Multidão x multidão

Ascânio Seleme (*)

Havia 64,6 mil pessoas no comício de Bolsonaro em Copacabana na tarde de quarta-feira, segundo o Monitor do Debate Público da USP. Na noite do mesmo dia, 66,6 mil torcedores assistiram à vitória do Flamengo sobre o Vélez Sarsfield no Maracanã.

Pode não significar muita coisa, são apenas dois mil a mais, mas os que foram ao Maracanã pagaram para entrar. Já muitos dos que estiveram em Copacabana receberam algum “incentivo” para participar do ato e gritar “mito”.

No Maracanã, Bolsonaro foi vaiado e xingado. E Rodolfo Landim não pôde fazer nada.

(*) Ascânio Seleme é jornalista. Trecho de artigo publicado no jornal O Globo.

11 de agosto

Ascânio Seleme (*)

Não adianta Bolsonaro e bolsonaristas reagirem com deboche ou ódio, o 11 de agosto entrou para a História como data nacional de repúdio à ditadura. Será comemorado daqui para sempre. Será lembrado como o dia do basta, o dia em que a sociedade civil tomou a si a defesa da democracia como bem maior da nação.

Os brasileiros fizeram o que seus representantes no Congresso não fazem por interesses privados e escusos: disseram não ao golpe e ao golpista.

(*) Ascânio Seleme é jornalista. Trecho de artigo publicado no jornal O Globo.

A Amazônia não é brasileira

Ascânio Seleme (*)

São tolos e mal informados os que pensam que a Amazônia é brasileira. Não é. A floresta não pertence a Brasil, Colômbia, Venezuela, Peru, Equador, Guianas. Sua imensidão territorial se estende por esses países e colônias, mas sua importância ultrapassa toda e qualquer fronteira.

Parece que ainda vai demorar muito até que se perceba que, para salvar o mundo, será necessária uma política globalmente estruturada para defender a Amazônia. Pode ser tarde.

Por ora, quem tenta proteger a floresta de seus algozes são homens bons como Bruno Pereira e Dom Phillips. E esses são sistematicamente sabotados por governos ou assassinados por pessoas com interesses contrariados.

(*) Ascânio Seleme é jornalista. Trecho de artigo publicado no jornal O Globo.

O golpista

Ascânio Seleme (*)

Se as pesquisas continuarem mostrando que o crescimento de Lula se consolida, aumentando a possibilidade de vitória já no primeiro turno eleitoral, Jair Bolsonaro vai antecipar sua tentativa de golpe para o dia 7 de setembro. Será uma nova setembrada, como a do ano passado, mas desta vez com mais violência e sem freios.

Não tenha dúvida de que o presidente do Brasil vai incentivar a invasão do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral. De maneira mais clara e direta do que em 2021.

Mas desde já é bom que ele fique sabendo que não vai dar certo. Pior. Além de dar errado, vai significar o fim de sua carreira política e muito provavelmente o seu encarceramento.

(*) Ascânio Seleme é jornalista. Trecho de artigo publicado no jornal O Globo de 11 junho 2022.

Imunidade arcaica

Ascânio Seleme (*)

Nenhum país concede tantas imunidades aos seus parlamentares quanto Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Do grupo de ex-ditaduras do Cone Sul, apenas o Chile está fora da lista de piores num estudo feito em 90 países pelos professores e pesquisadores Karthik Reddy, Moritz Schularick e Vasiliki Skreta.

Os quatro países refletiram em suas leis preocupação que teve origem nas ditaduras, procurando defender os parlamentares da má vontade de um governante de botas.

Na maioria dos países pesquisados as imunidades são limitadas. Na Inglaterra não há qualquer imunidade parlamentar, nem mesmo para o primeiro-ministro. O que deve ser inalcançável pela Justiça é o voto do representante popular, não as suas opiniões e palavras.

O exagero pode significar que não importa o que diga o parlamentar, nada lhe será imputado. Essa é a questão de Daniel Silveira. Alega que a ameaça que fez ao Supremo, aos ministros e seus familiares era opinião e deve ser protegida. Não foi opinião, foi crime e precisa ser punido.

(*) Ascânio Seleme é jornalista. Trecho de artigo publicado no jornal O Globo de 7 maio 2022.

