Paz de mentirinha

José Horta Manzano

Sabe aquele sorriso meio forçado que a gente dá em direção ao fotógrafo, sorriso que não reflete a verdade do momento e que só serve pra aparecer bem na foto? É a imagem que me vem à mente quando vejo a autolouvação de Trump e Putin na sequência da conversa telefônica entre os dois. Desligado o aparelho, o mundo continua igual e a tão desejada paz continua longe e difícil de alcançar. Mas o sorriso meio forçado sai bem na foto e satisfaz ao ego.

Donald Trump não tem a menor ideia do que seja a geopolítica. Talvez nem chegue a se dar conta de que as relações entre os diferentes países são regidas por fios sutis e sensíveis, e que um leve esbarrão na teia repercute em todo o trançado. Sua especialidade são os negócios.

Dizem que é excelente homem de negócios, agressivo, resistente, incisivo. Não há razão para duvidar de suas habilidades. O problema é que relações internacionais não devem ser tratadas como quem compra uma peça de tecido ou meio lote de terreno. É grave que um presidente seja a tal ponto desconectado da dualidade entre diplomacia e negócios. Os dois mais recentes presidentes de nossa maltratada república tinham ambos algo de Trump.

Quanto aos negócios, não sei, mas o fato é que nenhum dos dois manjava lhufas de diplomacia. Daí o tempo perdido por Bolsonaro que passou seu mandato vituperando contra a China, insultando a primeira-dama da França e arrumando encrenca gratuita com uma dúzia de outros países. Lula seguiu pelo mesmo caminho. Arrogante e soberbo, destratou o presidente da Ucrânia e deu ao mundo seu peculiar diagnóstico pessoal segundo o qual a Crimeia, parte integrante do território ucraniano, tinha de ser entregue ao invasor. Sua dose cavalar de orgulho levou-o ainda a arrumar encrenca com Israel, país onde acabou sendo declarado “persona non grata” – vejam que cúmulo!

Mas essas trapalhadas não perturbaram o equilíbrio do planeta. E isso por uma razão simples: o Brasil não são os EUA. Dirigentes de um país periférico, carente, militarmente pouco significativo, nossos figurões são tigres sem dentes, que não assustam. Já o presidente dos EUA, quando faz das suas, assusta. E muito.

Quando Trump pega o telefone e chama Pútin para darem cabo, juntos, à guerra provocada pela invasão russa à Ucrânia, toda a teia dos relacionamentos globais estremece. É que o presidente americano, certamente sem se dar conta, acaba de entrar de sola num terreno espinhoso, cujos problemas não podem ser resolvidos no grito, nem no par ou ímpar, nem no dadinho.

Está fazendo três anos que a grande Rússia invadiu a pequena Ucrânia. Os invadidos vêm lutando com muita bravura, tanto que até agora seguraram o exército de Pútin. Milhões de ucranianos fugiram do país e se asilaram na Europa que, generosa, os acolheu a todos. Faz três anos que todos os países europeus vêm ajudando a Ucrânia, cada um conforme suas possibilidades. Faz três anos também que os EUA vêm ajudando com fornecimento de material bélico, sem o qual a Ucrânia não teria resistido.

De repente, chega um sujeito de pé grande, vira o jogo e, sem avisar aos aliados, decide entrar em comunicação com o ditador do país agressor, passando por cima do país agredido e de todos os aliados que contribuíram para segurar até agora o tirano. Imagine a que ponto a geopolítica está assustada. Não é todos os dias que se assiste a uma traição tão flagrante e tão desenvolta.

A não ser que, nas trevas da equipe de Trump, um raio de luz consiga penetrar e ensinar que não é assim que se joga esse jogo. Do jeito que está, o presidente americano está reabilitando o ditador russo e condenando a pobre Ucrânia a uma existência de medo, sob a ameaça permanente do apetite expansionista do vizinho e grande irmão moscovita.

Talvez nem a Otan resista a essa inacreditável quebra de aliança.

