Teste primitivo

Elio Gáspari (*)

Bola cristal 1«Saber o que vai acontecer é coisa de cartomante. Apesar disso, sempre pode-se medir a capacidade de uma pessoa de pensar o impensável.

Aqui vai um teste primitivo. Tem cinco afirmações. Quem previu uma delas, é ousado. Quem previu duas é um temerário. Quem previu todas pode abrir uma tenda de cartomante:

   1- Dilma Rousseff não terminaria o mandato.

   2- Eduardo Cunha perderia a cadeira.

   3- Marcelo Odebrecht iria para a cadeia.

   4- Leo Pinheiro, da OAS, colaboraria com a Lava a Jato.

   5- Alemanha 7 x Brasil 1.

Quem foi surpreendido em todos os casos é apenas um brasileiro normal. Os tempos é que estão emocionantes.»

(*) Elio Gáspari é jornalista. Seus artigos são publicados por numerosos jornais.

A tradição continua

Elio Gáspari (*)

by Ueslei Marcelino, jornalista e fotógrafo brasiliense

by Ueslei Marcelino, jornalista e fotógrafo brasiliense

O fotógrafo Ueslei Marcelino captou a doutora Dilma num momento Debret ao caminhar nos jardins do Palácio da Alvorada rumo a um helicóptero. Ela ia à frente de um grupo de quatro cidadãos, todos de roupa escura e em fila indiana. O primeiro a protegia com um guarda-chuva aberto. Já o quarto carregava um guarda-chuva fechado. O segundo levava pequena sacola de papel.

by Jean-Baptiste Debret (1768-1848), artista francês

by Jean-Baptiste Debret (1768-1848), artista francês

Em famosa gravura, o pintor Jean-Baptiste Debret retratou um fidalgo do Rio de Janeiro seguido por uma fila de dez pessoas. Provavelmente iam para alguma cerimônia.

No tempo do imperador, era comum ver D. Pedro II carregar sua valise.

(*) Elio Gáspari é jornalista. Seus artigos são publicados por numerosos jornais.

Retrato do governo

Elio Gáspari (*)

Train 4

«O trem-bala, delírio da doutora, era para ficar pronto para a Copa de 2014 ou, o mais tardar, para a Olimpíada de 2016. Felizmente, até as empreiteiras fugiram da maluquice. Apesar disso, o governo criou uma estatal para gerenciar a grande obra.

Não se fala mais em trem-bala, mas a estatal, chamada de Empresa de Planejamento e Logística, mudou de propósito e está aí, firme e forte. Funciona em dois andares de um edifício em Brasília e acaba de trocar sua diretoria.

Fazer trem é coisa difícil. Para criar uma estatal, bastam caneta e tinta. Fechá-la é impossível.»

(*) Elio Gáspari é jornalista. Seus artigos são publicados por numerosos jornais.

Frase do dia — 271

«Enquanto ex-ministros de Dilma e comissários petistas são hostilizados em restaurantes, Fernando Henrique Cardoso é chamado para uma média de vinte selfies quando entra em restaurantes do centrão de São Paulo.

Num caso, uma senhora pediu que ele gravasse uma mensagem para seu pai, internado num hospital.»

(*) Elio Gáspari é jornalista. Seus artigos são publicados por numerosos jornais.

De Amador.Aguiar@com para J.Levy@gov

Elio Gáspari (*)

Estimado ministro,

Banco 8O senhor foi o primeiro funcionário do Bradesco a se tornar ministro da Fazenda. Para o banco que fundei, é uma honra e ao mesmo tempo um risco. Não trabalhamos juntos. O senhor formou-se na Universidade de Chicago. Eu, em lugar nenhum.

Resolvi escrever-lhe por causa do contratempo que a Receita Federal, sob sua jurisdição, criou para os clientes com o cadastro dos empregados domésticos. Veja que eu uso a palavra clientes, pois os cidadãos pagam impostos para receber serviços. Chamando-os de contribuintes falsificamos a essência da relação. Contribuinte é quem deixa dinheiro numa caixa de igreja. No banco, o senhor sabe, cobramos taxas em troca de serviços. O cliente é obrigado a pagá-las, e nós somos obrigados a servi-lo.

Receita 2Em 1943, quando fundei o Bradesco, o brasileiro achava que entrar em banco era coisa de rico. Passei a receber contas de luz, abri agências em cidades que não tinham energia elétrica. A mesa do gerente devia ficar perto da porta de entrada. Nossos funcionários ensinavam a clientela a preencher cheques. Um dos nossos bancários foi escolhido para dirigir uma agência e, com a mulher, passou o fim de semana limpando os balcões e o chão. Ele viria a se tornar presidente do banco. Em apenas oito anos, o Bradesco tornou-se o maior do país.

