12 de setembro

Juscelino Kubitschek

José Horta Manzano

No meio de tantos horrores que fermentam no magma da classe política nacional e afloram à superfície durante campanhas presidenciais, é sempre refrescante relembrar coisas agradáveis. São coisas que estão obrigatoriamente no passado visto que, da política atual, não se pode esperar nada de bom.

Faz hoje exatamente 120 anos que nasceu em Diamantina, nas Minas Gerais, um menino que viria a ser um dos dois grandes presidentes que nossa República conheceu desde a redemocratização de 1945. Falo de Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902-1976). O outro grande foi Fernando Henrique Cardoso.

Fora esses dois, só estropícios subiram a rampa. E pelo que tudo indica, a desgraça não está perto de acabar. Considerando os dois principais pretendentes ao trono, seja qual deles for eleito, o Brasil vai continuar fazendo parte da periferia do mundo.

Continuaremos sendo um daqueles países folclóricos capazes de produzir soja para engordar gado, mas incapazes de contribuir para o processo civilizatório global.

Presidente bossa-nova

José Horta Manzano

Na virada dos anos 50 para os 60, surgiu novo nome na paisagem musical brasileira. Era Juca Chaves, jovem cantor e compositor, dono de estilo diferente do que então se fazia. Sua música era intimista, ainda que não se enquadrasse nos cânones da nascente bossa nova. Tinha o som e a melodia de velhas modinhas – sem o vozeirão.

Para a época, as letras de Juca Chaves eram ousadas e irreverentes. Assim que foi lançado, o sambinha Presidente Bossa-Nova tropeçou na censura: sua execução foi simplesmente proibida. A letra, que hoje não choca ninguém, fazia troça com Juscelino Kubitschek, então presidente da República. Foi preciso que o próprio presidente, magnânimo, mandasse liberar – numa atitude cavalheiresca que hoje faz muita falta.

Os primeiros versos estão aqui:

Presidente bossa-nova

Bossa nova mesmo é ser presidente
Desta terra descoberta por Cabral
Para tanto basta ser tão simplesmente
Simpático, risonho, original.

Depois desfrutar da maravilha
De ser o presidente do Brasil,
Voar da Velhacap pra Brasília,
Ver a alvorada e voar de volta ao Rio.

Voar, voar, voar, voar,
Voar, voar pra bem distante, a
Té Versalhes onde duas mineirinhas valsinhas
Dançam como debutante, interessante!

Há ainda duas estrofes. Que clique aqui quem tiver curiosidade de conhecer (ou de recordar).

Juscelino Kubitschek
by Pedro Bottino, desenhista

Sessenta anos se passaram. Desapareceram gestos de magnanimidade e atitudes cavalheiras. Onde antes se batia com luva de pelica, hoje se dá com soco inglês. Neste ano e meio de governo Bolsonaro, o palavreado endureceu. Recolhi os adjetivos que já foram atribuídos ao atual presidente – estão todos na mídia impressa e na internet pra quem quiser conferir. Aqui estão:

estúpido,
mesquinho,
chefete,
cretino,
burro,
preguiçoso,
ignorante,
irresponsável,
perturbado,
incapaz,
indecoroso,
grosseiro,
primitivo,
reacionário,
desequilibrado.

A lista não é exaustiva. Mudou o Brasil ou mudei eu, como diria o outro.

Glossário
À atenção dos mais novos, vai aqui um pequeno glossário para compreender a letra da musiquinha.

Bossa nova
Era a nova maneira de tocar samba, novidade que acabava de aparecer naqueles anos. Repare que o nome do ritmo não leva hífen, enquanto o adjetivo (presidente bossa-nova) exige o tracinho. Cada uma, não?

Simpático e risonho
Juscelino era conhecido pela simpatia e pelo sorriso eternamente estampado no rosto.

Velhacap
Com a construção de Brasília, que se chamou Novacap (nova capital), foram encontrados dois prêmios de consolação. São Paulo passou a ser conhecida como Supercap; e o Rio de Janeiro tornou-se a Velhacap. Nenhum dos três apelidos resistiu à passagem dos anos.

Voar, voar
Diferentemente de seus predecessores, Kubitschek viajava frequentemente de avião. Dizia-se dele que era o presidente voador.

Versalhes
As duas mineirinhas, que o autor situa em Versalhes, eram Márcia e Maria Estela, as duas filhas do presidente.

