José Horta Manzano
Às seis e meia da manhã, pela hora de Brasília, abro a edição online da Folha de São Paulo. Desfilando pela primeira página, encontro as seguintes chamadas:
- Presidente da Gazint disse que Bolsonaro tem que ganhar para ‘não ter que gastar mais dinheiro’.
- Grupos de WhatsApp pró-Haddad proliferam, e PT desconfia de armadilha bolsonarista
- TSE abre investigação sobre Bolsonaro e compra de mensagens anti-PT
- WhatsApp bloqueia contas; TSE e PTF apuram atuação eleitoral de empresas
- Apoiadores de Bolsonaro começam a migrar grupos do WhatsApp para o Telegram
- Empresários recuam em onda de apoio a Bolsonaro para não se expor
- Repórter que descobriu envio de mensagens anti-PT participa do Eleição na Chapa
- Bolinha de papel na cabeça de José Serra antecipa fake news
- Roger Waters agradece vaias e chama Bolsonaro de insano. Músico diz que boicotaria o Brasil pela democracia caso candidato seja eleito
- Comida na ditadura causava horror. Tem político querendo transformar o Brasil no país de 40 ou 50 anos atrás
- O mercado ignora os riscos de um governo Bolsonaro
- As reformas da extrema direita bolsonarista para destruir o Brasil
Juro que é verdade, sem tirar nem pôr. Tudo na primeira página. Não estou tentando criar fake news ‒ pra entrar na moda. É consternante reconhecer que o autoqualificado ‘maior jornal do Brasil’ mais parece um panfleto partidário. O ativismo desse veículo, como diriam os franceses, é cousu de fil blanc ‒ costurado com linha branca. É patente, salta aos olhos. Só não enxerga quem não quer. Para conferir, basta dar uma olhada na sobriedade da primeira página dos outros dois jornais mais vendidos no país, o Estadão e O Globo. A diferença é comovente.
Vale notar que ter a maior circulação entre os jornais do país não significa ser ‘o maior’. São conceitos diferentes. Na Alemanha, o Bild tem, de longe, a maior circulação. Bate, com folga, qualquer concorrente. No entanto, com seu estilo de tabloide sensacionalista, está longe de ser ‘o maior’. Aliás, nem reivindica essa posição. É apenas o mais vendido, basta. A mesma coisa acontece com a Folha, que costumava ser jornal sério, mas está se perdendo.
A mídia tradicional tem visto seus leitores sugados pela internet. Cada veículo tenta solução própria para compensar a diminuição das vendas. “O maior jornal do país” parece ter escolhido caminho original. Mas é sempre perigoso vender a alma ao diabo. Como ensina o Conselheiro Acácio, as consequências vêm depois.