Servidor extinto

Ascânio Seleme (*)

O governo federal gasta, anualmente, R$ 8,2 bilhões para manter mais de 69 mil servidores ativos que ocupam cargos já extintos, como ascensoristas, datilógrafos e técnicos de manutenção de videotape.

Entre 2014 e 2015, o governo contratou afinadores de instrumentos musicais e datilógrafos. Apesar de tais cargos terem sido extintos em 2019, os servidores permanecerão na folha de pagamento pelos próximos 53 anos.

Ainda existem servidores ativos que ocupam cargos de açougueiro, chaveiro, encadernador e operador de telex.

(*) Ascânio Seleme é jornalista. Trecho de artigo publicado no jornal O Globo de 1° jan° 2022.

Plano B

Ascânio Seleme (*)

Bolsonaro não desistiu da reeleição. Com o auxílio emergencial acha que consegue sobreviver e crescer ao longo dos primeiros meses do ano que vem.

Mas o plano B está mantido. Se mais adiante as pesquisas apontarem um inevitável fracasso eleitoral, ele retira sua candidatura como forma de inviabilizar Lula. E dirá alto e claramente que deixa a disputa para impedir que o PT ganhe a eleição.

A saída de Bolsonaro não derrota automaticamente Lula, mas sua candidatura se enfraquece diante de um candidato de centro que atraia os eleitores da direita bolsonarista. Claro que, antes de sair, Bolsonaro tentará um acordo de blindagem para si e seus filhos.

(*) Ascânio Seleme é jornalista. Trecho de artigo publicado no jornal O Globo de 23 out° 2021.

Voto à antiga

Ascânio Seleme (*)

Beijo na cédula
Veterano mesário de eleições em São Paulo conta a história de um candidato a deputado federal que tinha muito apoio entre as mulheres porque era bonito, dono de grandes olhos verdes e um sorriso cativante. Era o jornalista e advogado Emílio Carlos, que perdeu alguns milhares de votos na sua primeira eleição porque as cédulas vinham borradas por batom de mulheres que beijavam o papel numa prova de ternura. O candidato acabou sendo eleito em 1946 e permaneceu na Câmara até morrer, em 1963. Pode parecer bobagem, mas a história mostra como era fácil anular votos bons num pleito com cédulas de papel.

Bruno Covas
Bolsonaro não foi o único a criticar o ex-prefeito Bruno Covas por ter vindo ao Rio com o filho assistir à final da Libertadores em meio a pandemia. A diferença é que o presidente o atacou depois de morto, para obter um ganho político. Assim é Bolsonaro. Um canalha que desrespeita os mortos e arremeda, rindo, doentes de Covid que não conseguem respirar. Não vale nada mesmo.

(*) Ascânio Seleme é jornalista. Trecho de artigo publicado no jornal O Globo de 7 agosto 2021.

Olímpica

Ascânio Seleme (*)

Excelente exemplo da delegação brasileira que desfilou na abertura dos Jogos de Tóquio com apenas quatro integrantes. Fazer bonito de vez em quando não custa nada e ajuda a diminuir a antipatia global causada pelo capitão. O número reduzido de desfilantes era para mostrar preocupação com a pandemia de coronavírus.

No Brasil, os atletas devem ter sido vaiados por você sabe quem.

(*) Ascânio Seleme é jornalista. Trecho de artigo publicado no jornal O Globo de 24 julho 2021.

Marina e a perereca

Ascânio Seleme (*)

Lula tem razão. Ele e Gleisi assinaram artigo na “Folha” mostrando preocupação com o meio ambiente e batendo na política criminosa de Bolsonaro para o setor.

Mas é bom não esquecer que o maior ícone ambientalista nacional, a ex-senadora Marina Silva, pediu demissão do Ministério do Meio Ambiente no governo Lula por falta de “sustentação política” para tocar sua pauta.

Também não custa lembrar que Lula sempre se queixou da “poderosa máquina de fiscalização” ambiental. Por isso disse, no longínquo 2010, que o Brasil não podia “ficar a serviço de uma perereca”. Criticava a paralisação das obras do Arco Metropolitano do Rio em favor da preservação de um anfíbio que habitava um charco por onde passaria a estrada.

(*) Ascânio Seleme é jornalista. Trecho de artigo publicado no jornal O Globo de 24 abril 2021.