Paço de São Cristóvão

José Horta Manzano

O Museu Nacional do Brasil e o Museu de História Natural do México formavam a primeira classe do panorama museológico latino-americano. As coleções de nosso Museu Nacional, no entanto, ultrapassavam em importância as do museu mexicano. O acervo acumulado no palácio da Quinta da Boa Vista ia além do universo tradicional da História Natural ‒ contava também com coleções arqueológicas, importante biblioteca, tesouros mineralógicos.

O Museu Nacional era destino de pesquisadores que vinham do outro lado do oceano apreciar e estudar objetos e espécimes que não se podiam encontrar em outro lugar. A tragédia comoveu o mundo da ciência. A França ofereceu assistência técnica. O Egito, que conta com grande experiência em restauração de obras de arte, também pôs seus especialistas à disposição.

Portugal sentiu o baque de maneira ainda mais especial. Além da destruição do acervo, a devastação do Paço de São Cristóvão foi um golpe duro. Esse edifício era o símbolo de um momento em que a História de Portugal e a do Brasil se roçam.

No Rio de Janeiro, a Biblioteca Nacional conta com acervo monumental.

Além de ter abrigado nossos dois imperadores, o prédio foi residência de nada menos que quatro gerações de monarcas portugueses. Viveram lá: D. Maria I (a Louca), seu filho D. João VI, seu neto D. Pedro I (que mais tarde reinaria como Pedro IV em Portugal) e ainda sua bisneta D. Maria da Glória (que viria a ser rainha de Portugal, com o nome de Maria II).

Esta última, D. Maria II, detém uma exclusividade não igualada até hoje: é a única monarca europeia nascida fora do continente europeu. Nasceu justamente no Palácio de São Cristóvão, em abril de 1819, quando D. João VI ainda residia no Rio de Janeiro.

Agora nos resta torcer pra que a súbita onda de interesse pelo panorama museológico brasileiro não morra na praia. Tomara que a desgraça de hoje sirva pra abrir os olhos de nossas autoridades. Sem um passado consistente, o futuro fica frouxo.

Dos personagens que presidiram nossa República nos últimos 50 anos, tem-se notícia de apenas dois que visitaram o Museu Nacional: Juscelino Kubitschek e Costa e Silva. Nenhum outro deixou registro de ter ensaiado alguns passos na Quinta da Boa Vista.

Se o próximo presidente fizer, logo no começo do mandato, uma visitinha, por exemplo, à fabulosa Biblioteca Nacional, já estará de bom tamanho. É bom ir antes que arda.

Reflexões sobre a greve

José Horta Manzano

Toda decisão governamental, correta ou equivocada, acaba por acarretar efeito a longo prazo. Estamos sentindo hoje a repercussão de escolhas feitas semana passada. Mas estão aí também as consequências de decisões antigas. Alguns desastres atuais são resultado de bombas-relógio armadas meio século atrás.

Os anos em que a República foi presidida por Juscelino Kubitschek foram de grandes transformações. Com euforia, os brasileiros vislumbravam um Brasil novo, de progresso e bem-estar. Brasília foi construída em prazo curtíssimo ‒ um assombro. O futuro parecia estar chegando e se apresentava brilhante.

A indústria automobilística se instalou em território nacional. Nas cidades e nas toscas estradas, começaram a rodar dekavês que estalavam feito pipoca, fusquinhas esquisitos com motor atrás, simcas elegantes e cobiçados. E os caminhões fenemê, então! Um dos símbolos fortes da pujança da terra descoberta por Cabral!

Com orgulho, o Brasil se jogou de corpo e alma no transporte rodoviário, deixando pra trás os caminhos de ferro. Que coisa mais antiquada, gente! Trem de ferro, trenzinho do caipira, maria-fumaça ‒ a etiqueta de meio de transporte ultrapassado colou na ferrovia. Ninguém reclamou quando, em poucos anos, a rede ferroviária foi desmantelada. O mato cresceu entre os trilhos e as estações viraram ruína.

Essa visão maniqueísta, que opõe rodovia a ferrovia, foi muito nociva. Passados cinquenta anos, o Brasil sofre as consequências de uma decisão desastrada, tomada sob forte pressão do lobby das montadoras. É verdade que ninguém podia prever as crises petroleiras nem os reclamos da ecologia, que estavam por vir. São elementos que entraram em nossa vida sem pedir licença. Que fazer?

