10h10

Relógios novos – Todos marcam 10h10 (clique para ver)

José Horta Manzano

Talvez o distinto leitor e a graciosa leitora já tenham reparado numa característica dos relógios novos expostos à venda: todos marcam 10h10. Se não prestou atenção, pode botar reparo. É curioso, não? E qual seria a razão dessa uniformidade? Teorias, há várias.

A mais sofisticada conta a história da introdução da hora de referência universal (GMT). Foi um acordo multinacional assinado ao fim da Conferência Internacional de Washington de 1884. Vinte e cinco países debateram durante quase um ano. A adoção não foi  por unanimidade: dos 25 países participantes, só 22 aprovaram que o meridiano de Greenwich fosse oficializado como marco zero das longitudes. Brasil e França se abstiveram, enquanto a República Dominicana votou contra. Mas a maioria venceu e a introdução da hora universal foi oficializada. O documento final foi assinado exatamente quando os relógios marcavam 10h10. Por esta hipótese, a hora mostrada até hoje pelos relógios novos seria uma homenagem ao Acordo de Washington.

Uma segunda explicação, embora também histórica, é um bocado tétrica. Relata que o infeliz Luís 16, rei da França destronado pela Revolução Francesa, subiu ao patíbulo exatamente às 10h10 para ser guilhotinado. O relato é de arrepiar. Muitos acreditam que, até hoje, os relógios novos marcam a hora desse regicídio.

Uma terceira versão, não de todo fantasiosa, fala da mensagem positiva transmitida de modo subliminar pelos ponteiros apontando pra cima, formando o V da vitória. De fato, um par de ponteiros marcando 8h20 (e apontando para baixo) evocaria tristeza e desencorajaria clientes potenciais.

Há uma última explicação, que aliás me parece lógica e credível. A marca comercial do relógio costuma aparecer no alto do mostrador, logo abaixo do número 12. Com o relógio marcando 10h10, o nome comercial cabe entre os ponteiros e fica visível. E ainda homenageia o Acordo de Washington e o rei decapitado. De quebra, o V transmite mensagem positiva. Que mais se pode desejar?

O Estadão continua a vasculhar os presentes dados a Bolsonaro nos anos em que ele foi presidente. Descobriram mais um estojo da Maison Chopard (Genebra) contendo: uma caneta, um par de abotoaduras, um anel, um masbaha (rosário muçulmano) e… um relógio Rolex. Todas as peças são de ouro branco e cravejadas de diamantes. Um mimo estimado, por alto, em meio milhão de reais, estimação que me parece até baixa levando em conta o prestígio do joalheiro genebrino. Pode valer bem mais que isso.

O conjunto, cuja foto está aqui abaixo, foi oferecido pelo príncipe da Arábia Saudita diretamente a Bolsonaro. Entregue em mãos. Sem cerimônia, o então presidente entendeu que o presente era objeto de uso pessoal. Não foi esclarecido qual seria a contraparte de tamanha “generosidade” dos príncipes árabes. Um dia talvez fiquemos sabendo.

Uma olhada ao relógio informa que ele não marca 10h10. Sabendo que todos os relógios novos (mormente os de luxo) mostram a mesma hora, conclui-se que Bolsonaro, o feliz destinatário do regalo, já tinha usado a joia antes mesmo de confiá-la aos almoxarifes do Planalto para ser fotografada, registrada e encaminhada a seu acervo pessoal.

Fica agora a curiosidade. Em que ocasião o capitão teria dado corda no relógio, acertado a hora e afivelado a pulseira?

Dificilmente teria sido no dia em que comeu farofa com as mãos – o relógio teria aparecido na foto.

Tampouco foi no dia em que convocou o corpo diplomático para dar a Suas Excelências a crucial informação de que as eleições brasileiras eram fraudadas.

Uma possibilidade é que ele tenha usado o Rolex numa motociata.

Ou talvez, hipótese plausível, tenha simplesmente dormido com ele e sonhado que era imperador.

Lembrete horário

José Horta Manzano

Este lembrete é pra você que tem conhecidos na Europa. Neste último domingo de outubro, mudamos de hora ‒ provavelmente pela última vez. Voltamos à hora de inverno. Na madrugada passada, quando o relógio marcou 3 horas, voltou a ser 2 horas.

As autoridades encarregadas do assunto estão atualmente considerando acabar com esse vaivém horário que perturba todo o mundo duas vezes por ano. Se as discussões forem bem sucedidas, esta terá sido a última mudança de hora. Vai valer para todos os países da União Europeia e para os vizinhos que aderem à norma.

Seja como for, convém ajustar sua agenda de contactos. Se você vive no Brasil, a distância que o separa de seu amigo na Europa fica diminuída de uma hora a partir de hoje. Se eram quatro horas, agora são três. Se eram cinco horas, agora são só quatro. E assim por diante.

A briga de vizinhos e o relógio

José Horta Manzano

Você sabia?

Eu me lembro que, quando era criança, havia um relógio em casa. Um só. Soberano, reinava pendurado na parede do corredor. Empoleirado lá em cima, dominava o ambiente. Dono e senhor do tempo, ditava o ritmo da família.