Banco 9No domingo passado, ficou claro que o sistema do cadastro não funcionava. Eu sei o que é isso porque o Bradesco foi o primeiro banco brasileiro a usar computador. O senhor e o secretário da Receita não disseram uma palavra. Pareciam aqueles paulistas quatrocentões que competiam comigo.

Passaram-se o domingo e a segunda-feira. Nada. Na terça-feira, a Receita avisou que não prorrogaria o prazo para a regularização do cadastro: “Não trabalhamos com essa hipótese”. O senhor foi a dois eventos e continuou calado.

Leão 2Só na tarde de quarta-feira, a 72 horas do limite imposto aos clientes para se cadastrarem sem multa, o senhor e a Receita fizeram o que deviam ter feito na segunda. Não ouviram os clientes, mas ouviram a patroa e estenderam o prazo.

O senhor sabe como eu reagiria se durante quatro dias uma agência do Bradesco estivesse com uma máquina quebrada, uma enorme fila de clientes na porta, e o gerente nada tivesse a dizer. Se a confusão do cadastro da criadagem tivesse acontecido no Bradesco, eu teria dispensado seus valiosos serviços.

Atenciosamente,

Amador Aguiar

(*) Elio Gáspari é jornalista. Seus artigos são publicados por numerosos jornais.

Oligarquia lavada a jato

Elio Gáspari (*)

«A doutora Dilma está diante de fenômeno histórico: a Lava-Jato feriu o coração da oligarquia brasileira. Tanto burocratas oniscientes como empresários onipotentes estão encarcerados em Curitiba.

Enquanto isso, prosseguem as investigações em torno da lista de Rodrigo Janot, e não há razões para supor que o Supremo Tribunal Federal seja bonzinho com a turma do foro especial.

Marciano 1Quando a doutora se comporta como se a Lava-Jato fosse coisa de marcianos, pois “não respeito delatores”, ela atravessa a rua para se juntar à oligarquia ameaçada.

Essa oligarquia é muito mais esperta que ela. Fabricou Fernando Collor e entregou-o aos caras-pintadas. Dispensou os militares e aplaudiu Tancredo Neves.»

(*) Excerto de artigo do jornalista Elio Gáspari publicado no Jornal O Globo, 9 ago 2015. Para ler na íntegra, clique aqui.

Frase do dia — 244

«Se a doutora Dilma for pedalar na orla da Lagoa Rodrigo de Freitas com sua bicicleta importada, da grife Specialized (R$ 2.350), no mínimo ficará sem o brinquedo.

A doutora defende a proteção à indústria brasileira, mas pedala bicicleta americana e, durante a campanha eleitoral, foi fotografada calçando sapatos de Louis Vuitton.»

Elio Gaspari em sua coluna d’O Globo, 7 jun° 2015.

Frase do dia — 220

«A deslegitimação que vem por aí abalará primeiro o PT. Na mesa do juiz Moro há denúncias que abalarão também o PMDB e o PSDB, isso para se falar só dos três maiores partidos.

A Operação Mãos Limpas italiana varreu partidos políticos minados pela corrupção e fortaleceu o regime democrático. Até onde a vista alcança, no Brasil acontecerá a mesma coisa.»

Elio Gaspari em sua coluna d’O Globo, 28 jan° 2015.

Frase do dia — 215

«A reação da blogueira Yoani Sánchez – criticando as libertações de presos que abriram caminho para o restabelecimento das relações diplomáticas dos Estados Unidos com Cuba – queimou o filme da moça. Ela parecia uma jovem libertária do séc. 21 e mostrou-se uma velha guerreira do séc. 20.»

Elio Gaspari em sua coluna d’O Globo e da Folha de São Paulo, 21 dez° 2014.

O lado Steve Jobs de Dilma

Elio Gáspari (*)

Na sua biografia de Steve Jobs, Walter Isaacson mostra que o gênio da Apple operava com um “campo de distorção da realidade”. Um sujeito trazia uma ideia, ele dizia que era estupidez, e dias depois anunciava que tivera uma grande ideia, a mesma. Se uma ideia dele acabava em encrenca, era de outro. Jobs lidava à sua maneira com a verdade.

Maçã 2A doutora Dilma não é nenhum Jobs, mas confirmou que opera com um campo de distorção da realidade. Ao mesmo tempo que seu governo anunciava ter aceito o pedido de licença de Sergio Machado, presidente da Transpetro, soltava a informação de que ele não voltaria ao cargo. Claro, o afastamento do doutor fora uma exigência da empresa que audita as contas da Petrobrás. Desde setembro, sabia-se que ele estava no catálogo de percentagens mostrado pelo “amigo Paulinho” ao Ministério Público. Em áudio, ele informou que recebera de Machado um capilé de R$ 500 mil.

