José Horta Manzano
Notícia boa interessa pouca gente. É por isso que às vezes demora a chegar.
Notícia ruim atrai a atenção e chega rápido feito corisco.
Você conhece o Vietnã? Sabe apontar o país num mapa? Não é fácil. Fica lá na Cochinchina. Pensa que é brincadeira minha? Não é. Parte dos contornos do Vietnã atual coincidem com a costa que os navegadores portugueses visitaram 500 anos atrás e chamaram Cochinchina.
A linguagem popular costuma dizer “Conchinchina”, acrescentando um N que não aparece no original. Esse N sobra. É Cochinchina mesmo.
A origem do nome é curiosa. É obra dos navegantes portugueses. Quando aportaram naquelas costas, já fazia anos que tinham aberto um posto de comércio no litoral da Índia, junto à cidade de Cochim (Kochi em inglês). Não se sabe por que razão, chamaram a nova terra também Cochim. Para diferenciar as duas Cochins, esta ficou Cochinchina (= Cochim da China).
Com o declínio do poderio português, a região passou a ser cobiçada por outras potências europeias. A partir da metade do século 19, caiu aos poucos na órbita da França e e acabou tornando-se colônia. Conservou esse estatuto até 1954, quando, depois de 8 anos de guerra sangrenta, os vietnamitas conseguiram expulsar os colonizadores.
Os franceses se foram, mas a língua ficou. Cada vez perdendo mais terreno em relação ao inglês, é verdade, mas resistindo até hoje. Nas escolas do país, o francês ainda é ensinado como segunda língua.
Pois é. Nós não sabemos grande coisa sobre o Vietnã. Mas eles estão informados sobre as mazelas de nosso país, aquelas desgraças que nos incomodam mas que insistimos em negar.
A edição de ontem do Courrier du Vietnam, jornal online vietnamita redigido em francês, traz longo artigo sobre a “explosão de fome que atinge 33 milhões de brasileiros”. Até vietnamita se espanta com nossa assustadora realidade; só brasileiro é que ouve uma barbaridade dessas e continua seu caminho achando que é normal.
Minha gente, é o seguinte: são 15% dos conterrâneos passando fome. É um em cada sete. Da próxima vez que passar por uma rua movimentada, experimente contar. Deixe passar 6 indivíduos. No sétimo, anote: este aqui não tem comida suficiente. Faça esse exerciciozinho durante cinco minutos.
Aí você vai entender a extensão do drama. É de dar vertigem. É muita gente. Gente como nós, mas que sofre as consequências de um pecado original: nascer pobre num país onde a desigualdade social não incomoda ninguém.
Enquanto isso, o capitão passeia de motocicleta ou de jet ski para encanto dos devotos, o Lula dá festa de casamento com banquete para uma multidão de adoradores, parlamentares passam a mão no nosso dinheiro, servido sob forma de orçamento secreto.
Bolsonaro já está em fim de mandato e lega um país mais faminto do que encontrou ao assumir. O Lula e seus aliados estiveram 13 anos no poder e deixaram tudo do jeitinho que tinham encontrado. Os parlamentares estão há décadas se locupletando, indiferentes ao drama maior.
Mas deixe estar. As eleições vêm aí. Sabem como vai ficar depois de novembro? Vai mudar tudo!
1) O capitão vai se aposentar e ficar ruminando vingança, balançando numa rede, em regime de picanha macia.
2) O Lula, cercado de bajuladores, vai voltar a se esbaldar com o luxo e as benesses do poder, que é o que mais lhe interessa no Planalto.
3) Os parlamentares, cujo apetite é insaciável, continuarão arrancando significativos nacos do tesouro público. Afinal, são profissionais.
E o país vai continuar empacado.