conta o senador que, esta semana, sua tática já surtiu efeito. Ao ser abordado no aeroporto de Brasília com acusação de golpista e retrucar com um petista, viu que o homem ficou sem… reação.

(*) Sonia Racy, jornalista, mantém uma coluna no Estadão.

Cala a boca

José Horta Manzano

Ramona Rodríguez Crédito: José Cruz, ABr

Ramona Rodríguez
Crédito: José Cruz, ABr

Sonia Racy nos dá notícia, por seu blogue alojado no Estadão, das últimas peripécias da señora Rodríguez. Falo de dona Ramona, aquela sui-generis missionária cubana que, algum tempo depois de chegar ao Brasil no bojo da importação de pessoal médico de Cuba, renegou o trato e postulou asilo nos EUA.

O escândalo que se esboçava era grande demais. Não era caso pra ficar sentado esperando o que ia acontecer. Nossos governantes ― respeitados mestres na arte de amansar adversários, oponentes e inimigos ― agiram rápido. Deram-se conta de que um providencial emprego se encontrava justamente vago, na administração da Associação Médica Brasileira. Ora, veja você que feliz coincidência!

O posto foi imediatamente proposto a señora Rodríguez O salário? Pode ser que um dia o distinto público fique sabendo. O que não saberemos nunca é o valor que esse cala-boca terá custado ao bolso do contribuinte brasileiro. Não é com qualquer dez merréis que se faz alguém desistir de um asilo nos EUA.

Frase do dia — 88

«O mau humor com Dilma hoje é tamanho que, durante sua fala, o dólar chegou a bater nos R$ 2,42. Logo depois, quando começaram em Davos os boatos de que Guido Mantega não mais ficaria no cargo, o real voltou a se valorizar.»

Sonia Racy comentando o discurso pronunciado por dona Dilma em Davos. In Estadão, 25 jan° 2014.

Previsões para a Copa

José Horta Manzano

A Copa do Mundo de Futebol, para quem não se deu conta, já começou faz uns dois anos. As 32 equipes que evoluirão este ano nas «arenas» (=estádios) do Brasil estarão disputando a fase final. O torneio começou com as eliminatórias regionais, das quais participaram perto de 200 países.

Os que integram a fase final são já uma elite, visto que 5 em cada 6 pretendentes já foram desclassificados. Para a maioria dos times nacionais, o objetivo era chegar a essa fase, ou seja, ganhar a passagem para o Brasil. Já se dão por satisfeitos de o terem conseguido. Outras equipes são mais ambiciosas e fixam a meta um bocadinho mais além: fazem de tudo para chegar às quartas de final, glória suprema.

Pelo que tenho constatado, nenhum país ousa declarar que tem como objetivo «ganhar» a Copa. É claro que todos os torcedores ficariam felizes se seu time nacional fosse campeão. Mas chegar às quartas de final já é façanha considerada de bom tamanho. Ninguém se arrisca a falar abertamente em levar o caneco.

Na cabeça do torcedor brasileiro, as coisas não funcionam exatamente assim. O objetivo é um só: ganhar o campeonato e levar a taça para casa. Terminar em segundo lugar ― o segundo entre 200 nações! ― é considerado, entre nós, um fracasso. Ficar em terceiro, então, é catastrófico. Menos que isso é vergonha nacional.

Por que isso acontece? Quem tiver uma explicação, que me diga. Confesso que não sei.

Interligne 18e
Sonia Racy colheu as costumeiras previsões para o novo ano formuladas por especialistas em tarô, numerologia e astrologia. A mesma série de perguntas foi feita a cada um deles. Entre as respostas, estão evidências que dispensam estudos esotéricos: haverá furacões, inundações, terremotos, manifestações populares durante a Copa, escândalos políticos. Para isso, dispensamos prevedores.

Já em outros assuntos, os três especialistas não conseguiram entrar em acordo. Há quem aposte na reeleição de mandatários atuais, há quem jure que serão varridos pelos eleitores. A ver. (Ou “haber”, como me escreveu uma vez um amigo espanhol. Não imite, que está errado, hein!)

