A festa continua

Carlos Brickmann (*)

Na época em que o Macaco Tião, chimpanzé nascido e alojado no Zoológico carioca, fez sucesso como candidato no Rio, um dos seus slogans era ótimo: “Vote no Macaco Tião. O único que já vem preso”.

Pois o Macaco Tião, 14 anos após sua morte, 32 anos após ser candidato, acaba de perder a exclusividade: Cristiane Brasil, presa preventivamente, foi aprovada como candidata do PTB à Prefeitura carioca. Mesmo se acontecer uma condenação, diz o partido, ela continua candidata, já que a Lei da Ficha Limpa só a atingiria se fosse condenada em segunda instância. Cristiane é acusada de participar do núcleo político de uma organização especializada em fraudar licitações entre 2013 e 2017. Já teve problemas anteriores, por outras acusações. Em 2018, foi escolhida ministra pelo presidente Michel Temer, que retribuía o apoio de seu pai, Roberto Jefferson, supremo cacique do PTB, mas sua posse foi vetada pela Justiça.

Cristiane Brasil pode ser eleita para a Prefeitura? Não está entre as favoritas. Mas Wilson Witzel também não estava entre os favoritos e ganhou a eleição para governador. Além disso, o eleitorado do Rio tem caprichado nas eleições: dos ex-governadores do Rio, cinco foram presos (sendo que um, Sérgio Cabral, continua na cadeia), e outro, Wilson Witzel, foi afastado, com risco real de impeachment e acusações que podem levá-lo a processo penal. Cristiane Brasil pode ser eleita para a Prefeitura, por que não?

O texto é um excerto. Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.

(*) Carlos Brickmann é jornalista, consultor de comunicação e blogueiro.

País fechado

José Horta Manzano

Prisioneiro 2O Brasil é um país fechado – afirmação comum no campo da economia. Quer dizer, entre outras coisas, que a proporção de nosso comércio exterior em relação ao PIB está bem abaixo da média mundial.

O clima tíbio que domina as relações do Brasil com o resto do mundo não se restringe, porém, ao campo econômico. A dimensão continental do país e nosso proverbial desapego à cultura e ao aperfeiçoamento intelectual são fatores que, conjugados, fazem que o brasileiro médio ignore o que se passa além-fronteiras.

Exemplos aparecem diariamente. Li hoje o mais recente. Como todos sabem, senhor Marín, cartola da CBF e figurinha carimbada da política nacional, está encarcerado na Suíça, acusado de enriquecimento ilícito no caso da Fifa. O prisioneiro é vice-presidente do braço paulista do Partido Trabalhista Brasileiro – o PTB de Getúlio, histórico defensor dos oprimidos.

Videoconferencia 1Visto o estado de pobreza em que se encontra o acusado, um grupo de correligionários, em louvável ato humanitário, cotizou-se para garantir-lhe assistência jurídica. Despacharam dois advogados brasileiros à Suíça.

Os causídicos vão a Zurique ver em que podem ajudar o cartola. Visivelmente desprovidos de conhecimento das práticas processuais e penais em vigor no estrangeiro, imaginam que o estado de saúde e os 83 anos de idade do figurão sejam suficientes para assegurar-lhe tratamento de favor. Não se dão conta de que, fora do Brasil, idade avançada não diminui a responsabilidade nem a culpa do acusado. Pelo contrário, pode ser circunstância agravante.

Como o distinto leitor pode adivinhar, a bilionária Fifa já se encarregou de contratar robusta assistência jurídica para os que já foram presos e para os que ainda podem sê-lo. Todo cuidado é pouco.

Autoridades suíças são parcimoniosas em matéria de comunicação. São também pouco inclinadas a negociações, o que torna o ambiente jurídico bastante diferente do que vigora no Brasil.

Zurique, Suíça

Zurique, Suíça

Não ficou claro que ajuda a presença in corpore de advogados brasileiros poderá trazer ao processo. Se a intenção for obter maiores informações sobre o andamento do caso, videoconferência seria suficiente. Se imaginam que tapinha nas costas pode ajudar, perigam voltar decepcionados.

Em todo caso, Zurique vale a visita, principalmente nesta época do ano. Se a chuva não atrapalhar.