José Horta Manzano
A mais recente boçalidade presidencial – (deixe escrever depressa, antes que ele cometa mais uma e esta aqui deixe de ser a última) – a mais recente, dizia eu, é a ameaça que fez a um repórter que lhe cobrava esclarecimentos sobre dinheiro suspeito depositado na conta da primeira-dama.
No mais puro estilo valentão de Xiririca, rosnou que queria quebrar a cara do jornalista atrevido. Cá entre nós, é moleza chamar alguém para a briga, quando se está rodeado de seguranças, cada um medindo dois por dois. Assim, até eu.
Sabe-se que cão que ladra não morde. Queria ver o presidente em campo aberto, sozinho, desarmado, só com o jornalista em frente. Vai que o atrevido é campeão de caratê, nunca se sabe. Queria ver se não afinava.
Jornais, tevês, plataformas, blogues e outros sites por onde passei comentaram a notícia. Imensa maioria disse algo como: «Ao ser perguntado sobre os depósitos na conta da primeira-dama (…)».
Ao ser perguntado? Bobeou que escreveu isso. É tentador dizer «Fulano foi perguntado sobre» ou «Na prova, os alunos foram perguntados se (…)». Mas a norma culta condena. O uso da voz passiva só é possível em presença de verbo transitivo direto. Assim:
O menino viu o livro.
O livro foi visto pelo menino.
A moça leva a sacola.
A sacola é levada pela moça.
O Congresso vai aprovar a lei.
A lei será aprovada pelo Congresso.
O problema é que, na acepção de pedir informação, o verbo perguntar não é transitivo direto. Portanto, nada de utilizá-lo na voz passiva.
Há diversas maneiras de dizer a mesma coisa sem atentar contra a norma culta. Esqueça o «ele foi perguntado». Use outro verbo. Aqui estão alguns:
indagar
interrogar
inquirir
questionar
interpelar
sondar
investigar
(há outros).
Cada um tem sua nuance. Procure o que melhor exprime o que você quer dizer. Todos os que mencionei são transitivos diretos, o que significa que podem ser usados na voz passiva.