Implicar: regência

Dad Squarisi (*)

O verbo implicar tem três empregos. Em dois, ninguém tem dúvida. Na acepção de ter implicância, pede a preposição com:

• O diretor implicou com ele.

Na de comprometer, envolver, é a vez do em:

• A secretária implicou o chefe no escândalo.

A dúvida surge no significado de produzir consequência. Aí, implicar implica e complica. O verbo parece, mas não é. No sentido de acarretar consequências, o malandro é transitivo direto. Não suporta a preposição em:

• Autonomia também implica responsabilidade.

• Deflação implica recessão.

• Aumento da taxa de juros implica crescimento do deficit público.

(*) Dad Squarisi, formada pela UnB, é escritora. Tem especialização em Linguística e mestrado em Teoria da Literatura. É editorialista do Correio Braziliense e blogueira – Blog da Dad.

5 pensamentos sobre “Implicar: regência

  1. Ai, que bom saber disso! Estava mesmo cansada de ouvir as pessoas dizerem “A decisão de Gilmar Mendes de devolver Fabrício Queiroz à prisão domiciliar implica no aprofundamento da impunidade dos corruptos ligados ao poder executivo”. Agora, para muito além de entendermos a forma gramaticalmente correta de nos expressarmos, só nos resta lutar pelo consequencialismo ético do judiciário brasileiro.

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      • É verdade, mas a luta é não menos meritória. Sei que nos falta vergonha na cara para propor a convocação de uma assembleia constituinte FORA DO CONGRESSO para redefinir os papéis do executivo, legislativo e judiciário. Falta vontade de rediscutir coisas como a democracia representativa, o presidencialismo de coalizão, o voto obrigatório, o financiamento público de campanhas eleitorais, as benesses auto-outorgadas pelos membros dos três poderes, o tamanho do estado, a participação da sociedade civil nas decisões governamentais e quejandos. Os juízes são seres humanos (dizem, mas eu ainda duvido) como qualquer um de nós e, portanto, sujeitos a erros, mas deveria haver certos limites constitucionais para a indicação de novos ministros para o STF, para quem vai fazer controle externo do judiciário, etc. O que absolutamente não dá mais para sustentar é uma sentença que declara com todas as letras que a prova de que um indivíduo negro faz parte de uma organização criminosa se dá “em função de sua raça”. Ou, como você demonstrou magistralmente há alguns anos, que basta um juiz convocar 5 ou 6 auxiliares e pedir que eles pesquisem na jurisprudência certos argumentos que deem sustentação à causa que o magistrado julga ser a mais adequada, segundo suas convicções pessoais.

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        • Reforma desse quilate seria bom, mas é demais ambiciosa. Não dá pra virar o mingau quente goela abaixo. Há que atacar pelas bordas, de mansinho.

          Pra começar, duas frentes:

          No atacado, ênfase na Instrução Pública, que é pra acabar com o analfabetismo – no próprio e no figurado.

          No varejo, instituição do voto distrital puro, que é pra criar um vínculo sólido entre eleitor e eleito.

          O resto virá depois, aos poucos. Estamos há tantos séculos patinando na lama, que dez anos a mais ou a menos não hão de fazer diferença.

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          • Assino embaixo. É preciso dar um passo de cada vez mesmo, sem esquecer no entanto a meta final. Como diria a Dilma, não vamos estabelecer uma meta; daí, quando atingirmos a meta, dobramos a meta.

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