As viúvas de Bolsonaro

José Horta Manzano

 


Visão de mundo das carpideiras do mito defunto


 

Entre os dois turnos da eleição, Bolsonaro já havia deixado clara sua visão do povo brasileiro. Foi quando insinuou que o Nordeste era povoado por analfabetos e ignorantes, razão pela qual votam no Lula.

Traduzindo o pensamento transcendente de Seu Mestre, deduz-se que os brasileiros não são todos iguais. Por um lado, há os que votaram no “mito”, cidadãos letrados e inteligentes cujo voto deveria valer mais que o dos outros. Por outro, há os que preferiram Lula, cidadãos de segunda classe cujo voto teria de ser impedido a qualquer custo.

A declaração do presidente deu sinal verde para as blitzes efetuadas no Nordeste pela PRF no dia do segundo turno. O objetivo era impedir que cidadãos de segunda classe se aproximassem da urna eletrônica. Pode até ser que milhares de eleitores tenham sido mandados de volta pra casa naquele dia, talvez se descubra um dia.

Outra consequência da senha lançada por Seu Mestre afetou o bom funcionamento do país inteiro. Foram os bloqueios que devotos do capitão montaram nas estradas, enquanto outros discípulos decidiram organizar manifestações de protesto defronte a quartéis do Exército. Todos fantasiados de verde-amarelo como manda o figurino.

De memória de eleitor, ninguém nunca viu, desde a redemocratização, hordas de carpideiras chorarem a má sorte do candidato perdedor e organizarem manifestações de indignação em que o Exército é chamado pra dar um jeito. De tão fora de esquadro, a coisa roça o grotesco.

Atribua-se ao capitão a culpa dessa baderna que perturba a vida da sociedade inteira. Foi ele quem fez seus seguidores acreditarem que estavam um degrau acima dos eleitores do candidato adversário. É essa a lógica que embasa a indignação dos protestatários, que devem pensar: “Como assim? O voto dos cidadãos de segunda classe não pode sobrepujar o nosso!”. Daí o sentimento de ódio e revolta.

Se faz urgente um trabalho de retropedalada. É preciso mostrar a esses indignados que, diferentemente do que parecem acreditar, a escravidão não foi reinstaurada no país. Não há dois níveis de cidadania. Todos os conterrâneos têm direitos e deveres iguais. O voto do bonitão vale tanto quanto o do esfarrapado.

Vai ser muito difícil mudar essa visão distorcida. Essa gente vai continuar esperando um próximo messias que venha salvá-los.

Lula es inocente!

José Horta Manzano

É de lei. Todo ex-presidente da República ‒ ainda que tenha sido apeado do cargo ‒ tem direito a polpuda aposentadoria. E não é tudo. Dispõe ainda de automóvel com combustível e manutenção pagos, mais oito assessores cedidos pelo Planalto. Oito assessores! E tudo sustentado com o dinheiro dos contribuintes. Não precisava nem dizer mas, dizendo, fica mais claro.

A meu ver, presidente destituído por crime de responsabilidade não deveria ser contemplado com esses mimos. Mas é de lei, que fazer? Doutora Dilma tem aproveitado ao máximo essa excrescência da legislação. Tem viajado mundo afora, sempre em assento de primeira classe, para contar a lorota de que seu impeachment foi golpe de Estado. Faz dois anos e meio que a doutora insiste na pregação.

A mais recente viagem foi a Madrid, onde desembarcou faz dois dias. Viajou na primeira classe de avião da Iberia. Ao chegar ao aeroporto de Barajas, madame foi apanhar a mala de rodinhas, guardada no bagageiro acima do assento. Perdida como sempre, havia esquecido onde estava a mala. Levou bom tempo para encontrar. Não sabia mais nem de que lado procurar. Chegou a abrir uns quatro compartimentos. Um passageiro imortalizou a impagável cena em vídeo de um minuto e meio.

Ontem, na madrilenha Casa de América, a doutora deu conferência sobre a crise política no Brasil. Renovou a cantilena de que foi destituída ilegalmente na esteira de um complô parlamentar. Um vídeo de um minuto mostra o trecho em que madame, num portunhol pedregoso, explica que está em curso, na América Latina, um novo tipo de golpe armado em conjunto por parlamentares, pela mídia, pelo Judiciário e pelo mercado. Senhor, haja conspiração! Pra fechar a fala, a doutora lembra do padrinho e, en passant, reitera sua convicção de que o Lula é inocente.

O distinto leitor pode até balançar a cabeça e sorrir. Mas fique sabendo que, nas Orópias, muita gente acredita nisso. Afinal, é a palavra de uma antiga chefe de Estado! Não é habitual ver gente que exerceu cargo tão elevado sair contando balela por aí. O CV da palestrante empresta um quê de fidelidade à narrativa, o que é desastroso para o Brasil.

Resumo da história
Faz dois anos e meio que doutora Dilma faz incessantes viagens ao exterior e profere palestras com o intuito de denegrir as instituições brasileiras e consolidar, no espírito dos estrangeiros, a imagem de que a nossa é uma republiqueta de bananas. Faz isso com nosso dinheiro.

Chegou a hora de algum parlamentar apresentar um projeto de lei que iniba esse tipo de palhaçada. Afinal, congressistas são pagos pra legiferar em favor do país. Ou não?