Não viaje, fique em casa

José Horta Manzano

Li ontem que a Câmara Federal converteu em lei uma medida provisória que reduz de 25% para 6% a mordida que a Receita Federal dá em cada montante que brasileiros enviam ao exterior.

O distinto leitor pode até nem acreditar, mas este blogueiro não sabia que o fisco cobrasse imposto dito «de renda» sobre remessas que cidadãos comuns fazem para o estrangeiro. Não sei se é uma «jabuticaba» (especificidade brasileira) ou se existe em outras terras. O fato é que eu nunca tinha imaginado que tal aberração pudesse existir.

Guichê 1Embora a alíquota tenha sido suavizada, o pedágio continua a ser cobrado a cada envio de fundos. Que seja para viagem de turismo, de negócios, de serviço, de treinamento, tanto faz. Até fundos enviados por cidadãos viajando em missão oficial são puncionados. É uma enormidade. A cobrança é injusta, burra e extravagante.

É injusta porque soa como punição imposta aos que tiverem ousado trabalhar, economizar e alcançar condições de fazer turismo fora do país. A mensagem profunda é: «Não vale a pena se esforçar para subir na vida, cidadão. Toda ascensão social será castigada!»

É burra porque penaliza empresários em viagem de negócios ou de serviços. Passa por cima do fato que nosso país, com parque industrial em desmonte acelerado, busca desesperadamente clientes e oportunidades novas no exterior. Esse imposto burro só faz aumentar o custo Brasil. Viagens de negócios deveriam, ao contrário, ser incentivadas.

Dinheiro 5É extravagante porque pune viagens de treinamento. A tecnologia invade, cada dia com mais força, a vida do cidadão comum. Ideias novas, aparelhos novos, dispositivos novos, técnicas novas requerem operadores bem formados. Se um cidadão viaja ao estrangeiro para receber treinamento, voltará sabendo mais do que sabia ao deixar o país. Deve-se concluir que a ideologia oficial é barrar aos brasileiros o caminho do aprendizado?

É verdade que, desde sempre, o Brasil cultivou seu isolamento e seu provincianismo. Tempos houve em que, para poder viajar ao exterior, a gente precisava de um visto de saída expedido pela Polícia Federal. Isso felizmente acabou, mas sobrou esse imposto. Podia fazer sentido em outras épocas. Hoje, combina com Cuba e Venezuela. No Brasil, dá recado ambíguo.

Interligne 18hNota a jato
Espero que o fisco federal tenha pensado em cobrar o devido imposto “de renda” de todos os que, pressionados pela Lava a Jato, estão devolvendo o que roubaram. Afinal, essa bolada saiu do Brasil livre de impostos. Sem prejuízo do processo penal, que o devido tributo seja calculado pela alíquota de 25%, que estava em vigor à época. E que se aplique multa e correção.

Por enquanto, não

José Horta Manzano

Mark Mobius é respeitado conselheiro e gestor de investimentos. Tem, sob sua guarda, respeitável carteira de 50 bilhões de dólares.

Estes dias, deu declarações ao Wall Street Journal sobre as oportunidades de investimento do momento. Suas palavras foram repercutidas por diversos sites de informação econômica, entre os quais o brasileiro Amanhã ― braço internet do grupo de comunicação homônimo, fundado há 30 anos e focado na Região Sul.

Mark Mobius

Mark Mobius

Como boas oportunidades atuais, Mr. Mobius aponta cinco economias ditas emergentes: Indonésia, Rússia, Vietnã, África do Sul e Brasil. Quanto a nosso país, o que ele diz não é original. Assim mesmo, não deixa de ser significativo que venha de pessoa tão considerada.

O conselheiro espera que as eleições de outubro tragam mudança ao comando do País. Constata que, à medida que a popularidade de nossa presidente desaba, o índice Bovespa sobe. A perspectiva de troca de chefia entusiasma o mercado.

Mobius acrescenta que, caso novo mandato seja recusado a dona Dilma & equipe, o ambiente estará mais propício para investimento e para negócios em nosso país.

Palavra de guru.