Frase do dia — 322

«Sabe por que as empresas envolvidas nos esquemas de corrupção pedem desculpas ao País, reconhecem seus crimes e se prontificam a pagar o pato enquanto os políticos não fazem a mesma coisa?

Porque o mundo dos negócios depende do mercado, ao passo que o universo político tem no voto obrigatório uma reserva de mercado.»

Dora Kramer, em sua coluna do Estadão, 7 dez° 2016.

Posição de ocasião

Dora Kramer (*)

De volta à oposição, os deputados ditos de esquerda comportaram-se como se os últimos anos não tivessem existido. A proposta aprovada em primeiro turno na Câmara com os exatos 355 votos esperados pelo governo de Michel Temer, conceitualmente é bastante semelhante à Lei de Responsabilidade Fiscal criada no governo Fernando Henrique Cardoso 16 anos atrás e quase em tudo igual à proposta feita pelos então ministros Antonio Palocci e Paulo Bernardo há dez anos como forma de consertar as contas.

Dilma 17Na época, Dilma ganhou a parada qualificando a sugestão como “rudimentar”. Lula poderia ter bancado a posição de Palocci e Bernardo, como fez FH em relação a Pedro Malan, mas preferiu avalizar a posição da ministra-chefe de sua Casa Civil, em via de assumir a candidatura à Presidência da República. O restante da história é sobejamente conhecido e hoje reconhecido passo essencial do PT na direção do abismo administrativo.

(*) Dora Kramer é jornalista, analista política e escritora. O texto acima foi extraído de artigo publicado no Estadão de 12 out° 2016.

Força do hábito

Dora Kramer (*)

Em 2005, quando Duda Mendonça admitiu à CPI dos Correios que havia recebido dinheiro “por fora” pelos serviços prestados à campanha de Luiz Inácio da Silva em 2002, o PT chorou de arrependimento em praça pública, o então presidente cogitou não concorrer à reeleição no ano seguinte e próceres da oposição acionaram a tecla “deixa-disso” a fim de não provocar ações contra Lula que, na concepção tucana, morreria politicamente de inanição. Quem viveu viu o tamanho do forrobodó.

Lula discursoAgora, João Santana diz o mesmo e mais um pouco e não causa o menor espanto. A antiga oposição, hoje governo, faz de conta que o tema não lhe diz respeito. A reação na seara petista é apenas um leve desconforto por Dilma Rousseff. A candidata, que teve a campanha financiada do modo relatado por Santana, joga a culpa no partido a fim de manter a pose de “mulher honesta”.

De onde, nesses onze anos decorridos entre os dois episódios, o PT além da reputação perdeu a capacidade de se envergonhar.

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(*) Dora Kramer é jornalista, analista política e escritora. O texto acima foi extraído de artigo publicado no Estadão de 3 ago 2016.

Frase do dia — 304

«Certas coisas só o tempo explica. No início do primeiro governo Lula, Marcelo Odebrecht estava para assumir a presidência da empresa. Durante um almoço, em São Paulo, falou do então presidente como quem se refere a uma divindade.

O homem perfeito, no lugar certo, na hora exata. Faria um governo irrepreensível. Na ocasião não ficou claro o motivo de amor tão incondicional. Hoje está explicado: era condicionado.»

Dora Kramer, em sua coluna do Estadão, 19 jun 2016.

Frase do dia — 297

«O relato do ex-presidente da Andrade Gutierrez aos investigadores – ao qual deu fé o STF – torna quase inexorável a condenação no Tribunal Superior Eleitoral da chapa de 2014. Trata-se de um caso de batom no colarinho. Branco, não estivesse ele maculado por malfeitorias em série.»

Dora Kramer, em sua coluna do Estadão, 8 abr 2016.

Frase do dia — 287

«Dilma é a “persona” menos grata da República. Não se encontra quem esteja disposto a lhe estender a mão ou nutra por ela alguma simpatia. Resultado da antipatia que semeou.

Isolada, a “rainha” não paira “sobranceira sobre os adversários” como prometeu João Santana. Antes, colhe os frutos da malquerença que com tanto afinco cultivou.»

Dora Kramer, em sua coluna do Estadão, 28 fev° 2016.

Frase do dia — 286

Perdas na diplomacia
«Com a morte do ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia, são quatro os embaixadores que nos deixaram no espaço de um ano: além dele, Sebastião do Rego Barros, Clodoaldo Hugueney e Bernardo Pericás Neto.

Todos serviram nos governos Fernando Henrique Cardoso. Cada qual deles escreveu uma parte importante, inesquecível e permanente da história do Itamaraty, que alguns de seus sucessores tentaram revogar.»

Dora Kramer, em sua coluna do Estadão, 3 fev° 2016.

Frase do dia — 281

Validade vencida
«O governo brasileiro apontou as agressões da Venezuela à democracia com pelo menos dez anos de atraso. Neste aspecto, perdeu a liderança para o argentino Mauricio Macri.»