No fundo, o trem não era tão antiquado como pareceu aos governantes dos anos 1960. Países mais atinados continuaram a investir no aperfeiçoamento das estradas de ferro. Vieram trens de superior desempenho, com boa velocidade, climatização, vedação sonora. As linhas foram totalmente eletrificadas. Apareceu o trem-bala, que, em percursos de até 500-700km, faz concorrência ao avião.

Chamada Estadão, 28 maio 2018

Com o perdão da expressão, o Brasil perdeu o bonde. Dormiu no ponto. Mas nunca é tarde demais pra consertar. Quem sabe um governo mais alerta dê os incentivos necessários pra retomar a implantação de ferrovias. Embora não venham imediatamente, os resultados serão pra lá de benéficos. Nossos netos não verão um país paralisado por greve de caminhoneiros.

Superstição ganha Copa?

José Horta Manzano

A cada nova edição da Copa do Mundo de futebol, surgem palpites de futurólogos, videntes, cartomantes & assemelhados. Uns preveem que nossa seleção levará a taça, outros predizem que não, que os bravos soldados cairão no campo de glória.

De qualquer modo, não tem muita importância porque, passado pouco tempo, ninguém mais se lembra das previsões. Assim sendo, vamos botar lenha na fogueira. Aqui vai uma superstição artesanal.

Crédito: Kopelnitsky, EUA

Constatei que há uma correspondência entre as taças conquistadas e o mandato do presidente da República à época. Vejam só:

1958
O presidente era Juscelino, que cumpriu mandato integral.

1962
O presidente era Goulart, que cumpriu mandato tampão.

1970
O presidente era Médici, que cumpriu mandato integral.

1994
O presidente era Itamar, que cumpriu mandato tampão.

2002
O presidente era FHC, que cumpriu mandato integral.

Observe que o Brasil ganha a Copa uma vez com presidente de mandato integral e uma vez com presidente tampão. E assim por diante, alternadamente.

Se a teoria se confirmar, a proóxima Copa virá com presidente de mandato tampão. Temer está nessa situação. Portanto, há forte probabilidade de a taça vir pra cá este ano!

Noventa milhões em ação!

Murió el comandante

José Horta Manzano

Os que conheceram um mundo sem Fidel Castro já se aposentaram. Nove entre dez cubanos não conheceram a ilha sem o líder máximo. Os poucos que chegaram a passar a infância antes da revolução já não se lembram mais de como era. Afinal, são quase sessenta anos ‒ é muita coisa.

A ilha de Cuba antes da tomada do poder pelos revolucionários castristas ‒ que se diga sem firulas ‒ era, com o perdão da palavra, um bordel. Os cassinos, a luxúria, a tropicalidade e a permissividade faziam de Havana um destino recreativo barato e accessível. A ultracorrupta ditadura de Fulgencio Batista atiçava as brasas e exaltava a libido. A proximidade geográfica dos EUA cuidava de fornecer os turistas. Alguns vinham em família, mas a maioria dos visitantes eram homens em busca de aventura fugaz regada a rum e embalada por rumbas e mambos.

Fidel Castro e Juscelino Kubitschek

Fidel Castro e Juscelino Kubitschek, 1959

Todo exagero acaba mal. O desequilíbrio alimentado pela ditadura decadente de Batista foi perfeito estopim para a aventura libertária de um grupo de jovens. Valeram-se da «guerrilha», termo criado pela língua espanhola justamente para designar a «guerrinha», esse estado permanente de tensão bem diferente da guerra tradicional, feita de aviões e de tanques. Na guerrilha, todas as pequenas ações acontecem de surpresa. Vive-se em alerta constante sem saber de onde virá o ataque.

Responsável por um regime apodrecido, sanguinário e sem sustentação popular, Fulgencio Batista caiu. Assim que o bando de Fidel Castro se aproximou de Havana, o ditador fugiu para o exterior, peregrinou por um tempo e acabou encontrando exílio na Espanha, onde ficou até o fim de seus dias.

No começo, até que não foi mal. Em busca de apoio internacional, Fidel percorreu mundo. Até no Brasil esteve em 1959, quando se encontrou com o presidente Juscelino Kubitschek. Dois anos mais tarde, chegou a receber visita de nosso folclórico presidente Jânio Quadros.