Encontre o erro

Ascânio Seleme (*)

José Maria da Silva Paranhos Júnior (Barão de Rio Branco), Otávio Mangabeira, Afrânio de Melo Franco, Osvaldo Aranha, Horácio Lafer, Afonso Arinos, San Tiago Dantas, Evandro Lins e Silva, Magalhães Pinto, Azeredo da Silveira, Raimundo Saraiva Guerreiro, Olavo Setúbal, Celso Lafer, Francisco Rezek, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Felipe Lampreia, Celso Amorim, José Serra e Ernesto Araújo. Que tal esta galeria? Tem alguém deslocado aí?

(*) Ascânio Seleme é jornalista. Trecho de artigo publicado no jornal O Globo de 27 março 2021.

Se está sobrando…

Ascânio Seleme (*)

De acordo com levantamento do Tribunal de Contas da União, 6.157 militares das três Forças Armadas servem em postos civis no governo Bolsonaro. Destes, 3.029 são da ativa, segundo o Ministério da Defesa. Com o contingente desviado de função, dá para montar uns cinco ou seis batalhões de infantaria do Exército. Se esse volume de gente não faz falta às Forças Armadas, não seria o caso de reduzir o tamanho do aparato todo e economizar recursos?

(*) Ascânio Seleme é jornalista. O texto foi publicado no jornal O Globo de 27 fev° 2021.

Assédio

by Damien Glez (1967-), desenhista francês

Ascânio Seleme (*)

O assédio do deputado Fernando Cury à deputada Isa Penna é uma demonstração absurdamente explícita do desrespeito e do abuso. Como pôde o deputado imaginar que podia se esfregar assim numa mulher sem o seu consentimento e que não aconteceria nada? Ainda mais em se tratando de uma parlamentar do PSOL, partido conhecido por sua constante luta contra este tipo de abuso. O partido de Marielle Franco, convenhamos. E, depois, o local do assédio era o plenário da Assembleia Legislativa de SP, local monitorado por câmeras o tempo todo. Cury deve ser punido por importunação sexual, falta de decoro e burrice atroz.

(*) Ascânio Seleme é jornalista. O texto foi publicado no jornal O Globo de 19 dez° 2020.

Uma pergunta

Ascânio Seleme (*)

Por que pessoas que operavam no mercado sofisticado de bitcoin guardavam quase R$ 100 mil em dinheiro vivo dentro de um armário? Não existe a menor possibilidade de alguém comprar a moeda digital mandando reais pelos Correios. Carregar malas de dinheiro pra lá e pra cá, transportar dólares escondidos na cueca e guardar cédulas em caixas dentro de casa é mais parecido com coisa da história recente da corrupção nacional.

(*) Ascânio Seleme é jornalista. O texto integral foi publicado n’O Globo de 28 julho 2019.

Por sorte não é o Carlos

Ascânio Seleme (*)

O fato é que [na novela da nomeação do filho para embaixador em Washington], Bolsonaro já perdeu, não importa qual seja o desfecho do episódio.

Se Eduardo for indicado pelo pai, aprovado pelo Senado e pelo Supremo, o deputado vira embaixador, vai embora e enfraquece o bloco monolítico familiar que ajuda a sustentar emocionalmente o presidente.

Bolsonaro & bolsonarinhos
Crédito: vespeiro.com

Se for indicado e acabar caindo no Senado ou no Supremo, seu pai terá sofrido a mais dura derrota desde a posse, já que o rejeitado será, para lá da questão política, seu filho.

Se o presidente recuar e acabar não fazendo a indicação, terá mostrado fraqueza diante de um ambiente político hostil que não teve coragem de enfrentar. E, ainda pior, terá um filho melindrado. Por sorte não é o Carlos.

(*) Ascânio Seleme é jornalista. O texto integral foi publicado n’O Globo de 18 julho 2019.

Cumprindo promessas

Ascânio Seleme (*)

Bolsonaro mandou ao Congresso projeto liberando compra e uso de armas de fogo de potência e em número nunca imaginados. Também encaminhou proposta reduzindo multas de trânsito, inclusive para quem circular com crianças soltas dentro dos carros.

Por portaria, já liberou 197 agrotóxicos, mais de um por dia. O governo diz que o presidente está cumprindo promessas de campanha. Não me lembro de Bolsonaro ter prometido tomar medidas que garantidamente aumentassem o número de brasileiros mortos a cada ano.

(*) Ascânio Seleme é jornalista. O texto integral foi publicado n’O Globo de 9 junho 2019.