Dora Kramer, em sua coluna do Estadão, 6 jan° 2016.

Frase do dia — 280

«Na abordagem da crise na política, a presidente obedece ao critério de agressão aos fatos. De acordo com sua narrativa, “a instabilidade política se aprofundou por uma conduta muitas vezes imatura de setores da oposição que não aceitaram o resultado das urnas”.

Note-se: a culpa é da oposição que, exatamente por aceitar o resultado da eleição, seguiu a vontade do eleitor e se opôs ao governo.»

Dora Kramer, em sua coluna do Estadão, 3 jan° 2016.
Faz referência à mensagem de ano-novo, assinada por nossa presidente e publicada unicamente por escrito.

Frase do dia — 277

«Por não roubar (embora deixe que roubem) nem ter contas no exterior (embora tenha admitido durante a campanha que guardava dinheiro “no colchão”), a presidente julga-se dona de reputação ilibada e, por isso, merecedora de toda confiança.

Mostra-se desonesta, porém, quando mente e deixa que seus auxiliares mintam. Para ganhar a eleição de 2010, embarcou na falácia de Lula sobre a excelência de sua capacidade administrativa. Para se reeleger, em 2014, criou uma fábula segundo a qual a oposição, se vencedora, jogaria o Brasil na recessão e no retrocesso. Foi desmentida pelos fatos.»

Dora Kramer, em sua coluna do Estadão, 9 dez° 2015.

Frase do dia — 270

«Não tendo sido a ascensão de Levy o motivo da doença, não será sua queda o remédio eficaz.

Portanto, a discussão atual serve apenas para criar a falsa impressão de que é ele o problema, quando a questão real é a cabeça equivocada e a personalidade inadequada de Dilma para o exercício do cargo e, em decorrência, a necessidade de que ela mude ou de que o governo seja mudado.»

Dora Kramer, em sua coluna do Estadão, 15 nov° 2015.

Boca torta

Dora Kramer (*)

Os comunistas antigamente diziam-se pautados pela “linha justa”. Os petistas atualmente demonstram se conduzir pela linha injusta. Entre outros exemplos, está a carga pesada feita contra os ministros da Fazenda e da Justiça.

Joaquim Levy e José Eduardo Cardozo desagradam ao PT não pelos defeitos, mas pelas qualidades. Levy segue a direção lógica do ajuste realista na condução de uma política econômica que, embora recessiva, é a única capaz de levar o País à correção do rumo perdido. Cardozo faz o que lhe cabe por dever de ofício e não procura interferir onde não pode: no trabalho da polícia, da Justiça e do Ministério Público.

Sinalização curva 2Na visão petista, quem faz o certo está errado e, por isso, deve deixar o governo. Por essa ótica, o ministro da Fazenda deveria ser irresponsável e o titular da Justiça, transgressor da Constituição.

O partido talvez pense assim por ter-se acostumado ao padrão de irresponsabilidade e transgressão estabelecido desde o governo Luiz Inácio da Silva – modelo este fundado na crença de que é permitido fazer tudo errado acreditando que no fim possa dar certo.

(*) Dora Kramer, em sua coluna do Estadão, 25 out° 2015

Frase do dia — 265

«Pimenta é refresco. O ex-presidente Lula não se cansa de aconselhar Dilma a se “aproximar do povo”. Ele mesmo, porém, não se atreve a circular em ambientes públicos não controlados.»

Dora Kramer, em sua coluna do Estadão.

Frase do dia — 213

«A senadora Kátia Abreu, indicada para o ministério da Agricultura, em 2007 foi relatora da proposta de derrubada da CPMF na Comissão de Constituição e Justiça.

O fim do imposto do cheque foi a maior derrota do governo Lula, usada na campanha de reeleição de Dilma para acusar Marina Silva e Aécio Neves de terem contribuído para ‘retirar recursos da saúde’.»

Dora Kramer, em sua coluna no Estadão de 26 nov° 2014, ao apontar a memória seletiva que reina no andar de cima.

Frase do dia — 210

«Está diminuto o espaço para o governo continuar a negar desconhecimento total dos fatos. A menos que considere adequado dizer ao mundo que o Brasil é dirigido por gente que se deixa ludibriar por bandidos com grande facilidade.»

Dora Kramer, discorrendo sobre os recentes desdobramentos do assalto à Petrobrás. Artigo publicado pelo Estadão em 15 nov° 2014.

Frase do dia — 190

«Ao dizer que ‘voto não se transfere’, a fim de desdenhar do apoio de Marina Silva a Aécio Neves, a presidente Dilma Rousseff contraria a razão de sua própria eleição em 2010. Ou então, nestes quatro anos, passou a acreditar que era ela a dona daqueles quase 56 milhões de votos transferidos por Lula.»

Dora Kramer, em sua coluna no Estadão de 14 out° 2014.