Hoje não é mais assim. A gente vive rodeado de relógios. Tem o do celular, o do computador, o do micro-ondas, o de pulso, o de cabeceira, o do rádio, o do banheiro, o do carro, o de cima da geladeira, aquele que anda esquecido no fundo da gaveta em pré-aposentadoria. Ah, e tem ainda o do corredor, bastante deprimido com tanta concorrência.

Em princípio ‒ digo bem: em princípio ‒, todos deveriam marcar a mesma hora, questão de coerência. Na prática, todavia, a teoria se perde. Ao marcar um minuto a mais ou a menos que o vizinho, parece que cada um dos reloginhos faz questão de afirmar a própria singularidade. Um resto de rebeldia adolescente, sem dúvida.

Lá pelo meio de janeiro, notei que o relógio do forno elétrico andava meio preguiçoso. Fugindo ao costume de empatar com o do rádio, deu de atrasar. Começou com um minuto. Uma semana depois já atrasava dois minutos que, dias mais tarde, já eram três. Imaginei que o mecanismo estivesse sofrendo de reumatismo em razão da velhice. Achei até curioso que relógio também sofresse esses achaques.

Mas a coisa foi piorando. Na segunda semana de fevereiro, quando a defasagem já atingia seis minutos, resolvi dar uma colher de chá ao ancião: acertei o relógio. Não deu uma semana, e o rebelde já corria, penosamente, dois minutos atrás da hora certa. Cheguei a pensar em trocar de forno, mas uma reflexão mais profunda me acalmou. Não vale a pena usar canhão pra caçar pardal.

Eis senão quando fiquei sabendo da razão desse desarranjo. Nulo em física, não tenho condições de explicar tim-tim por tim-tim. Vou-lhes vender o peixe pelo preço que paguei. O problema vem de uma briga de vizinhos que ocorre a dois mil quilômetros daqui, lá pelas bandas da Península Balcânica.

Para entender, precisa saber duas coisas. A primeira é que a rede elétrica europeia é toda interligada, providência bastante prática. Quando um país não tem como responder a um aumento da demanda interna, compra energia dos vizinhos. Esse toma lá dá cá se faz de maneira semiautomática. A segunda informação é que o Kosovo, pequena província que se separou unilateralmente da antiga Iugoslávia, não é reconhecido pela Sérvia como país independente. Os dois vivem mostrando a língua e tentando passar rasteira mutuamente.

Em meados de janeiro deste ano, o Kosovo decidiu privar a Sérvia do excedente de energia. Só para atazanar o vizinho, as autoridades kosovares preferiram desperdiçar eletricidade em vez de ceder ao vizinho, como manda o figurino. Esse pequeno incidente gerou reflexo no sistema de distribuição da Europa inteira. A frequência da rede, normalmente de 50 herz, baixou a 49,996 herz. Essa minúscula variação não altera em nada a potência da eletricidade. Lâmpadas continuam acendendo e motores funcionam sem problema.

Acontece que relógios elétricos ‒ isso eu não sabia ‒ são regulados pela frequência. Se ela foi maior que 50 herz, os bichinhos adiantam. Se for menor, atrasam. Daí o descompasso de reloginhos de forno e de despertadores ligados na tomada. Os governos europeus estão atualmente empenhados em reconciliar os vizinhos bicudos. Não há perigo de estourar uma guerra, mas permanece o risco de muito cidadão continuar chegando atrasado ao trabalho.

Acerte seu relógio

José Horta Manzano

No tempo dos romanos, não havia relógio. Nem precisava. A passagem do tempo era marcada pelo sol, pelo canto do galo, pelo mugir das vacas. Sabia-se que era meio-dia porque o sol estava no ponto mais elevado. E isso bastava.

Clepsidrarelógio movido a água

Clepsidra
relógio movido a água

Assim continuou na Idade Média. Os viventes, em maioria analfabetos, não sabiam sequer em que ano estavam. E isso não tinha a menor importância. O tempo era ritmado pelo calendário litúrgico que os clérigos não deixavam de recordar.

Todos sabiam que era tempo de Quaresma, que domingo que vem é Pentecostes, que estava para chegar a festa da Ascensão, de São José, ou da Imaculada. A hora do dia pouco importava.

Media-se a passagem de um tempo específico. Para os gregos, a clepsidra preenchia essa função. Seu parente, a ampulheta, continuou a satisfazer o mundo medieval. Para quem fizesse questão de ter uma ideia mais precisa das horas do dia, havia o relógio solar ― esse mesmo que ainda se pode observar no frontispício de antigos edifícios europeus. É verdade que só funcionava em dias de sol. Mas não havia outro jeito, que a técnica da época não permitia voos mais altos.

O problema começou a se agravar com as grandes navegações. Para medir latitudes, o sextante era suficiente. Mas como medir longitudes? Na falta de um relógio razoavelmente preciso, como saber que distância havia percorrido o barco e quanto faltava para chegar ao destino?

