Bobo da corte

José Horta Manzano

«Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu.»

Tem dias em que a gente se sente como bobo da corte, isso sim! Cedinho nesta quinta-feira, as manchetes do Estadão eram edificantes. Vamos pela ordem, se é que há ordem nesta República.

Chamada Estadão, 7 jun 2018

Temer, Moreira e Padilha
A Polícia Federal acaba de pedir ao Supremo Tribunal que suspenda o sigilo das comunicações e autorize acesso à lista de chamadas feitas e recebidas por três figurões do andar de cima. São peixes graúdos: o presidente da República e dois de seus ministros. Não é correto prejulgar, mas, como dizem os espanhóis, «por algo será» ‒ alguma razão deve haver.

Gilmar
A força-tarefa da Operação Lava a Jato assegura que a Federação do Comércio de São Paulo pagou 50 mil reais a um instituto ligado a doutor Gilmar Mendes. Saudade do tempo em que Gilmar era o festejado goleiro da Seleção.

FHC
A Polícia Federal (olhaí, de novo ela!) informa que Fernando Henrique pediu socorro a Marcelo Odebrecht e enviou-lhe seus dados bancários. Por que razão os terá enviado? Ganha uma passagem de ida simples pra Pyongyang quem adivinhar.

Urnas
Supremo Tribunal decidiu suspender implantação do voto impresso. Sem contraordem até outubro, as eleições se farão no escurinho, como de costume. Este blogueiro já se manifestou sobre o assunto e persevera: o voto eletrônico devia ser abolido. Se piratas informáticos conseguem introduzir-se nos computadores da CIA, nada garante a inviolabilidade do sistema eleitoral eletrônico brasileiro. A melhor arma contra fraudes ainda é o voto em cédula de papel, como se faz na imensa maioria dos países civilizados.

Conclusão
As demolidoras notícias de hoje confirmam a desagradável intuição que nos devora: são todos podres, não se salva um. E essa história de proibir voto impresso não me cheira bem. O futuro dirá.

Falam de nós – 25

0-Falam de nósJosé Horta Manzano

Odebrecht soltinho

Em todas as línguas imagináveis, a mídia relatou a soltura de doutor Marcelo Odebrecht. Todos os veículos recordaram que o cavalheiro é insigne membro da família que controla a empreiteira homônima. Relembraram também que a empresa está envolvida em escândalo de proporções apocalípticas. Contaram, além disso, que o doutor havia sido condenado a cerca de 20 anos de cadeia.

Ninguém entende como é possível que, tendo cometido crimes dessa magnitude e tendo sido condenado a passar duas décadas à sombra das grades, o doutor tenha sido autorizado a gozar as delícias da mansão familiar. Numa boa.

No resto do mundo, não é assim que funciona. Hão de estar se perguntando: «Que país é aquele lá?»

Saiu em alemão, em francês, em inglês, em italiano, em espanhol. Em afegão, não conferi.

Frase do dia — 304

«Certas coisas só o tempo explica. No início do primeiro governo Lula, Marcelo Odebrecht estava para assumir a presidência da empresa. Durante um almoço, em São Paulo, falou do então presidente como quem se refere a uma divindade.

O homem perfeito, no lugar certo, na hora exata. Faria um governo irrepreensível. Na ocasião não ficou claro o motivo de amor tão incondicional. Hoje está explicado: era condicionado.»

Dora Kramer, em sua coluna do Estadão, 19 jun 2016.

Teste primitivo

Elio Gáspari (*)

Bola cristal 1«Saber o que vai acontecer é coisa de cartomante. Apesar disso, sempre pode-se medir a capacidade de uma pessoa de pensar o impensável.

Aqui vai um teste primitivo. Tem cinco afirmações. Quem previu uma delas, é ousado. Quem previu duas é um temerário. Quem previu todas pode abrir uma tenda de cartomante:

   1- Dilma Rousseff não terminaria o mandato.

   2- Eduardo Cunha perderia a cadeira.

   3- Marcelo Odebrecht iria para a cadeia.

   4- Leo Pinheiro, da OAS, colaboraria com a Lava a Jato.

   5- Alemanha 7 x Brasil 1.

Quem foi surpreendido em todos os casos é apenas um brasileiro normal. Os tempos é que estão emocionantes.»

(*) Elio Gáspari é jornalista. Seus artigos são publicados por numerosos jornais.

Destino dramático

Cláudio Humberto (*)

Experimentam destino dramático os maiores empresários que prosperaram à sombra do Lula, de quem se fizeram amigos íntimos. Acabaram vitimados pelo famoso pé-frio do ex-presidente.

Lula caricatura 2Eike Batista, quem diria, antes considerado o oitavo mais rico do mundo, hoje foge de credores (e de oficiais de justiça) como o diabo, da cruz. Mas tem razões para comemorar: ao menos ele não foi preso.

O pecuarista José Carlos Bumlai, um dos homens mais ricos do Centro-Oeste, também teve destino trágico: está preso no âmbito da Lava a Jato.

André Esteves, banqueiro favorito de Lula, foi preso. Ganhou habeas corpus, mas é forte o risco de receber longa pena de cadeia.

Também acabaram na cadeia os empreiteiros favoritos da era do Lula, de quem se tinham tornado amigos: Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro (OAS).

(*) Cláudio Humberto, bem informado jornalista, publica coluna diária no Diário do Poder.