Um tema, no entanto, uniu a predição dos três especialistas: o Brasil não será campeão de futebol.Copa 14 logo 2

O tarólogo foi pouco incisivo, mas bastante claro:
«O brasileiro costuma cantar vitória antes da hora (é pretensioso), e a pretensão é a maior inimiga da vitória».

A numeróloga foi direto ao ponto:
«Haverá uma queda de confiança na equipe, que levará o Brasil a perder a Copa».

E o astrólogo martelou um golpe seco e sem dó:
«O Brasil terá grande atuação, mas não vencerá».

É isso aí, minha gente. Melhor ir-se conformando.

Clique aqui se quiser ler a integralidade das previsões.

As flutuações da lei

José Horta Manzano

Faz quase quatro mil anos que o Código de Hamurábi foi inscrito num monolito, em escrita cuneiforme. Aquele pedaço de rocha contém a coletânea de leis e procedimentos mais completa e mais antiga de que temos notícia. A criação ― e a aplicação ― de um arcabouço legal é uma das marcas que distinguem uma sociedade civilizada de um bando de selvagens.

Quando a Roma antiga firmou suas regras legais, justamente aquelas que deram origem ao nosso Direito, já fazia um milênio e meio que os pioneiros babilônios tinham dado os primeiros passos nessa senda.

Em nosso País, não faltam leis. Temos uma das constituições mais prolixas do mundo e um emaranhado impressionante de leis, decretos, medidas provisórias, provimentos, regulamentos. Não é a falta delas que atrapalha. Nem, como pensam muitos, o excesso. O que desorienta o cidadão é a instabilidade das normas legais. O que vale hoje à noite pode não mais valer amanhã de manhã.

Sonia Racy, em seu blogue alojado no Estadão, nos faz saber, neste 14 de novembro, que o emir de Dubai renuncia a participar de leilões de privatização de aeroportos brasileiros. O motivo da recusa foi atirado simples, franca e diretamente aos ouvidos do vice-presidente de nossa República: a insegurança jurídica. É gravíssimo o que disse o endinheirado potentado.

Este não é espaço onde se pretenda discutir a validade ou não de privatizações ou partilhas. O abandono total ou parcial de soberania, por parte do Estado, sobre aeroportos é um outro capítulo. O que me desassossega aqui é o fato de nossa instabilidade jurídica estar afugentando capitais.

Aeroporto de Dubai

Aeroporto de Dubai

Dubai, como os outros emirados do Golfo Pérsico, não produz nada. Quis a natureza que aquela região desértica se assentasse sobre um mar de petróleo. Vivem há anos da exploração dessa riqueza fóssil. E vivem muito bem! Melhor que isso: são governados por clãs que têm visão. Sabem todos que, mais dia, menos dia, o petróleo vai acabar. E aí, como fica?

Dado que o solo e o clima não permitem nenhuma agricultura, estão investindo na cultura do povo e diversificando as aplicações em outros países. A Sorbonne, tradicional universidade parisiense, foi convidada a instalar uma filial em Abu Dabi. Está funcionando já faz alguns anos.

As estatísticas mostram que o intenso investimento no setor de transporte aéreo já ergueu o aeroporto de Dubai a um patamar impressionantemente elevado. Em 2012, aquele terminal aéreo apareceu em 10° lugar na classificação mundial por número de passageiros. Desbancou Amsterdam, JFK (Nova York), Hong Kong, Madrid e até Frankfurt!

Enfim, não estão esbanjando o dinheiro fácil em palácios com maçanetas de ouro maciço. Estão transformando aquela desolada região em importante escala aérea, destino turístico, centro de educação de primeira grandeza, polo de pesquisa e desenvolvimento de alto nível.

Não são amadores. Se julgam que o Brasil não merece receber seus investimentos, dado o temor que nossa insegurança jurídica lhes infunde, é chegado o momento de nossas autoridades pensarem muito bem de onde viemos, onde estamos, e para onde queremos ir.

Sermos considerados república de bananas não só machuca nosso amor-próprio como também ― e principalmente ― nos afasta do circuito de circulação das riquezas. E isso, a longo prazo, é ruim para todos.