Relógio solar

Relógio solar

Ideias havia, já desde a antiguidade. Mas a precisão não era lá muito confiável. Há controvérsia quanto à invenção do relógio tal como o conhecemos hoje. Os ingleses são reconhecidos por sua importante contribuição para aperfeiçoar o aparelho. Grandes navegadores, tinham necessidade crucial de uma medida confiável.

Durante alguns séculos, o relógio embarcado nos navios resolveu o problema dos navegantes. E o mostrador redondo encravado na torre das igrejas foi suficiente para ritmar o dia a dia de vilas e vilarejos.

Lá por meados do século XIX, quando começaram a aparecer as primeiras ferrovias, a coisa se complicou. Antes disso, cada localidade era regulada pelo relógio de sua igreja. Contudo, os horários dos trens careciam de marcação uniforme da hora. Era impossível estabelecer horários se cada vilarejo se regia por uma hora diferente.

Para encurtar a história, digamos simplesmente que o problema acabou sendo resolvido. A precisão cada vez maior dos relógios e o telégrafo ajudaram. A humanidade chegou ao século XX com uma hora, se não universal, pelo menos bem mais generalizada do que 50 anos antes.

.:oOo:.

Guerras são acontecimentos terríveis, sem sombra de dúvida. Mas são também períodos que favorecem avanços nas artes médicas, nas comunicações e na vida prática.

A Grande Guerra 1914-1918 trouxe penúria para os beligerantes. O petróleo, que já então começava a substituir o vapor e a mover o mundo, fez-se raro. A Alemanha, envolvida até o pescoço no conflito, não produzia uma gota sequer do precioso líquido. Medidas tiveram de ser tomadas para reduzir seu consumo doméstico, a fim de que sobrasse para uso militar.

Sextante

Sextante

Foi quando surgiu a ideia de instituir o horário de verão. A defasagem artificial entre a hora solar e a hora oficial seria benéfica para poupar combustível. A economia de eletricidade significaria, naturalmente, diminuição do gasto de petróleo.

Em 1916, os alemães foram os primeiros a oficializar o avanço dos relógios durante o período estival. Outros países apreciaram a ideia e, pouco a pouco, adotaram o sistema. Dois anos depois, os Estados Unidos já fariam sua primeira experiência.

A França discutiu, tentou, tergiversou, torceu o nariz, hesitou. A partir de 1940, ocupada pelas tropas alemãs, não teve como escapar. Enquanto durou a presença estrangeira, a cada verão os relógios tiveram de ser adiantados em uma hora. Depreciativamente, os franceses diziam que aquela era a heure allemande, a hora alemã.

O Brasil fez sua primeira experiência em 1931, quando Getúlio mandava no País. De lá para cá, houve outras tentativas esporádicas. A partir de 1986, a hora de verão foi oficializada. Tornou-se medida rotineira.

A Europa regularizou a medida em meados dos anos 1970. Desde então, às 2h da madrugada do último domingo de março, «perde-se» uma hora, ou seja, os relógios têm de ser adiantados. Essa hora nos é devolvida às 3h da madrugada do último domingo de outubro, a noite mais longa do ano.

A partir deste 31 de março, portanto, a Europa está um pouquinho mais distante do Brasil. Brasília está a quatro horas de Lisboa e a cinco de Madrid, Paris, Berlim, Roma.

Voltaremos a nos reaproximar no fim de outubro.

É tudo verdade

(Colaboração de Roberto Freire, pescada no Blog da Dad)

No Havaí, todas as sandálias são havaianas.

A primeira missa do Brasil foi o maior programa de índio.

Mulher grávida reclama de barriga cheia.

Os filósofos têm um problema para cada solução.

Lixo = coisas que jogamos fora.

Crédito: Philippe Berry

Crédito: Philippe Berry

Coisas = lixo que guardamos.

Herói é o covarde que não teve tempo de fugir.

Tinja o cabelo de preto para namorar e de branco para  encontros de negócio.

Relógio que atrasa não adianta.

Nasci careca, nu e sem dente. O que vier é lucro.

Um chato nunca perde o seu tempo. Perde o dos outros.

Não brinque com fogo: ele não sabe brincar.

Celebridade é alguém que trabalha duro muito tempo para se tornar conhecida, e depois passa a usar óculos escuros para não ser reconhecida.

Você estará velho quando achar que antigamente era melhor.

Canela: parte do corpo útil para achar móveis no escuro.

Amigo é alguém que tem os mesmos inimigos que você.

A fé move montanhas. Os ecologistas são contra.

Ser canhoto é muito fácil, difícil é ser direito.

Quando não restar mais nenhuma opção, leia o manual de instruções.

Evite acidentes. Faça de propósito.

Quando era criança, pensava que dinheiro era a coisa mais importante do mundo. Hoje tenho certeza.

Você sabe que está ficando velho quando as velas saem mais caro que o bolo.

A primeira amnésia a gente nunca esquece.

A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com a mesma piada como se fosse a primeira vez.

Não existem ateus numa pane de avião.

No avião o medo é sempre passageiro.