Fidel Castro e Jânio Quadros

Fidel Castro e Jânio Quadros, 1961

Quanto à ideologia, o bando revolucionário cubano hesitava. Embora, mais tarde, tenham jurado ter sido comunistas desde a infância, a coisa é mais complicada. Despachado o velho ditador, chegou a hora de procurar sustento e reconhecimento internacional. Os Estados Unidos, dados os laços históricos e a proximidade geográfica, foram procurados em primeiro lugar.

O governo americano cometeu então um erro estratégico. Não deu grande importância aos jovens barbudos. Naqueles tempos de Guerra Fria foi atitude fatal. Não restou aos revolucionários senão buscar o apoio da União Soviética, que aceitou agradecida. Daí pra frente, deu no que deu. Cuba tornou-se bastião do comunismo fincado a 150km das costas americanas. Cara feia, embargo e ostracismo não resolveram o problema: o mal estava feito. O regime antigo foi substituído por nova ditadura, tão sanguinária quanto a anterior.

Dizem que o bem é mais poderoso que o mal. Pode ser. Mas tem uma coisa. Ainda que você tenha andado na linha a vida inteira ‒ respeitoso, bondoso, correto, direito ‒, basta dar um mau passo, unzinho só, e será grande o risco de pôr tudo a perder. Leva-se muito tempo para construir uma reputação, mas, para destruí-la, basta muito pouco.

Fidel Castro e o Lula

Fidel Castro e o Lula

Fidel Castro terá tido seus méritos, principalmente no início da gestão. Aliviou a miséria dos concidadãos, melhorou o acesso à alfabetização e à saúde. Por seu lado, as liberdades individuais sofreram um baque. Julgamentos sumários e execuções secretas, cidadãos vigiados e fichados, desconfiança disseminada, prisão de dissidentes, proibição de viagens internacionais, pobreza generalizada, escassez de alimentos, partido único, ausência de debate, bloqueio de acesso à informação ‒ os cubanos conheceram tudo o que um Estado policial, onipresente e onipotente pode oferecer.

Não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe. Hoje foi-se o comandante. Antes dele, tantíssimas outras personagens controversas já conheceram glória e decadência. Hitler, Mussolini, Stalin, Berlusconi e até nosso genial guia, o Lula, seguiram a mesma trilha. Subiram, foram incensados, e, inexoravelmente, acabaram caindo. Uns desabaram fragorosamente, outros foram resvalando aos poucos, mas ninguém escapou.

Assim é a vida. A História, cruel, costuma esquecer os momentos de glória. O que acaba ficando para sempre é a decadência, que é mais «sexy» e vende mais. Tremei, ó grandes do mundo!

A falta que ele faz

Sebastião Nery (*)

O telefone tocou na casa de praia de Madame Schneider, uma francesa amiga de Juscelino Kubitschek, a 20 quilômetros de Saint Tropez, no sul da França, onde ele, dona Sara, as filhas Márcia e Maristela e o ex-secretário amigo dileto Olavo Drummond passavam uns dias descansando, depois de deixar a presidência da República em 31 de janeiro de 1961.

Era o empresário, poeta e redator de alguns dos históricos discursos de Juscelino, Augusto Frederico Schmidt, falando do Rio:

– Juscelino, estou recebendo um clipping das revistas dos EUA. A revista “Time” está dizendo que você é “a sétima fortuna do mundo”.

presidente-11-juscelino-kubitschekConversaram, Schmidt desligou e Juscelino ficou deprimido, amargurado. Olavo o chamou para darem uma volta:

– Presidente, hoje de manhã, quando fui comprar os jornais, quem estava na banca era a Brigitte Bardot. Podemos encontrá-la de novo.

Juscelino riu. Saíram. A primeira pessoa que viram foi a Brigitte Bardot, no auge do sucesso, com aquela carinha de paraíso terrestre depois da maçã, cercada de fãs, tirando fotografias. Juscelino se afastou:

– Olavo, se eu sair com essa mulher em um fundo de fotografia, a imprensa brasileira vai dizer que estou namorando com ela.

Mas não esqueceu a história da “sétima fortuna do mundo”.

Quatro anos depois, a embaixada da Inglaterra no Brasil mandaria a Londres um documento para o “Foreign Office”, sob o cód.371/179250:

«O ex-presidente Kubitschek retornou ao Brasil. Não há dúvida de que ele é popular, com seu charme e suas ideias expansivas e grandiosas. Mas ele era um verdadeiro símbolo da corrupção, saiu da pobreza para a posição de sétimo homem mais rico do mundo, segundo a revista “Time”.»

