José Horta Manzano
Assim como o melhor dos governos tem seu lado sombrio, o pior deles tem também um lado luminoso. Se o período militar foi sinistro em inúmeros aspectos, teve também alguns lampejos. Uma herança das boas é a Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Criada em 1973, em pleno governo do general Medici, ela pode hoje ser definida como uma multinacional da pesquisa.
A Embrapa é a estatal brasileira mais importante. Conta com 10 mil funcionários incluindo 2.500 pesquisadores. Entre estes últimos, 84% são titulares de doutorado ou mesmo pós-doutorado obtido em universidades nacionais e estrangeiras. A empresa, presente em todo o território nacional, tem antenas em numerosos países com os quais colabora e troca informações científicas.
Seus trabalhos permitiram introduzir a agricultura no cerrado, bioma que era antes considerado improdutivo e que hoje responde por metade de nossa fabulosa produção de grãos. A tecnologia gerada pela empresa tornou possível multiplicar por quatro a oferta de carne bovina e suína. A produção de frango pôde ser ampliada em 22 vezes.
De importador de alimentos básicos, o Brasil alcançou o patamar de potência exportadora. A Embrapa goza de respeito planetário por seu grau de excelência. Suas pesquisas cobrem todos os biomas brasileiros – Amazônia, Pantanal, cerrado, semiárido, regiões temperadas.
Se o distinto leitor leu o título deste escrito, deve estar se perguntando onde está a ignorância. Pois ela vem agora. Acaba de sair nota informando que o governo federal pretende cortar perto de 50% do orçamento da Embrapa para o ano de 2020. Metade do que é necessário pra permitir a continuidade da pesquisa agropecuária brasileira! A notícia é angustiante. O Brasil não é potência econômica. Está longe de ser gigante bélico. Na política mundial, é anão. O único ponto em que somos globalmente importantes e respeitados é na pesquisa e na produção agropecuária. Em total desvario, o governo não consegue enxergar a importância disso.
Há que constatar que, mesmo com doutor Bolsonaro acamado, a guerra contra o conhecimento continua. Fica claro que a equipe que rodeia o presidente está afinada com ele. A ausência do chefe não é sinônimo de trégua. A obra de demolição segue adiante. No Planalto, continuam todos fiéis ao propósito de impedir que o Brasil suba de patamar. Que seja na difusão da cultura, no ensino universitário ou na pesquisa científica, a ordem é cortar, impedir, barrar, cercear.
O lulopetismo não foi tão longe. O atual governo é uma ode à ignorância.