José Horta Manzano
Classe é pra quem tem, não adianta fazer de conta. Quem não tem, fica sem. O mundo nos tem brindado com alguns figurões políticos que brilham justamente pela falta de classe.
Mr. Donald Trump tem doutorado na matéria. Suas escorregadelas são diárias. A última surpreendeu até admiradores. Foi quando, no dia de Natal, perguntou a uma criança de sete anos se ainda acreditava em Papai Noel. Fez isso diante das câmeras que levavam a cena a todas as famílias do país. Baita pisão de bola.
Certa feita, quando era presidente da França, Jacques Chirac hospedou-se no Forte de Bregançon ‒ residência presidencial de verão. Uma bela manhã de sol, dirigiu-se à praia em companhia de dois assessores. Os acompanhantes iam convenientemente trajados de bermuda e chinelo ou sapatinho raso sem meia. Monsieur Chirac respeitou o código vestimentar com exceção de um detalhe: calçava meias pretas. A caminho da praia. De bermuda. Passaram-se anos, mas os franceses comentam até hoje.
Nos últimos anos de vida, quando já o chamavam «coma andante», Fidel Castro deixou-se fotografar algumas vezes no retiro secreto onde definhava aos poucos. A cada vez, seu agasalho portava, bem visível, o logo de conhecida marca alemã de roupas esportivas. Nas costas alquebradas do dono de uma ditadura comunista, essa adesão explícita à fé capitalista pegou mal.
Lula da Silva, quando inaugurou seu primeiro mandato, não tinha mais classe do que tem hoje. Antes de ser repreendido por seu entourage, apresentou-se mais de uma vez em público vestindo terno e gravata e levando, picado na lapela, un pin com a estrela vermelha do PT. Todos ficaram chocados de constatar que o recém-empossado não se considerava presidente de todos, mas chefe de um partido. Precisaram sacudi-lo pra ele acordar.
O atual presidente eleito e excelentíssima senhora também têm, visivelmente, um problema vestimentário. Semana passada, doutor Bolsonaro mandou ao ar um vídeo com uma espécie de prestação de contas. Inspirado ironicamente no falecido ditador cubano, apareceu vestindo um agasalho de conhecida marca americana de roupas de esporte. Pra quem se declara nacionalista e defensor dos interesses da pátria, ficou esquisito. Em se tratando de presidente eleito, ficou pior ainda.
Doutora Michelle Bolsonaro mostrou comportamento concordante com o do marido. Esta semana, passado o Natal, chegou de barco ao Iate Clube de Itacuruçá, no Rio. No desembarque, foi fotografada carregando seu lulu no colo e vestindo camiseta preta com os seguintes dizeres estampados: «Se começar nesse tom comigo, a gente vai ter problema». Como se lembram todos, a frase foi pronunciada pela juíza Hardt, quando do mais recente interrogatório de Lula da Silva. Ficou a pergunta: o que é que tem o interrogatório do Lula a ver com as férias de madame? Tivesse ela usado camiseta com o escudo do Corinthians ou do Flamengo, não teria sido mais brega.
Faz tempo que bom-tom e presidência não rimam.