Essa história de “sétimo homem mais rico do mundo” era então exaustivamente repetida pelo ex-deputado da UDN baiana Aliomar Baleeiro e outros udenistas, civis e militares, depois do “Golpe de 64”.

presidente-12-janio-quadrosEra uma velha indignidade. Na véspera de passar o governo a Jânio Quadros em 31 de janeiro de 1961, Juscelino reuniu um grupo de ministros, auxiliares e amigos no Palácio da Alvorada. Chega José Maria Alkmin:

– Juscelino, estou seguramente informado de que o Jânio vai fazer um discurso agressivo contra você, na sua frente, na solenidade de transmissão do cargo, no Palácio do Planalto.

– Vou passar o cargo ao presidente que o povo elegeu. Só o Dutra passou. Quero dar uma demonstração ao mundo de nossa democracia.

– E se ele fizer um discurso agressivo?

– Dou-lhe uma bofetada na cara e o derrubo no meio do salão. Vai ser o maior escândalo da história da República.

Não houve discurso nem bofetada.

(*) Sebastião Nery, jornalista, é editor do site SebastiãoNery.com.

Ministérios & governança

José Horta Manzano

Você sabia?

Hermes da Fonseca

Hermes da Fonseca

Não consta que nosso País, durante a Primeira República (1889-1930), tenha sido mal administrado. Sabem vocês de quantas pastas era composto o ministério de um Venceslau Brás ou de um Hermes da Fonseca? Eram unicamente sete ministros. Apesar dos precários meios de comunicação da época, sete ministérios bastavam.

Mais de meio século depois do golpe de 1889, o governo de Juscelino Kubitschek ainda se contentava com 12 ministérios. E olhe lá: naquela altura, havia três ministros militares (da Guerra, da Aeronáutica e da Marinha), representados hoje por um só titular.

Ao general João Figueiredo, último fardado a presidir o País, 16 ministérios foram suficientes. Não estamos falando do tempo dos Sumérios, mas de apenas 30 anos atrás.

Uma curiosidade picante. Será que o distinto leitor conhece o número de ministérios da Suíça? Não? Pois digo-lhe: são sete. Cogita-se, há anos, elevar o número para onze, mas há muita resistência. Não é amanhã que isso vai acontecer. O povo acredita – com razão – que a eficiência do governo não está na razão direta do número de ministérios.

1001 noites 2No Brasil, já estamos em 39 pastas. Dizem as más línguas que dona Dilma só não instalou mais uma para evitar que o total lembrasse uma certa caverna onde se armazenavam tesouros. Bobagem. Sabemos todos que, hoje em dia, tesouros não se guardam mais em cavernas. Repousam em paraísos fiscais.

Saiu esta semana a notícia de que dez ministérios serão cortados em Brasília. Não foi informado quando isso acontecerá nem quais serão os afetados. Foi dito, isso sim, que o corte trará grande economia de dinheiro público. Tenho cá minhas dúvidas.

Dilma ministerio 1Fico com a impressão de que tudo não passa de encenação para a galeria. Senão, vejamos. A cada ministro desalojado, será oferecida uma sinecura qualquer. Seus assessores diretos irão junto. E como fica o pessoal do ministério? Serão todos dispensados? Duvi-de-o-dó!

Reuniao trabalho 1Se forem concursados, continuarão firmes. Se forem nomeados, é sinal de que são companheiros. Não se os pode abandonar. A mesma caneta que os contratou há de dar-lhes abrigo sob o manto de outro ministério, de uma estatal, de uma paraestatal, de uma instituição governamental. Ninguém será deixado ao deus-dará. Do maioral até a moça do café, todos continuarão a ser remunerados com nosso dinheiro.

O grande número de ministérios, embora visível, não é a consequência mais nefasta do inchaço da máquina pública. Todos sabem disso, mas está combinado: não se toca no assunto. Faz de conta que está tudo bem. A vida continua e seguimos todos felizes.

