José Horta Manzano
Imprudente, desacautelado, desajuizado, inconsiderado, irrefletido – essas são palavras que traduzem o italiano spensierato, adjetivo que se aplica a quem age sem refletir.
Nossa política está coalhada de velhos profissionais, parlamentares dos quais é difícil colher uma confidência ou surpreender nem que fosse um gesto fora do script. São experientes e sabem que um escorregão, por mais leve que seja, pode ter consequências graves e indesejadas. Assim, refreiam-se. Comparado a essa gente, doutor Bolsonaro faz figura de calouro. A gente se pergunta o que é que ele andou fazendo nos 28 anos que passou como deputado. Não aprendeu a se policiar?
Tudo indica que não. Em fala do dia 8 de maio, declarou: «Temos que facilitar a vida de quem quer produzir e de quem ainda tem coragem de investir no Brasil, o que é um esporte de altíssimo risco dada a situação que temos agora». Como assim? Esporte de altíssimo risco? Coragem de investir no Brasil? Ouvir isso é um pesadelo. Fosse especulação de alguma publicação econômica internacional, seria chato, mas até certo ponto compreensível. Vindo do presidente do país, é alucinante.
Passados mais de quatro meses, fica evidente que doutor Bolsonaro ainda não vestiu o terno de presidente. Decerto está folgado demais para ele. A não ser que tome geleia de mocotó e encorpe, talvez não venha a vestir nunca o traje. A cadeira de chefe do Estado brasileiro vai continuar ocupada por alguém pequeno demais para ela.
Não é um assombro. Com Lula da Silva, um de seus predecessores, aconteceu a mesma coisa. Presidiu a nação por oito anos sem se ter nunca encaixado no figurino. Entre baciadas de vexames históricos, ficou famoso o que deu diante do primeiro-ministro britânico quando disse que a crise era culpa de gente branca de olhos azuis. Também deixou o presidente dos EUA constrangido quando aludiu, diante de câmeras e microfones, ao ponto G – gracejo que não deveria ultrapassar os limites do círculo de amigos íntimos.
Acontece que, nos tempos do Lula, o descalabro presidencial era compensado por um mar de brigadeiro na frente externa. O planeta vivia excepcional período de bonança, daqueles que só ocorrem uma ou duas vezes por século. Hoje são outros quinhentos. O mar já não está pra peixe e ainda me vem o presidente com uma conversa agourenta dessas!
Fica evidente que ele não se dá conta do peso que tem a palavra presidencial. Não percebe que, nos minutos que se seguiram ao desastrado pronunciamento sobre a «coragem de investir no Brasil», a nata dos investidores internacionais já estava a par. Devem estar todos com um pé atrás. Se o próprio presidente está dizendo isso…
A economia do país precisa desesperadamente de investimento estrangeiro. Enquanto isso, um desastrado doutor Bolsonaro afugenta todo o mundo. Ah, spensierato!