É comum que se disfarcem os defenestramentos de hierarcas, mas a doutora exagerou. E não foi só nesse caso. Durante os debates da campanha, disse duas vezes que “Paulinho” tinha sido demitido da diretoria da Petrobrás. Falso. Ele renunciou e foi elogiado pelo ministro Guido Mantega na ata que registrou seu desligamento.

Maçã 1Dois outros episódios mostram que a doutora opera temerariamente no campo de distorção da realidade. Em 2009, o repórter Luiz Maklouf Carvalho revelou que, apesar de ser apresentada oficialmente como doutora em Economia pela Unicamp, ela nunca recebera o título, pois não concluíra o curso.

Em setembro passado, ela repetiu: “fui para a cadeia por crime de opinião”. A jovem Dilma Rousseff foi para a cadeia por ter pertencido a duas organizações envolvidas em atos terroristas. O Comando de Libertação Nacional, que ajudou a fundar, dizia em seu programa que “o terrorismo, como execução (nas cidades e nos campos) dos esbirros da reação, deverá obedecer a um rígido critério político”. Com esse cuidado, em 1968, antes do AI-5, mataram um major alemão pensando que fosse um capitão boliviano.

Maçã 3Steve Jobs adaptava a realidade, mas mexia apenas com os interesses dos acionistas da Apple. A doutora governa um país de 202 milhões de habitantes.

(*) Excerto de artigo de Elio Gáspari publicado no Jornal O Globo, 9 nov° 2014. Para ler na íntegra, clique aqui.

Frase do dia — 184

«Ora, direis, olhar sapatos. Parece uma trivialidade, mas é uma aula de economia e de costumes. Dilma Rousseff calça a marca francesa Louis Vuitton, e Aécio Neves, a italiana Ferragamo. (…)

Marina Silva usa sapatos das marcas Beira Rio e Renner (100 reais pelo par).»

Elio Gaspari, em sua coluna no jornal O Globo, 24 set° 2014.

Frase do dia — 176

«Marina parte da premissa de que “o atual modelo de democracia está em evidente crise”. Falta provar que esteja em crise evidente uma democracia na qual ela se elegeu senadora, foi ministra e, em poucas semanas, se tornou virtual favorita numa eleição presidencial.

Ela diz que, neste país em crise, “a representação não se dá de forma equilibrada, excluindo grupos inteiros de cidadãos, como indígenas, negros, quilombolas e mulheres”. Isso numa eleição em que, hoje, as duas favoritas são mulheres ― uma delas autodefinida como negra.»

Elio Gaspari, em sua coluna no jornal O Globo, 31 ago 2014.

Frase do dia — 169

«O ministro Ricardo Lewandowski assumiu a presidência do Supremo Tribunal Federal e imediatamente vestiu o manto de presidente do sindicato dos magistrados.

Defendeu um aumento salarial para os juízes usando uma expressão capaz de assombrar Lula e a doutora Dilma. Segundo ele, há no Brasil uma “espiral inflacionária”.»

Elio Gaspari, em sua coluna da Folha de São Paulo, 17 ago 2014.

Frase do dia — 124

«É sabido que os americanos vivem em estado de alerta contra doenças transmitidas por bichos. Lá, as vacinas antirrábicas de cachorros valem por três anos. No Brasil, valem só por um ano. Ou os cachorros brasileiros são viciados em vacinas ou o vício é outro.»

Elio Gaspari, em sua coluna in Folha de São Paulo, 30 mar 2014.

Frase do dia — 117

«Filmado arremessando pedaços de fruta na rua, [Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro] explicou que os jogou na direção de uma lixeira longínqua “ou para que um de seus assessores fizesse o descarte em local adequado”. Fica criada assim a categoria de assessor de descarte, ou gari de prefeito.»

Elio Gaspari, em sua coluna da Folha de São Paulo, 9 mar 2014.

Frase do dia — 110

«Eleito papa, Francisco pediu aos argentinos que dessem dinheiro aos pobres em vez de ir a Roma saudá-lo. Há pouco, decidiu tirar um passaporte comum argentino. Doutora Dilma foi a Roma festejar o barrete de Dom Orani Tempesta. Na comitiva, um lote de passaportes especiais.»

Elio Gaspari, em sua coluna da Folha de São Paulo, 23 fev° 2014.

Frase do dia — 73

«O senador Renan Calheiros pagou R$ 27,4 mil à FAB pelo uso indevido do jatinho que o levou de Brasília ao Recife para um implante de 10.118 fios de cabelo. Isso dá R$ 2,70 por fio, deixando-se de lado os serviços médicos do procedimento. Toda vez que o doutor ajeitar a cabeleira, deverá contar os tufos que saírem no pente. A cada 268 fios que caírem, terá perdido o equivalente a um salário mínimo.»

Elio Gáspari, jornalista, in Folha de São Paulo, 5 jan° 2014