Mãos ao alto

José Horta Manzano

Um dos Bolsonarinhos – aquele que é deputado e que cogitou ser embaixador – vive dizendo que todos os brasileiros deveriam possuir uma arma. E levá-la no bolso ou na bolsa.

Leio no site da Rádio Gaúcha que um restaurante de comida mexicana, situado em Porto Alegre, foi assaltado sexta-feira passada. No momento do crime, 60 comensais se deliciavam com tacos e burritos.

Segundo o portal, “apenas” 30 pessoas foram assaltadas e, além de perderem o apetite, ficaram sem celular, dinheiro e todo objeto de valor que estivessem portando. Os demais frequentadores perderam somente o apetite.

De repente me veio à ideia a imagem do que seria o Brasil, caso a receita de doutor Bolsonarinho fosse implementada: excetuadas as crianças, todos os clientes do restaurante teriam uma arma ao alcance da mão. Assim que entrassem os bandidos e dessem a ordem «–Mãos ao alto!», os mais decididos sacariam do trabuco e começariam a atirar.

Quem já assistiu a um filme de caubói com John Wayne viu como ficaria a cena: o restaurante mexicano transformado em saloon do faroeste. Um tiroteio brabo, com gritos e sangue. Nessas horas, balas perdidas não escolhem furar bandidos ou mocinhos; pegam o primeiro que encontrarem. Entre mortos e feridos, o saldo poderia ser dramático.

Como desatar o nó do enfrentamento entre os bons e os maus, se todos estão armados e atirando? Alô, doutor Bolsonarinho! Como resolver esse dilema?

Quem não se comunica se estrumbica

José Horta Manzano

Comunico à Casa o comunicado que recebi do chefe da Casa Civil comunicando a demissão do ministro da Educação.”

Comunicação comunicada pelo deputado Cunha, que comunicou o comunicado que lhe havia sido comunicado pela Casa Civil. A obra-prima de oratória foi comunicada por todos os jornais.

Interligne 18e

Tirando o cômico da cena, vamos aos fatos. O episódio escancara novo e flagrante exemplo de que a “Pátria Educadora” não passa de bordão vazio.

O cargo de ministro da Educação contém a palavra educação. Admite-se que, mortal, o titular da pasta carregue defeitos – como todos nós. Uma falha, no entanto, é inconcebível: que ele demonstre falta de educação. É o coxo zombando do perneta.

Faroeste 1Mais uma vez, fica patente que o Planalto tenta iludir a nação à custa de slogans. Esse da “Pátria Educadora” é apenas mais um, mera frase de efeito, inventada pra inglês ver.

Na hora do vamos ver, no momento crucial de escolher um ministro para a pasta estrategicamente mais importante da República – aquela que vai traçar o caminho das gerações futuras – quem é o agraciado? Um indivíduo tosco e mal-educado. Um indivíduo ao qual um papel secundário num filme de faroeste, ao lado de John Wayne, assentaria como luva. Já para encabeçar o Ministério da Educação, não serve.