Um século de pérolas presidenciais

“Hoje eu estou saudando a mandioca, uma das maiores conquistas do Brasil!”
Presidente Dilma Vana Rousseff

Presidente 2“É verdade: eu sou uma mulher dura cercada de homens meigos.”
Presidente Dilma Vana Rousseff

“O meio ambiente é uma ameaça para o desenvolvimento sustentável.”
Presidente Dilma Vana Rousseff

“Fui agora ao Gabão aprender como é que um presidente consegue ficar 37 anos no poder e ainda se candidatar à reeleição.”
Presidente Luiz Inácio da Silva, dito Lula

“Sou filho de uma mulher que nasceu analfabeta.”
Presidente Luiz Inácio da Silva, dito Lula

“Nem parece África!”
Presidente Luiz Inácio da Silva, sobre Windhoek, capital da Namíbia, África

Presidentes“Acho que nós, brasileiros, ainda não entendemos que a política externa é interna.”
Presidente Fernando Henrique Cardoso

“A caneta que nomeia é a mesma que demite”.
Presidente Fernando Henrique Cardoso

by Gerson Salvador, desenhista mineiro

by Gerson Salvador, desenhista mineiro

“Em Minas Gerais, a política é como crochê: não se pode dar ponto errado, sob pena de ter de começar tudo de novo.”
Presidente Itamar Augusto Cautiero Franco

“Seja legal com seus filhos. São eles que vão escolher seu asilo.”
Presidente Itamar Augusto Cautiero Franco

“Neste presidente, ninguém coloca uma canga.”
Presidente Fernando Affonso Collor de Mello

“Eu tenho aquilo roxo!”
Presidente Fernando Affonso Collor de Mello

Presidente 3“Governo é como violino: você toma com a esquerda e toca com a direita”
Presidente José de Ribamar Ferreira de Araújo Costa, dito Sarney

“No Maranhão, depois dos 50, não se pergunta a alguém como está de saúde. Pergunta-se onde é que dói.”
Presidente José de Ribamar Ferreira de Araújo Costa, dito Sarney

“Esperteza, quando é muita, come o dono.”
Presidente Tancredo de Almeida Neves, quando governador de Minas

“Sei que o país é essencialmente agrícola. Afinal, posso ser ignorante, mas não tanto.”
Presidente João Baptista de Oliveira Figueiredo

“Um povo que não sabe nem escovar os dentes não está preparado para votar.”
Presidente João Baptista de Oliveira Figueiredo

“É muita pretensão do homem inventar que Deus o criou à sua imagem e semelhança. Será possível que Deus seja tão ruim assim?”
Presidente Ernesto Beckmann Geisel

“O Brasil vai bem, mas o povo vai mal.”
Presidente Emílio Garrastazu Medici

“O poder é como um salame, toda vez que você o usa bem, corta só uma fatia, quando o usa mal, corta duas, mas se não o usa, cortam-se três e, em qualquer caso, ele fica sempre menor.”
Presidente Arthur da Costa e Silva

“A esquerda é boa para duas coisas: organizar manifestações de rua e desorganizar a economia.”
Presidente Humberto de Alencar Castello Branco

“Não troco um só trabalhador brasileiro por cem desses grã-finos arrumadinhos.”
Presidente João Belchior Marques Goulart

“Bebo porque é líquido. Se fosse sólido, comê-lo-ia.”
Presidente Jânio da Silva Quadros

Presidentes galeria“Intimidade gera aborrecimentos e filhos. Com a senhora não quero ter aborrecimentos e muito menos filhos. Portanto, exijo que me respeite”.
Presidente Jânio da Silva Quadros, quando prefeito de SP, dirigindo-se a uma jornalista que o havia tratado por você.

“O otimista pode até errar, mas o pessimista já começa errando.”
Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira

“Costumo voltar atrás, sim. Não tenho compromisso com o erro.”
Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira

“Deus poupou-me o sentimento do medo.”
Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira

“Quanto menos alguém entende, mais quer discordar.”
Presidente Getúlio Dornelles Vargas

“Eu sempre desconfiei muito daqueles que nunca me pediram nada. Geralmente os que sentam à mesa sem apetite são os que mais comem.”
Presidente Getúlio Dornelles Vargas

Presidente 1“No ministério tem gente capaz, o problema é que a maioria é capaz de qualquer coisa.”
Presidente Getúlio Dornelles Vargas

“A questão social é um caso de polícia.”
Presidente Washington Luís Pereira de Souza

“Durante a penúltima campanha presidencial, afirmava-se que o candidato não seria eleito; eleito, não seria reconhecido; reconhecido, não tomaria posse; empossado, não transporia os umbrais do Palácio do Catete.”
Presidente Arthur da Silva Bernardes

Inspirado em coletânea organizada por Pedro Luiz Rodrigues e publicada no Diário do Poder.