José Horta Manzano
Como é que é? Criar nova? Ganha um doce quem conseguir criar velha. Recriar ou ressuscitar teria resolvido o problema.
É mais fácil criticar erros dos outros que corrigir os seus próprios
José Horta Manzano
No discurso oral, o verbo dizer é sistematicamente substituído pelo colega falar. Passa batido e ninguém faz caso. Já na língua escrita, a coisa muda de figura. Mais exigente, a norma culta distingue perfeitamente entre dizer e falar.
Alguém pode:
falar uma língua
falar rápido
falar com alguém
falar ao telefone
falar difícil
falar de alguém
falar de algo
falar pelos cotovelos
falar linguagem elevada
falar por sinais
Reparem que, em nenhum dos exemplos que citei, está explicitado o que foi dito. Quando se quer contar o que foi dito, o verbo falar cai fora. É hora de usar o colega dizer.
Assim, alguém pode:
dizer uma poesia
dizer a verdade
dizer adeus
dizer patacoada
dizer a razão do acontecido
Uma regra de ouro: todas as vezes que o verbo for seguido de que, fuja do falar e use dizer. Falar não será nunca seguido de que.
Ele disse que viria.
Eu diria que deve medir uns dois metros.
Eles disseram que estava chovendo.
Ela disse que delação premiada funciona.
Ele disse que nunca mente.
E naturalmente: «Collor volta a dizer que é candidato ao Planalto».(*)
Que Deus nos livre e guarde!

(*) Este blogueiro, embora já um tanto desesperançado, continua acreditando que presidente destituído devia ser proibido de se candidatar pelo resto da vida. Se já mostrou não estar à altura da função, não faz sentido tentar de novo. Cargo eletivo não é banco de provas e eleitor não é cobaia. Visto que essa gente fina não tem vergonha na cara, que sejam banidos da vida pública pela mão pesada da lei.
José Horta Manzano
O dicionário é claro ao indicar o campo semântico coberto pelo verbo prevaricar. Todas as accepções carregam valor negativo. As principais são:
Etimologicamente, prevaricar ‒ que nos chegou direto do latim prævaricare ‒ é composto de præ = antes e de varicari de varus = o que sai da linha reta, ou seja, torto. Alguns estudiosos enxergam parentesco com o termo curvo.
O ato cometido pelo plantonista do TRF4, que deu origem a tremenda balbúrdia institucional domingo passado, se enquadra perfeitamente em todas as accepções do verbo. Imbuído de indisfarçável má-fé, o magistrado desviou-se da linha reta, cometeu abuso de poder, traiu a confiança de que era depositário e causou prejuízo ao Estado. Se isso não for prevaricação, o que será?
O estagiário que redigiu a manchete se impressionou com o termo. Talvez por desconhecer-lhe o significado, tascou aspas em volta. É maneira de isolar o desconhecido, pra evitar ser por ele engolido. Palavra estranha pode até morder! Melhor tomar cuidado.
Falando sério, a procuradora-geral pede que o plantonista seja investigado por ter prevaricado. Sem aspas. Aquele que comete abuso de poder e causa dano ao Estado não tem perdão.
José Horta Manzano
Esta é do Estadão deste sábado:
Do jeito que está, entende-se que a Justiça determina que doutor Lindbergh entre em contacto com doutor Doria e lhe dê explicação sobre determinadas críticas.
Mas não é isso que se quis dizer. Doutor Doria é quem está a exigir explicação de críticas proferidas por doutor Lindbergh.
Portanto, a chamada devia ter dito: «Justiça intima Lindergh a explicar-se sobre críticas a Doria», onde explicar-se vale dar explicações.
José Horta Manzano
O autor da chamada escorregou. Os verbos competir e disputar, embora tenham sentido similar, não são sinônimos perfeitos.
Competir não pode ser empregado como transitivo direto. Pra acertar, o moço devia ter escrito:
José Horta Manzano
Se um milhão já é muito, dezessete “milhão” é muito mais. Convém mandar pro plural. Assim, ó: US$ 17,9 milhões. Fica melhor e os guatemaltecos agradecerão.

Nota encucada
A Odebrecht pagar pelos ilícitos que cometeu é digno de aplauso. Mas e os que receberam o suborno? Estão perdoados? Não devolvem os “milhão” não?
José Horta Manzano
O estagiário faltou à aula justo no dia em que ensinaram colocação pronominal. Não aprendeu que o pronome relativo atrai o pronome oblíquo átono. Assim como açúcar atrai mosca, os pronomes relativos (que, o qual, quanto, quem & alia) atraem o pronome oblíquo. O ímã é forte, não há como escapar.
Portanto, o título correto será:
«Juiz diz que Maluf se movimentava com destreza».